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A Experiência de Parceria entre Escola e Empresas

CAPÍTULO IV: AS PARCERIAS NO CENTRO PAULA SOUZA: UM OLHAR

4.2. Desvelando a Diversidade das Parcerias

4.2.5. A Experiência de Parceria entre Escola e Empresas

Muitas empresas voltam-se para a promoção da educação, na tentativa de melhorar o desempenho de seus empregados. São ações que não estão diretamente ligadas à melhoria da escola pública, mas que contribuem para isso, pois ao receber a formação em seu ambiente de trabalho, o funcionário não só fica melhor preparado para a atuação profissional e ganha motivação para retomar os estudos e completar a sua formação, como passa a dar maior importância à educação de seus filhos, tornando-se mais atento aos problemas escolares.

A atualização dos profissionais das várias áreas e níveis sempre foi um desafio para as empresas. Em um país com tantas desigualdades, existe um compromisso ético e social da empresa de contribuir para o desenvolvimento profissional de seus empregados. Contudo, atualmente, o maior desafio é superar a visão de que qualificação profissional restringe-se a “treinar” o funcionário. As atividades de formação profissional e atualização podem acontecer dentro da empresa, aproveitando os espaços e equipamentos disponíveis, ou em cursos e seminários externos.

O Setor de Açúcar e Álcool tem se tornado um dos mais dinâmicos da economia brasileira. “A invasão de novas usinas no Oeste paulista mostra a procura de terras para ampliação do plantio de cana.” Nessa região, ocorre o crescimento também porque em outras áreas do Estado há outros problemas, como falta de espaço para expansão, solo inadequado, questões ambientais, etc. A região, conhecida por produzir gado de corte, está perdendo essa condição, e os pastos se transformando em canaviais. Além da lucratividade, o setor de usinas de açúcar e álcool da região do Oeste Paulista está mais forte. As apostas no setor sucroalcooleiro refletem também o bom momento para o álcool combustível.

A interpretação dessa realidade passa por um conhecimento ampliado que busca compreender o rural em seus múltiplos aspectos e caracterizações. A velha dicotomia entre moderno e arcaico, surgida como conseqüência da ideologia contida no processo de modernização da área de cana-de-açúcar, passa ser contraposta por uma visão mais crítica e multidisciplinar no meio rural.

Nesse sentido, o desenvolvimento de qualquer setor da economia em geral, e do agronegócio em particular (especialmente em razão da sua complexidade), passa necessariamente pela capacitação das pessoas. Cada vez mais a educação tem a tarefa de criar condições não só para o entendimento da realidade, mas a maneira de interagir com ela e a avaliação dos resultados dessa interferência.

A partir daí, a preocupação com a qualificação e formação técnica dos trabalhadores das usinas do Oeste Paulista passou a fazer parte da agenda dos atores sociais: CRQ, UDOP23, do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza e também dos funcionários.

Sendo assim, a partir da identificação em conjunto dessa nova necessidade e do entendimento de que uma iniciativa como essa vai além de um trabalho que possa ser elaborado de forma individual, ou seja, apenas no contexto das empresas ou da escola, é que se levantou a hipótese de se articular com instituições que têm experiência na formação profissional de nível técnico.

O curso técnico em Análise e Produção de Açúcar e Álcool é composto de dezenove temas, agrupados em quatro módulos, com carga horária total de trezentas horas cada um. Os alunos constroem seu itinerário formativo a partir do desenvolvimento de competências que, agrupadas, constituem as qualificações técnicas. Ao completarem os quatros módulos, recebem o Diploma de Técnico em Análise e Produção de Açúcar e Álcool, desde que tenham concluído também o Ensino Médio.

No que diz respeito à formação teórica, os alunos das diferentes empresas são reunidos em classes para o desenvolvimento das habilidades e bases tecnológicas. Já a parte referente às aulas práticas é realizada nas Usinas de Açúcar e Álcool, com acompanhamento de instrutor designado para tal fim, em atividades desenvolvidas nos diferentes setores, com a finalidade de construir as competências previstas no currículo.

23 Instituição que representa os Usineiros do Oeste Paulista-SP- UDOP, cujo objetivo é “Representar as

Usinas perante as autoridades públicas, administrativas e judiciárias, os interesses de seus associados, colaborando com o Estado, como órgão Técnico e consultivo, no estudo e solução dos problemas que se relacionam com a categoria profissional, bem como também atender as associadas em todos os seus interesses técnico-administrativo, fiscais e todos os demais setores ligados às atividades alcooleira e canavieira, realizando cursos de aperfeiçoamento tecnológico e profissional”.

O curso foi implantado inicialmente na ETE João Jorge Gerassaite - Penapólis. Acompanhados pelos químicos da Usina, no período da safra, os alunos tiveram aulas práticas, e na entresafra, aulas teóricas nas dependências da escola da Prefeitura Municipal de Araçatuba.

O desenvolvimento dos alunos e o processo de ensino-aprendizagem ganharam destaque em termos de propostas e/ou resultados inovadores, conforme relato dos entrevistados. Em nossa visita à Usina, foi possível observar que o ambiente basicamente não tem mais espaço para o trabalho manual. A eficiência dos equipamentos depende de uma intervenção humana mais intelectualizada que integre várias funções (planejamento, execução, controle e manutenção) e exige, conseqüentemente, pensamento lógico, independência e iniciativa, reforçando com isso a importância da formação do técnico.

Quanto aos indicadores de eficiência do curso, os resultados mostram que a evasão foi zero, uma vez que os alunos são os mais interessados nesse processo, contribuindo com a empregabilidade. Há que se observar que ações educativas podem ser entendidas na perspectiva do seu potencial enquanto novas formas de se educar. Como se pode constatar no depoimento do químico responsável,

“o curso tem sido excelente, pois ele tem uma aproximação muito grande com a linguagem da Usina. A grade dos planos de aula são excelentes. É exatamente o que o técnico precisa, nós precisamos ensinar para o aluno, mas usando uma linguagem que se aproxima da realidade dele, pois o conhecimento da prática ele tem. O cumprimento de metas também faz parte do desafio diário dos trabalhadores na Usina, portanto a leitura sobre o índice de desempenho deve ser acompanhada por todos através de sistemas de informações gerenciais (parceiro).”

Dado o entusiasmo do químico responsável, percebe-se que ele aproveita o momento da nossa entrevista e manifesta a preocupação quanto à não continuidade do curso, pois segundo ele:

Será um prejuízo muito grande se o curso não se mantiver, pois já tem umas dez pessoas esperando para fazer. Considerando que não abriu inscrição para o pessoal da limpeza e da parte agrícola.” (depoimento de parceiro)

A princípio, algumas usinas participaram da parceria com o intuito de cumprir a legislação. Porém, a Usina visitada afirmou que seus interesses vão mais além. Quanto mais funcionários estiverem fazendo o curso, mais irão lhe ajudar. Muitos mecânicos da área de açúcar e de álcool estão também trabalhando com processos. “Nós hoje temos que trabalhar pensando além de sua atividade para saber o que fazer diante de um problema inesperado.” (alunos do curso técnico em Açúcar e Álcool 12/11/04).

A partir da experiência com essa unidade, o curso em parceria também passou a ser implantado em outras unidades da rede do Centro Paula Souza, como a Escola Técnica na região de Catanduva e Santa Rita do Passa Quatro, inicialmente para atender aos funcionários das usinas, para depois abrir para a população em forma de vestibular. As escolas procuraram organizar horários flexíveis e compatíveis com as necessidades de trabalho dos alunos, como por exemplo, em Santa Rita, enquanto que as aulas práticas para os funcionários acontecem às segundas, terças e quintas, para os não funcionários elas ocorrem aos sábados. O que se aponta é a interface com outros atores sociais, como uma possibilidade de aproximação com outros ambientes de aprendizagem.