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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (páginas 51-57)

Por meio das experiências desenvolvidas no jogo dramático no espaço da escola pública, os estudantes vivenciaram a fantástica experiência de liberdade de expressão. Muitos desses estudantes trazem em seus corpos diversos conflitos familiares e sociais, que os envolvem de maneira negativa em seus contextos.

As memorias e as construções sociais precisam interferir positivamente na formação indenitária dos estudantes, a escola deve contribuir com os estudantes resignificando seus corpos, que sempre estão falando, se movendo no espaço e tempo desse lugar de aprendizagem, onde passam uma grande parte de seu tempo.

Precisamos, cada vez mais, observar o que está acontecendo nesse espaço e tempo da escola, não apenas no que se refere à sala de aula em si, observando os corpos, a estrutura, portas e portões, por onde transitam os estudantes, como também nos corredores, banheiros, nos intervalos, na hora de se alimentarem no pátio, na quadra esportiva entre outros, porque estes corpos gritam e se comunicam entre si.

Os corpos, nesse contexto, sempre deixam e dão pistas, que muitas vezes passam despercebidas, por isso, não são vistas e lidas, às vezes, por medo, tensão, ou por falta de informações e observações. Assim, o jogo dramático, nesse contexto, pode e deve ser uma apropriação criativa e significativa para possibilitar a ampliação das experiências de maneira sensível, perceptível, reflexiva e imaginativa na escola.

É por essa razão que através do jogo dramático há a possibilidade de desenvolver no espaço da escola pública, atividades práticas significativas, integrais e singulares, envolvendo um fazer e um apreciar corpos diferenciados, possibilitando a reflexão sobre as formas que esse estudante está se envolvendo com o espaço e

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a natureza, bem como sua relação com ela, nas produções artísticas individuais e coletivas de diversas culturas e épocas.

Logo, o jogo dramático possui suas funções e objetivos específicos importantes e necessários que podem contribuir na construção de conceitos e ressignificação desses corpos, sendo também um instrumento fundamental na formação do estudante por ser um instrumental, que vem sendo desenvolvido e delineado com o tempo, uma vez que se trata de uma arte que liberta.

Dito isso, podemos inferir que através do contato com a arte é possível que o estudante se aproprie integralmente do seu corpo e interaja com o mundo no qual ele vive.

Dessa forma, uma abordagem qualitativa e de pesquisa participante, que identifica, analisa e propõe mecanismos de mudanças no estudante, faz com que esse corpo conflitado e marcado socialmente, se aceite como um ser vivente e único no espaço da escola e na família, não permitindo mais as interferências dos outros na sua vida, uma vez que esse corpo que deve viver de forma intensa, não se limite ao que o outro determina pelos seus pensamentos, percepções, sentimentos, comportamentos passados e entendimentos racionais, que não permitem que o corpo do outro tenha vida própria.

A escola, enquanto instituição educacional não deve perceber o corpo do estudante no espaço, como algo concretizado e definido e que essa construção corpórea aconteça pelo acolhimento do professor, observando os objetos proposto para o ensino de arte na escola pública, sendo, eles, portanto, coerentes com a prática educacional, não acentuar nesse estudante o preconceito que os mesmos sofrem, no cotidiano e em suas vidas e na escola, pelo contrario a escola tem que contribuir para que esse estudante aceite e compreenda o mecanismo de seu corpo, e que o mesmo possa interagir socialmente de forma prazerosa, de maneira a ter o domínio de seu corpo.

Considero que, após a referida pesquisa, fica clara a importância de a educação possibilitar aos estudantes o desenvolvimento e o “domínio” do próprio corpo, algo proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). A recomendação do referido documento também propõe que esse estudante precisa ser expressivo, e que tenha autonomia para verbalizar as suas opiniões, e que tenha consciência de sua realidade e possa tornar-se um estudante crítico.

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A pesquisa teve como proposta pedagógica a discussão e utilização do Teatro do Oprimido (TO) na escola, contribuindo para despertar o aluno crítica e criativamente. Portanto, para que o processo de ensino aprendizagem ocorresse positivamente, foi fundamental e imprescindível os estudos de Augusto Boal, criador do TO, e Paulo Freire, porque esses autores/pensadores possuem ideias bastante claras sobre opressão, repressão e estão em consonância com as recomendações dos referidos parâmetros.

Importante considerar aqui o significado das produções feitas pelos estudantes, por meio de oficina de arte e de como esse processo impactou na vida deles de forma positiva. O processo foi construído e realizado com o estudante através de leituras, discussões e análise, sendo observado que o TO não apenas contribuiu para despertá-lo de forma crítica e criativa, mas também, levá-lo a conhecer e a buscar meios de intervir na realidade que os cerca de maneira ativa, não mais como um ser passivo.

Na pesquisa, foi observada e discutida uma prática comum entre os estudantes que trata de diversos preconceitos entre eles mesmos, causando diversos problemas. Buscamos com isso encontrar fatores individuais, coletivos e contextuais que explicassem a distribuição dessas práticas entre esse grupo de estudantes.

Os resultados obtidos são de importância valiosa nesse processo, a partir da avaliação e de modelos de regressão hierárquica. Com essa análise, procurou-se desconstruir a ideia, concebida por muitos docentes, de que a postura comportamental violenta dos estudantes, no âmbito escolar, é consequência, principalmente, de situações de "desestruturação familiar".

É percebido no espaço da escola que o nível socioeconômico, bem como, a escolaridade da família envolve, de certa forma, preconceito, e é percebido nitidamente, em muitos casos, que o estudante que tem essa concepção e percepção é justamente aquele que está na pirâmide social em um nível mais elevado, no que se refere ao padrão de vida da maioria que se encontra na base dessa classificação social injusta.

Compartilhar esse tipo de pensamento ou disseminá-lo no espaço escolar é fundamental, pois não devemos defender a ideia de que contextos de intimidação,

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opressão e repressão é desenvolvido apenas entre estudantes de nível socioeconômico da base e não do todo da pirâmide social.

É importante que a escola tenha discussões em relação a essa temática que deve ser refletida nesse ambiente. É necessário termos essa investigação junto ao estudante, vislumbrando uma melhor interpretação da relação entre o status social desse aluno e a prática do preconceito em relação a isso.

Na verdade, a escola possui características, que possibilitam e confirmam, na prática, um contexto preconceituoso. A escola contribui para esse tipo de situação negativa de diversas formas, principalmente, diante da insatisfação desses atores nesse espaço educacional. Entretanto, se faz necessário considerar que, nesse contexto, a arte interferiu positivamente para que aconteçam mudanças nesse tipo de conflito. Logo, a escola torna-se harmoniosa com o conhecer e o fazer artístico por meio de suas linguagens (Arte Visual, Teatro, Dança e Música).

O enfrentamento desse tipo de problemática no espaço da escola não é feita com punição, ou a presença de atores externos. É preciso construir um ambiente saudável por meio de inter-relações pessoais com base no dialogo, numa relação humanizada, onde a violência, opressão e repressão não constroem uma positividade escolar, mas o aprendizado em Arte contribui para essa harmonização e positividade.

Para que haja essa harmonização e positividade, precisamos fazer do espaço escolar um lugar para lutarmos, todos os dias, contra o preconceito que oprime, reprime, marcando os corpos desses estudantes.

Isso não é um acontecimento nem tão pouco um fenômeno pontual e isolado, é uma coisa que infelizmente se generalizou, com variações que se modificam de contexto para contexto, esse fenômeno não é composto apenas com características ou as inclinações dos perfis individuais de cada estudante.

Na realidade, é um conjunto de diversas relações sociais que se estabelece no espaço da escola, considerando as interações e relações que ocorrem nesse lugar.

Considero, ainda, que a escola é espaço para a construção de uma convivência harmônica, de confiança e prazerosa, considerando as diferenças de etnia, gênero, classe social, características físicas, a forma de cada corpo se apresenta nesse espaço que é a escola. Pois, cada estudante possui sua vida

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cotidiana com sua maneira única e singular de se expressar em seus contextos complexos.

O importante é ressaltar que na coexistência com pessoas da família, da escola e em sociedade, as condutas, ações e significações desses estudantes, negros, pobres, LGBTS+, portadores de alguma necessidade corporal/mental, são configurados de uma maneira geral, como um cotidiano em suas vivências de obediência e resistência ao poder/autoridade/controle dos adultos, escola e sociedade, como a política e a religião.

Os mecanismos de opressão e exclusão operam com maior eficiência na esfera dos mais humildes. Isso é percebido com mais clareza entre os estudantes negros, que são impossibilitados de se apropriarem do conhecimento socialmente legitimado, e que muitas vezes são impossibilitados da apropriação do patrimônio cultural do seu povo, sendo isso configurado também como uma forma de opressão. Se considerarmos que a cidadania é um direito inalienável, desde a infância, estes estudantes já estão existindo como cidadãos excluídos e silenciados, antes mesmo de se tornarem adultos.

Existe também a limitação na construção desses sujeitos atores que são, muitas vezes, limitados e impedidos de vivenciarem suas significações plenas, emancipatórias no que se refere à sexualidade e à apropriação do corpo que tem que ser vivido e que é repleto de significados, desejos, afetos e prazeres.

Nesse processo de ensino e aprendizagem, refletimos e discutimos em relação à construção da subjetividade de estudantes negros e não negros que estão contextualizados na pirâmide social no nível popular, dando certa robustez ao pensamento de que a condição de possibilidade de os estudantes se constituírem sujeitos com direito à cidadania e ao pleno desenvolvimento de si como homem ou mulher.

Dessa forma, se emancipar não resulta apenas de mudanças nas relações autoritárias de convivência, mas da transformação das múltiplas relações de opressão presentes em nossa sociedade.

Para tanto, é preciso considerar a infância como um tempo vivido tão importante, em todos os seus aspectos, quanto à maturidade e compreender a criança a partir de seu próprio referencial, para que se torne um estudante e uma pessoa bem resolvida com opinião própria em relação ao mundo que vive.

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E aqui fica a certeza da necessidade de haver muitas concordâncias e mudanças em variados aspectos do ensino, e que essas sejam significativas, especificamente, para o ensino de Arte na escola pública brasileira, e que essas possibilitem aos estudantes pesquisarem, conhecerem, verem, sentirem e escolherem as formas artísticas que lhes agradem e também aprendam a construir conhecimentos significativos voltados para uma visão crítica e reflexiva da sociedade e que as escolas tenham espaços específicos para o ensino da Arte.

Após concluir esse Mestrado Profissional em Ensino de Arte, espero passar a ter uma melhor compreensão nessa área, pois como pesquisador, veio-me a necessidade de adquirir mais conhecimentos nessa área educacional.

A pesquisa concluída com esse trabalho, me possibilitou vislumbrar novos horizontes em minha profissão de arte-educador, por isso, pretendo dar continuidade a mina formação acadêmica, pois o estudo é como a nossa vida, enquanto existir vida vai existir sempre a busca por novos conhecimentos para que possamos nos apropriar dos mesmos e usá-los em benefício próprio e do outro.

Dentre estas possibilidades, pretendo trabalhar com uma proposta de arte que dê ao educando a oportunidade de tornar-se um sujeito mais autônomo e, consequentemente, mudar ideias já existentes na área, como a crença de que Arte é para um determinado grupo social ou apenas para aqueles que possuem talento.

Segundo Spolin (2001, p. 3), “Talento ou falta de talento tem muito pouco a ver com isso’’. Acredito também, que na produção de Arte não há apenas a presença da emoção, mas também da racionalidade, pois conforme Maturana (2002, p. 5) “pertencemos, no entanto, a uma cultura que dá ao racional uma validade transcendente e ao que provém de nossas emoções, um caráter”.

Nesse pensamento, o homem está inserido no mundo cultural e não valorizar esses conhecimentos seria negar sua própria existência. Não é possível o desenvolvimento de uma cultura sem o desenvolvimento das formas artísticas (Dança, Música, Artes Visuais, Teatro), onde a cultura marca fortemente as sociedades, os costumes, as crenças e as ideias presentes em cada povo, vistos como uma maneira do homem se encontrar como ser humano, possuidor de racionalidade e emoção que são características que o distingue dos animais.

O homem somente se realiza plenamente como ser humano pela cultura e na cultura. Não há cultura sem cérebro humano (aparelho biológico dotado de

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competência para agir, perceber, saber, aprender), mas não há mente, isto é, capacidade de consciência e pensamento, sem cultura. (Maturana, 2002, p. 5).

Professores e estudantes deve estar antenados com a realidade que os contorna e que os recheia, sem medo de se aproximar da Arte e usar toda criatividade possível no processo educativo do ensino de arte na escola pública brasileira.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (páginas 51-57)

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