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arqueológicas e contextuais

III. 1.1.1.1 A Toca das Moendas

A Toca do Serrote das Moendas é a entrada de uma caverna esculpida em meta-calcários. Está localizada a leste do Parque Nacional Serra da Capivara, (Depressão Periférica Pré-Cambriana). As coordenadas são UTMN 9025182 UTML 0785222 e a altitude é de 386m. A abertura da caverna esta voltada para o norte, com uma orientação de 80° leste a 280° oeste.

O principal processo de preenchimento da caverna por sedimentos pode ter sido um tipo de “corrida de lama” que arrastou fragmentos do calcário de diversas dimensões, silte, argila, areia fina, ossos, peças líticas, constituíndo um conjunto de matriz siltosa e bastante heterogênio que entupiu a caverna. Esse preenchimento pode também ter acontecido devido uma grande quantidade de blocos caídos, resultante do abatimento parcial principalmente, do teto. Portanto os dois processos principais de sedimentação da caverna são obviamente o alúvio e o colúvio. A caverna apresenta um pacote de sedimento concrecionado em meio a blocos calcários, este sedimento concrecionado é irregular e às vezes recobre um sedimento não cimentado. (Guidon et al. 2008)

Para realizar a escavaçao a caverna foi dividida em cinco setores. O setor 1 está localizado numa altitude de 386m, o setor 2 e o setor 3 estão numa altitude de 381.7m e neles foi observada a presença de riscos pictóricos nas paredes. O setor 4 está numa altitude de 377.3 m, um nicho a oeste da entrada da toca, e tem presença de pinturas e gravuras rupestres. O setor 5, esta a

leste da entrada da toca na mesma altitude do setor 4 e é denominado Toquinha.

No setor 1, na primeira camada foram encontrados dentes de animais diversos, cinco maxilares quebrados pela metade,ossos de animais, placas de carapaças de tatu, líticos e conchas. Existia uma grande mistura de ossos fossilizados e outros não, demonstrando que deve ter havido deslocamentos do material depositado pela força das águas. A segunda camada, com uma profundidade de 100 cm é uma camada claramente de dispersão observada pelo posicionamento em que foram encontrados os vestígios. São ossos e dentes de animais, pedaços de calcário e seixos , que foram trazidos pela água vinda da entrada da caverna e que, ao encontrar este solo, perdeu a força e depositou o material. Na terceira camada foram encontrados, a 170 cm de profundidade em relação à superfície, ossos de um animal, identificado pela sua dentição como sendo um cervídeo. Na mesma camada, entre 190 e 210 cm de profundidade, em relação à superfície, foram encontrados ossos diversos da megafauna.

Fig.81 –Foto do cervídeo Mazama gouazoubira inteiro e articulado, in situ. Fonte: Ignácio, 2006 – Arquivo: FUMDHAM.

Fig.82 – A - Chifres e B - Detalhe do maxilar da Mazama gouazoubira Fonte: Guerin, 2008:21.

.Nos setores 2 e 3, na camada 2, abaixo da camada 1 (constituída de um

pacote sedimentar com fragmentos de cerâmica, líticos, conchas e ossos de animais) havia uma grande concentração de blocos. Ao retirar os blocos foram

identificados três sepultamentos. O terceiro, localizado no setor 2, estava muito danificado, pois encontrava-se sob uma camada concretada pela calcita. Junto com os ossos desse sepultamento estavam dois dentes soltos de um grande cervídeo (Blastocerus dichotomus) e distante 150 cm foi encontrado uma mandíbula inferior dessa mesma espécie.

Fig.83 – Foto de parte da mandíbula do Blastocerus dicothomus. Fonte: Ignácio, 2006 – Arquivo:FUMDHAM.

Fig.84 – Detalhe da mandibula do

Blastocerus dichotomus. Fonte:

Guerin, 2008:36.

Essa escavação permitiu a descoberta de uma variada e abundante fauna silvestre, associada a restos humanos e ferramentas líticas e, muitas vezes, os fósseis formavam, junto com blocos rochosos, seixos e outros elementos, brechas consolidadas pela calcita e alguns não puderam ainda ser isolados; portanto os dados quantitativos apresentados a seguir são provisórios.

Foram reconhecidas, até agora, cerca de quinze espécies de grandes

mamíferos, bem como pequenos mamíferos, grandes Lacertilios, um jacaré (um fragmento do crânio, com alguns dentes e várias placas ósseas) e

algumas placas da carapaça de tartarugas. Os grandes mamíferos dominantes são Palaeolama major, seguida pelos Cervidae, com Mazama gouazoubira (especialmente um esqueleto, parcialmente em conexão) e Blastocerus

dichotomus. Os Equidae são representados por Hippidion e Equus, sendo que Hippidion é o mais comum. Os Tayassuidae por Dicotyles tajacu e Tayassu pecari. Encontram-se também Macrauchenia patachonica, Catonyx e/ou Scelidodon, e Glyptodon, Pampatherium e um grande número de placas de Dasypodidae. Alguns fósseis mostram também a presença de carnívoros : Cerdocyun thous, Conepatus sp. , Felidae cf. Panthera onca (um dente) e Felis concolor (um fragmento da mandíbula). Pela primeira vez encontrou-se restos

fósseis da Ratitae, Rhea, a ema, cuja representação é muito comum nas pinturas rupestres. (Guerin&Faure,2008)

“A característica mais notável desta fauna é a abundância de cervídeos que, no que concerne a frequência relativa, somente são ultrapassados por

Palaeolama major. Este é o primeiro sítio da região no qual se encontra uma tal

quantidade de cervídeos, principalmente Blastocerus dichotomus, que já havia sido encontrado, em raros fragmentos em outros sítios da área (Guérin et al., 1996). Este sítio é o primeiro da região do Parque Nacional Serra da Capivara que nos permite afirmar, sem dúvidas, a presença desse grande cervídeo. Aliás esse veado aparece, frequentemente, pintado nas paredes dos abrigos-sob- rocha da área arqueológica da Serra da Capivara, onde aparecem muitos cervídeos representados com chifres com múltiplas ramificações que não correspondem nem aos Mazama cujos chifres são simples, nem aos outros cervídeos do Quaternário da América do Sul. A descoberta de Blastocerus, pela primeira vez em quantidade significativa, é notável pois esta espécie constantemente representada nas pinturas rupestres, devia ter um papel importante na vida do Homem pré-histórico.” (Guerin & Faure,2008)

III.1.1.2. Fauna atual na regiao do Parque Nacional Serra da Capivara.

A fauna do sudeste do Piauí ainda é pouco conhecida.

As espécies de mamíferos são encontradas em outros ecossistemas no país, sobretudo no cerrado, com poucas exceções. O mocó (Kerodon rupestris) é o mais notável mamífero endêmico da caatinga, vivendo em grupos nas

áreas rochosas, particularmente nas encostas dos vales e boqueiroes. O parque é rico em espécies de edentados, havendo cinco espécies de tatus registradas. Três espécies de primatas foram encontrados nessa regiao: o sagui-de-tufo-branco (Callithrix jachus), o macaco-prego (Cebus apella) e o guariba (Alouatta caraya), este último típico do cerrado e pantanal, com uma população residual no parque, testemunho de um período mais úmido.

A comunidade de carnívoros existente é muito diversificada , com duas espécies de canídeos e seis de felídeos. Quatro espécies de herbívoros maiores existem no parque, os veados Mazama guazoubira (catingueiro) e

Mazama americana (mateiro), os porcos-do-mato Tayassu pecari (queixada) e Tayassu tajacu (caititu). Veados catingueiros são bem mais comuns que os

mateiros, ambas as espécies preferem áreas próximas a fontes de água.2

As últimas pesquisas feitas associadas ao manejo do parque, trouxeram como resultado um aumento da populaçao dessas diversas espécies, o cuidado com o meio ambiente, por parte do IBAMA; da FUMDHAM , dos pesquisadores e da comunidade tem permitido constatar um equilíbrio ecológico nos limites do Parque Nacional Serra da Capivara.

III.1.1.3. Os cervídeos

No Brasil, apenas um cervídeo é chamado de cervo, o do Pantanal, os outros são chamados de veados. O veado-catingueiro, o veado-bororó-do-sul e outros do Brasil Central e Norte, todos são menores que o veado-mateiro, entretanto compreendem o mesmo gênero: Mazama.

Em tupi-guarani, “veado” é o mesmo que “animal grande”, pois eles são chamados pelos índios de Sooassú ou Sooguassú, a palavra “Soo” significa animal e “assú” significa grande.

Os cervídeos são classificados taxonomicamente da seguinte maneira: Reino: Animalia, Filo: Chordata, Classe: Mammalia, Ordem: Artiodactyla, Família: Cervidae, Subfamília Odocoileinae,

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Todas essas informações a respeito da fauna do parque e entorno foram retiradas do Plano de Manejo do Parque Nacional Serra da Capivara, realizado por um conjunto de pesquisadores coordenado por Niéde Guidon ( 1991 )

Serão apresentadas as três espécies de cervídeos encontradas nos fósseis da regiáo do Parque Nacional Serra da Capivara, com detalhamento do Veado do Pantanal, que pela sua galhada é possível confirmar a espécie representada na arte rupestre da região.