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Várias correntes teóricas exploraram a problemática do empreendedorismo e crescimento econômico, vinculando-a, intimamente ou não, ao tema da inovação. A vinculação entre empreendedorismo e inovação tem sido objeto de contribuições relevantes de vários autores. Aí se situam, além de Schumpter (1969; 1976; 1979; 2005), Baumol (1968) e Leibenstein (1968), entre outros. Parte significativa da literatura sobre empreendedorismo voltou-se para a tentativa de compreensão do papel do empreendedor como motor do crescimento econômico. Entre os autores aí presentes destacam-se o próprio

Schumpeter, Knight (1971),; Kizner (1982; 1983), Baumol (1968), Metcalfe (2003), Penrose (1959) e Leibenstein (1968).

Discorrendo sobre o tema do empreendedorismo e crescimento econômico, Wennekers & Thurik (1999) classificam três correntes na área: a primeira, de origem alemã, na qual se destacam Schumpeter e Baumol; a segunda, de inspiração neoclássica, com pensadores como Marshall e Knight; a terceira, na tradição da escola austríaca, de Von Mises e Kirzner. Embora compartilhando alguns conceitos e proposições comuns, as respectivas abordagens apresentam algumas diferenças fundamentais: o empreendedor na tradição schumpeteriana é um agente que vislumbra oportunidades de lucro a partir da interveniência de um novo fator - endógeno ou exógeno - e é considerado um criador de instabilidade e de destruição criativa; na tradição da escola neoclássica, a ênfase recai no papel do empreendedor como aquele que dirige o mercado em direção ao equilíbrio; na vertente da escola austríaca, o empreendedor busca atender necessidades não satisfeitas e superar ineficiências e deficiências existentes no mercado. Pode-se dizer que essas escolas geraram diferentes linhas de pensamento e reflexão, algumas das quais, se interpenetram.

Schumpeter enfatiza o papel fundamental desse ator na inovação e no crescimento econômico, distinguindo entre invenções, ou seja, novas idéias e conceitos e inovações, uma nova combinação de recursos produtivos. Segundo o autor, o desenvolvimento é possível quando ocorre inovação. Existem, segundo ele, cinco diferentes tipos de inovação: i) introdução de novos produtos no mercado ou de produtos já existentes, mas, melhorados; ii) novos métodos de produção; iii) abertura de novos mercados; iv) utilização de novas fontes de matérias primas e v) surgimento de novas formas de organização de uma indústria.

Nessa acepção, o empreendedor é, por excelência, o agente de transformação e de inovação, detentor dos “mecanismos de mudança”, com

capacidade de explorar novas oportunidades, via associação de diferentes recursos ou diferentes associações de um mesmo recurso. As inovações podem contrabalançar ou compensar a tendência a taxas de retorno decrescentes na indústria ou na economia em geral. A habilidade de identificar e perseguir novas formas de associação de recursos e novas oportunidades no mercado é a atividade empreendedora por excelência. Gera, permanentemente, desequilíbrio na economia, permitindo sua transformação e crescimento. As mudanças no sistema econômico, que se situam no cerne dos processos de crescimento, associam-se, na visão de Schumpeter, à capacidade de inovação e de implementação de novas e diferentes combinações. Segundo o autor, “nós designamos por empresas a implementação de novas combinações e por empreendedores aqueles cuja função é viabilizá-las” (1969:74). O empreendedor é alguém “capaz de realizar coisas novas ou de fazer de novas maneiras coisas que vinham sendo feitas” (1969:151).

A proposta do empreendedor schumpeteriano como aquele que introduz a inovação, gera desequilíbrio e provoca crescimento no sistema econômico, não é compartilhada por Kirzner (1982, 1983). Para este autor, o empreendedor situa-se em um mundo de informações imperfeitas e contribui para mover o sistema em direção a uma situação de maior equilíbrio. Kirzner, no entanto, reconhece que a situação de perfeito equilíbrio – como proposta pelo modelo do equilíbrio geral - nunca será atingida. Ele descreve a economia como um processo de descoberta e de aprendizado, em que o empreendedor usufrui das imperfeições do mercado - em termos de informação incompleta - e busca extrair vantagens advindas da posse de informações privilegiadas.

Seu empreendedor é um indivíduo constantemente em estado de alerta, buscando novas oportunidades, capazes de conectar, via arbitragem, mercados isolados, previamente desconectados. Assim procedendo, não só é capaz de usufruir de lucros diferenciados, como também expõe, nesse processo, as

discrepâncias de preços existentes entre diferentes mercados, atraindo, conseqüentemente, em uma segunda fase, a atenção de outros empreendedores. O empreendedor impulsiona o sistema em direção ao equilíbrio, no qual os preços apresentam tendência ao nivelamento, à medida que novos empreendedores buscam a mesma oportunidade, que termina, finalmente, por se esvair. O empreendedor de Kirzner seleciona oportunidades que são estabilizadoras, diferentemente do empreendedor schumpeteriano, que seleciona oportunidades que geram desrupção e desequilíbrio.

O tema da inovação e sua associação com crescimento econômico foi, mais recentemente, abordado por Metcalfe (2003). Este autor salienta que “o significado econômico profundo do processo empreendedor é que ele transforma um sistema econômico de dentro dele mesmo, gerando um novo padrão de preços relativos e, conseqüentemente, alterando a estrutura de incentivos para novos empreendedores” (2003:8). As inovações são introduzidas no contexto de uma estrutura vigente de preços, que lhe confere validade, em termos de maiores taxas de lucratividade. A partir daí, segue-se um processo de entrada competitiva de novos empreendedores no mercado, atraídos pelas altas taxas de retorno, o que amplia a oferta e reduz as taxas de lucro, à medida que existe um processo de adaptação gradual a um novo sistema de preços relativos, que altera, conseqüentemente, a estrutura dos incentivos com que se deparam os novos empreendedores. Pondera o ator que a função do empreendedor não se esgota na idéia inovadora e estende-se, necessariamente, “à capacidade de reunir recursos produtivos necessários, aos contatos com os consumidores potenciais e à organização da empresa” (2003:10).

Tanto para Schumpeter como para Kirzner ou Metcalfe, o empreendedor é um criador ou desbravador de novas oportunidades. Ao fazer isso - entendem esses autores - ele conecta diferentes recursos e consegue agregar valor à atividade produtiva. A compreensão da capacidade ou habilidade do

empreendedor de gerar conexões e criar redes encontra-se, como visto, presente nas concepções do empreendedor, associadas à inovação.