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A FAPESP hoje

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CAPÍTULO II – FAPESP E COMUNICAÇÃO: LAÇOS INSTITUCIONAIS COMO MÉTODO

2.5 Ampliando os Horizontes do Conhecimento

2.5.1 A FAPESP hoje

Falar em números, principalmente, em investimentos da FAPESP na pesquisa científica, é complicado, não por sua excelência na gestão e acompanhamento de recursos, mas sim, pelas informações que vão merecer atualização anual. Todo o trabalho coincide com a nossa perspectiva em relação ao fomento como via de mão dupla, ou seja, de um lado uma entidade com potencial de investimento, e de outro, um pesquisador que viabilize a produção de conhecimento não apenas para si, mas, para quem realmente interessam seus problemas de pesquisa: a sociedade. A contribuição da Fundação não é apenas pecuniária. Ela se robustece por uma sólida e exigente sistemática de análise.

Cada Grande Área do Conhecimento conta com especialistas responsáveis pelo mérito das solicitações. Hoje, essas Áreas são: Ciências da Saúde, Biologia, Ciências Agrárias e Veterinárias, Engenharia, Física, Astronomia, Química, Geociências, Matemática e Computação, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Humanas e Sociais e Inovação Tecnológica. Seus membros se reúnem uma vez por semana. Eles têm a confiança do diretor científico e são escolhidos mediante consulta às lideranças acadêmicas de cada Área.

Ao ingressar na FAPESP, uma solicitação é encaminhada à respectiva Área e recebe uma assessoria ad hoc38. O mais importante, nesse processo inicial, é o tema do projeto de pesquisa e não o vínculo institucional do pretendente. Se o projeto for multidisciplinar, várias coordenações podem designar assessores ad hoc. Há uma lista de assessores que recebem o projeto de acordo com sua competência específica em relação ao tema do projeto. A FAPESP procura evitar escolhas que geram qualquer tipo de conflito de interesse na análise do projeto, ou seja, um assessor jamais vai analisar projeto de um pesquisador que seja seu colega de

38 No quarto capítulo, vamos mostrar como é esse fluxo na Área de Ciências Humanas e Sociais II conforme

instituição. Os assessores ad hoc emitem os pareceres e devolvem o projeto à coordenação de Área. A partir disso, a diretoria científica recebe uma recomendação de decisão.

Em caso de negativa, o postulante pode recorrer da decisão, que pode ser submetida à nova reconsideração. Por isso, os assessores ad hoc são mantidos em sigilo. Eles também não informam seus pareceres. Apenas as instâncias competentes da FAPESP têm acesso. Um vínculo de confiança que, segundo a Fundação, não pode ser rompido sob nenhum pretexto. As situações que configuram conflito de interesse entre o assessor e o solicitante de apoio são: (a) participação atual ou anterior no projeto; (b) colaboração regular em atividades de pesquisa ou publicações com um dos pesquisadores solicitantes nos últimos anos; (c) relação orientador/orientado com o solicitante; (d) interesse comercial do assessor na pesquisa proposta; (e) relação familiar do assessor com um dos proponentes; (f) qualquer relação anterior com o solicitante. Em qualquer uma dessas condições, o assessor deve efetuar imediatamente a devolução do processo.

O envio de propostas à FAPESP pode ser realizado através do Sistema SAGE, meio essencialmente eletrônico, e pelo Agilis, meio impresso. No SAGE, o parecer do assessor ad hoc também é emitido pelo sistema. Ainda esclarecendo o SAGE: trata-se de um sistema informatizado da FAPESP, que permite ao pesquisador, o envio online de propostas de financiamento a projetos de pesquisa científica e tecnológica e a administração de projetos aprovados em suas linhas de apoio. Ele tem como objetivos facilitar o fortalecimento de informações por parte dos pesquisadores, agilizar procedimentos e possibilitar maior visibilidade das ações da Fundação.

No Sistema Agilis, é possível elaborar e submeter diversos tipos de solicitações de alteração para processos tramitando em papel. Entre os pedidos, podem estar a Alteração de Vigência, a Alteração de Prazo de Relatório Científico, Alteração de Prazo de Prestação de Contas e Transposição de Verba. Podem se cadastrar, no Agilis, pesquisadores que fazem solicitações em papel e cujos dados constam no Cadastro de Pessoa Física da FAPESP e pessoas com CPF e que não constam no Cadastro de Pessoa Física da entidade.

Encaminhando-nos ao final deste capítulo, trazemos as ações da FAPESP a partir dos anos 2000. A evolução do trabalho da entidade pode ser aferida pelo pronunciamento do presidente Celso Lafer em reunião com a Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação da Assembleia Legislativa de São Paulo, palco onde ao longo da história, houve acalorados debates sobre a instituição da FAPESP.

FIGURA 10 – Celso Lafer

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

A ida do presidente da Fundação, ao Legislativo Paulista, é prevista constitu- cionalmente. Na sua participação, em 20 de agosto de 2014, Lafer destacou a velocidade com a qual se amplia o repertório de conhecimento. Destacou também a autonomia da Fundação não como algo isolado, mas com rigorosos padrões de eficiência administrativa. O presidente ressaltou a importância do intercâmbio como noticiou o site da FAPESP.

É ainda fundamental para acelerar a inovação, bem como para aumentar o impacto acadêmico da pesquisa produzida em São Paulo, incrementar o diálogo de cientistas paulistas com seus colegas de outros países, principalmente aqueles que se encontram na ponta do conhecimento científico do mundo. Por isso, nos últimos anos, a FAPESP tem realizado considerável esforço para incentivar a produção de pesquisas conjuntas entre cientistas de São Paulo e outras nações.

Celso Lafer informou que, em 2013, foram realizados encontros científicos, com destaque para a FAPESP Week no Japão, Reino Unido e Estados Unidos. As reuniões aproximaram cerca de 600 pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Também houve a assinatura de 19 acordos internacionais com instituições de 11 países sendo que pela primeira vez a Fundação estabelece relações com Japão, África do Sul, Austrália e Chile.

O início da década de 2000inaugurou novo milênio e trouxe, como primeira novidade institucional, a divulgação dos Indicadores de Ciência e Tecnologia como instrumento de avaliação e planejamento, além do Relatório Anual, que presta contas das atividades de apoio

à pesquisa científica no Estado de São Paulo. Uma questão que não poderia ficar de fora, nesse contexto da história contemporânea, são as pesquisas com a Internet. Em 2001, o Programa Tecnologia da Internet Avançada (Tidia) surgiu com o propósito de incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias digitais e promover colaborações entre instituições de pesquisa, empresa e governo. Projetos apresentados, em 2002, já faziam da Internet, objeto de pesquisa. No primeiro edital, foram 123 solicitações à FAPESP. A maioria propôs pesquisas relacionadas às Aplicações da Internet e Tecnologia de Rede. Esse programa durou uma década. Até 2012, foram apoiados 220 projetos sobre Tecnologia da Informação.

No ano de 2003, a divulgação científica ganhou a Agência FAPESP. No dia 24 de junho daquele ano, a agência de notícias eletrônica entrou no ar com um site e boletins diários. No conteúdo, notícias, entrevistas e reportagens especiais sobre política científica e tecnológica e a divulgação de resultados de pesquisas desenvolvidas no Brasil e no Exterior. Em agosto de 2012, a Agência chegou à marca de 100 mil assinantes. No Brasil, as cidades com o maior número de assinantes são, pela ordem, São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Brasília, São Carlos, Curitiba, Salvador e São José de Campos. Já os países onde há mais acessos da edição, em Língua Portuguesa, são Estados Unidos, Portugal, França, Alemanha e Canadá.

A divulgação científica, com apoio da Internet, ganhou como reforço, em 2005, a Biblioteca Virtual. Nela estão reunidas informações mais detalhadas sobre projetos concluídos ou em andamento apoiados pela Fundação. A construção desse repositório de dados foi inspirada na metodologia e tecnologia de bibliotecas virtuais do campo da Saúde no Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências (Bireme). Os dados colocados pelos bibliotecários no sistema são transferidos do Sistema Agilis. A página reúne informações sobre auxílios, bolsas, programa de pesquisa, acordos e convênios de cooperação. É possível ter acesso também a mapas com a distribuição geográfica do fomento pelo estado de São Paulo e fazer uma busca pelo nome do pesquisador. Assim o sistema gera uma página com todos os dados que lhes são atribuídos. Também há como acessar Currículo Lattes, Research ID e Google Scholar Citation do pesquisador. A Biblioteca Virtual é, como se sabe, a fonte documental da pesquisa.

Além de estimular a produção de conhecimento, a FAPESP também intermedia conhecimento produzido. Em 2010, a instituição investiu quase 34 milhões de Reais na aquisição de livros, e-books e publicações em outras mídias. Em todo o Estado, 175 bibliotecas de Instituições de Pesquisa puderam adquirir 165 mil títulos sobre Ciência e Tecnologia. No

mesmo ano, uma mudança institucional. O então governador, Geraldo Alckmin, incluiu a vinculação da FAPESP à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (SDECT) haja vista a extinção da Secretaria de Ensino Superior do Estado. Foi um ano especial, afinal, a FAPESP chegava aos 50 anos. O auditório “Governador Carlos Alberto de Carvalho Pinto”, com capacidade para 170 pessoas, foi inaugurado; houve anúncio da aprovação de investimentos da ordem de R$ 159 milhões para a compra de cerca de 250 equipamentos multiusuários para pesquisas cientificas e dos 40 projetos aprovados no Programa de Apoio à Infraestrutura de Museus, Centros Depositários de Informações e Documentos e de Coleções Biológicas.

FIGURA 11 – Inauguração do Auditório “Carlos Alberto de Carvalho Pinto” em 23 de maio de 2011

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

Também foi anunciada a chamada de propostas do Programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão. A Revista Pesquisa FAPESP publicou uma série de reportagens especiais sobre alguns campos de conhecimento, além, de uma edição especial sobre os 50 anos da Fundação. Em relação a eventos, houve uma edição da FAPESP Week, em Washington. Sobre reconhecimento, o meio século da FAPESP rendeu uma homenagem da Sociedade Brasileira de Química e algumas reportagens na grande imprensa.

Ao longo da década 2010-2020, a FAPESP vem estabelecendo inúmeros acordos com universidades e entidades de várias partes do mundo. Nota-se, com isso, que a cooperação internacional é a grande aposta da Fundação atualmente. Uma das iniciativas foi “Ciência na TV”, viabilizado por um termo de cooperação entre a Fundação Padre Anchieta, mantenedora

da TV Cultura de São Paulo, e a FAPESP. Desde o dia 7 de março de 2015, foi ao ar o SP Pesquisa, uma série de 26 programas sobre a produção científica e tecnológica no estado de São Paulo. O modelo inspirou um novo programa a partir de 2018. Em parceria com o jornal Folha de S.Paulo, surgiu o Ciência Aberta, com exibição mensal, para divulgar os resultados de projetos financiados pela Fundação. Também é o objetivo da atração, falar de ciência ao público leigo. A transmissão ocorre pelo site da Folha e também no site e na página do Facebook da FAPESP.

Por todo o exposto neste capítulo, podemos dizer que a FAPESP é um sistema cultural organizado com a proposta de desenvolver a ciência e a pesquisa, no estado de São Paulo, a partir da viabilização de verbas para a execução de projetos. Os pesquisadores trabalham seus objetos, a partir de uma relação de tempo e de espaço que nos permite afirmar que a Fundação tem um papel significativo na contribuição para a construção e legitimação da Área da Comunicação. Esse saber é constantemente construído. Quando o pesquisador pleiteia apoio, existe uma série de exigências, tanto no plano científico quanto no plano administrativo. Logo se trata de um empreendimento objetivo. Um espírito objetivo compreende a existência de uma trajetória, ou seja, há todo um espaço a ser percorrido no transcurso do tempo. Por isso, o fomento é um interesse da vida prática, concernente aos pesquisadores que encontram uma ordem de realização da pesquisa científica.

Recuperamos o pensamento de Dilthey (2010) para fechar este capítulo justamente por entender que essa relação, entre sujeito de pesquisa e FAPESP, concentra – como diz o autor – uma propagação espacial ou temporal da história que conta com uma alma viva, atuante, dotada de forças culturais e sensíveis a todas as influências. Pressuposto mais do que pertinente à Comunicação, pois, entre o sujeito de pesquisa e a FAPESP está uma semiosfera que permite o trânsito dessas condições que perfazem o objeto da pesquisa, moldando-os a cada modo de encarar os questionamentos. A história se faz por uma vida compreendida com multiplicidade de significados, por isso, pensamos que na contribuição dada pela FAPESP à História da Comunicação, os pesquisadores estão imbuídos em trabalhar construções que levam a um todo como conexão do melhor entendimento sobre a Área. A hermenêutica, neste caso, se dá entre pesquisador e FAPESP, envoltos por uma conexão espiritual, por parte do pesquisador, em contato com uma estrutura, dada pela FAPESP. Como amarra Dilthey (2010), são os conteúdos atravessando os espíritos e os espíritos, no papel do ser histórico vividos em abreviaturas, ou seja, (2010, p. 312):

[...] o mais seguro e ao mesmo tempo o mais importante que é acessível à pesquisa nas ciências humanas continua sendo sempre o seguinte: o conhecimento das grandes formas da cultura e de sua organização exterior, de seu desenvolvimento, de sua atuação recíproca em uma época, na estrutura da sociedade, tal como ela existe no interior de um período demarcável, no interior dos momentos desse período, momentos que produzem paulatinamente transformações nesse período. (DILTHEY, 2010, p.312)

É a vivência em conexão com a realidade espiritual e o conhecimento concretizado pelo acontecimento cujo valor só se atribui pelo espírito. Neste sentido, a Comunicação coloca vivências ao espírito que busca dar valor ao acontecimento a fim de gerar o conhecimento que está relacionado à evolução do nosso cotidiano. É uma forma autônoma de conduta, entretanto, na perspectiva em que discutimos, toda essa ação só atinge a cientificidade quando se recebe respaldo, pelo suporte da FAPESP, que tem poder para uma legitimação mais eficiente.

CAPÍTULO III – INDICADORES E INFERÊNCIAS: 25 ANOS

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