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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ARTES – PROFARTES

RESSIGNIFICAR O CORPO OPRIMIDO-REPRIMIDO PELA EXPERIENCIA EM ARTE

CLÁUDIO DE ALMEIDA CAVALCANTE

Natal/RN 2021

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CLÁUDIO DE ALMEIDA CAVALCANTE

RESSIGNIFICAR O CORPO OPRIMIDO-REPRIMIDO PELA EXPERIENCIA EM ARTE

Artigo e proposta pedagógica apresentados ao Curso de Pós-Graduação de Mestrado Profissional em Artes – Prof-Artes, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisitos parciais para obtenção do grau de Mestre em Artes.

Orientadora Profa. Dra. Marineide Furtado Campos.

Natal/RN 2021

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CAVALCANTE, Claudio de Almeida. Ressignificar o corpo oprimido-reprimido pela experiencia em arte. Artigo e Proposta pedagógica (Mestrado Profissional em Ensino de Arte) – Universidade Federal do Rio Grane do Norte – Programa de Mestrado Profissional em Artes PROF-ARTES/CAPES, 2021.

Aprovado em 25/02/2021.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________ Profa. Dra. Marineide Furtado Campos/UFRN

Orientadora-Presidente

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Djackson da Rocha Bezerra

Examinador Externo/UFRN

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Marcílio de Souza Vieira

Primeiro examinador Interno/UFRN

_____________________________________________________________ Profa. Dra. Renata Viana de Barros Thomé

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, Elita Araújo Cavalcante, a maior incentivadora da minha prática.

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AGRADECIMENTOS

A todas as pessoas que contribuíram de forma direta ou indiretamente na construção de mais um processo de ensino-aprendizagem, concluindo a escrita desse artigo e proposta pedagógica, sendo mais uma fase de conhecimentos no exercício da docência, que, com certeza, contribuirá ainda mais na prática do meu exercício em sala de aula.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do Ministério da Educação pelo financiamento dessa pesquisa;

À UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte;

Ao PROF-ARTES - Mestrado Profissional em Artes por possibilitar participarmos de um momento singular e significativo em nossas vidas;

Ao corpo de professores do Prof-Artes/UFRN, em especial, à Profª. Drª. Marineide Furtado, minha orientadora que com excelência, competência e sabedoria me guiou por esse percurso repleto de luz que é o conhecimento, não se negou enquanto educadora, em nenhum momento, dessa orientação, a professora foi maravilhosa nesse processo.

Ao Prof. Dr. Marcilio de Souza Vieira, por todas as sugestões dadas durante a minha qualificação, que me ajudaram a melhorar cada vez mais a construção da

minha escrita acadêmica;

Ao meu querido Prof. Dr. Djackson da Rocha

O meu agradecimento, mais que especial, por todas as orientações e indicações de leitura que me forneceu minha linda mãe, Elita Araújo Cavalcante, que sempre está ao meu lado dando-me apoio e conforto. Para conseguir finalizar essa pesquisa cientifica.

Foram diversas pessoas que me antecederam, desde o meu nascimento, ao passar pela minha formação enquanto cidadão e educacional; essas pessoas foram e são importantes no profissional que eu me tornei. Os pronomes pessoais, sejam no singular ou plural: eu, tu, ele, nós, vós, eles; todos juntos contribuíram na construção dessa formação. Por isso, G R A T I D Ã O a todos.

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RESUMO

O presente trabalho objetiva observar, analisar, refletir e discutir junto ao estudante do Novo Ensino Médio acerca de seus corpos marcados, oprimidos, conflitados e ressignificados no espaço da escola pública com foco no ensino de Arte e suas diversas linguagens – Teatro, Dança, Música e Artes Visuais, a partir de várias experiências teatrais: “O que você tem haver com a corrupção”, “Paulo Freire o Educador”, e sete montagens de espetáculos com a temática dos direitos e deveres do trabalhador, projeto esse idealizado e executado pelo Ministério do Trabalho, aqui, no Rio Grande do Norte, onde envolve diversas escolas da capital. Durante esses setes anos, foram muitos estudantes oportunizados ao fazer teatral, e por fim, o jogo eletrônico “The Sims”, na cena teatral para culminância com a finalização do Mestrado Profissional em Arte. Apropriando-se dessa ferramenta transformadora que é o ensino de Arte na escola pública, busca-se encaminhar progressivamente o estudante, de forma humana, na construção de valores e conceitos éticos, estéticos e cidadãos, possibilitando que ele se torne sujeito autônomo e construtor de sua própria história social e corporal. Pensamos em como oportunizá-lo, por meio do ensino da Arte, a vivenciar relações humanas e criativas com todos os que fazem a escola, contribuindo para que esse estudante se emocione, tenha prazer e felicidade em aprender, e que esse aprendizado tenha significado e que seja apreendido por meio de experiências viscerais, singulares, integrais e com aporte em mecanismos pedagógicos, metodológicos, criativos, lúdicos e significativos, dando uma ressignificação a um corpo repleto de marcas opressoras e conflitos advindos do convívio familiar e de uma sociedade opressora. Para isso, buscamos aporte teórico em Freire (2004), Bertherat (2010), Bernstein (2010), Guénon (2003), Barbosa (2002), Reverbel (2007) e Boal (2019), dentre outros. A pesquisa tem um cunho qualitativo, com produtos finais este artigo científico e uma proposta pedagógica de um espetáculo de teatro inspirado nos “Corpos Marcados, Oprimidos, Conflitados e Ressignificados” na escola e na vida, e por meio da apropriação do jogo eletrônico “The Sims”, junto ao estudante, construir cenicamente um espetáculo com o mesmo titulo. Ressalte-se, portanto, a possibilidade de um coletivo onde é possível apresentar a esse estudante outras formas de pensar, viver, existir em seu contexto e no entorno da escola.

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ABSTRACT

The present work aims to observe, analyze, reflect and discuss with the student about their marked, oppressed, conflicted and resignified bodies in the public school space with a focus on teaching Art and its different languages - Theater, Dance, Music and Visual Arts, from the electronic game “The Sims”, in the theater scene. Appropriating this transformative tool, which is the teaching of Art in public schools, the aim is to progressively guide the student in a human way, in the construction of ethical, aesthetic and citizen values and concepts, enabling him to become an autonomous subject and builder of his own social and corporal history. We thought about how to make it possible, through the teaching of Art, to experience human and creative relationships with all those who attend school, contributing to this student being emotional, having pleasure and happiness in learning, and that this learning has meaning and that it be apprehended through visceral, singular, integral experiences and with support for pedagogical, methodological, creative, playful and significant mechanisms, giving a new meaning to a body full of oppressive marks and conflicts arising from family life and an oppressive society. For this, we seek theoretical support in Freire (2004), Bertherat (2010), Bernstein (2010), Guénon (2003), Barbosa (2002), Reverbel (2007) and Boal (2019). The research has a qualitative nature, with the final products of this scientific article and a pedagogical proposal for a theater show entitled “Marked, Oppressed, Conflicted and Resignified Bodies” at school and in life. It should be noted, therefore, the possibility of a collective where it is possible to present this student with other ways of thinking, living, existing in his context and around the school.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

1. O CORPO NA HISTÓRIA E NA ESCOLA 12

1.1 O CORPO RESIGNIFICADO NAS AULAS DE ARTE 18

2. O ENSINO DE ARTE NA ESCOLA 21

3. O TEATRO DO OPRIMIDO (TO) NO PROCESSO DE

RESSIGNIFICAÇÃO DOS CORPOS MARCADOS E OPRIMIDOS

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4. A UTILIZAÇÃO DA PALAVRA IMPROVISADA NA SALA DE AULA E O JOGO DRAMÁTICO

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4.1 “THE SIMS”, O JOGO ELETRÔNICO LEVADO PARA CENA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

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4.2 A FALA DO ESTUDANTE NESSE PROCESSO ENSINO

APRENDIZAGEM

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CONSIDERAÇÕES FINAIS 60

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INTRODUÇÃO

A discussão desse artigo permeada da importância do jogo dramático no espaço da escola pública é uma atividade prática bastante valiosa e relevante ao desenvolvimento e formação do estudante, podendo contribuir, para a sua consciência corpórea, motora e intelectual, o que justifica a escolha do tema, que está focado no corpo do estudante e observado no espaço da escola pública uma vez que esse corpo se mostra carregado de marcas, rótulos, oprimido e reprimido, não se reconhecendo como um corpo jovem repleto de vida, um corpo que é para ser dinâmico homogêneo no sentido de esta integrado, junto, inteiro e feliz pela sua própria dinâmica natural.

Temos como aporte teórico os escritos de Foucault (1979; 2004), Dagogenet (2004), Barba (1995), Greiner e Amorim (2007), Merleau-Ponty (1999), Ortega (2002), Le Goff (1929), Almeida (2013), Lacaz (2010), Sant´Anna (2004) dentre outros, que tratam sobre o corpo. Fundamenta-se também em Brasil (1996; 1997), Ana Mae Barbosa et al (2012), Márcia Strazzacappa (2017), Isabel Marques (2014) e Fusari & Ferraz (1999) com seus estudos sobre o ensino de arte.

Embasa-se ainda nos estudos de Peter Slade (1987), Koudela (2002), Viola Spolin (2005), Reverbel (2007) e Augusto Boal (1991) com suas experiências e estudos sobre o jogo dramático. Além disso, referenda-se com os estudos de Gallo (2002), Guinón (2014) e outros quando tratamos do jogo na hipermídia.

A pesquisa tem um cunho qualitativo, de natureza participante cujo instrumento de trabalho na construção do conhecimento busca compreender, intervir e transformar a realidade, oferecem um repertório de experiências destinadas a superar situações vividas, numa produção coletiva do saber, visando ações transformadoras na escola e na vida do cidadão. Em vista disso, é nossa questão de pesquisa: Até que ponto é possível ressignificar os corpos dos estudantes do Centro Estadual de Educação Profissional Senador Jessé Pinto Freire – CENEP, que foram marcados e oprimidos em suas vidas e qual a possibilidade de expressar esse corpo e seus sentimentos através de uma experiência cênica em sala de aula? Reforce-se, portanto, que buscaremos apresentar a esse estudante outras formas de pensar, viver, existir em seu contexto como também no entorno da escola.

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Para sistematizar o nosso trabalho, organizamos o texto em três partes, além da introdução, considerações finais e das referências bibliográficas. A primeira parte desenvolve reflexões sobre o corpo na história e na escola; seguida dos estudos sobre a ressignificação dos corpos nas aulas de arte; para, na segunda parte, tratarmos do ensino de arte, tomando por base os autores já citados nos aportes teóricos.

A terceira parte vem explorar a utilização de palavras para a improvisação no espaço da escola pública, como foco no jogo dramático, seguido pelo estudo do jogo eletrônico em cena. Nas considerações finais, retomamos os objetivos da pesquisa, verificando se, na verdade, foram atingidos e passamos a encaminhar orientações necessárias aos envolvidos no ensino de arte na escola para que sejam coerentes com os objetivos propostos à sua prática.

1. O CORPO NA HISTÓRIA E NA ESCOLA

Em Michael Foucault (1979, p. 22), encontramos que o corpo é a superfície da inscrição dos acontecimentos, enquanto que a linguagem os marca e as ideias os dissolvem); vendo assim, o corpo é o lugar de dissociação do Eu, perpetuado pela pulverização daquilo que ele sente ou viveu ao longo da sua existência, trazendo em si emoções e instintos enraizados profundamente como meios de sobrevivência.

Assim, o nosso corpo vai se adaptando, porém, no fundo das suas entranhas, guarda a dor de todo o processo que viveu para se encaixar na realidade posta à sua frente. O corpo se encaixa enquadrando-se, sem se dar conta das emoções que escaparam à sua percepção e a sua vida.

Porém, é necessário cair em si, e voltar o olhar para o lugar de onde deixamos de perceber o corpo; de quem nos obrigou a isso, e então, estabelecer uma nova relação com o mundo, com os outros e conosco, deixando reverberar tudo na arte, quando o corpo entra em cena.

Na verdade, nunca deixamos de nos ocupar do corpo, porque ele (o corpo) é parte de cada um de nós. Estamos nele e o habitamos profundamente. Já não há a necessidade de mantermos o travamento do corpo, conter emoções, dominar os gestos, é preciso viver esse corpo também por meio da arte na escola.

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Mas, não desejamos parar por aqui, o nosso olhar vai adiante. E, para isso, devemos lembrar o nosso corpo como o lugar da sexualidade e da subjetividade, o que implica revisitar os nossos registros corporais, as repressões, e até mesmo a percepção de si, como corpo sujeitado às disciplinas sociais numa sociedade que teima em controlar a maneira de ser do outro no seu corpo, sendo fundamental ressignificá-lo.

Dagognet (1973 apud STREY & CABEDA, 2004, p. 108) revela que “conhecer o corpo é caminhar para algumas zonas de escuridão, pois cada descoberta a seu respeito é acompanhada por dúvidas, riscos, receios até então desconhecidos”, no entanto, ele não deixa de existir na cena social.

Antonin Artaud trata das inquietações do corpo nas Artes Cênicas, quando expõe a angústia da desapropriação do corpo e do exílio do espírito, clamando pelo espírito como corpo próprio pelo pensamento não separado, conforme Grotowisk, indo além dos moldes tradicionais da representação, visto que o ator é seu corpo, o qual deve ser utilizado para o desenvolvimento de técnicas teatrais. Logo, “o ator é seu corpo e, para entendê-lo, há que contemplá-lo em ação, em vida” (BARBA, 1995, p. 92), na representação cênica através de ações dramáticas.

No método das ações físicas, inaugurado por Stanislavisk (apud GREINER & AMORIM, 2007), o corpo do ator dirige-se para a realização de algum objetivo, não importa quantos papéis o ator já tenha construído, mais importante é o movimento e a ação no ato de encenar.

Merleau-Ponty criou uma imagem de corpo que se tornou referência quando se pensa na relação corpo-cidade no contexto atual, o qual procura definir que o corpo é o corpo que habita um sistema ambiental urbano, um corpo físico, e o que este corpo é capaz de realizar, enquanto concentração de ações conscientes. Para ele, o corpo físico é a dimensão intermediária na qual o limite entre o interno e o externo, entre o ato puro de consciência e a operação estrutural do corpo se sintonizam. (MERLEAU-PONTY apud GREINER & AMORIM, 2007),

Como sugere Merleau-Ponty, “para muitos pensadores, no final do século XIX, o corpo era um pedaço de matéria, um fixo de mecanismos. O século XX restaurou e aprofundou a questão da carne, isto é, a questão do corpo animado”, sendo assim, o corpo é movimento e se conduz pela sua condução de ser e existir plenamente.

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A vida e os corpos dos estudantes não são idênticos. Na verdade, cada corpo possui sua identidade, sua individualidade e seus limites, e as experiências vivenciadas pelo corpo não acontecem igualmente, elas ocorrem como numa máquina em movimentações mecânicas e repetitivas, e, para isso, se faz necessária uma energia circular integrada, com uma movimentação não linear, tendo ritmo e repertório próprio, as quais não se repetem.

Aos poucos, esse corpo é substituído culturalmente e socialmente por um corpo que parece que não é mais de sua propriedade, tendo dificuldade de aceitação, que se rejeita não se conhece e não se reconhece um corpo que mostra dificuldade no aprendizado escolar e nas relações interpessoais e vivências com o outro.

Conforme Ortega (2002), um corpo só existe por meio de sua materialidade no tempo e espaço, de forma que se movimente, sinta sensações e se emocione. Considera-se que o ser humano é a medida de todas as coisas, foi através do tamanho do homem que se começou a medir a vastidão do universo, bem como pela sua palma e sua braçada iniciou-se a medição da terra, e todo o nosso conhecimento de mundo ocorre por um parâmetro humano, que tem como base o corpo.

Logo, é importante oportunizar ao estudante, vivenciar experiências artísticas significativas, singulares e viscerais por meio de leituras diversificadas, atividades lúdicas e corporalmente prazerosas. Muito cedo, em vivências e experiências simples ou singulares, há a possibilidade de se reagir a elas de diversas formas, principalmente as repressões sociais, familiares e no espaço da escola pública.

Devido a essas e outras questões, o corpo vai emoldurando-se, moldando-se, curvando-se o quanto pode, vai definhando e transformando sua essência natural com o passar do tempo, tornando-se enrijecido e apático. Nesse contexto, o ensino de Arte e suas linguagens artísticas - Teatro, Dança, Música, e Artes Visuais, pode e deve contribuir para que esse corpo se emancipe, por meio de mecanismos pedagógicos e metodológicos criativos e significativos, oportunizando a esse estudante, através da pesquisa, análise corpórea e atividades práticas do ensino de arte, uma forma de se ver como um corpo que pode existir diante dos outros.

É necessário apresentar atividades significativas e motivacionais para que esse corpo se enxergue e perceba claramente o que ele tem em mente, o porquê de

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suas ações, o que ele faz consigo mesmo, sua forma de agir, pensar e sentir, dando significado e ressignificando esse corpo por meio do ensino de Arte. Ressalte-se, portanto, que a escola não é espaço para reproduzir corpos padronizados, é o lugar das diferenças, que deve contribuir com o estudante em sua formação para a cidadania.

As diferenças observadas na escola podem ser raciais, culturais, de gênero, religiosas, familiares, sociais, de talentos e habilidades, relativas ao físico e demais estereótipos, que muitas vezes estão relacionadas a situações preconceituosas e/ou discriminatórias ocorridas dentro da família e reforçada na escola, sendo necessário o acolhimento dos estudantes, cuidando dos sentimentos acordados e reações envolvidas nessa realidade vivida por cada um na sua particularidade.

Entenda-se que o nosso corpo pertence a uma ordem cronológica e fisiológica e que não temos como modificá-lo, a não ser interferindo nele. Contudo, nossa vivência em grupo implica a ruptura do sujeito com o outro, numa estrutura social muitas vezes individualista e nossas atuais concepções do corpo se vinculam à ascensão desse individualismo como estrutura social, com a emergência de um pensamento racional positivo e laico sobre a natureza, bem como a regressão das tradições populares locais, mas com história da medicina, o corpo passa a ser cada vez mais é oprimido e reprimido, marcado em seus diversos espaços. (LE GOFF, 1929).

Numa sociedade que define o corpo como um padrão de beleza, enquanto pecado, doença, onde a igreja também diz que o corpo é uma culpa, e na ciência é um negócio, vivem-se diversas indagações. É por isso que o espaço escolar deve ser o lugar onde o estudante festeje a existência de seu corpo, sua alegria, sua forma de apresentar-se ao mundo externo; compreenda a importância de como viver bem na sua maneira de existir, entenda que é preciso amar o seu corpo da forma como ele se apresenta sobre todas as coisas, longe de qualquer imposição opressora, preconceituosa ou de julgamentos. (ALMEIDA, 2013).

A escola, ao longo de seu contexto histórico e cultural, contribuiu de certa maneira na moldagem e tentativas de definir esse modelo corporal, lendo as demandas de outros corpos que dizem respeito à família, crença, política, ou seja; de forma a atender a demanda de outro corpo. (LACAZ, 2010).

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Observando a escola, lócus da nossa pesquisa, verificamos que muitas vezes apenas busca um ideal que fere e oprime os corpos, não permitindo que os alunos com seus corpos desfrutem de sua vida, privando-os e limitando-os a uma vivência em função do que o outro corpo o impõe. Muitos alunos chegam ao espaço da escola pública trazendo consigo marca, rótulos bem perceptíveis, é por isso que, através desse projeto de mestrado profissional, passamos a utilizar mecanismos criativos e envolventes para que esse corpo sinta e perceba que o espaço da escola deve ser um ambiente agradável, seguro e repleto de atividades lúdicas, que envolva e proporcione prazer a esse estudante.

Por outro lado, vemos que, a instituição escolar não deve ser vista apenas como o reflexo da opressão, da violência, mas deve possibilitar momentos de reflexão para que esse corpo compreenda que quanto maior a repressão e opressão da violência maior serão as marcas corporais.

A escola não deve enxergar o estudante como uma réplica ou cada como um xerox do outro, porque dessa forma a dominação se torna mais fácil. Uma igualdade praticada por mecanismos disciplinares e atividades onde esquadrilham atitudes, gestos, movimentos, espaços e tempo, não apenas do estudante, mas de todo o contexto escolar, não é viável no mundo contemporâneo. (SANT'ANNA, 2004).

Impõe-se a esse corpo atitudes de submissão e docilidade, revelando que uma grande parte da escola pública é instituição de dominação de corpos, não muito favorável as diferenças, pois ela é resistente a isso. É no ambiente da escola que é construída uma complexa rede de relações, e se ela não percebe essa construção coletiva, entrará em conflitos com ela mesma, em que os reflexos maiores ocorrerão no corpo e na vivência cotidiana do estudante, que já chegam nesse espaço carregado de conflito, medo, angústia e depressão. (FOUCAULT, 2004).

Dessa maneira, há a possibilidade de uma forte separação entre aquele que sabe e impõe e aquele que obedece e se revolta, o coletivo passa a ser movido por uma obrigação que é imposta e incorporada com o tempo pelo estudante. No entanto, a educação tem a função de introduzir o estudante em um mundo já existente, isto é, ao antigo e das tradições, mas paralelamente, ela é responsável em apresentar a esse estudante o novo, mostrando para ele outras formas de pensar, viver, existir em seu contexto.

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Como docente da escola pública, observo que ela tem uma prática, em que o aluno é considerado e visto muitas vezes como um ser incapaz de pensar por si mesmo, sempre o outro pensa por ele, por isso, esse estudante tem o direito a uma escola pública de qualidade e excelência, uma escola revolucionária, que de fato contribua na formação desse corpo fazendo com que ele seja oportunizado de perceber as amarras históricas e culturais das quais foram impostas a esse corpo. (FREIRE & BETTO, 2000).

Corroborando com esse pensamento, Leite (2009), diz que:

Antes de qualquer coisa, é estar atento para essa realidade: O corpo fala, o corpo cria, o corpo pensa. Estivemos dizendo todo tempo que o corpo traz uma história, uma espécie de memória que está impregnada nos músculos, nos tendões, nos órgãos, no padrão de respiração. Memória objetiva dos tempos de infância, memória muscular do desenvolvimento nos primeiros anos de vida, e também memória de cada tombo, cada salto, cada cambalhota, cada dança. Um instante de prazer, e eis que o corpo é capaz de registrá-lo e revê-lo muitas vezes através de sutis mecanismos. Uma queda, uma dor aguda, um susto e um pouco de nossa respiração podem ficar comprometidos. Assim, o corpo fala. Ele fala, ou seja, traduz toda essa história de vida e fala ainda dos desejos e limites atuais, fala através do volume dos sons da voz, dos tiques e cacoetes do jeito de abaixar a cabeça, do nível do olhar voltado sempre para o chão, para frente ou para o alto, fala através do posicionamento da cabeça sobre os ombros, do jeito que estes se curvam ou se empinam, falam de um indivíduo que não tem “intimidade” com o chão, pois sente em rodar, não apoia o pé, sempre cai se machuca, fala através do tônus da pele, do brilho dos olhos, do balançar dos quadris, do sorriso e do choro. Mas fala não só do registro, não só de memória não só do que já passou. Ele fala também do que está ocorrendo agora, enquanto aprende. Ele fala de contínuas transformações que estão ocorrendo o tempo todo, exatamente porque consiste numa estrutura dinâmica nenhum corpo é assim ou assado, todos estão. Estão hoje diferente de ontem, diferentes do que foram na juventude, do que serão na velhice, diferente do que foi nos fins de semana, no dia seguinte a uma festa, na época pré-menstrual, em situação de stress, em situação de romance... até mesmo os ossos esta matéria tão concreta (LEITE, p. 25-26, 2009).

Logo, a construção desse corpo jovem, cheio de dúvidas e interrogações, precisa ser diferente, não o tornando prioridade de ninguém, nem deixando esse corpo sob o cuidado e a cargo do outro, nem sob sua responsabilidade. A escola é um espaço de acontecimentos e conhecimentos; e também um espaço para tranquilizar e dá liberdade ao estudante, não para reprimir e/ou oprimir.

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1.1 O CORPO RESIGNIFICADO NAS AULAS DE ARTE

Diariamente, vivenciamos um processo por meio de experiências simples, integrais ou singulares e, a cada experiência vivenciada, ela estará composta por resistência e conflitos que serão únicos e jamais iguais umas das outras. A escola precisa considerar que a vida do estudante nesse espaço e tempo não acontece de uma única forma, nela, há interrupções; cada história tem seu enredo, movimentação própria, ritmo, e sempre será particular.

A experiência em si tem um caráter emocional satisfatório, é possível ser eficiente na ação e não ter uma experiência consciente, a atividade pode ser automática demais para permitir uma sensação daquilo a que se refere, ela chega ao fim, mas não ocorre um desfecho ou consumação na consciência.

O ensino de Arte pode ressignificar esses corpos com experiências significativas e estéticas e não automatizadas, repetitivas e cansativas O estudante em suas experiências no espaço da escola precisa se emocionar, sentir sensações, ter prazer em realizar tais atividades, sejam elas quais forem. É necessário possibilitar aos estudantes na escola, a ressignificação1 de seus corpos.

Corpos que a família não aceita o gênero sexual, que passam por humilhações provocadas pela própria família por causa de querer viver suas vontades e desejos; que não se aceitam pela etnia, por ser gordo (a), ter o cabelo crespo, ter sido abusado de diversas formas no próprio contexto social, familiar, ser baixo, pobre e passar por muitas necessidades, são diversas as opressões e repressões que esses corpos sofrem, e ao chegarem à escola, essas opressões e repressões ainda são acentuados pela instituição que deveria caminhar na contramão dessa situação, que não constrói, só destrói.

Portanto, o ensino de arte proporciona aos estudantes um olhar mais acolhedor a seus corpos que por diversas razões se encontram conflitados, amargurados, angustiados e muito depressivos devido às experiências vivenciadas no dia a dia dentro e/ou fora da escola.

O ensino de arte desenvolve, ainda, experiências que sejam singulares, pois o aprendizado, nessa área do conhecimento, necessariamente, envolve um fazer e

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um apreciar arte, possibilitando a reflexão sobre as formas da natureza, bem como, das produções artísticas individuais e coletivas de diversas culturas e épocas (BARBOSA & CUNHA, 2010).

É necessário lembrar que o ensino de arte é uma área do conhecimento que permite de forma ética, cidadã, lúdica, prazerosa e integral, a inclusão seja ela qual for. Oportuniza ao estudante experimentar atividades que interajam com outra área do conhecimento. Essa experiência especificamente veio para interagir tranquilamente também com o universo virtual, uma vez que, por meio do ensino de Arte, o estudante pode e deve ser estimulado a ter prazer em ir e permanecer no espaço da escola pública, realizando atividades teóricas, práticas e significativas.

São diversas as formas possíveis do docente apresentar conteúdo do ensino de Arte ao estudante, despertando nele, o interesse para o fazer e o apreciar artístico e estético, considerando as diferenças e sabendo lidar com elas no espaço da escola pública.

A arte deve ser apresentada para o estudante como um campo amplo, vasto e intercultural, uma área do conhecimento de muitos pensares e fazeres. E nesse contexto, falar das Tecnologias da Informação e Comunicação em consonância com o ensino de Arte, no espaço da escola pública, tem que ser algo elaborado, pesquisado, prazeroso, significativo e contextualizado no que se refere aos aspectos históricos, políticos e estéticos da arte e das tecnologias da informação e comunicação.

A arte tem suas funções e objetivos específicos e é tão importante e necessária quanto às demais áreas do conhecimento. Nessa ressignificação desses corpos estudados, a arte é um instrumento fundamental de educação que historicamente vem se desenvolvendo, se delineando e ocupando papéis diversos e significativos nesse processo de transformação.

Conforme os Parâ

metros Curriculares Nacionais

– PCN

“A arte tem sido proposta como instrumento fundamental de educação, ocupando historicamente papéis diversos, desde Platão, que a considerava como base de toda a educação natural”.

(BRASIL, 1997

). Assim, por meio de experiências artísticas, há a possibilidade desses corpos vivenciarem a fantástica liberdade de expressão artística, no espaço escolar.

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Enquanto professor do Ensino de Artes na escola pública, sempre procurei refletir o sentido da escola para esses corpos/estudantes, é de oportunizá-los a fala e o movimento, visando um olhar espaço-temporal da sua corporeidade2. É fundamental cada vez mais observarmos o que está acontecendo nesse contexto social contemporâneo, especificamente na sala de aula, não apenas a sala enquanto estrutura, mas observar os corpos, portas e portões por onde entram e saem esses estudantes, corredores, banheiros, intervalo, a hora de se alimentar; tomar banho, etc.

Os corpos em seus contextos sempre deixam marcas e pistas, que muitas vezes passam despercebidas, por isso, não são vistas, lidas e entendidas por medo, desatenção, ou falta de informações. O mais importante em tudo isso é que estejamos sempre abertos, enquanto formadores de opiniões e comportamentos, da importância de observarmos os pequenos detalhes dos corpos que falam, gritam e se manifestam na escola pública, pedindo para se expressarem.

Contudo, conforme Garcia (2009), antes de qualquer coisa,

[...] é estar atento para essa realidade, pois: o corpo fala, o corpo cria, o corpo pensa. Estivemos dizendo todo tempo que o corpo traz uma história, uma espécie de memória que está impregnada nos músculos, nos tendões, nos órgãos, no padrão de respiração. Memoria objetiva dos tempos de infância, memoria muscular do desenvolvimento nos primeiros anos de vida, e também memória de cada tombo, cada salto, cada cambalhota, cada dança. Um instante de prazer, e eis que o corpo é capaz de registra-lo e revê-lo muitas vezes através de sutis mecanismos. Uma queda, uma dor, um susto e um pouco de nossa respiração podem ficar comprometidos. Assim, o corpo fala, ou seja, traduz toda essa história de vida e fala ainda dos desejos e limites atuais, fala através do volume dos sons da voz, dos tiques e cacoetes do jeito de se abaixar a cabeça, do nível do olhar voltado sempre para o chão, para frente ou para o alto, fala através do posicionamento da cabeça sobre os ombros, do jeito que estes se curvam ou se empinam, fala de um indivíduo que não tem “intimidade” com o chão, pois sente em rolar, não apoia o pé, sempre cai se machuca, fala através do tônus da pele, do brilho dos olhos, do balançar dos quadris, do sorriso e do choro. Mas fala não só do registro, não só da memória não só do que já passou. Ele fala também do que está ocorrendo agora, enquanto aprende. Ele fala de continuas transformações que estão ocorrendo o tempo todo, exatamente porque consiste numa estrutura dinâmica nenhum corpo e assim ou assado, todos estão. Estão hoje diferentes de ontem, diferentes do que foram na juventude,

2 É meio pelo qual o corpo extrai as mais diversas sensações e movimentos, e estabelece uma

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do que será na velhice, diferente do que foi nos fins de semana, no dia seguinte a uma festa, na época pré-menstrual, em situação de stress, em situação de romance [...]. Até mesmo os ossos esta matéria concreta (GARCIA, 2009, p. 25-26).

É importante destacar as experiências vivenciadas de maneira integral e visceral pelo nosso corpo, em seus diversos contextos, estão conectadas e interagem com o mundo em que vivemos e acontece constantemente em nossas vidas, num espaço e tempo, com início e um desdobramento, sempre emergindo para um desfecho final.

2. O ENSINO DE ARTE NA ESCOLA

O ensino de arte é obrigatório pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN reconhecem também o seu lugar de destaque no currículo, dando à disciplina de Arte a mesma importância que é dada a outras disciplinas. Mas é a ação do professor que vai tornar a arte um elemento essencial para favorecer o crescimento do sujeito como cidadão apreciador e conhecedor da cultura para a construção da própria nação. (BARBOSA et al, 2012).

Neste sentido, cabe ao professor desenvolver a capacidade de compreender, conceber e fruir Arte, posto que, conforme Barbosa (2012), sem a experiência do prazer da arte, nenhuma teoria será reconstruída. A arte como linguagem pode aguçar os sentidos e transmitir aquilo que somos, onde estamos e como nos sentimos diante da realidade.

Para Barbosa (2012) ressalta que:

A arte capacita um homem ou uma mulher a não ser um estranho em seu meio, nem estrangeiro em seu próprio país. Ela supera o estado de despersonalização, inserindo o indivíduo no lugar ao qual pertence, reforçando e ampliando seus lugares no mundo. (BARBOSA, 2012, p. 18).

A LDB, no seu Art. 1º, parágrafo 2º, diz que: “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social” (BRASIL, 1996). Portanto, o ensino deverá ser fundamentado por esse princípio, isto é, com o objetivo de preparar o indivíduo para trabalhar e viver na sociedade em que está inserido. Além

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disso, a educação tem por finalidade, conforme o art. 2º, “o pleno desenvolvimento do educando” (BRASIL, 1996).

A obrigatoriedade do ensino de arte está plenamente de acordo com os objetivos da educação pregados pela lei nacional. Pelo ensino de Arte, os estudantes podem ter estimuladas todas as suas capacidades inteligentes, abrangendo uma ampla variedade de domínios, o que nos leva a pensar em uma educação que não privilegie apenas o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático, mas o indivíduo no seu todo.

A LDB é clara ao situar o ensino de arte como componente curricular na educação básica, reconhecendo a importância das quatro linguagens artísticas: artes visuais, dança, teatro e música. Assim, os professores devem se conscientizar de que a aula de arte não se resume a atividades de desenho e pintura, uma vez que o ensino de arte é parte integrante da formação do cidadão. (STRAZZACAPPA, 2007).

Em vista disso, Marques (2014) entende que toda a potencialidade do ensino de arte só se concretiza nas práticas pedagógicas se o professor de Arte acreditar que pode atuar como um articulador de transformações: suas, dos estudantes e, da sociedade em que vivem; e que é esse um dos focos principais do exercício da sua profissão docente e artística. Caso contrário, continuaremos sendo professores dispensáveis que se contentam em colar bandeirinhas e montar dancinhas de festas de São João, atendendo às expectativas do senso comum sobre a arte na escola.

O ensino de Arte deve estar presente na construção e reconstrução de valores, no ato da criação, na apreciação prazerosa do conhecimento que amplia os horizontes e multiplica as leituras de mundo. É unir-se aos outros pela construção de algo maior que as individualidades mas que pode ser compartilhado coletivamente dentro de um contexto social. (MARQUES, 2014), e essa contextualização deve estar sempre presente em sala de aula, o que requer criatividade docente, para que possamos encontrar alunos transformados, envolvidos e participativos no ato de fazer arte.

Logo, o professor comprometido com a arte propicia aos estudantes o conhecimento de como viver e conviver com os outros, conservando o respeito e o diálogo com as diferenças nas diversas leituras de mundo e na contextualização dos trabalhos artísticos na escola. (MARQUES, 2014).

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Assim sendo, o ensino de arte abre portas à possibilidade de se discutir, problematizar e fazer viver relações significativas atravessadas pelas linguagens artísticas e esperar que cada cidadão se comprometa com a construção de um mundo melhor, em que todos se respeitem no melhor de si. (MARQUES, 2014).

Pensando dessa forma, Fusari e Ferraz (1999) apontam que “a arte se constitui de modos específicos de manifestação da atividade criativa dos seres humanos ao interagirem com o mundo em que vivem, ao se conhecerem e ao conhecê-lo” (FUSARI & FERRAZ,1999, p. 16).

Portanto, o ensino de Arte favorecerá o exercício contínuo da imaginação e habitará o estudante a construir novos saberes, desenvolvendo estratégias pessoais para resolver seus problemas em sala de aula, no convívio com o outro, bem como, com os seus problemas mais profundos, ressignificando-os na cena. (BRASIL, 1997). E, não seriam necessárias grandes produções, mas o desenvolvimento da capacidade de resolver seus problemas, sem julgar, nem justificar, mas contextualizando o seu vivido nas interações sociais. (BARBOSA, 1991).

Consequentemente, o estudante passa a compreender “a relatividade dos valores que estão enraizados nos seus modos de pensar e agir, que pode criar um campo de sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer abertura à riqueza e à diversidade da imaginação humana” (BRASIL, 1997, p. 19). Tudo isso passa pela aceitação de si e a construção de novos saberes com o apoio da escola na figura do professor, ajudando o estudante a transformar o seu vivido em uma cena teatral.

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3. O TEATRO DO OPRIMIDO (TO) NO PROCESSO DE RESSIGNIFICAÇÃO DOS CORPOS MARCADOS E OPRIMIDOS

A utilização do método do ato de representar, o Teatro do Oprimido, nessa pesquisa, foi uma das ferramentas para a construção do projeto pelo fato de ter uma vasta experiência com o teatro fórum na academia, no grupo de teatro GABOTUN, coordenado pelo Prof. Dr. Djackson Bezerra da Rocha.

Com isso, explorei junto aos estudantes o conhecimento das técnicas que foram desenvolvidas pelo autor do método Teatro do Oprimido em sua preparação para o ato de representar, no qual, são envolvidas ações sociais, podendo levar o estudante, que se encontra em situações de opressão, a compreender as maneiras de se defender, combatendo os verdadeiros opressores. Esse método dá a possibilidade dos alunos se expressarem e falarem daquilo que pensam e refletirem sobre a sua realidade e condição de vida, discutindo conjuntamente com eles, à

procura dos meios para mudar e transformar essa situação opressão. É importante o estudante praticar as técnicas usadas pelo teatrólogo Boal no

Teatro do Oprimido dentro de uma proposta pedagógica/metodológica, utilizando o teatro fórum; que possibilita o debate em grupo focal, onde reconhecemos e identificamos as problemáticas do grupo de estudante, e, com temas relacionados a suas vidas, as cenas são construídas e serão apresentadas no teatro fórum.

A proposta possui uma finalidade clara, que é de buscar identificar as opressões e repressões sofridas pelos estudantes, tendo como ferramenta a pesquisa e a prática do Teatro do Oprimido, possibilitando o diálogo sobre as suas demandas, alertando-os a estarem atentos na construção de uma vida tranquila e de qualidade, para que eles não se mostrem anestesiados diante do mundo, uma vez que esta anestesia q é promovida pelo sistema capital de consumo.

Uma concepção que tem na essência a sua principal função a luta por igualdade social, e a luta contra a dormência social, na qual, somos muitas vezes conduzidos, levando-nos a naturalizar nossas ações e consentir para que isso aconteça.

Assim, o estudante, enquanto individuo, precisa ter a oportunidade de apropriar-se das diversas maneiras de se fazer teatro na escola, ampliando as

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possíveis possibilidades de expressão que podem estabelecer a comunicação direta, participativa e ativa entre atores e espectadores, sem a presença da quarta “parede” do teatro. É importante ressaltar que na escola existe um grupo imenso de sujeitos, em que podem ser observados, os seus comportamentos diferenciados e únicos, os quais são absorvidos pelos padrões socioculturais.

Mas a escola é um espaço onde todos juntos podem pesquisar e encontrar formas para mudarem as situações de opressão e repressão que os estudantes trazem consigo ou que venham sofrer no espaço escolar.

Ressalte-se que em todo o percurso do homem na história teve e tem a presença de governantes ditatoriais, e isso está presente em todas as partes do mundo, reprimindo as expressões humana, impossibilitando ao outro de se reconhecer na construção de sua identidade, por isso, é preciso libertar-se dessa condição opressiva.

Na contemporaneidade, ainda buscamos e lutamos por um processo democrático na escola e na sociedade, nos adaptando, buscamos enfrentar a tudo e a todos em um contexto de opressão, nos adaptamos e nos moldados a vivermos em uma sociedade, onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres mais pobres, pilar do sistema capitalista, que vislumbra prioritariamente a formação de um indivíduo reprodutor dos interesses do mesmo e do mercado de trabalho.

Por meio da experiência aqui relatada, é oferecida ao estudante sua potencialização como pessoa, que muitas vezes é negada pela visão burguesa de como é apresentada e vista a arte de forma geral. A experiência possibilita algo muito necessário e importante em uma formação de jovens que é o diálogo, existindo, então, o debate dentro e fora da escola das diversas situações que afligem a sociedade e, consequentemente, a eles. É importante aguçar e despertar nesses sujeitos o diálogo teatralizado, e até quem sabe, encontrar caminhos para outras possibilidades, tentar solucionar situações que os oprime, dando a oportunidade de expressarem o que sentem e refletirem sobre como tudo isso poderá ser utilizado como uma prática futura.

O teatro possibilita transformações. Não tem papel exclusivo apenas do entretenimento. É de extrema necessidade e de grande importância a prática teatral no espaço escolar, de forma que não seja apenas para comemorações do calendário escolar. Com a prática teatral, o estudante discute e reflete sobre a

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mesma, sobre ele, o outro e muitas outras coisas, fazendo-o entender que é parte integrante e inteira da construção de sua história de vida que é única. E com essa prática pedagógica, o estudante e professor protagonizam juntos esses percursos.

Nessa construção com o estudante, o Teatro do Oprimido foi o instrumento que promoveu o diálogo e despertou nos estudantes a necessidade de conversar com a temática ‘opressor’ e ‘oprimido’ falando o que eles pensam e sentem sobre sua realidade e a do outro, não importando qual.

Na estrutura pedagógica/metodológica, para desenvolver atividades grupais, um instrumento importante utilizado na experiência é grupo focal aplicado durante o trabalho, coletando dados, bem como seus resultados até o seu final, sendo observada a evolução do estudante, fatos, conflitos experiências, sentimentos, as suas percepções, valorizando, portanto, as preferências do cotidiano, situações em que possam aparecer o opressor e o oprimido.

O docente no processo ensino-aprendizagem tem que ter consciência que é o promotor que faz a interação e integração entre todos, observando e cuidando para evitar dispersão dos objetivos da discussão, como também, a monopolização de alguns participantes sobre outros.

São diversas as situações de repressões e opressão responsáveis em oprimir os corpos, são selecionadas técnicas de investigação para a coleta das informações, podendo ser registrada em câmara, áudio, fotos, filmagens ou relatórios. É preciso lembrar que o cotidiano ensina as pessoas a lutarem por uma escola mais justa e democrática, para tanto, a educação necessita ser emancipadora dos estudantes e oferecer aos mesmos a possibilidade de vida em uma verdadeira democracia com direitos e deveres iguais perante a sociedade na condição de ser humano.

. Por isso, temos que incentivar na escola uma prática pedagógica e metodológica fundamentada na diversidade, valorizando em especial, as concepções relacionadas ao aprendizado em arte, com avaliações que permitam aos professores e estudantes conscientizarem-se da necessidade de uma transformação emancipadora. O Teatro do Oprimido impulsiona para tomadas de decisões e potencializa à promoção do aprendizado dos conhecimentos, cabendo à escola, ensinar para todos. São muitas as ações que podem se desenvolver na escola, de forma a oportunizar o protagonismo jovem para viver em sociedade, a

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partir de práticas significativas para que o estudante possa criar e recriar a partir da interpretação teatral.

O Teatro do Oprimido (TO), metodologia que teve sua iniciação em 1960, utiliza o teatro como uma ferramenta de trabalho politico, social, ético e estético, podendo interagir, de maneira positiva, em uma mudança na sociedade e foi criada pelo teatrólogo brasileiro, nascido no estado do Rio de Janeiro Augusto Boal, em que consiste em um método teatral, reunindo uma infinidade de jogos, exercícios e técnicas teatrais elaboradas por ele. O teatro do oprimido tem em sua base fundamental os seus três grandes princípios: a reapropriação dos meios de produção teatral pelos oprimidos, a quebra da quarta parede que separa o publico dos atores e a influencia do teatro para a transformação social. (BACHEGA JÚNIOR, 2020).

Uma metodologia que teve e tem uma grande repercussão mundial, proporcionando uma técnica nova de preparar o ator para o ato de representar, O teatro do oprimido é comemorado mundialmente no dia 16 de março e analisa o passado no presente, procurando reinventar o futuro e capacita a qualquer pessoa ao ato de representar, objetivando uma democratização das formas e meios de produção teatral, isso por meio do diálogo transformador, possibilitando às camadas sociais menos favorecidas a ter a possibilidade de transformar sua própria realidade. Às ações ou cenas teatrais, podemos utilizar quaisquer notícias de jornal ou outro material, sem propósito dramático e técnicas de representação.

Portanto, para o desenvolvimento da pesquisa fora aplicado esse processo de ensino do teatro do oprimido/Augusto Boal, por meio da prática e a viabilização da proposta da Educação Popular na escola pública. É grande o público de estudantes na contemporaneidade, frequentando essa escola publica, estudantes que fazem parte de uma classe social pouco favorecida, tornando-se mais vulnerável às opressões e repressões sociais. É por isso que foi focada na pesquisa, a compreensão e discussão com os estudantes, de seus corpos oprimidos e reprimidos no espaço escolar e de como isso ocorre historicamente e de que maneira isso é acentuado na escola.

A história da educação brasileira mostra que já se discutiu diferentes formas e concepções de educação, e a pesquisa baseou-se em uma educação inclusiva e

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participativa para aqueles em maior vulnerabilidade como já foi dito, ou seja, uma educação popular.

Desde os anos de 1960 no Brasil, o conceito de Educação Popular, até os dias atuais, tem como objetivo e meta principal discutir esse tipo de Educação e a melhor maneira de constituir esse entendimento, é colocar foco de luz na pesquisa a partir do pensamento de Paulo Freire em relação à educação para a liberdade e autonomia do estudante.

A concepção do teatro do oprimido dialoga com os interesses das classes populares e que também conversa com outros autores especificamente nesse caso os estudantes de escola publica, a autonomia pode parecer em muitos casos utópica, mas necessária.

Essa não é uma experiência única, são diversas experiências como esta em escolas publica, e com certeza muitos resultados positivos que revelaram que o teatro do oprimido pode ser praticado na escola em um entendimento e concepção de uma educação voltada para uma classe menos favorecida socialmente, é preciso ter a consciência que existem limites que devem ser superados pela escola e seus atores, isso também com o envolvimento social, esse tipo de experiência junto ao coletivo ao longo prazo vai construindo um projeto inclusivo e diferente de país, contrariando o que é muitas vezes proposto pelo Estado.

Para que aconteça essa e outras transformações é necessário o comprometimento e a participação de todo os atores, fazendo uma leitura crítica do mundo e construindo possibilidades para que aconteçam mudanças e transformações, e o teatro com toda certeza contribui profundamente nesse aspecto. Segundo Augusto Boal ao escrever o livro “Jogos para Atores e Não Atores” acredita que:

Creio que o teatro deve trazer felicidade, deve ajudar-nos a conhecermos melhor a nós mesmos e ao nosso tempo. O nosso desejo é o de melhor conhecer o mundo que habitamos, para que possamos transforma-lo da melhor maneira. O teatro é uma forma de conhecimento e deve ser também um meio de transformar a sociedade. Pode nos ajudar a construir um futuro, em vez de mansamente esperarmos por ele. (BOAL, 1998, p.11).

O teatro do oprimido, nessa experiência, não foi o foco central do estudo, mas contribuiu profundamente no processo ensino aprendizagem para que houvesse resultados positivos.

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4. A UTILIZAÇÃO DA PALAVRA IMPROVISADA NA SALA DE AULA E O JOGO DRAMÁTICO

O jogo dramático vem sendo utilizado em diferentes contextos, desde que surgiu como objeto de pesquisa, nas primeiras décadas do século XX e investigado por diversos pesquisadores como Peter Slade (1987), pioneiro no campo do teatro para crianças; Koudela (2002), quando faz uma proposta para o ensino do teatro com os jogos teatrais; Viola Spolin (2005), trazendo o jogo como uma forma de arte capaz de realizar a transformação na vida de uma pessoa; e nas relações com um todo orgânico; BOAL (1991), Reverbel (2007), dentre outros. Trata-se, portanto, de um instrumento que cada vez mais deve ser utilizado nas escolas, devido aos seus aspectos lúdicos, pedagógicos e educacionais.

O jogo dramático é compreendido por diversos pesquisadores no assunto, ao longo dos tempos, como uma atividade artística inerente aos humanos; essa atividade prática é disseminada por diversos contextos e lugares do mundo, e o jogo é experimentado, criado, recriado, refeito e redefinido a partir das experiências vivenciadas por diversos professores, grupos de teatro, etc.; logo, a transformação do jogo dramático é sempre em função dos objetivos específicos de cada interessado nesse tipo de investigação. (BOAL, 1991).

Na realidade, o comportamento natural do ser humano em relação a esse tipo de jogo, ao qual estamos refletindo, acontece por meio da dramaticidade, que se encontra presente nos diversos jogos e brincadeiras infantis3, e jogando o jogo dramático, o envolvido aprende e apreende diversos aspectos da vida em sociedade, além do divertimento e da brincadeira, que é de suma importância, essa prática dá prazer ao sujeito envolvido.

As crianças, quando jogam o jogo dramático, dão vida aos objetos (jogo projetado) e se transformam também nas pessoas imaginadas (jogo pessoal). Conforme Slade (1987), o jogo dramático infantil, apesar de ser uma atividade natural e inerente à criança,

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[...] pode ser organizado, proposto pelos adultos com objetivos educacionais dirigidos. O adulto, contudo, não deve inibir as crianças em suas brincadeiras próprias, ao contrário, é importante respeitar e estimular esses jogos infantis. Ainda segundo o autor, pais e professores podem e devem sugerir e organizar essas atividades, deixando as crianças criarem seu próprio jeito de realizá-los. Assim, considera-se o Jogo Dramático infantil como atividade pertencente ao próprio brincar das crianças, e que quando proposta em sala de aula, ou em contextos educacionais, deve ter por base as atividades lúdicas. Estes jogos não são, portanto, compreendidos como atividade teatral pelo autor, já que não se estabelece uma relação palco-plateia, ou a preocupação de construção de um discurso cênico. Além de que, o objetivo principal da atividade não envolve a preocupação com a exploração e a apreensão do teatro enquanto linguagem. [...] o Jogo Dramático infantil é primordialmente valioso na preparação da personalidade, “com um considerável efeito equilibrador sobre o caráter, a formação da confiança em si mesmo, e a melhoria do rendimento escolar e na aquisição do gosto em geral” (IDEM, p.101).

O conceito do jogo dramático (Jeux dramatique) vem sendo bastante observado e investigado na tradição cultural francesa, apresentando a possibilidades de ser também uma prática teatral, uma atividade onde a experiência de representar alguma coisa ou de ser observado como um jogador em um palco ou no espaço da escola pública ou em qualquer outro lugar é crucial nesse processo investigativo. (SPOLIN, 2005).

O jogo dramático, por sua própria estrutura, é constituído de um caráter artístico, e por meio dele, os estudantes da escola pública podem e devem construir e analisar cenas de teatro, organizando, criando textos com temáticas pertinentes às suas necessidades, anseios e realidade. (SPOLIN, 2005).

Na fase da adolescência, o estudante da escola pública e particular deve ter a oportunidade de fazer, produzir e ver teatro de qualidade, o que pode ser expresso por meio de uma atividade prática, lúdica e significativa construída em sala de aula, para que tal conhecimento possa ser levado ao entorno da escola.

Não devemos esquecer-nos da importância de refletir sobre o jogo e as produções realizadas pelos estudantes; pois o jogo não deve ser jogado apenas por jogar, não é interessante que o jogo dramático se torne algo repetitivo e mecânico, é sempre importante também a presença do desafio no jogo, bem como, a ludicidade para um melhor aprendizado.

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Portanto, o jogo dramático merece ser valorizado no espaço da escola pública e particular por ter um significado peculiar e singular, podendo ser adaptado em sala de aula, e contribuir positivamente para a formação cidadã do estudante.

Nas atividades desenvolvidas por este professor-pesquisados, no Centro Estadual de Educação Profissional Senador Jessé Pinto Freire, o jogo dramático é utilizado nas aulas de oficina de Arte, especificamente, na de Teatro. É necessário dizer que, em nossa sala de aula, muitos jogos infantis são adaptados nos exercícios propostos para as construções cênica individual e grupal dos estudantes. Muitas vezes, a atividade do faz de conta, que o estudante realiza, por meio do Jogo Dramático, potencializa e amplia a sua capacidade de criar através da expressão que é algo desenvolvido na vida.

É por isso que o Jogo Dramático com sua ludicidade pode contribuir para que o estudante da escola pública possa enfrentar suas inquietações através de atividades teatrais. Os jogos podem ocorrer de várias maneiras, como games, jogos eletrônicos, plásticos, musical ou dramático, pois o mais importante é que sejam feitos praticados livremente, pois geralmente, os jogos educativos visam proporcionar a liberdade do aluno.

O Jogo Dramático se for apresentado no espaço da escola como uma atividade grupal, oportuniza ao estudante fazer sua própria construção teatral e produzir conjuntamente com os outros. Essas construções cênicas ocorrerão a partir das atividades desenvolvidas na oficina de Arte, com ludicidade, oportunizando ao estudante da escola expressar alguma coisa por meio de uma linguagem artística tão importante que é o Teatro, com seus variados signos visuais e sonoros; de forma que proporcione a esse estudante se tornar um apreciador da arte de representar.

No Jogo Dramático, podemos voltar atrás e recomeçar, e os nossos conflitos e situações, que acontecem em nosso cotidiano, podem ser modificados, tornando o mundo em que vivemos um instrumento de análise pessoal. Nesse processo, a repetição é um dos aspectos estruturais do Jogo Dramático, e é bastante significativo fazer análise das construções cênicas criadas pelos estudantes, enquanto jogadores.

Assim, é importante frisar que, professores, diretores de teatro e outros precisam estar atentos às práticas teatrais desenvolvidas em suas atividades

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jogadas, uma vez que elas devem estar abastecidas de uma estética que exerça uma compreensão e análise do mundo real, fora do jogo.

É significativo no espaço da escola estar observando o processo do jogo para não estacionarmos em mera cópia dos padrões estéticos, difundidos pelos meios de comunicação de massa, ou de outras produções extraordinárias, ou até mesmo, por uma estética teatral ultrapassada, que não corresponde mais a função significativa que é exigida dessa linguagem artística na contemporaneidade.

Ressalte-se que o teatro que favoreça a análise dos gestos e atitudes; que não se apresente enquanto reprodutor irrefletido de comportamentos habituais, é fundamental. No jogo dramático, a palavra improvisada é de suma importância, mas não impede a utilização de textos nessas atividades, pois essa é uma atividade universal, e apropria-se de diversos signos visuais e sonoros, sendo a palavra um elemento muito presente, possuindo significado singular com um envolvimento sentimental e social dos sujeitos envolvidos.

E é pensando sob esse olhar que trazemos uma vivência dos estudantes do segundo ano do Ensino Médio Regular, na qual os mesmos apropriaram-se do jogo eletrônico “The Sims4” para a construção de uma cena dentro do jogo dramático. 4.1 “THE SIMS”, O JOGO ELETRÔNICO LEVADO PARA CENA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

“The sims” foi criado por Will Wright, permitindo ao jogador simular muitos aspectos do cotidiano da vida das pessoas no mundo real e de suas famílias. Ele possibilita ao jogador criar e controlar a vida de pessoas do universo virtual e construir casas, lotes e espaços, ou seja, molda uma realidade de acordo com o seu desejo. É a partir do jogo “The sims” que os estudantes passaram a criar uma cena teatral interagindo com temáticas e conflitos diários para a construção cênica.

Conforme Gallo (2002),

The Sims consegue trazer para dentro do jogo muitos aspectos cotidianos enfadonhos da vida urbana contemporânea, como a limpeza de banheiro, o pagamento de contas, a quebra de um cano d'água da cozinha etc. e entreter com isso os jogadores, que talvez

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tenham que dolorosamente passar por tais processos em suas próprias vidas. (GALLO, 2002, p. 201).

Mas, no nosso caso, o objetivo de utilizar esse jogo foi pensar refletir, discutir sobre as múltiplas possibilidades de dialogar conflitos com esse jogo virtual, buscando compreender, conhecer e viver melhor o jogo da vida por meio do jogo eletrônico e do jogo teatral que, antes de qualquer questão, depende de um corpo para jogar e realizar qualquer experiência de vida seja simples ou singular.

Para o grupo, a princípio, foi um desafio que despertou muito interesse na turma. O jogo “The Sims” tem em sua composição, personagens, tal qual em nossas vidas, composta por diversos tipos humanos, e são vivenciados por atores sociais. Os personagens se apresentam e se relacionam à sua maneira, com suas particularidades, pluralidades, emoções e sentimentos, pois cada relação ocorre de maneira diferente uma da outra, em um tempo e espaço, em que muitas vezes os personagens vivem seus conflitos internos a partir de suas relações familiares e sociais.

Para refletir sobre a realidade e a virtualidade, nesse processo de construção da cena, tomamos por base teórica os postulados de Demo (2004), Portela (2002), Brasil (1997) e Letramento Digital, pressupostos explicitados por Silva Neto e Furtado Campos (2010) entre outros.

É importante destacar que, em sua grande maioria, os docentes são simples usuários virtuais. Os estudantes, pelo contrário, são nativos digitais, e já trazem consigo uma cultura voltada ao contexto de utilização de diversas mídias. Nesse processo, o docente, mesmo não dominando totalmente essas tecnologias, pode intermediar de forma organizada para o aprendizado teórico e prático desses estudantes. Para isso, é preciso pensar e organizar bem sobre como ministrar esse aprendizado, abordar esses conhecimentos por meio de atividades inovadoras, integrais e criativas.

As novas tecnologias, na verdade, emocionam e envolve fortemente o estudante, com imagens e sons, cores e movimentos, extremamente atrativos. Os jogos eletrônicos permitem a inter-relação e a interação de pessoas e a possibilidade de ter acesso a diversos conhecimentos de forma Inter territorial e rápida, muito rápida.

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Pois, em nossa contemporaneidade, vivemos no tempo do computador, da informatização, um momento onde o termo inter se encontra presente em nosso cotidiano e em contextos diferenciados, se interconectando, permitindo e dando possibilidade para as inter-relações.

O estudante de hoje está focado em seus interesses e necessidades, em especial, o contexto virtual que faz parte da cultural e da sua vida, sendo que a internet está presente em seu convívio diário.

A internet é um instrumento poderoso de ação artístico, por sua inédita capacidade de levar imagens, textos, e documentos hipermídia, possibilitando assim gerar novos paradigmas no âmbito das propostas do ensino de Arte. Entendendo a Arte como uma maneira de organizar variadas experiências, é fundamental integrá-la ao processo educativo, principalmente ao definir sua contribuição para o desenvolvimento de processos mentais. (SILVA NETO e CAMPOS, p. 124-202).

A internet permite ao estudante a interculturalidade, a interdisciplinaridade, desafiando limites e fronteiras territoriais por meio das diversas tecnologias disponíveis em formatos e propostas diferentes. São apresentadas para o consumo, mas possibilita também o aprendizado diverso para o estudante.

A escola não deve estar confinada a um pequeno espaço na construção do conhecimento e formação de conceitos junto a esse estudante. Importante no ambiente escolar é o espaço da inter-relação e da integração que a arte e as novas tecnologias permitem, entre a consonância interdisciplinar com o mundo virtual, possibilitando a interação, que é um princípio fundamental na educação contemporânea, pois a interação provoca e promove diálogo.

A base na escola tem que ser o diálogo, como em nossas vidas também, ele deve estar sempre presente, portanto, precisamos dialogar com o mundo virtual, com o jogo eletrônico e o jogo teatral, possibilitando variados sentidos e significados para o estudante nesse processo do aprendizado, desenvolvendo experiências que promovem a interculturalidade de forma consciente, proveitosa e significativa.

Com o tempo, o homem passou por mudanças e transformações que ainda acontecem constantemente. E uma das grandes invenções que contribuiu para que essas mudanças e transformações acontecessem de forma rápida e revolucionária foi a invenção do computador e as estruturas Tecnológicas de Informações e Comunicações (TIC).

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Nessa experiência do jogo eletrônico “The Sims” e as atividades do ensino de Arte – Teatro foi possível apresentar para o estudante uma proposta pedagógica metodológica bastante significativa, interessante e lúdica, contribuindo para o seu aprendizado. É por isso, a escola precisa sintonizar-se com o que acontece na vida do estudante além dos muros dessa instituição disciplinadora.

O uso do jogo eletrônico está posto em nossa realidade, e o espaço escolar precisa dialogar com esse discurso. Quando a experiência com o jogo eletrônico foi levada aos estudantes, eles tiveram uma reação frenética para transformar a ideia em um jogo teatral cênico, possibilitando que eles experimentassem e vislumbrassem novos horizontes de maneira significativa, prazerosa e lúdica no fazer teatral. Tendo como inspiração o jogo eletrônico “The Sims”, foi possível transformar as experiências vivenciadas pelo aluno em uma cena teatral.

Essa experiência, vivenciada pelos estudantes do Ensino Médio por meio da interdisciplinaridade, arte e tecnologia, despertou interesse nos envolvidos, porque o ambiente virtual e artístico estão enriquecidos de diversas possibilidades, e a escola precisa cada vez mais construir em seus espaços a autonomia no que se refere a internet e suas diversas possibilidades, apropriando-se delas da melhor forma

possível em suas vidas e tirando dela todos os proveitos possíveis. Assim, o uso das tecnologias na escola vem ocupando cada vez mais

espaços, e com muita dificuldade, as instituições de ensino vem se adaptando a essa realidade, que possibilita ao estudante discussões e caminhos para uma alfabetização multi-alfabetizadora e podem transitar e discutir e dialogar com o contexto tecnológico e artístico.

São diversas as possibilidades das multimídias, e o jogo eletrônico “The Sims” foi o jogo selecionado para contrapor com o jogo teatral nessa vivência no espaço da escola. O jogo eletrônico não deve ser visto como uma atividade ou ocupação soberba é preciso ter outro olhar para essa questão.

No projeto desenvolvido com os estudantes do Ensino Médio foi importante e significativa a parceira com os estudantes já jogadores virtuais, pela contribuição dada nessa construção cênica. Foram elaboradas atividades do ensino de Arte, teatro especificamente, que pudessem dialogar e contribuir na construção do processo cênico. Contudo, tanto no jogo eletrônico, quanto no jogo teatral, é preciso o corpo presente no tempo e espaço, que se envolva e se emocione de alguma

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