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O papel institucional da América Latina

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CAPÍTULO I – COMUNICAÇÃO EM TRÊS DIMENSÕES

1.3 O papel institucional da América Latina

Como vimos pelos registros históricos da IAMCR, a América Latina serviu duas vezes de palco para receber conferências da entidade. Trata-se de pequenas ações que denotam a representatividade que essa parte do mundo ocupa junto aos estudos em Comunicação. Sem nos aprofundarmos, mas colocando um pouco da questão, a América Latina é tratada como um Novo Mundo, o continente da esperança, que seria uma contraposição à Europa, segundo Gasio (2011). Levando em conta o riquíssimo repertório sociocultural por meio do qual podemos contar a participação latino-americana. Seja na literatura, no teatro, no cinema, nas artes em geral, na política, temas não faltam para se aprofundar nessa região do mundo formada por 20 países.

Tratar de comunicação na América Latina é, porque não, ao mesmo tempo, tenso e denso. Se a abordagem for pelos meios de comunicação, por exemplo, como não tratar as questões da Comunicação pública governamental e a luta contra a censura? Do ponto de vista dos meios, temos as formas autoritárias do sistema comunicacional da Venezuela ou a Ley de Medios, polêmica na Argentina, por querer a diminuição da concentração midiática nos anos de presidência de Cristina Kirchner19. Em 2016, há de se considerar o dúbio papel da imprensa

brasileira no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff20. Tais práticas ajudam

a formar nosso mosaico cultural que apresenta demandas suficientes para correntes temáticas sobre as quais autores têm se debruçado com uma pretensão: instituir e legitimar a Escola Latino-Americana de Comunicação (ELACOM).

A condição de dependência da América Latina também se dá na pesquisa em Comunicação, afinal, nossas práticas ainda se enquadram, para devido reconhecimento científico, nas teorias do paradigma estadunidense. A apregoada libertação teórica teve seus

uma das quatro Cátedras de Comunicação previstas para a América Latina. Ver mais em:

http://portal.metodista.br/unesco/

19 De 2007 a 2015, exerceu dois mandatos como Presidente da República da Argentina.

20 Assumiu a presidência do Brasil, em 2011 para o primeiro mandato e foi reeleita, em 2014, tendo sofrido

aportes iniciais, nos anos 1960 e 1970, com a origem do CIESPAL e o trabalho de Jorge Fernández, intelectual que dirigiu o organismo estabelecido pela UNESCO, em Quito, capital do Equador. Seu vanguardismo foi ao encontro do pensamento econômico do argentino Raul Prebisch. Juntos, chegaram a realizar, no Chile, uma reunião de especialistas sobre o desenvolvimento dos meios de comunicação na América Latina. O evento teve as participações dos pensadores da Comunicação, Wilbur Schramm e Fernand Terrou. Toda a gênese do pensamento latino-americano se relacionou ao Jornalismo pelo fato de que essa frente comunicativa se estabelece como elo entre os acontecimentos e a comunidade, em suma, uma espécie de espelho da história. O professor José Marques de Melo (2014) recorda que Fernández destacava a falta de engajamento na pesquisa científica em Comunicação, praticamente inexistente no âmbito latino-americano. Esse diagnóstico foi tema de um seminário, em 1966. Coube a Gonzalo Córdova, sucessor de Fernández, estimular a superação da dependência teórica, em especial, com novos rumos a um pensamento autóctone.

O respaldo teórico para uma Escola Latino-Americana da Comunicação não tem sido tarefa das mais fáceis, porém, surge de algumas contribuições. O professor José Marques de Melo atribui esse levante à inspiração da Teoria da Dependência e da Teologia da Libertação. Os anos 1970 marcaram o início de estudos sobre fenômenos comunicacionais latino- americanos. Grupos pioneiros, inovadores e renovadores foram categorizados nessas questões. O que se atribui à pretendida ELACOM é a prática do hibridismo e da mestiçagem latino- americanos como resposta à síndrome do colonizado. Um dos marcos referenciais nesse engajamento é Luís Ramiro Beltrán, que simplifica a Comunicação em processo humano que envolve diálogo, participação e acesso igualitário. Ele vai aplicar tais preceitos às realidades latino-americanas em função de interesses, necessidades e identidades culturais. Sua pesquisa rompe e questiona a validade dos conceitos e métodos de pesquisa estadunidense.

Tornam-se centrais também para a validação latino-americana o pensamento sobre mediação, de Jesús Martin-Barbero, cuja pesquisa envolve a articulação das práticas comunicacionais pelos sujeitos. Contexto cultural, processos sociais, matrizes culturais, gêneros, mestiçagem e o uso de espaços e objetos se tornaram relevantes. São o popular, a cultura e o cotidiano como valores para os estudos em Comunicação. Temas como dependência cultural, cultura, consumo cultural, identidade cultural, mestiçagem, mediações e recepção vão ganhando escopo, formulações teóricas e empíricas. Nomes como os de Néstor Garcia Canclini, Valério Fuenzalida, Guillermo Orózco, entre outros, surgem no cenário latino-americano. Então, se Barbero concebe os meios de comunicação como produtores sociais que propiciam a

interação das mediações humanas, conflitos simbólicos e interesses políticos e econômicos; se Canclini trata o consumo como processos socioculturais demarcados por trabalho e expansão do capital, apropriação do produto social, diferenciação social, sistema de integração e comunicação; se Fuenzalida entende a influência grupal como algo sumariamente importante na construção do sentido que as pessoas atribuem à mensagem; se Orozco aborda as multimediações diante da exposição dos indivíduos às mensagens; se Jorge González pensa a Hegemonia como um “momentum” das relações em um determinado espaço social onde se criam e recriam as formas simbólicas de toda relação social, os latino-americanos não estão descrevendo, prevendo e descobrindo novos conhecimentos? Logo, estão teorizando, sim! Com isso, emerge mais uma questão de reconhecimento e não de denegação a respeito dessa produção teórica.

Mas para chegar a isso, há um conjunto de iniciativas institucionais que possibilitaram a configuração para um pensamento latino-americano sobre Comunicação. O Brasil aparece pela primeira vez, em 1918, com a realização do 1º Congresso Brasileiro de Jornalistas, organizado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O objetivo era criar uma Escola de Jornalismo para formar profissionais que atendessem as empresas do ramo. Só nos anos 1940, essa proposta ganharia materialidade. Antes disso, o IBOPE surgiu para os estudos de audiência dos meios de comunicação. Uma inspiração que veio do Instituto Gallup. Mas o Jornalismo como espaço sinônimo à Comunicação ganhou seu centro de estudos. Em 1947, a Cásper Líbero se tornou a primeira escola de Jornalismo do Brasil em uma parceria com o jornal A Gazeta e a PUC de São Paulo. Quatro anos depois, surgiu a Escola Superior de Propaganda também na capital paulista. Mas, ela não foi a primeira faculdade de Jornalismo da América Latina. A primazia pertence à Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, em 1934.

Em Quito, capital do Equador, surge em 1959, o CIESPAL – Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para América Latina – com a finalidade de formar professores para o campo da Comunicação e incentivar a pesquisa científica sobre os meios de comunicação de massa da região. Em Caracas, nascia o Instituto de Investigaciones de Prensa, na Universidade Central da Venezuela, que no mesmo ano, se tornaria pioneiro em pesquisas acadêmicas da América Hispânica. Em Recife, 1963, surgia o ICINFORM – Instituto de Ciências da Informação – o primeiro centro de pesquisa universitária sobre Comunicação na América Lusófona. De acordo com Marques de Melo (2008, p.155):

Os primeiros centros de pesquisa que surgiram nas universidades datam dos anos 60, mas nem sempre tiveram estruturas permanentes. O pioneiro ICINFORM (Instituto de Ciências da Informação), criado em Recife, foi, pouco a pouco, desativado quando seu fundador, Luiz Beltrão, transferiu-se para Universidade de Brasília. E, assim, aconteceu com iniciativas semelhantes, em outras instituições. Até que foram implantados, nos anos 70, os cursos de pós-graduação em Ciências as (sic) Comunicação (USP,UFRJ,UNB,PUC/SP e Metodista/SP), nos quais a pesquisa constitui atividade essencial.

A FACUNB – Faculdade de Comunicação de Massa da Universidade de Brasília – nascia em 1964, como a primeira, reunindo diversas áreas como Jornalismo, Publicidade, Rádio e TV e Cinema. Dois anos depois, em São Paulo, a Escola de Comunicações Culturais da USP se tornaria a primeira instituição dotada de laboratórios, equipe docente em tempo integral e programa permanente de pesquisa. Também em São Paulo, o ano de 1969 marcava a fundação da UCBC – União Cristã Brasileira de Comunicação Social, uma entidade ecumênica dedicada ao estudo da Comunicação de acordo com os princípios do Concílio Vaticano II.

Já o ano de 1972 marcou a fundação da ABEPEC, a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Comunicação, desativada no início da década de 1980. Pouco antes, em 1977, nascia a INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – com vistas à formação de uma comunidade acadêmica nacional. Em sua origem, o compromisso com o pluralismo teórico, a diversidade metodológica e a liberdade de expressão. Formada por pessoas de diferentes áreas acadêmicas, houve comprometimento com a prática da interdisciplinaridade convertendo os processos comunicacionais em focos privilegiados da ação investigativa. Além do contato internacional, também se prestou à cooperação profissional. A nucleação dos sócios que se reúnem em um encontro anual é para justamente atender a própria natureza do campo, fragmentado territorialmente e multifacetado epistemologicamente. Sua criação foi fator decisivo para disseminar a mentalidade da pesquisa científica nas escolas de Comunicação ao agregar pesquisadores espalhados pelas universidades brasileiras, criando fóruns de debates, publicações periódicase incentivo às novas gerações de pesquisadores. Pela INTERCOM, a pesquisa brasileira se projetou internacionalmente, como lembra Marques de Melo (2008, p.156):

Deve-se, em grande parte, ao trabalho desenvolvido pela INTERCOM a decisão das agências públicas de fomento à ciência e tecnologia (Capes, CNPq, Finep, Fapesp), alocando ou ampliando os recursos destinados aos centros de pesquisa em comunicação existentes nas universidades.

É dos anos 1970 em diante, com o crescimento de cursos profissionalizantes, que os departamentos de Comunicação floresceram. Em Brasília, 1980, surgiu a Associação Brasileira de Escolas de Comunicação, a ABECOM. Em Belo Horizonte, foi criada em 1990, a COMPÓS, a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação Social reunindo coordenadores de cursos de Mestrado e Doutorado. Entidade que ainda se mantém com um encontro anual bastante respeitado.

Toda essa fortuna histórica é fruto do trabalho do professor José Marques de Melo (2014) que propõe uma cartografia das Ciências da Comunicação. Essa condição científica ao campo deve ser superior às fragmentações encontradas em seu metier, pois, a Área concentra como Saber Aplicado um espaço cognitivo multifacetado que envolve Ciência, Arte, Tecnologia e Humanidades. Passa pela multidisciplinaridade que exige integração teórica e prática em um exercício de sintonia fina com as demandas sociais. A multiocupacionalidade reserva carreiras acadêmicas e profissões reconhecidas. Em sua proposta cartográfica, Marques de Melo se ocupa de estudá-la em níveis internacional e nacional.

As contribuições hegemônicas para isso vêm da Fortuna Historiográfica, que faz a divisão do conhecimento, e da Hegemonia Intelectual, resultado do Colonialismo e do Imperialismo. Com isto, as variáveis passam por categorias Substantivas (invenção do objeto e instituição do campo) e Adjetivas (questões historiográficas e empíricas). As fontes hegemônicas dos estudos em Comunicação partem da Inglaterra, Alemanha, França, Itália e, em especial, dos Estados Unidos como ressalta Marques de Melo (2008, p.29):

Os Estados Unidos continua sendo o carro-chefe dessa promissora engrenagem acadêmica, não apenas em número de cursos (Cerca de 500), mas principalmente na adoção de estratégias pedagógicas sintonizadas com os requisitos industriais. Suas escolas mantêm programas permanentes de cooperação com as empresas. Realizam pesquisas e acolhem profissionais de prestígio com professores-visitantes. Além disso, promovem estágios de alunos e reciclam seus docentes nas redações de jornais, emissoras de televisão, agências de propaganda e relações públicas (MARQUES DE MELO, 2008, p.29).

Sobre essa situação, Marques de Melo (2008) observa que os EUA exercem uma liderança mundial em padrões universitários de ensino de Comunicação. O modelo estadunidense é profissionalizante, por isso, a preocupação em formar jornalistas, publicitários, cineastas, radialistas ou relações públicas para preencher vagas da indústria cultural. Além disso, há uma cobrança pela excelência, por isso, dirigentes universitários exercem vigilância permanente, cobrando produtividade dos pesquisadores, avaliando cursos, verificando se bibliotecas adquiriram novidades editoriais além do incentivo à participação de professores e alunos em congressos acadêmicos e profissionais. Já em termos de Brasil, Marques de Melo (2014) identifica que para se tratar a cartografia, não há outra forma senão o estabelecimento de critérios. Por isso, na visão dele, o campo comunicacional brasileiro compreende cinco tipos de História: Intelectual, Autoral, Institucional, Disciplinar e Contextual.

A História Institucional demarca muito bem o sentido da construção do campo comunicacional no Brasil. Nos anos 1960-1970 é que a Comunicação assume uma noção de campo. Antes de se legitimar na década de 1960, essa noção passava também por atividades empresariais, profissionais e universitárias. São marcos do campo enquanto espaço de pesquisa no Brasil: a fundação do ICINFORM, Instituto de Ciências da Informação, em 1963, por Luiz Beltrão, em Recife; o lançamento da revista Comunicações & Problemas, o primeiro periódico científico do campo comunicacional brasileiro; a criação da FACUNB, Faculdade de Comunicação de Massa da Universidade de Brasília, em 1964; a defesa da tese de doutorado de Luiz Beltrão, em 1967, sobre Folkcomunicação; a fundação, em 1966, da Escola de Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo (atual ECA-USP); a fundação do Centro de Pesquisas da Comunicação Social da Faculdade Cásper Líbero, então vinculada à PUC-SP, em 1967. Nesse departamento, foram realizadas pesquisas pioneiras em quadrinhos, telenovelas, imprensa imigrante, jornalismo comparado, erotismo na propaganda, comunicação eclesial e pedagogia do jornalismo; fundação da União Cristã Brasileira de Comunicação, em 1969, em São Paulo; realização do I Congresso Nacional de Comunicação pela Associação Brasileira de Imprensa, em 1971, no Rio de Janeiro; I Congresso Brasileiro de Ensino e

Pesquisa da Comunicação (Belo Horizonte, 1973); fundação da INTERCOM, em 1977, uma autêntica comunidade científica em um campo emergente; fundação da COMPÓS (1991); o surgimento de sociedades científicas em diferentes disciplinas que compõem as Ciências da Comunicação, como SOCINE e SBPJOR, por exemplo; fundação da SOCICOM e realização da I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009, em Brasília.

Toda essa institucionalização motiva os pares acadêmicos ao desenvolvimento do trabalho de pesquisa tanto que o ano de 1963 se tornou decisivo. A práxis vigente nas indústrias midiáticas e nos serviços públicos foi convertida em objeto de análise acadêmica. Temos aí, portanto, o primeiro contato entre teoria e prática comunicacional. Por que 1963? Porque Luiz Beltrão, com o ICINFORM, direcionou o trabalho do Instituto à pesquisa científica no Brasil regularizando uma prática permanente até os dias de hoje. Marques de Melo (2014) ressalta que os fenômenos da Comunicação eram estudados no Brasil antes disso, porém, de forma efêmera ou utilitária sem a noção de construir um acúmulo de conhecimento. Uma existência ainda carente de reconhecimento, pois, se trata de um campo relativamente jovem de espaço ainda débil que luta pela inclusão no universo científico e por sua legitimação social. Uma construção que significa passar pelo crivo da academia e pelo reconhecimento da opinião pública, alerta Marques de Melo (2014). Julgamos que todos esses elementos apresentados pressupõem uma formação de estudos em Comunicação, entretanto, figura-se muito o campo institucional que ganha também em seu aspecto taxionômico a contribuição de pesquisadores que recorrem à FAPESP, instituição que traz aportes à legitimação da nossa Área à medida que submete as investigações do conhecimento a procedimentos científicos constituintes à formatação de um projeto de pesquisa.

Bem antes das experiências brasileiras, a Comunicação se caracteriza por seu processo básico configurado no espaço greco-romano entre os séculos IV a.C. e I d.C.. Seu reconhecimento intelectual dar-se-á somente no século XVII dentro do espaço público britânico. Depois, a Comunicação enquanto dimensão universitária ganha espaço na Alemanha e na França. Entretanto como espaço científico se legitima, a partir de 1912, em uma fase moderna com a formação de comunidades acadêmicas nacionais estadunidenses e internacionais. Em comparação aos Estados Unidos, o Brasil levou quase um século e meioa mais para inserir os estudos em Comunicação na universidade.

É nos anos 1970 que o estudo da Área, no Brasil, vai se evidenciando organicamente, justo quando atenua a fragmentação dos espaços empresariais, profissionais e acadêmicos relacionados com a produção de bens culturais. Isto está diretamente relacionado à perspectiva

crítica dos estudos em Comunicação decorrentes da Escola de Frankfurt, na Alemanha. Porém, Marques de Melo considera que o divisor de águas foi a realização do Congresso Nacional de Comunicação, da Associação Brasileira de Imprensa, por inspiração de Danton Jobim21, em setembro de 1971. No Rio de Janeiro, pela primeira vez, reuniam-se para debater ideias e confrontar pontos de vista os representantes de todas as áreas empresariais, sindicais, profissionais e acadêmicas. Desse encontro, postulou-se uma Política Nacional de Comunicação, que passadas tantas décadas, ainda é uma utopia.

Assim a década de 1970 se tornou emblemática para delinear a fisionomia da Área da Comunicação no Brasil, sobretudo, pelo acúmulo de conhecimentos que a partir de então as faculdades de Comunicação passaram a produzir, sistematizar e socializar. Depois do ICINFORM, da UnB – à época, FACUNB – e da USP, as faculdades de Comunicação investiram na pós-graduação, inclusive com programas de doutorado. Assim professores- pesquisadores começavam a configurar uma comunidade acadêmica, algo que o professor José Marques de Melo convencionou chamar de uma rede de cientistas da Comunicação dotada de perfil híbrido. Entretanto os anos passam e na avaliação do professor, seguimos com a sina do ‘complexo de colonizado’ justamente pelo fato de grande parte de professores-pesquisadores fazerem por aqui uma reprodução dos modelos alienistas das correntes hegemônicas do pensamento comunicacional sem o exercício da crítica. Assim, o Brasil se tornou um dependente paradigmático sem levar em conta que evidências empíricas não podem ser transferidas automaticamente para outras realidades. Essas realidades, evidenciadas por Marques de Melo, têm a ver com as experiências próprias de cada círculo onde ocorre a Comunicação.

A liderança dos estudos das Ciências da Comunicação em países latino-americanos é dividida entre o Brasil e o México que atraiu a diáspora latino-americana cujo sonho caracterizaria uma nova ordem mundial das Comunicações. Os programas universitários de Comunicação tiveram uma expansão indiscriminada porque não há um currículo mínimo nem ordenamento nacional. O crescimento se dá tanto no sistema público quanto no privado. As escolas buscaram fortalecimento mútuo no CONEICC, organismo fundador da Federação Latino-Americana de Faculdades de Comunicação Social. O perfil mexicano dos estudos em Comunicação se formou pelos encontros anuais, publicação de documentos e a constituição de comitês acadêmicos. Havia distanciamento em relação à Comunicação aplicada e à tecnologia.

21 Ver http://www.jornalistadantonjobim.com.br para mais detalhes sobre a vida pessoal, política e profissional

Era pouca também a sintonia com o mercado de trabalho. O comando das associações acadêmicas se revezava entre pesquisadores vinculados a universidades tradicionais da Cidade do México e de Guadalajara. Mas os jovens pesquisadores mudaram esse cenário com a formação de novas frentes de trabalho como explica Marques de Melo (2008, p.94-95):

Eles se confessavam cansados de atuar, exclusivamente, como auditório para os monólogos dos seus mestres. Alguns, mais audazes, começaram a formar espaços alternativos, buscando respaldo teórico no segmento emergente dos estudos culturais. Continuavam a estudar os fenômenos midiáticos, mas os articulavam com o entorno simbólico, numa perspectiva nitidamente socioantropológica. Afastavam- se, assim, dos paradigmas político-econômicos (particularmente do referencial marxista) que marcara, inicialmente, o campo.

Essas iniciativas permitiram a descentralização com a configuração das universidades regionais. E assim se construíram redes autônomas de pesquisa. Buscou-se legitimação acadêmica por meio da sintonia com as disciplinas conexas das ciências humanas e a intensificação dos contatos com os pesquisadores da Comunicação, em outros países, não exclusivamente latino-americanos. Esses jovens se denominavam a Geração McLuhan pelo fato de estarem na faixa etária dos 30 anos e se sentirem pertencentes ao símbolo-força epistemológico. Eles se consideravam da geração da aldeia global, retribalização e escolas sem muros, conceitos trabalhados pelo autor canadense. Essa geração propiciou a saída do isolamento universitário que colocava os pesquisadores do México em uma comunidade despercebida. O lema foi “pela implantação de uma comunidade virtual de pesquisadores da

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