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arqueológicas e contextuais

III.1. A Fauna e a arte rupestre

Em relação a fauna, observamos no capítulo dois, que os cervídeos dominam numericamente o conjunto rupestre da Toca do Pinga do Boi, e conseguimos destacar alguns dos machos devido um dos elementos da sua constituição ser os chifres verdadeiros ( galhas), constituíndo um importante traço de identificação. As galhadas são estruturas ossificadas que se desenvolvem todos os anos, presentes geralmente apenas nos machos.

“Os veados se distinguem de outros ruminantes pela existência de chifres verdadeiros, constituídos de uma estrutura óssea maciça e que apresentam um comportamento decíduo, com trocas anuais. A maioria dos outros membros da subordem Ruminatia, como os bovinos, os carneiros, bodes e antílopes, possuem cornos que são estruturas permanentes, exceto para a espécie Antilocapra americana que trocam de capa córnea após a estação reprodutiva (FOWLER, 1993). Chifres e cornos, apesar de possuírem funções semelhantes, não são homólogos quanto ao crescimento.

1 Listagem dos sítios – Anexo III

Os cornos crescem e se alongam apartir de sua base, como o crescimento de uma folha de gramínea, por outro lado, os chifres possuem uma orientação de crescimento, como os galhos de árvore, apartir de suas pontas (GOSS, 1983).” Apud Ramos, 2004:11

Os homens na pré-historia conviveram com os animais e através de escavações feitas no Parque Nacional Serra da Capivara e entorno, foram obtidos dados sobre quais animais existiram desde o Pleistoceno que em algumas épocas coexistiram com o homem. Neste sentido a arqueologia e a paleontologia andam lado a lado para descifrar o enigma da coexistência nos auxiliando na compreensão do paleoclima. A presença de várias espécies da megafauna nos indica que a vegetação da época não podia ser a caatinga; por exemplo uma preguiça gigante , o Eremotherium, necessitava de um ambiente mais úmido com uma cobertura vegetal composta por árvores grandes.

III.1.1. A fauna

III.1.1.1 Fauna fóssil na regiao do Parque Nacional Serra da Capivara.

Fora dos limites do Parque Nacional Serra da Capivara, no entorno, nos sítios cárticos, estes favoráveis à preservação de fósseis, desde 1986 são realizadas escavações em diversos sítios arqueo-paleontológicos. São eles: Toca do Garrincho, Toca de Cima dos Pilão, Toca do Serrote do Artur , Toca da Janela da Barra do Antonião, Toca do Tenente Luis, Toca do Barrigudo, Toca da Santa e recentemente a Toca das Moendas, onde foram encontrados uma rica fauna pleistocênica, pintura rupestre, sepultamentos, material lítico e cerâmico.

“as zonas cársticas são caracterizadas como um carste residual, constituído por vários morrotes de pequenas dimensões, que em sua totalidade, abrigam uma centena de cavidades, dentre elas, sítios arqueológicos e paleontológicos. Estes dois conjuntos cársticos são considerados como uma única unidade geológica, onde os morros individualizados são escamas calcárias, basculadas por uma fase tectônica de cavalgamento (Rodet, 1997).

O carste da Área Arqueológica de São Raimundo Nonato apresenta uma superfície ruiniforme, sendo geralmente desnudo, com cavidades de pequenas dimensões em razão da compartimentação tectônica e segmentação dos maciços. Ocorre em um meta-calcário calcítico, microcristalino, finamente estratificado”. (Guérin et al., 1999:5)

Três espécies de Cervídeos que existe até hoje no Brasil estão representados no Pleistoceno superior e no Holoceno inferior da região do Parque Nacional Serra da Capivara : Mazama gouazoubira e Mazama

americana, que fazem parte da fauna atual da região e Blastocerus dichotomus, espécie atualmente extinta na região. O quantitativo de fragmentos

de fósseis apresentados a seguir é proveniente da análise exaustiva desses fósseis por mais de 20 anos de pesquisa paleontológica executada por Claude Guerin e Martine Faure.

A Mazama gouazoubira está representada por 108 restos determináveis: Toca das Moendas (36), Sitio do Meio (13), Toca do Garrincho (9), Toca da Janela da Barra do Antonião (14), Toca da Cima dos Pilão (15), Toca do Serrote do Artur (17), Toca do Barrigudo (4). Esse pequeno cervo mostra, desde o fim do Pleistoceno, uma nítida tendência para a diminuição do tamanho de seus dentes e dos ossos de seu esqueleto pós-crâniano.

A Mazama americana foi encontrado em quatro sítios, principalmente no Sítio do Meio, num total de 12 peças estudáveis: Sitio do Meio (5), Barra do Antonião (2), Toca do Garrincho (2), Toca da Cima dos Pilão (1), Toca do Serrote do Artur (2) ; em todos esses sítios ela coexiste como o precedente. A

Mazama americana é nitidamente diferente da Mazama gouazoubira por seu

tamanho maior e por suas proporções diferentes, e não mostra variações biométricas nítidas do Pleistoceno para o Holoceno. Aliás, reconhece-se a presença da espécie, durante o Pleistoceno médio, em Tarija na Bolivia.

O Blastocerus dichotomus é representado por um total de 16 vestigios, coletados em cinco sítios, especialmente na Toca das Moendas e na Toca da Janela da Barra do Antonião: Toca da Barra do Antonião (5), Toca do Garrincho (1), Toca do Serrote do Artur (2), Toca do Barrigudo (1), Toca das Moendas (6).

“Orce cerf est très fréquemment représenté dans les peintures rupestres de l’aire archéologique de São Raimundo Nonato. La découverte de restes

fossiles de cette espèce, pour la première fois dans le Nordeste brésilien en quantité non négligeable et suffisamment bien conservés pour permettre une détermination incontestable, est une nouveauté remarquable car ce cerf, qui est un élément dominant du bestiaire graphique, a dû jouer un rôle important dans la vie de l’Homme. Cependant sa disparition de la région à l’Holocène est sans doute davantage due à l’aridification qu’à l’action cynégétique de ce dernier”. (Guerin&Faure, 2008:14)

Na toca das Moendas foram encontrados três sepultamentos e fragmentos de ossos de animais diversos, inclusive esqueletos inteiros articulados. A importância da fauna encontrada neste sítio, faz com que ele seja um dos nossos objetos de estudo comparativo entre fauna e arte rupestre.