• Nenhum resultado encontrado

As Parcerias sob a óptica da Educação Pública

CAPÍTULO III: PARCERIAS: UM CONCEITO EM CONSTRUÇÃO E SEUS

3.3. As Parcerias sob a óptica da Educação Pública

Do ponto de vista da área da rede de educação básica e pública no Estado de São Paulo, a partir do final da década de oitenta, os governos estimularam a formação de parcerias entre escolas da rede estadual e empresas. Inicialmente, a idéia era de “adoção de escolas”; posteriormente passou a ser de parceria, sugerindo uma relação mais interativa entre as partes.

A partir dessa tendência de incentivar a constituição de parcerias no campo educacional, tanto por parte dos governos federal e estadual, quanto por parte do empresariado, começaram a surgir parcerias entre escolas públicas e empresas. Uma das pesquisas sobre o tema parcerias é a de Sandra M. Sousa (2001); ela apresenta uma linha do tempo, apontando como o debate e o tema se inserem na educação, como se pode ver a seguir:

“Durante o Governo Quércia (1986-1990), foi lançado o Programa “Adote uma Escola”, destinado a incentivar empresas a apoiar financeiramente escolas públicas, contribuindo com recursos materiais para reparos e manutenção do prédio escolar, com complementação do quadro de funcionários e, até mesmo, incremento salarial de professores.

Em 1994, no governo Fleury (1991-1994), o documento “Programa de parceria empresa-escola pública” apresenta

objetivos e premissas dessa parceria indicando que este é um caminho a ser fortalecido, na busca da melhoria da qualidade de ensino. As parcerias visam:

Facilitar e ampliar a participação de empresários e agentes da comunidade na gestão do ensino público;

• Captar recursos financeiros e aprimorar seu gerenciamento em benefício da escola pública;

Regionalizar ações e desenvolver mecanismos que facilitem a interação Escola-Comunidade.

No Governo Covas (1995-1999) também existem iniciativas na direção do fortalecimento de ações de parceria empresa- escola.” (p. 256)

Observa-se que as iniciativas do governo do Estado de São Paulo obedeceram a uma tendência de estimular o fortalecimento de ações em parcerias com entidades da sociedade civil para o provimento de recursos e a participação da gestão do sistema público de ensino, como formas de construção de uma escola de qualidade.

Nota-se que, gradualmente, vem se explicitando uma perspectiva de delegar a cada instituição de ensino a responsabilidade de viabilizar recursos na sociedade para a melhoria de suas condições, apoiada em padrão de gestão da educação que enfatiza a importância da autonomia administrativa e financeira da escola.

Hoje, as pesquisas indicam que existe um contexto cultural e ideológico propício ao desenvolvimento das noções e práticas de parcerias, abarcando novos campos da organização da sociedade, como o de serviços. Segundo FOERSTE, 2005:

“A parceria (...) num sentido bastante genérico, sempre envolve instituições e/ou indivíduos que se agregam de forma voluntária para desenvolver objetivos comuns, estabelecendo negociações coletivas com partilha de compromissos e responsabilidades entre si. As palavras “parceiro” e “parceira”, com o sentido de partilha e colaboração, começam a ser utilizadas no discurso educacional em diferentes países da

Europa, nos EUA e no Canadá nos últimos anos, especialmente na profissionalização docente.” (p. 70)

De modo geral, as propostas em debate e a política econômica adotada por vários governos têm privilegiado a abertura das economias nacionais aos mercados externos: a redução de funções; a assunção de novos papéis pelo Estado, a desregulamentação dos setores privados e a adoção de novas formas de organizar a produção e o trabalho. Assim, verifica-se na literatura que as saídas encontradas por alguns governantes, partidos e por grupos da sociedade acabam por configurar a tendência a buscar uma “nova organização” e um “novo Estado” (SOUSA:2001).

Embora estejam ocorrendo alterações em diversos setores, como educação, saúde e previdência, para incorporar essa revisão do papel do Estado, têm-se presenciado formas de adequá-lo às exigências do mercado nacional e internacional. Não é possível imaginar que esteja havendo uma retirada do Estado e das suas responsabilidades, e que isso esteja gerando uma diminuição de seu poder controlador devido a um menor controle social. O movimento aponta para uma situação inversa, em que sua atuação direta no fornecimento de assistência tem diminuído; no entanto, tem aumentado as funções de planejador, coordenador e regulador dos diversos setores sociais.

A escola pública precisa de parceiros que contribuam para elevar a sua qualidade e essa qualidade não depende somente de esforços governamentais (AGLAE:2006). E nesse sentido, a Microsoft lançou mundialmente a iniciativa Partners in Learning que, no Brasil recebeu o nome de Parceiros na aprendizagem. Essa iniciativa global visa capacitar alunos e educadores a utilizar a tecnologia para a melhoria dos processos de ensino-aprendizagem e suas relações sociais e culturais, como nos diz RALSTON:

“A missão da empresa (Microsoft) é beneficiar 6,5 milhões de brasileiros até o fim desta década, oferecendo, a eles, atividade de formação e acesso à tecnologia para que esses cidadãos tenham melhores oportunidades de desenvolvimento de seu potencial e de trabalho”.(2006:68)

Para atingir esse objetivo, a iniciativa promove ações educacionais por meio de parcerias e colaboração de longo prazo com países e governos. Tais ações se desenvolvem em escolas da educação básica, para que elas possam fazer uso efetivo das tecnologias – especialmente ampliando o acesso a elas, oferecendo programas que apóiem a melhoria na qualidade da aprendizagem (id.ibidem). Trata-se de uma proposta que envolve atualmente em torno de 101 países, sendo seu propósito principal apoiar e reforçar programas de políticas educacionais nacionais, que emergem da realidade de cada região e localidade. O objetivo final é levar, por meio de cada um desses programas, seu know-how tecnológico, como forma de apoiar e potencializar programas e projetos voltados para a melhoria da qualidade de vida das populações carentes. Essas experiências refletem um novo modo de fazer políticas públicas, que tem como base a realidade local de cada país; destacam-se ente eles:

• O Programa Aluno Monitor, que viabiliza a formação técnica de aluno do ensino fundamental e médio e de seus professores para o gerenciamento e apoio os laboratórios de informática das escolas públicas e multiplicação de seus conhecimentos a outros colegas;

• O Programa Objeto de Aprendizagem, que reúne a produção e o uso de instrumentos com formato tecnológico virtual e dá apoio ao conteúdo interativo de aprendizagem que requer maior participação dos alunos, utilizando temáticas, relacionadas aos contextos comunitários, que se transformam em conceitos e objetos mediadores para um aprendizagem mais efetiva;

Nessa linha de reflexão sobre diferentes possibilidades de parcerias, vale salientar também a experiência de parceria, na qual tivemos envolvimento como professora, sendo resultado da congruência de interesses entre grandes parceiros. Trata-se de uma proposta de formação profissional da equipe gestora das escolas, envolvendo o Consed, com a experiência de coordenação do Programa de Capacitação a Distância para Gestores

Escolares – o Progestão que vem formando gestores escolares desde 2001, a PUC-SP com o conhecimento que acumulou no campo da Gestão e da Tecnologia e a Microsoft, com uma de suas linhas de atuação – Parceiros na Aprendizagem.

Esse projeto mobilizou nove Estados simultaneamente tendo como característica comum o respeito as distintas realidades, as singularidades dos sistemas de relações e funções desempenhadas por suas lideranças, no âmbito das respectivas redes de ensino.

Nesse sentido, apesar das relações de parceria remeterem a uma grande variedade de situações e envolverem um amplo leque de segmentos sociais, existe um ponto em comum: a interação entre dois ou mais agentes em torno de uma mesma motivação.