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1.1 As hipóteses básicas e as proposições de apoio

1.1.7 A importância do arranjo institucional

As entidades de apoio empresarial podem jogar um papel fundamental, funcionando como um elemento de conexão entre as empresas, atuando no sentido de ajudar a romper, eventualmente, a inércia ou a desconfiança que mantêm as empresas isoladas, promovendo um clima de confiança e viabilizando, inclusive, a ação coletiva.

Quando as relações sociais, antes inexistentes ou muito frouxas, entre diferentes atores produtivos, vão se adensando e estes passam não só a reconhecer, como também a compartilhar certos propósitos semelhantes, surge um espaço para o nascimento de empreendimentos coletivos, dotados de maior ou menor institucionalização ou formalização. Este processo é visível em algumas aglomerações produtivas, provocando e permitindo não só maior interação informal entre as empresas, como também a criação de associação de produtores, cooperativas, centrais de compra e venda, centrais de logística e distribuição, consórcio de exportação, etc.

Proposição 7

As instituições de apoio empresarial existentes no local podem exercer um papel fundamental na criação de um ambiente mais favorável a uma maior interação e ou cooperação entre as empresas aí presentes.

1.2 Conclusão

Os sete pontos ressaltados retratam a essência das reflexões, para utilização do capital social na abordagem das aglomerações produtivas. Apresenta-se, a seguir, na Tabela 3, uma síntese da proposição sobre Capital Relacional, no contexto dos quatro planos de análise previamente abordados.

TABELA 3 A proposição sobre Capital Relacional

Planos ou níveis de análise Alguns elementos básicos

1. Plano conceitual - Noção de capital social como um “ativo” ou um “recurso” de

um ator social – individual ou coletivo (conjunto de atores), derivado de sua inserção em redes sociais.

- O papel da cooperação e da interação na dinâmica territorial 2 Plano das proposições

teóricas

- Ator em redes formadas por vinculações, com distintas gradações de intensidade, situadas a nível interno e/ou externo. - Dinâmica entre vínculos internos e externos.

- Estrutura social condicionando oportunidades e sendo afetada pela ação de atores.

- Dinâmica existente entre estrutura, ação empreendedora e ambiente.

- A noção das relações sociais de um ator constituindo um dado “estoque” de capital social, capaz de sofrer alteração, via adição, supressão, etc.

- O papel da ação empreendedora e da inovação na

reconfiguração das redes e seu impacto “estoque” de capital social local.

- Empresas como “plataformas” de relacionamentos. - O reconhecimento e explicitação das interfaces e interações entre dimensões sociais e econômicas.

- O papel dos laços fortes na proposta do enraizamento (embeddedness).

- O reconhecimento do capital social como um tipo particular de capital.

3. Plano das

conseqüências: a natureza dos recursos acessados

- A presença de benefícios e riscos do capital social. - A natureza do recurso inserido (embedded) nas redes: informação, solidariedade, influência e poder.

- Avaliação das conseqüências associada, sempre, ao contexto social, à natureza do resultado ou propósito pretendido pelo grupo ou ao nível de análise pretendido pelo pesquisador, podendo o resultado ser positivo e ou negativo.

As concepções acima possuem implicações no plano ontológico e epistemológico, com desdobramentos no nível metodológico. Tais temas serão abordados no próximo capítulo.

CAPÍTULO 5

AS IMPLICAÇÕES METODOLÓGICAS DA CONCEPÇÃO TEÓRICA E A METODOLOGIA UTILIZADA PARA A PESQUISA PILOTO

RESUMO

A proposição do Capital Relacional encontra raízes profundas nas ciências sociais, gozando, também, de algumas das vantagens inerentes à abordagem das redes. Destaca-se, aí, a possibilidade de interação entre conceitos teóricos, metodologia de abordagem e observações empíricas. Tal condição foi explorada ao máximo no presente trabalho. Os avanços teóricos aqui efetuados, em interação com a pesquisa de campo, permitiram a concepção de uma nova metodologia para tratamento de tema do desenvolvimento territorial. Inclui-se, aí, um conjunto de indicadores, que pode ser utilizado para mensurar e comparar alguns aspectos do fenômeno de interesse.

ABSTRACT

The concept of Relational Social Capital can, both, found to be rooted in the social sciences, as well as enjoy advantages innate to the network approach. This is pointed out as a rich crossroads for interacting theoretical concepts, methodological approaches and empirical observations. Such an appeal was vastly explored in this work. Theoretical inroads and advances, in tandem with the field research, led to the framing of a new methodology focused on territorial development. The latter encompasses a set of leading indicators for measurement and comparison of some dimensions of the subjects of interest.

1 INTRODUÇÃO

A proposição teórica, construída ao longo dos capítulos II e III e resgatada e detalhada no capítulo IV, deve se mostrar útil para a compreensão do fenômeno de interesse – aglomerações produtivas. O teste de adequação da proposta a observações e análises da realidade deve ser precedido por uma reflexão sobre a natureza e as peculiaridades da abordagem das redes, e seus desdobramentos e conseqüências no âmbito das investigações empíricas. Tais reflexões repercutem também no plano metodológico.

A noção de que as teorias sociais podem ser concebidas em termos de paradigmas chave, baseados em diferentes conjuntos de suposições sobre a natureza da ciência e da sociedade, vem atraindo, crescentemente, a atenção de pensadores sociais, sobretudo após a publicação do livro de Khun (1982) sobre a estrutura das revoluções científicas. Um paradigma representa “uma constelação inteira de crenças, valores, técnicas, etc., compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade” (1982:87), constituindo-se uma matriz disciplinar. Esta concepção teve profundas repercussões na comunidade científica. Alencar (2000:25) refere-se ao paradigma como “um sistema de crenças ou visão do mundo que guia o pesquisador, não somente na escolha do método, mas, também, dos fundamentos ontológicos e epistemológicos da sua pesquisa”. Como salientado pelo autor (2000:42), “um paradigma traz no seu interior uma dimensão ontológica sobre a forma e a natureza da realidade e, também, uma dimensão epistemológica, sobre o que é considerado como conhecimento”. Os postulados, implícitos ou explícitos, que o pesquisador possui, sobre a natureza da ciência e da sociedade, influenciam a própria definição do objeto de pesquisa, sua concepção, desenvolvimento e execução

As disputas que já vinham ocorrendo, no interior das ciências sociais, entre diferentes escolas de pensamento, a partir da década de 1960, com críticas

voltadas, sobretudo, para a vertente dominante – funcionalismo -, foram alimentadas, na década de 1960, pelas proposições de Khun, sobre paradigmas e o conceito de “ciência normal”, representando um conjunto de pressupostos, crenças, valores e técnicas dominantes em um determinado momento da história da ciência.

Surgiram vários autores, na área da “sociologia da sociologia”, preocupados em identificar e mapear os paradigmas existentes nas ciências sociais, buscando as pressuposições sobre a natureza “meta-sociológica” existente por traz de cada um deles. Hassard (1993) situa, entre aqueles que, inicialmente, mais se distinguiram, Gouldner, com seu livro The coming crisis in Western Sociology, (1970); Atkinson, com seu livro Orthodox consensus and radical alternative (1972); Friedrichs, com seu livro A sociology of sociology (1970). Friedrichs propõe-se a erigir uma “pauta para a sociologia da sociologia”, a partir das reflexões de Kuhn. Para Friedrichs, (1970:28), “a tese central que Kuhn formula situa-se (...) na mais alta tradição da sociologia do conhecimento e sua derivada mais nova, a sociologia da ciência”. Suas proposições tiveram ampla repercussão, nas reflexões posteriores sobre o fracasso do “consenso” baseado no modelo de equilíbrio (presente na abordagem funcionalista), a renovação do interesse pelas “abordagens radicais” (incluindo o humanismo de Marx) e a emergência da “teoria do conflito”. Friedrichs (1970:62) destaca, entre os autores que atuaram no sentido de reintroduzir o conflito no seio das ciências sociais, Simmel, com seu livro, Conflit.

Nas ciências sociais, três grandes paradigmas destacam-se. O dicionário Oxford de Sociologia (Marshall, 2000:667), referindo-se às teorias sociais, afirma que “positivismo, fenomenologia e marxismo abrangem toda ou quase toda a ciência social”. Alencar (2000) relaciona as distintas correntes teóricas existentes: a teoria de consenso - a noção de que a sociedade representa uma dada estrutura de normas, valores e regras -; a teoria do conflito - a sociedade

vislumbrada como um palco de disputas, interesses e conflitos - e a teoria da ação - a sociedade como resultado da ação e da criação de seus membros. Alguns autores, a exemplo de Mercklé (2004:92), mencionam, não três, mas dois grandes paradigmas em disputa nas ciências sociais: por um lado, o “holismo” – no qual se insere o funcionalismo – e, por outro, o que vai desaguar no “individualismo metodológico”.

A discussão sobre paradigmas repercutiu intensamente no campo da teoria das organizações. Destacam-se, aí, Burrell & Morgan (1979). Vêm, também, alimentando os debates sobre a natureza da abordagem das redes, que representaria, segundo alguns autores, uma nova via de investigação nas ciências