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Um Novo Ciclo (1969-1983)

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CAPÍTULO II – FAPESP E COMUNICAÇÃO: LAÇOS INSTITUCIONAIS COMO MÉTODO

2.3 Um Novo Ciclo (1969-1983)

As inquietações em torno da FAPESP eram muito mais sobre suas atividades, digamos políticas, no concernente à estruturação, do que propriamente ao que correspondia em termos de financiamentos de projetos e pesquisas. Mesmo mantendo sua autonomia de funcionamento, a entidade sofreu questionamentos constantemente. Um deles foi de Miguel Reale36 sobre a

criação da FAPESP. Ele se baseou no artigo 162, parágrafo 2º da Constituição de 1969, que impedia a vinculação de arrecadação de qualquer tributo a órgão, fundo ou despesa. Ele reforçou que a Constituição Federal, hierarquicamente, é superior à Constituição Estadual. Foi buscar teses em juristas para explicar que a Constituição Paulista deveria estar em consonância com a brasileira.

36 Miguel Reale (1910-2006) foi filósofo, jurista, educador e poeta. Professor catedrático da Faculdade de Direito

da Universidade de São Paulo onde se formou, foi um intelectual de destaque entre humanistas e filósofos. De perfil reacionário, revolucionou as ciências jurídicas com a teoria tridimensional do Direito envolvendo três elementos: fato, valor e norma. Coordenou e elaborou o Código Civil Brasileiro de 2002.

FIGURA 7 – Miguel Reale

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

No que correspondia à pesquisa, a FAPESP foi fundamental no apoio a estudantes que tiveram significativa expansão com o avanço da Pós-Graduação, no Brasil, no fim dos anos 1960. De 1969 a 1970, por exemplo, as matrículas cresceram 127%. Em 1969, eram 261 pós- graduandos. Em 1981, eles já eram quase seis mil. Nesse mesmo período, o número de programas de pós-graduação saltou de 125 para 1021. Provas de que o cenário político apreensivo não atrapalhou o andamento da Fundação como ressaltam Chassot e Hamburger (1999, p. 141):

A FAPESP, apesar de ter sua imagem associada a universitários e intelectuais, sobreviveu às intimidações recebidas, a acusações de que estava apoiando “comunistas”, a pressões para cortar bolsas ou fornecer endereço de bolsistas “de esquerda”. Os diretores se mantiveram fiéis ao princípio que norteou a Fundação, de apoiar o pesquisador e seu projeto, independente de posição política, religião etc.

Mesmo com “adversidades ideológicas”, que o Regime Militar tentara impor, o crescimento da demanda da FAPESP sempre foi excepcional. Chegaram os anos 1970 e a entidade não tinha verba para atender tantos pedidos. Por isso, alguns auxílios foram postergados. Um dos problemas para que não houvesse subsídio era o repasse irregular de verbas do Estado. Em 1973, a diretoria científica desenvolveu um Sistema de Recuperação de Informações para implantar um sistema de arquivos, e também, um controle sobre os auxílios à pesquisa e bolsas atendidas ou em estudo.

Mais uma tentativa de “intervenção”, na FAPESP, ocorreu nessa década, quando em seu princípio, a UNICAMP quis fazer parte do Conselho da Fundação. A intenção contou com o apoio do secretário de Educação da época, Paulo E. Tolle. Entretanto, a Lei Orgânica da FAPESP determina que modificações em seus estatutos somente poderiam ser feitas por iniciativa do Conselho Superior, condição que não ocorreu. Começava uma fase por mais representatividade no Conselho da FAPESP, em especial, pelo cargo de diretor científico. À medida que as solicitações de apoio cresciam, era mais evidente esse desejo. Assim, a FAPESP deu uma cartada para solucionar o problema: criou a assessoria em Grandes Áreas. O assessor, supostamente, é um pesquisador que sabe dos anseios e dificuldades enfrentados pela comunidade científica.

A Lei Complementar nº 125, de 18 de novembro de 1975, criou a carreira de pesquisador científico. Essa medida ajudou no combate à evasão de pesquisadores, em especial, dos Institutos de Pesquisa. Afinal, a FAPESP tinha plena consciência do seu papel e das suas modalidades de amparo à pesquisa com os auxílios e bolsas.

A FAPESP seguia a vigência política do país e passou a tomar iniciativas baseando-se em análises de seus assessores e a estabelecer entendimentos com grupos de pesquisadores sobre os projetos em áreas consideradas prioritárias. O professor Nuno Fidelino de Figueiredo recebeu a incumbência de pensar em projetos de pesquisa em tecnologia, pois, ficou encarregado de contribuir à política industrial paulista a um conjunto de projetos maiores da Fundação, que destinaria para isso, 30% de verbas. A primeira grande pesquisa foi na Bioquímica com o Bioq-FAPESP. Outras áreas contempladas foram: Meteorologia (com o desenvolvimento do radar meteorológico, o RADASP I); Tipologia de Represas do Estado de São Paulo; Programa Multidisciplinar de Nutrição; Laboratório de Biotecnologia Industrial e o Laboratório de Microeletrônica da USP.

Com grandes projetos, e também com o aumento da demanda por bolsas e auxílios, a FAPESP se obrigou a usar recursos próprios, uma vez que 0,5% da receita do Estado tornara- se insuficiente. Um projeto do deputado Welson Gasparini, em 1971, apresentou ao Legislativo Paulista, uma Emenda à Constituição, que sugeria elevar a 1% o repasse anual feito pelo governo. A proposta não foi aprovada. O Conselho Superior da FAPESP, mediante isso, decidiu tratar do assunto diretamente com o secretário da Fazenda e não houve avanço. Em 1975, o então governador Paulo Egídio Martins manifestou o desejo de aumentar a dotação para 1%. Em meio aos anseios por mais verba, a FAPESP se mudou da Avenida Paulista para a Rua Pio XI, na Lapa. O novo prédio – que abriga a Fundação até hoje – foi construído com recursos do

patrimônio da entidade e não com verba destinada à pesquisa, que sofreria maior impacto nos anos 1980, quando 60% eram para bolsas de estudo e 40% para outros auxílios.

FIGURA 8 – Sede atual da FAPESP na Rua Pio XI, Lapa, São Paulo

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

Vieram os anos 1980 e houve empenho para que o repasse à FAPESP fosse maior. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC 32) propunha acrescentar ao artigo 123 da Constituição, em parágrafo único, que a dotação fixada no caput, calculada sobre a receita prevista para o exercício, fosse transferida em duodécimos, na forma do disposto no artigo 84 da Constituição. A emenda foi criada pela Assembleia porque o Governo do Estado não estava repassando valores com correção monetária. A autoria era do deputado Fernando Leça. O parecer da Comissão de Constituição e Justiça sobre a emenda foi favorável. Houve também a emenda 39, de 16 de dezembro de 1983, que mantinha a dotação mínima de 0,5% com os valores sendo transferidos, em duodécimos, a partir de 1984. No ano seguinte, o cálculo seria feito com base na arrecadaçãoprevista para aquele ano, com o objetivo de eliminar a defasagem. As emendas foram publicadas em dezembro de 1983.

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