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Constituinte, Globalização e Modernidade

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CAPÍTULO II – FAPESP E COMUNICAÇÃO: LAÇOS INSTITUCIONAIS COMO MÉTODO

2.4 Constituinte, Globalização e Modernidade

A época que trataremos a conjuntura da FAPESP, a partir de agora, coincide com uma série de conquistas relevantesna História do Brasil, especialmente, o fim da Ditadura, as Diretas

Já e sua nova Constituição, promulgada em 1988, e que se mantém em vigor há 30 anos. Os novos tempos representariam mudanças na dotação da FAPESP, que já vinha pleiteando mais recursos para que seu serviço à pesquisa e fruição do conhecimento não deixasse de ser realizados.

Em 1988, o deputado Florestan Fernandes apresentou uma emenda aditiva ao Projeto de Constituição Federal da Comissão de Sistematização cujo artigo previa que é facultado aos estados vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. O desenvolvimento industrial do Estado de São Paulo e a política tributária fizeram com que o diretor-presidente da FAPESP, Alberto Carvalho da Silva, sugerisse a ampliação dos recursos do Estado à entidade de 0,5% para 1%. O pedido foi mais pelo contexto evolutivo do que propriamente pela administração da Fundação que, segundo ele, encontrava-se tranquila. Começaram a despontar várias emendas sobre a ampliação do repasse de verbas para a FAPESP.

FIGURA 9 – Florestan Fernandes

Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP

O deputado Nelson Nicolau não concordava com 1% alegando que seria um retrocesso adotar essa medida, pois, na verdade, ela representaria uma alteração na estrutura da constituição vigente. O deputado Fernando Leça dispunha sobre a inexistência da cláusula de “privada administração”, que seguindo o legislador, levaria a Fundação à perda de sua autonomia financeira e administrativa. Já a Comissão de Ordem Econômica e Social da Assembleia foi à frente e pediu repasse de 2% à FAPESP sendo que os recursos seriam destinados a programas de desenvolvimento científico e de capacitação tecnológica em áreas definidas pelo Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia. O avanço do setor de Informática, no Brasil, particularmente em São Paulo, foi o escopo para a solicitação da elevação desse repasse. Para isso, se estabeleceriam parcerias com entidades do setor correspondente. Essas emendas integravam um anteprojeto da Constituição Estadual. Uma das frentes para os principais argumentos era o capítulo sobre Ciência e Tecnologia no qual ficava expressa a proposta de elevar para 1% o repasse.

Outras emendas foram propostas, como a do deputado Arnaldo Jardim, que mantinha o repasse em 1% desde que a FAPESP ampliasse a representação no Conselho Científico e deixasse de forma clara suas atribuições; outra, do deputado Nelson Nicolau, que queria garantir a participação de representantes das áreas tecnológicas dos Institutos de Pesquisa da Secretaria de Estado e das Universidades bem como os setores tanto empresarial quanto da classe trabalhadora; enquanto isso, a emenda do deputado José Dirceu permitiria a autonomia administrativa e financeira da FAPESP, dotada de 1% da receita orçamentária. A única sugestão além era que apenas a comunidade científica participasse do Conselho Diretor; e mais uma emenda destacada foi do deputado Aloysio Nunes Ferreira sugerindo que o 1% a ser repassado viesse da receita líquida de impostos arrecadados pelo Governo.

A emenda que chamou mais a atenção da FAPESP e gerou uma reação de seu diretor- presidente, Alberto Carvalho da Silva, foi a da Comissão de Ordem Econômica e Social, que previa o repasse de 2% com valorização à questão tecnológica. A maior autoridade da Fundação enviou, em 16 de junho de 1989, uma correspondência aos pesquisadores salientando que tal emenda traria modificações à FAPESP, entre elas: (1) a perda da administração privada; (2) a perda de direitos da transferência da dotação em duodécimos; (3) a perda da autonomia da destinação dos recursos que ficam vinculados a programas de desenvolvimento científico e capacitação tecnológica definida por instância superior à Fundação.

Segundo Nagamini (1999), a conquista de 0,5% para 1% coroava o esforço durante quase três décadas de fomento à pesquisa. Ao longo de seu funcionamento, a FAPESP construiu experiência sólida na análise e acompanhamento de Bolsas e Auxílios sem contar outras iniciativas e os Projetos Especiais. Com mais dotação, foram possíveis novos programas e projetos temáticos a partir da década de 1990. Tais empreendimentos foram resultantes também da colaboração que 20 cientistas deram ao diretor-científico da FAPESP na triagem, escolha e aprovação de programas a serem desenvolvidos. Todos os coordenadores de áreas elaboraram suas políticas a partir das necessidades e contribuições dos pesquisadores.

Algumas iniciativas científicas para pleitear o aumento do orçamento da FAPESP foram o Simpósio “Financiamento da Pesquisa, Universidade e a Crise Brasileira”, que contou com a participação de cientistas e presidentes de agências de fomento; e o evento “Crise, Universidade e Pesquisa”, promoção da SBPC que apoiava o aumento no repasse da FAPESP. Enfim, a emenda constitucional que aumentou a dotação da FAPESP foi discutida por 1 ano.

Um dos problemas da dotação foi que o Governo calculava 0,5% sobre o ICM, sendo que o artigo 130 da Constituição explicitava 0,5% sobre a receita dos impostos. Em 1988, o Conselho Superior e a Diretoria Científica nomearam uma comissão especial para critérios de avaliação e julgamento dos pedidos. A partir dessa iniciativa, foram 164 propostas e 72 aprovações, três delas na área de Ciências Humanas e Sociais. O recurso destinado para a viabilização desses projetos saiu de uma parte do patrimônio líquido.

Com a Constituição de 1988, a FAPESP se manteve em alerta para que a dotação não se perdesse da arrecadação de impostos, pois, sabia-se que tal proposta se daria apenas no campo da Educação. Tal questão foi abordada em duas emendas: a do deputado Paulo Zarzur (PMDB) que aconselhava a manutenção de 0,5% dos impostos arrecadados à FAPESP; e a do deputado Florestan Fernandes (PT) de que seria facultado aos Estados vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica37. A primeira emenda foi vetada. Assim, a esperança ficou para a proposta do deputado petista. As sociedades científicas solicitaram o apoio dos deputados constituintes. Na sessão de 23 de junho de 1988, 319 deputados votaram a favor, seis foram contra e três se abstiveram da proposta de Florestan Fernandes.

Há de se destacar a luta do diretor-presidente da FAPESP, Alberto Carvalho da Silva, a essa emenda. A proposta era benéfica apenas à Fundação Paulista. Entendendo que seria uma medida de salvaguarda de políticas, a SBPC entrou na jogada para lutar pelas Fundações do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Também houve apoio aos estados que não contavam com fundações próprias para que eles consolidassem as entidades de fomentos em suas respectivas constituições estaduais. A emenda de Florestan Fernandes foi incluída no capítulo sobre Ciência e Tecnologia da Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, conforme segue:

37 Já existiam Fundações de Amparo à Pesquisa em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Havia um

Artigo 218 – O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas.

§ 1º - A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências.

§ 2º - A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. § 3º - O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, e concederá aos que dela se ocupem meios e condições especiais de trabalho.

§ 4º - A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de tecnologia e adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado, desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu trabalho.

§ 5º - É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e a pesquisa científica e tecnológica. (ARTIGO 218 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 05/10/88)

De 1962 até agosto de 1988, foram 25.255 bolsas no Brasil e no exterior, além de 14.882 projetos apoiados pela FAPESP. Tais números deram respaldo para a elevação da dotação orçamentária. Essa conquista também se deve às entidades que enviaram sugestões e figuraram no relatório final do deputado José Dirceu.

A UNICAMP sugeriu 50% a projetos institucionais e a reforma dos estatutos da Fundação, em especial, nos trechos que conferem as suas atribuições e a composição do Conselho Superior. Já a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo pleiteou mais verbas para a FAPESP com um fundo básico de pesquisa para fomentar a investigação nos institutos de pesquisa sob administração direta do Estado. Por sua vez, a Comissão Permanente do Regime de Tempo Integral propôs a manutenção da autonomia da pesquisa científica e tecnológica com a criação de Fundos de Pesquisa. A Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia apoiava o aumento de recursos com a necessidade de que eles fossem repassados em valores reais ou transferidos, assim que arrecadados. Ainda propunham eleição direta do Conselho Superior, por lei complementar, e um colegiado do Executivo e do Legislativo que nomearia os cargos. A SBPC buscava maiores recursos à FAPESP sem mudar imediatamente a estrutura e o modo de funcionamento pelo menos até a promulgação da Constituição. O aumento percentual do repasse à FAPESP também contava com o apoio da Associação dos Docentes da UNESP e da UNICAMP.

Se associações e entidades se mobilizavam, o deputado Maurício Nagib Najar criava dificuldades entre os legisladores. Ele era taxativo em dizer que, ou todas as Fundações se beneficiariam ou todas seriam retiradas da Constituição. No argumento dele, era mais fácil excluir uma, no caso a FAPESP, do que incluir 15 ou 20. Apesar do empecilho, a redação final ficou assim:

Artigo 271 – O Estado destinará o mínimo de um por cento de sua receita tributária à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, como renda de sua privativa administração, para aplicação em desenvolvimento científico e tecnológico.

Parágrafo único – A dotação fixada no ‘caput’, excluída a parcela de transferência aos municípios, de acordo com o artigo 158, IV, da Constituição Federal, será transferida mensalmente, devendo o percentual ser calculado sobre a arrecadação do mês de referência a ser pago no mês subsequente.

O texto constitucional prevê 1% dos impostos, no entanto, o repasse real é de 0,75%. Uma nova lei orgânica que regesse a FAPESP passara a ser pensada. A intenção era reunir representantes de várias áreas do conhecimento para induzir o desenvolvimento científico por meio de áreas e temas prioritários à pesquisa.

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