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Novas formas de organização do trabalho

CAPÍTULO I: AS MUDANÇAS NO TRABALHO E NO EMPREGO

1.1. Novas formas de organização do trabalho

Em matéria de gestão e organização empresarial, uma série de princípios configuram uma “nova filosofia de produção” ou, como aventam alguns estudiosos, um “novo paradigma”, sob vários aspectos distinto da estrutura taylorista-fordista que teria predominado no modelo anterior. Essa reestruturação, segundo LEITE, chega a configurar uma fase de crise e de transição, de modo a incorporar um novo ideário nos discursos de diferentes atores - empresários, trabalhadores, educadores, administradores e associações de classe, assumindo, em certa medida, a mesma dimensão paradigmática que a organização científica atingiu ao longo dos anos pós- guerra.

Assim, as mudanças que acompanham as novas tecnologias da informação alteraram profundamente a relação entre os trabalhadores e o trabalho. De acordo com RIFKIN (1995), as novas tecnologias de racionalização do trabalho geram duas realidades: de um lado, o aumento de produtividade, da competitividade em nível global e dos lucros, e de outro, o desemprego.

CASTELLS (1999) fala do surgimento de uma nova estrutura social associada à ascensão de um novo modo de desenvolvimento: o informacionalismo. A economia informacional é caracterizada por uma cultura e por instituições específicas, mas não está relacionada a uma determinada e única sociedade. Um de seus aspectos mais importantes é o de não se restringir a uma área geográfica ou a um país isolado; ao contrário, surge em contextos culturais/ nacionais muito distintos, da América do Norte à China, passando pelos mais variados pontos do planeta, exercendo influência em

todos os países e gerando uma estrutura de referências multiculturais, vejamos em suas palavras:

“o processo de trabalho situa-se no cerne da estrutura social. A transformação tecnológica e administrativa do trabalho e das relações produtivas dentro e em torno da empresa emergente em rede é o principal instrumento por meio do qual o paradigma informacional e processo de globalização afetam a sociedade em geral.” (CASTELLS:1999:224)

Ainda para esse autor, o que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e de informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e sua utilização, conforme afirma VALENTE:

“Computadores, sistemas de comunicação, decodificação e programação genética são todos amplificadores e extensões da mente humana. O que pensamos e como pensamos é expresso em bens, serviços, produção material e intelectual, sejam alimentos, moradia, sistemas de transporte e comunicação, mísseis, saúde, educação ou imagens. A integração crescente entre mentes e máquina, inclusive a máquina de DNA, está anulando o que Bruce Mazlish chama de a ´quarta descontinuidade´ (aquela entre seres humanos e máquinas), alterando fundamentalmente o modo pelo qual nascemos, vivemos, aprendemos, trabalhamos, produzimos, consumimos, sonhamos, lutamos ou morremos.” (VALENTE: 2000:27)

Assim, as novas tendências tecnológicas e organizacionais que vêm sendo introduzidas no mundo do trabalho indicam que as formas rígidas de organização do trabalho começam a ser flexibilizadas, dando passagem a um novo regime de acumulação, que alguns autores denominam especialização

flexível ou acumulação flexível. O novo “modelo produtivo”, conforme destaca HARVEY (1992:140),

"(...) se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrão de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional."

Ainda segundo HARVEY a “acumulação flexível” envolve:

" rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como em regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas”

Sob a égide da “acumulação flexível”, o velho modelo taylorista/fordista estaria sendo substituído por um “novo” modelo de organização do trabalho, cujas características principais seriam a produção em pequenos lotes, a reintegração das atividades de execução e planejamento, e ainda o emprego de trabalhadores mais qualificados para o desenvolvimento de um trabalho mais variado (LEITE, 1996: 15).

De certa maneira, constata-se que o conjunto das atividades humanas está sendo transformado com a incorporação de mais tecnologias e de mais conhecimentos. Adverte-se que a área produtiva, as redes de infra-estrutura e os serviços de intermediação não funcionarão de maneira adequada se não houver investimento no ser humano, na sua formação, saúde, cultura, atividades de lazer, informação. Em outros termos, a dimensão social do desenvolvimento deixa de ser um “complemento”, uma dimensão humanitária de certa forma externa aos processos econômicos centrais, para se tornar um dos componentes essenciais da atual transformação social. Como exemplo, Dowbor aponta o fato de que o principal setor econômico nos Estados Unidos da América não é mais a indústria automobilística, ou a bélica, mas a saúde, que representa 14% de seu produto interno bruto - PIB.

Sendo assim, por mais paradoxal que possa parecer, a tecnologia, quanto mais sofisticada, torna-se também mais acessível a um número maior de pessoas e aumenta o reconhecimento do valor do capital humano como vantagem competitiva das empresas. Isto enfatiza o caráter que assumem as ferramentas da tecnologia: são freqüentemente subutilizadas e não se apresentam como concorrentes ou substitutas do trabalho humano. Assim, como o arado para o período agrícola e a máquina a vapor para o período industrial, hoje se dispõe da informática como ferramenta nos processos de substituição de atividades repetitivas e automatizadas, que prescindem de características basicamente humanas, como a criatividade, a intuição e a inteligência.