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A FALA DO ESTUDANTE NESSE PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (páginas 37-42)

4. A UTILIZAÇÃO DA PALAVRA IMPROVISADA NA SALA DE AULA E O JOGO DRAMÁTICO

4.2. A FALA DO ESTUDANTE NESSE PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

Vivemos em um mundo globalizado; a fala não importa. Falada ou transformada na escrita ou em obras de arte, onde quem vê faz sua leitura, desde sua invenção sempre foi um assunto bastante rastreado, buscado e pesquisado em conjunto com a evolução humana que tem o domínio exclusivo sobre a mesma. Uma

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linguagem verbal que tem seu período histórico evolutivo em pelo menos 50 mil anos passados.

E nesse contexto da fala, muitos linguistas tem a concepção de que a mesma tem a sua origem em um período bem mais remoto. “Muitos acham que iniciamos a fala em mais de meio milhão de anos” um pensamento também defendido e pesquisado por Tallerman. Segundo ele, os primeiros seres humanos “podem ter começado a falar mais para explorar o ambiente e comer diferentes alimentos”, no espaço da sala de aula, existem dois protagonistas que estão sempre em foco: o professor e o estudante.

No universo contemporâneo, com o advento da democratização do acesso ao mundo virtual, as novas gerações de estudantes a cada instante passam a se conectarem cada vez mais, tornando o educador não mais exclusividade e o possuidor do conhecimento, e que na contemporaneidade é preciso colocar-se lado a lado do estudante, assumindo o seu verdadeiro e fundamental papel de mediador e guia na construção de conhecimento para a possível autonomia desse estudante. Na posição de educador, temos que oferecer diversas alternativas pedagógicas, envolvendo esse estudante no processo e tornar o aprendizado mais prazeroso, fazendo com que ele participe das atividades e valorize suas ações, investigando, questionando e construindo com participação de seu conhecimento.

Oportunizar ao estudante falar pode ser uma forma de motivá-lo a conhecê- lo melhor, o proporcionar a reinvenção de sua própria transformação, sua fala o torna protagonista do processo de aprendizado, lhe possibilitando uma autonomia, quando está aprendendo, pois ele se envolve mais e estimula a capacidade criativa artística.

A fala faz com que o estudante analise melhor as situações; gerencie os pensamentos; passe a fazer boas escolhas, tendo metas e podendo analisar situações, portanto, a fala é transformadora.

O docente tem um papel de transformador e a escola, portanto, tem que entender perfeitamente a posição desse professor que deve assumir cada vez mais esse papel de forma bem clara.

E um verdadeiro mediador favorece e valoriza a fala do estudante. Nesse sentido, aqui são colocados alguns recortes do relato de alguns estudantes. São muitas escritas durante todo o processo, e aqui algumas falas dentre muitas,

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apresentadas pela ferramenta da digitalização na integra, para facilitar a leitura, as mesmas foram escritas por meio de uma atividade teatral, onde o participante teve que se expressar por meio da escrita, falando sobre si mesmo que não é nada fácil para muitas pessoas, por isso, serão utilizados nomes fictícios para não ter exposição dos estudantes:

Quando entrei no CENEP eu era extremamente tímida, não falava com ninguém muito menos respondia a chamada”. Eu vivia isolada. Cheguei até um tempo ficar trancada no banheiro me escondendo das pessoas. Passava o dia inteiro, chegava de manhã e só saia de note.

No terceiro ano vi que tinha oportunidade de entrar no teatro. Então eu fui fazer o teste. Só que tinha que subir no palco e dizer o nome. Eu não queria fazer isso. Uma colega e um gordão subiram no comigo. Mas eu não consegui falar nada. O resultado saiu. Fiquei sem acreditar que tinha passado.

Pensava como uma pessoa como eu que não falar com ninguém vai fazer teatro. Eu fiquei sem pensar o como. Iria ser. Eu só queria viver aquele momento. Pensei varias vezes em desistir. Mas algo não me deixa fazer isso.

Ele é um professor muito exigente. E eu não gostava dele. Mas com o tempo

Descobri que ele acreditava em mim.

O teatro me ajudou muito, não só a falar com as pessoas, mas a me conhecer melhor. Entender que sou mais forte do que penso.

O teatro é incrível! Transformou minha existência na vida! (Belita de Katia/terceiro ano). (Anexo 1)

A comunhão provoca a co-laboração que leva à liderança de massa àquela “fusão” a que se refere o grande líder recentemente desaparecido. Fusão que só existe se a ação revolucionaria é realmente “humana”, por isto, simpática, amorosa, comunicante, humilde, para ser libertadora. (FREIRE,1983, p. 201).

Na verdade, toda essa fala é real e séria, tem palavras fortes, portanto, a escola deve estar muito alerta como os semáforos, pois o estudante sinaliza por meio do próprio corpo, o que acontece com ele, posto que o corpo fala e pode também expressar isso por meio do desenho, da escrita ou da fala. Isso é necessário e importante para que haja transformações nesse espaço escolar.

No teatro, a fala é fundamental, não que o teatro sem o uso da fala não seja possível, e o fazer teatral na escola contribui para o desenvolvimento do estudante em sua capacidade de falar diante de pessoas, não contribui só no ato de representar, mas é útil em nosso cotidiano.

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Neste desenho, o estudante reproduziu como o seu corpo é reprimido no seu cotidiano. Após o término, formou-se um círculo onde cada estudante verbalizava a ideia da proposta de cada desenho.

A comunhão provoca a co-laboração que leva à liderança de massa àquela “fusão” a que se refere a grande líder recentemente desaparecida. Fusão que só existe se a ação revolucionária é realmente “humana”, por isto, simpática, amorosa, comunicante, humilde, para ser libertadora. (FREIRE, 1983, p. 201).

Enquanto seres humanos que buscamos liberdade e igualdade de vida, é necessária comunhão e co-laboração entre as pessoas, especialmente na escola, estudantes e professores. É preciso que exista entre eles uma transformação à adesão da simpatia, amorosidade e da comunicação entre todos.

Para contribuir com a liberdade de expressão desses estudantes é necessária a humildade, uma palavra que advém do latim humilitas, que está embasada em um conhecimento de nossas próprias limitações bem como as nossas fraquezas. E para que possamos agir em nosso contexto com consciência, é preciso termos a qualidade de não querermos nos projetar acima das outras pessoas, sem a necessidade ou o propósito de se mostrar ser uma pessoa superior ao seu semelhante. Quando somos humildes, expressamos um sentimento necessário enquanto pessoa que é reconhecer nossas limitações.

Na fala dessa estudante é onde vemos o quanto foi importante à pesquisa, alguém que não falava no espaço escolar, que tinha que se esconder das pessoas, causando sérias consequências na vida dessa pessoa, e as aulas de Arte pode e deve romper fronteiras no tempo e espaço desse estudante, que se apresenta nesse espaço agredido verbalmente, fisicamente ou psicologicamente, podendo ser individual quanto grupal, isso em seu convívio familiar, social e escolar, refletindo, dessa maneira, negativamente na vida e no convívio desses atores jovens. Essa problemática não é fácil de ser resolvido, pois é algo histórico e possui uma grande complexidade. Isso estar entranhado também em nosso dia a dia e corrobora para que a sociedade veja como algo natural que é aceitável e que não pode ser mudado, gerando o conformismo perante a situação.

Na fala dessa estudante, apesar da mesma ter vivido sobre repressão e opressão da própria família, durante muito tempo, abusos físicos e psicológicos, ela replica a opressão sofrida, quando se refere a um colega no teste de teatro que

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havia feito na escola, teste este que não reprovaria ninguém, era apenas para cumprir regras, porque também, acredito, enquanto docente, que todo mundo independentemente de qualquer coisa, pode e deve fazer teatro, ela se refere em sua escrita, “uma colega e um “GORDÃO”; talvez nem tivesse essa consciência que estava praticando preconceito, pelo simples fato do colega “ser gordo”.

Uma atividade de teatro simples, onde o estudante pode se expressar por meio da escrita que representa sua fala, foi-lhe oportunizada a discussão de seus próprios preconceitos diante de diversas coisas, basta ter a oportunidade de expressar esse tipo de sentimento, que é de julgar o outro apenas pela aparência.

No processo, foi realizada outra atividade que envolveu o desenho e a escrita e teve muito significado, tornando-se uma experiência singular. Cada estudante recebeu uma folha A4 em branco, uma borracha e um lápis grafite, próprio para o desenho, onde foi proposto que cada estudante, de um lado da folha, desenhasse como ele se sentia diante das suas opressões e, do outro verso da folha, escrevesse sobre o seu desenho.

Nessa atividade, foram valorizadas as Artes Visuais por meio do desenho que foi uma das primeiras manifestações do homem que se tem registro por meio da arte rupestre. Importante o estudante reconhecer e saber utilizar os elementos da linguagem visual nesse processo, podendo representar, expressar e comunicar-se por imagens nesse caso especifico o desenho.

Outra fala observada foi a da estudante (ETM), quando ela fala do desenho feito por ele, como veremos a seguir:

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Desenho 1 – Representa o aprisionamento sofrido pelos padrões exigidos pela

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