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A representação de cervídeos no complexo rupestre do parque nacional serra da capivara: morfologias, sintaxe e contextos arqueológicos.

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(Departamento de Geologia da UTAD – Departamento de Território, Arqueologia e Património do IPT)

Master Erasmus Mundus em QUATERNÁRIO E PRÉ-HISTÓRIA

A REPRESENTAÇÃO DE CERVÍDEOS NO COMPLEXO

RUPESTRE DO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA:

MORFOLOGIAS, SINTAXE E CONTEXTOS ARQUEOLÓGICOS.

Uma análise visual

VOLUME I

Elaine Ignácio

Orientador: Professor Doutor Luis Miguel Oosterbeek

Júri:

Ano académico 2008/2009

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“A terra é um livro maravilhoso; infelizmente, o tempo esgravatou-o e roeu-o e ele está escrito numa linguagem difícil que os velhos pergaminhos não contam senão uma pequeníssima parte da história da nossa espécie. Para conhecer o resto, não temos outro recurso senão debruçarmo-nos sobre os arquivos do subsolo e tentar lê-los.”

Andrè Leroi-Gourhan – 1983

Dedico esta tese aos meus pais, Rubens Ignácio (sit tibi terra levis) e Patrocinia Ignácio, apoio e amor incondicional.

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RESUMO

A análise morfológica das pinturas de cervídeos permitiu identificar um conjunto restrito de temáticas. A sintaxe dessas temáticas sugeriu a organização dos temas em dois grandes conjuntos: as cenas com ou sem a presença da figura humana.

No primeiro grupo, identificamos três temas: o cervídeo isolado (tema identitário de base), o cervídeo em representação dupla (que ilustra três unidades básicas do comportamento dos cervídeos: a conjugação dos dois sexos, a relação maternal e a dupla de machos, que pode ser vista como confronto entre eles) e os cervídeos em grupo (representação da unidade social dos cervídeos).

No segundo grupo, identificamos dois temas relacionados com a caça: a caçada (o grupo dos humanos relacionando-se com o grupo dos cervídeos) e o antropomorfo carregando um cervídeo (figura simbiótica por excelência).

Se procurarmos articular os diferentes temas, percebemos que todos se baseiam numa compreensão detalhada do comportamento dos cervídeos na sua relação com os humanos, ou seja, os diferentes temas ilustram os momentos essenciais dessa relação, que poderemos designar por simbiótica: os cervídeos são sustento e componente identitário dos humanos e os humanos são a garantia da preservação dos cervídeos. O antropomorfo que carrega o cervídeo é um elemento que coroa esta relação.

Nesta tese, realizaram-se 4 capítulos sequenciais que permitem a compreensão visual das informações acima citadas. Foi escolhido um sítio arqueológico, a Toca do Pinga do Boi, no qual, a totalidade dos 131 cervídeos pintados foram analisados em detalhe (capítulo II), realizando uma base de dados informatizada que pode ser consultada impressa no volume II e em formato digital no CD em anexo. Seleccionámos composições que representam as diferentes temáticas e comparamos com composições de outros 48 sítios arqueológicos da região do Parque Nacional Serra da Capivara (capítulo IV). Apresentamos informações contextuais associadas aos aspectos Fisiográficos e culturais dessa região (capítulo I) e detalhamos o comportamento animal dos cervídeos - em especial do Blastocerus dichotomus, conhecido como veado galheiro ou cervo do pantanal, desta espécie foram encontrados vestígios

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fósseis, permitindo realizar co-relações faunísticas e paleoambientais (capítulo III).

O estudo da arte rupestre através da leitura visual dos desenhos orienta-nos na busca do entendimento da pré-história.

Na arqueologia, a pesquisa interdisciplinar garante resultados coerentes, pois é possível observar relações em diversos níveis garantindo um conhecimento não específico daquele vestígio mas do homem e suas relações sócio-culturais-econômicas daquela época.

Palavras-Chave – Parque Nacional Serra da Capivara, arte rupestre,arqueologia, analise visual e cervídeos.

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ABSTRACT

The morphological analysis of the deer paintings made possible the identification of a restricted set of themes. The syntax of these themes suggested the organization of the themes in two main sets: the scenes with human presence and the ones without it.

In the first group, it is possible to identify three themes: the isolated deer (the theme of identity of the base), the deer in double representation (that illustrates three basic units of the deer’s behavior: the conjugation of both sexes, the maternal relationship and the two males, which may be seen as a confrontation between them) and the deer in group (representation of the social unity of the deer).

In the second group, it is possible to identify two hunting related themes: the hunt (the group of humans relationing themselves with the group of deer) and the anthropomorphous carrying a deer (a symbiotic image by excellence).

If we try to articulate the different themes, we understand that they rely on a detailed comprehension of the deer’s behavior in their relationship with the humans, in other words, the different themes illustrate the essential moments of the relationship that we may name as symbiotic: the deer are the sustenance and identity component of humans and the humans are the guarantee of the deer’s preservation. The anthropomorphous which carries the deer is an element that crowns this relationship.

In this work there are 4 sequential chapters which make possible to have a visual understanding of the information quoted above. It has been chosen an archaeological site, the Toca do Pinga do Boi, in which all the 131 painted deer were analyzed in detail (chapter II), realizing a database which can be consulted in the impressed Volume II and in digitized format in the CD attached. We selected compositions which represent the different themes and compared them with composition from other 48 archaeological sites from the National Park Serra da Capivara (chapter IV). We present contextual information associated with the Physiographic and cultural aspects of that area (chapter I) and describe minutely the behavior deer’s behavior, especially of the

Blastocerus dichotomus, known as “veado galheiro” or “cervo do pantanal”.

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faunistic and paleoenvironmental co-relations (chapter III). The Rock-art study orientates us in the understanding of prehistory.

In archaeology the interdisciplinary research guarantees coherent results, relations at different levels are observed, presenting a knowledge beyond the one of that specific trace, but of the man and his socio-cultural-economic relations in that time.

Keywords - National Park Serra da Capivara, Rock-art, archeology, visual

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arqueóloga, maestrina de uma composição que ainda esta inacabada.

Ao Professor Doutor Luis Miguel Oosterbeek, as conquistas que foram e serão feitas, pois amanhã seremos a oportunidade e as alianças.

Ao programa Erasmus Mundus que oportunizou eu estar aqui.

A todos os professores do Mestrado que me ajudaram e em especial ao professor Pierluigi Rosina que nas últimas reflexões me fez pensar mais.

A Cris Buco, que me dedicou parte do seu precioso tempo ampliando o meu conhecimento sobre o Parque Nacional Serra da Capivara.

Ao Victor Teixeira, carinhosamente, chamado de professor pardal, que me auxiliou na construção da base de dados informatizada, sempre gentilmente. A Fernanda Torquato, conhecedora de pontos, virgulas e palavras, que me ajudou a entende-las.

A Anabela Pereira, amiga de todas as horas, a Margarida Morais, selos sempre gentis, a Isabel Afonso sempre com um sorriso no rosto e um livro na mão, a Sra. Rosa Fernandez, pelas frutas e bolos do final de tarde, ao Sr. Teixeira Marques pela atenção e tradução.

A equipe do Gabinete de Relações Internacionais, sobretudo, a Catarina Freire, Rosa Niko, Andreia Gaspar e Conceição Catroga, que sempre que precisei me auxiliaram.

A Mafalda Fidalgo os traços reais e imaginários que me auxiliaram em hora de desespero e a Lourdes Fidalgo presença amiga de todas as horas.

Aos amigos do mestrado e do doutoramento, a paixão pela arqueologia e arte rupestre, e em especial as minhas amigas de turma: Sara Garcês, pela cumplicidade e diversão, Janine Laborda pelas loucuras comedidas, a Luana Campos, pela estranheza sincera e a Nancy Gallou, grega com certeza.

A comunidade de Mação que me acolheu.

Aos amigos e professores de Terragona em particular ao professor doutor Ramon Viñaz, pelos encantos com a narrativa da arte rupestre.

Aos técnicos da FUMDHAM, em especial, Jorlan Silva Oliveira, Thalison dos Santos e Lucas Braga, pelas fotos aos domingos e feriados. E se fosse citar todos os “meus meninos”, teria que colocar no anexo, portanto, agradeço a todos.

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A Marian Helen Rodrigues, pela agitação embutida em sinceridade.

A amiga, professora doutora da UNIVASF Lucia Marisy que me apoiou quando tive que vir além-mar.

A minha família, sem a qual meus alicerces teriam sido desmantelados.

Enfim, a todos que posso ter esquecido, nestas poucas linhas, mas que com certeza jamais esquecerei no decorrer da minha vida.

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Índice

Índice de Ilustrações 12

Índice de Tabelas 16

Introdução 19

Capitulo I – O Parque Nacional Serra das Capivara 23

I.1. Localização 24

I.2. Antecedentes Históricos 25

I.3. Aspectos Fisiográficos 26

I.3.1. Geologia 26

I.3.1.1. O mapa geológico do Parque Nacional

Serra da Capivara 30

I.3.2. Unidades geomorfológicas 31

I.3.3. Hidrografia 34

I.3.4. Clima 35

I.3.5. Vegetação 35

I.3.6. Solos 37

I.4. Contexto Cultural 37

I.4.1. A Ocupação Humana 37

I.4.2 A arte rupestre 38

Capítulo II – Metodológico e Analítico 42

II.1. Metodologia 43

II.1.1.Pesquisa de Campo 43

II.1.1.1. Escavação 43

II.1.1.2. Levantamento fotográfico 44

II.1.2.Pesquisa de Laboratório 44

II.1.2.1.Pesquisa Visual 44

II.1.2.2.Estudo do material gráfico 44

II.1.2.3.Digitalizaçao das imagens do acervo

(10)

II.1.2.4.Criação de uma base de dados 45

II.1.2.5.Análise dos dados 45

II.1.3.Pesquisa Bibliográfica 45

II.2.Análise dos cervídeos da Toca do Pinga do Boi 46

II.2.1.Base de dados 46

II.2.1.1. Ficha I 47

II.2.1.1.1. O sítio arqueológico – Toca do

Pinga do Boi 48

II.2.1.2. Ficha II 50

II.2.2. Resultados analíticos – Toca do Pinga do Boi 51

II.2.2.1. A análise quantitativa – dados e

Porcentagens 55

CAPITULO III – relações pictóricas, paleontológicas,

arqueológicas e contextuais 102

III.1. A Fauna e a arte rupestre 103

III.1.1. A fauna 104

III.1.1.1 Fauna fóssil na região do Parque

Nacional Serra da Capivara. 104

III.1.1.1.1. A Toca das Moendas 106

III.1.1.2. Fauna atual na região do Parque

Nacional Serra da Capivara. 109

III.1.1.3. Os cervídeos 110

III.1.1.3.1. A Mazama americana 111

III.1.1.3.2. A Mazama gouazoubira 111

III.1.1.3.3. O Blastocerus dichotomus

( Illiger,1815) 112

III.1.2. A arte rupestre 116

III.1.2.1. Identificação dos temáticas pictóricas

na arte rupestre 116

III.1.2.1.2.Comportamento animal observado 116 III.2. Paleoambiente da região do Parque Nacional 118

(11)

CAPITULO IV – Temáticas 121

IV.1. Temática Individual 124

IV.1.1 Marcadores territoriais 129

IV.2. Temática dupla 133

IV.3. Temática Grupo 137

IV.4. Temática de caça 144

IV.4.1. Temática de caça individual 145

IV.4.2. Temática de caça coletiva 148

IV.4.3 Temática de caça – Motivo simbiótico 151

CONCLUSÃO 154

BIBLIOGRAFIA 157

(12)

Índice de Ilustrações

Fig.01 – Localização do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: Ignácio, 2009 24 Fig.02 – As grandes estruturas do território brasileiro. Fonte: Adaptado de

Schobbenhaus, 1984 (apud Ross, 2003:47) 27

Fig.03 – Vista da cuesta. Fonte: FUMDHAM 28

Fig.04 – Relevo com aspecto ruiniforme. Fonte: FUMDHAM 29 Fig.05 – Maciços calcários. Fonte: FUMDHAM 29 Fig.06 – Carta estrátigrafica da Bacia do Parnaiba, em destaque, as rochas que

afloram na área de estudo. Fonte: Góes e Feijó (1994) apud Santos, 2007:25 30 Fig.07 – Mapa geológico do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: LAGESE,

2002 – Fonte: Arquivo FUMDHAM 32

Fig.08 – Planaltos areníticos. 34

Fig.09 – Cuesta. 34

Fig.10 – Pedimentos. 34

Fig.08, 09 e 10 - Aspectos geomorfólogicos da área de estudo. Fonte: Santos, 2007:30 34 Fig.11 – Contraste entre caatinga seca e verde no Parque Nacional Serra da Capivara.

Fonte: FUMDHAM 36

Fig.12 –Exemplos das tradições de arte rupestre encontrada na região do Parque

Nacional Serra da Capivara. Fonte: FUMDHAM 40 Fig.13 – Mapa de localização da Toca do Pinga do Boi. Fonte: FUMDHAM 48 Fig.14 – Plano inicial em curvas de nível da Toca do Pinga do Boi. Fonte: FUMDHAM 49 Fig.15 – Foto da Toca do Pinga do Boi. Fonte: Cris Buco, 2009 49 Fig.16 – Foto da drenagem sobre a Toca do Pinga do Boi. Fonte: FUMDHAM 50 Fig.17 – Foto da Toca do Pinga do Boi. Fonte: Cris Buco, 2006 50 Fig.18 – Conservação do Painel II da Toca do Pinga do Boi. Fonte: FUMDHAM 52 Fig.19 – Toca do Pinga do Boi antes da conservação do Painel II. Fonte: FUMDHAM 53 Fig.20 – Toca do Pinga do Boi depois da conservação do Painel II. Fonte: FUMDHAM 53 Fig.21 – Desenho do Painel II da Toca do Pinga do Boi depois da conservação.

Fonte: Ignácio, 2009 53

Fig.22 – Desenho da integralidade do corpus pictórico da Toca do Pinga do Boi.

Fonte: FUMDHAM adaptado por Ignácio, 2009 54 Fig.23 – Gráfico 01 referente a quantidade dos zoomorfos que podem ser identificados como cervídeos distribuídos nos 5 painéis. 55 Fig.24 – Gráfico 02 referente a quantidade dos possíveis cervídeos distribuídos

nos 5 painéis. 56

Fig.25 – Gráfico 03 referente a comparação quantitativa entre cervídeos e possíveis

cervídeos distribuídos nos 5 painéis. 57

Fig.26 – Gráfico 04 referente a comparação quantitativa entre as diversas figuras de

(13)

Fig.27 – Gráfico 05 referente a comparação quantitativa da diversidade morfológica

pintada nos 5 painéis. 58

Fig.28 – Gráfico 06 referente a morfologia geral. 59 Fig.29 – Gráfico 07 referente a diversidade dos zoomorfos na Toca do Pinga do Boi 59 Fig.30 – Prancha I, zoomorfos – Painel I. Fonte: Ignácio, 2009 60 Fig.31 – Prancha II, zoomorfos – Painel I. Fonte: Ignácio, 2009 61 Fig.32 – Prancha III, zoomorfos – Painel I. Fonte: Ignácio, 2009 62 Fig.33 – Prancha IV, zoomorfos – Painel I. Fonte: Ignácio, 2009 63 Fig.34 – Prancha V, zoomorfos – Painel I. Fonte: Ignácio, 2009 64 Fig.35 – Prancha VI, zoomorfos – Painel I. Fonte: Ignácio, 2009 65 Fig.36 – Prancha VII, zoomorfos – Painel II. Fonte: Ignácio, 2009 66 Fig.37 – Prancha VIII, zoomorfos – Painel II. Fonte: Ignácio, 2009 67 Fig.38 – Prancha IX, zoomorfos – Painel II. Fonte: Ignácio, 2009 68 Fig.39 – Prancha X, zoomorfos – Painel III e IV. Fonte: Ignácio, 2009 69 Fig.40 – Prancha XI, zoomorfos – Painel V. Fonte: Ignácio, 2009 70 Fig.41 – Gráfico 8 – Integralidade da Figura 71 Fig.42 – Exemplos de cervídeos associados a integralidade da figura. 71 Fig.43– Exemplos de cervídeos associados aos diversos tamanhos. 72 Fig.44 – Gráfico 9 referente ao tamanho da figura. 73 Fig.45 – Matriz gráfica da forma do corpo do cervídeo. 74 Fig.46 – Exemplos de representação da forma do corpo do cervídeo. 75 Fig.47 – Gráfico 10 referente a forma do corpo. 76 Fig.48 –Gráfico 11referente ao preenchimento do corpo. 77 Fig.49 – Gráfico 12 referente ao tipo de preenchimento. 77 Fig.50 – Exemplos de cervídeos com diferentes tipos de preenchimento do corpo. 78 Fig.51 – Exemplos de cervídeos com linhas variadas formando textura de

preenchimento do corpo. 79

Fig.52 –Gráfico 13 referente a linhas formando textura. 79 Fig.53 – Exemplos de textura formada por linhas mistas. 81 Fig.54 – Gráfico 14 – referente a linhas mistas. 81 Fig.55 – As figuras de zoomorfos, no caso os veados S54Z021, S54Z022 e S54Z026,

parecem estar associadas pela cor, pelo preenchimento do corpo e pela organização

espacial no painel. 82

Fig.56 – Matriz gráfica do quarto traseiro – cauda. 82 Fig.57– Gráfico 15 – referente ao quarto traseiro – cauda. 83 Fig.58– Exemplos de cervídeos com quarto traseiros distintos. 84 Fig.59 – Exemplos de cervídeos com relação diversa entre a direção do corpo e a

direção da cabeça. 85

Fig.60 – Gráfico 16 – referente a direção do corpo e da cabeça. 86 Fig.61 – Gráfico 17 – referente a postura das figuras. 87

(14)

Fig.62 –Exemplos de posturas dos cervídeos. 88 Fig.63 – Gráfico 18 – referente a disposição dos membros, dianteiros e traseiros,

das figuras com postura dinâmica. 88

Fig.64– Gráfico 19 – referente a disposição dos membros dianteiros e traseiros

das figuras. 89

Fig.65 –Exemplos da disposição dos membros dianteiros e traseiros. 90 Fig.66 – Gráfico 20 – referente a posição dos membros e postura dos cervídeos. 90 Fig.67 –Exemplos de cervídeos associando a postura com a disposição dos

membros dianteiros e traseiros. 91

Fig.68 – Gráfico 21 – referente a forma da orelha do cervídeo. 92 Fig.69 –Exemplos de Orelhas dos cervídeos. 93 Fig.70 – Gráfico 22 – referente aos tipos de focinho. 93 Fig.71 – Matriz gráfica das galhas dos cervídeos. 94 Fig.72 – Gráfico 23 referente as Galhas dos cervídeos. 94 Fig.73 – Gráfico 24 referente aos tipos de galhas dos cervídeos. 95 Fig.74 –Exemplos de cervídeos com diferentes tipos de galhas. 96 Fig.75 – Gráfico 25 referente a quantidade de pontas das galhas única ramificada. 97 Fig.76 –Exemplos de cervídeos com diferentes quantidades de pontas. 98 Fig.77 –Exemplos de cervídeos em uma hipotética perspectiva. 99 Fig.78 – Exercício baseado na perspectiva oblíqua realizada pela autora. 99

Fig.79 –Exemplo de galha de perfil. 100

Fig.80 – Exemplos de representações da Mazama americana, Mazama

gouazoubira e Blastocerus dichotomus. 100

Fig.81 –Foto do cervídeo Mazama gouazoubira inteiro e articulado, in situ.

Fonte: Ignácio, 2006 – Arquivo:FUMDHAM. 107

Fig.82 – A - Chifres e B - Detalhe do maxilar da Mazama gouazoubira

Fonte: Guerin, 2008:21. 107

Fig.83 –Foto de parte da mandíbula do Blastocerus dicothomus.

Fonte: Ignácio, 2006 – Arquivo:FUMDHAM. 108

Fig.84 – Detalhe da mandibula do Blastocerus dichotomus. Fonte: Guerin, 2008:36. 108

Fig.85 – Foto do Mazama americana.

Fonte:http://tbn2.google.com/images?q=tbn:k4mqEoj8txUHcM:http://bp2.blogger.

com/_yZmQ5D3LCs8 111

Fig.86 – Foto do Mazama gouazoubira.

Fonte: http://www.pathfinders.com.br/album/images /PR052.jpg 112 Fig.87 –Foto do Blastocerus dichotomus.

Fonte: http://www.focusonnature.com/Brazil84.jpg. 113 Fig.88 –Foto Blastocerus dihotomus.

Fonte: http://www.cepen.com.br/wt_mecnovo-8.jpg. (adaptado Ignácio 2009) 114 Fig.89 – Cervídeo pintado, Toca do varedão II ou do Juvenal 114

(15)

Fig.90 –Foto de uma manada de Blastocerus dichotomus.

Fonte: http://www. pointx.com.br/eronmania/fotos_animais/cervo.gif . 117 Fig.91 – Desenho da pintura de uma manada da Toca do Pinga do Boi. 117 Fig.92 – Foto com os fragmentos pintados sendo encaixados no suporte rochoso. 120

Fig.93 – Exemplos das diversas temáticas. 123

Fig.94 – Mapa - temática Individual. Fonte: Arquivo FUMDHAM (adaptado Ignácio, 2009) 124 Fig.95 – Desenhos dos diversos sítios escolhidos para representar a temática individual. 128 Fig.96 – Mapa - Marcadores Territoriais. Fonte: Arquivo FUMDHAM

(adaptado Ignácio, 2009) 129

Fig.97 – Toca das figuras do Angical. Foto arquivo FUMDHAM. 130 Fig.98 – Toca do Alto. Fonte: Arquivo FUMDHAM. 131 Fig.99 – Toca do Lanche. Fonte: Arquivo FUMDHAM. 131 Fig.100 – Toca do Boqueirão do Puxa Fonte: Arquivo FUMDHAM. 132 Fig.101 – Mapa - Temática Duplo. Fonte: Arquivo FUMDHAM (adaptado Ignácio, 2009) 133 Fig.102 – Exemplos de cervídeos em dupla, podendo estar representando um casal. 136 Fig.103– Exemplos de cervídeos em dupla, representando dois veados galheiros 136 Fig.104 – Exemplos de cervídeos em dupla, possível fêmea e filhote. 137 Fig.105 – Mapa - Temática Grupo. Fonte: Arquivo FUMDHAM (adaptado Ignácio, 2009). 138 Fig.106 – Toca do Pinga do Boi (Figuras S54Z049,S54Z050 e S54Z051). 139 Fig.107 – Toca do Pinga do Boi (Figuras S54Z049, S54Z050, S54Z051, S54Z052,

S54Z053 e S54Z054). 140

Fig.108 – Toca do Pinga do Boi (Figuras S54Z021,S54Z022 e S54Z026). 140 Fig.109 – Toca do Pinga do Boi (Figuras S54Z055,S54Z056 e S54Z057). 141 Fig.110 – Toca do Pinga do Boi (Figuras S54Z104,S54Z105,S54Z106 e S54Z107). 141

Fig.111 – Exemplos de Temáticas grupo. 142

Fig.112 – Exemplos de Temática grupo em linha. 144 Fig.113 – Mapa - Temática Caça. Fonte: Arquivo FUMDHAM (adaptado Ignácio, 2009). 145 Fig.114 – Exemplos de sítios com padrão caça individual. 147 Fig.115 – Toca do Pinga do Boi Temática caça individual. 147 Fig.116 – Foto da pintura da Toca do Chapada do Cruz. 148 Fig.117 – Foto do painel que contém a cena 1, 2 e 3. Toca do Estevo III. 149 Fig.118 – Foto do painel que contém a cena 4. Toca do Estevo III. 149 Fig.119 – Foto do painel que contém as quatro cenas. Toca do Estevão III. 150 Fig.120 – Foto da pintura da Toca do Varedão II. 150 Fig.121 – Foto da pintura da Toca da Chapada do Cruz. 151 Fig.122 – Toca do Pinga do Boi, Figuras S54Z115 e antropomorfo. 152

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Índice de Tabelas

Tabela 01 – Dados quantitativos dos zoomorfos identificados como

cervídeos distribuídos nos 5 painéis da Toca do Pinga do Boi. 55

Tabela 02 – Dados quantitativos dos possíveis cervídeos distribuídos

nos 5 painéis da Toca do Pinga do Boi. 56

Tabela 03 – Dados quantitativos entre as diversas figuras de animais

distribuídos nos 5 painéis da Toca do Pinga do Boi. 57

Tabela 04 – Dados quantitativos da diversidade morfológica pintada

nos 5 painéis da Toca do Pinga do Boi. 58

Tabela 05 – Dados quantitativos dos tamanhos das figuras de cervídeos

pintados nos 5 painéis da Toca do Pinga do Boi. 73

Tabela 06 – Dados quantitativos da forma do corpo das figuras de

cervídeos pintados nos 5 painéis da Toca do Pinga do Boi. 74

Tabela 07 – Dados quantitativos do preenchimento do corpo dos

cervídeos, neste caso, referente aos diversos tipos de linhas que

formam a textura, pintados nos 5 painéis da Toca do Pinga do Boi. 78

Tabela 08 – Dados quantitativos do preenchimento do corpo dos

cervídeos, neste caso, referente as linhas mistas, pintados nos 5 painéis

da Toca do Pinga do Boi. 80

Tabela 09 – Dados quantitativos do quarto traseiro - cauda das figuras de

cervídeos. 83

Tabela 10 – Dados quantitativos da direção do corpo e da cabeçadas

(17)

Tabela 11 – Dados quantitativos da posturadas figuras de cervídeos. 87 Tabela 12 – Dados quantitativos da disposição dos membros dianteiros e

traseiros das figuras de cervídeos. 89

Tabela 13 – Dados quantitativos da posição dos membros x Postura das

figuras de cervídeos. 90

Tabela 14 – Dados quantitativos da forma da orelha das figuras

dos cervídeos. 92

Tabela 15 – Dados quantitativos da existência de galhas das figuras de

cervídeos. 94

Tabela 16 – Dados quantitativos do tipo de galhas das figuras de

cervídeos. 95

Tabela 17 – Dados quantitativos de pontas (única ramificada) das

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(19)

O Homem que observa o entorno, olhando-o, vê-se a si próprio e desenha com base nas suas percepções e representações mentais.

O desenvolvimento do olhar levou milhares de anos para ser aperfeiçoado, desde o paleolítico inferior quando o Homo erectus cria o primeiro biface encontrado em Olduvai. Neste processo, o homem conquistou o sentido da simetria, e é este olhar que se desenvolve através do tempo, e que com o homem moderno ganha singularidade nas rochas, suporte composicional e elemento aglutinador do desenvolvimento abstracto do olhar.

O Parque Nacional Serra da Capivara tem atualmente mais de 500 sítios com pintura rupestre, sendo de extrema importância o estudo dos desenhos que estão em cada recanto de metros e metros de arenito pintado. Existe uma variedade técnica associada ao desenho, que merece um estudo mais detalhado. Essa variável poderá ser um indicador de diferença cultural entre grupos, ou entre indivíduos. Desta forma, começaremos por estudar a integridade dos painéis e o contexto da Toca do Pinga do Boi, e em particular, o desenho do veado, que além deste sitio, é muito representado em todo o parque e no entorno dele. Compreender a pintura, neste caso, da representação do cervídeo galheiro, não pode ser um processo apenas tipológico, tem que se levar em consideração a geologia, a geomorfologia, a vegetação, associadas com os demais vestígios arqueológicos e paleontológicos da região. Essas, micro e macro relações, poderão inclusive auxiliar na reconstrução do meio ambiente da época em que eles coexistiram.

Quando se desenha em um determinado local, de uma determinada maneira, quer se comunicar algo, mas este algo esta intrínseco ao espaço que este indivíduo habita, a paisagem que ele contempla, os meios que fazem com que ele subsista.

E para entender este homem, precisamos localizá-lo no tempo e no espaço.

Arte rupestre e arqueologia são as nossas principais “ferramentas” para a compreensão do homem e suas relações no meio ambiente em que vivia, neste caso com a presença dos cervídeos: Mazama gouazoubira, Mazama

americana e Blastocerus dichotomus, sendo este último o foco desta pesquisa.

O sítio arqueológico que foi estudado, a Toca do Pinga do Boi, tem grande quantidade de representações de cervídeos. Realizamos o

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levantamento de todas estas representações, e das relações morfológicas e composicionais entre elas, e principalmente dos temas associados aos desenhos do Blastocerus dichotomus, devido a facilidade de identificação dessa espécie através dos galhos. De acordo com a morfologia dos cervídeos, e das espécies encontradas em contexto arqueológico na região esta é a única espécie que apresenta dupla ramificada. A existência desse cervídeo infere um clima diferente do que existe actualmente, pois como é um animal que apenas sobrevive em regiões alagadiças, necessita de um ambiente mais úmido.

Hoje há mais de 50 sítios arqueológicos escavados, muitos deles tendo pintura. Em algumas camadas de ocupação foram encontrados fragmentos de arenito pintado, ocre, ossos de animais que são representados, e outros tipos de vestígios que poderemos utilizar para dar fundamentação e suporte para a reconstrução criativa deste homem. Fósseis de cervídeos, entre outros animais foram encontrados e analisados por especialistas.

A partir de uma análise dos traços, da simetria, ou não, do equilíbrio, ou não, este homem, em um determinado contexto, e em um determinado momento já se comunicava, mas além de comunicar, tentava se conhecer achando importante deixar suas marcas para que outros chegassem a conhecê-lo.

Esta pesquisa teve como objetivo geral: Reconhecer temáticas na representação dos cervídeos no complexo rupestre da Serra da Capivara. E teve como objetivos específicos os apresentados abaixo:

• Detalhar morfologias, técnicas e composições associadas aos veados, principalmente ao Veado galheiro (Blastocerus

dichotomus) do sítio arqueológico Toca do Pinga do Boi, no

Parque Nacional Serra da Capivara;

• Comparar analiticamente as semelhanças associando a morfologia visual, ao comportamento animal (do veado e do homem) e a sua distribuição pictórica no espaço definindo temáticas.

• Realizar um estudo comparativo das pinturas com as últimas descobertas arqueológicas e paleontológicas da região, com destaque, a Toca das Moendas;

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• Contribuir para construção do acervo de desenhos de arte rupestre.

Para mostrar os resultados desta pesquisa realizamos dois volumes, o primeiro contém quatro capítulos, descritos a seguir, e o segundo volume compreende a Ficha I que é especifica sobre o sítio e a Ficha II que é a caracterização do conjunto de 131 cervídeos referente a análise do corpus pictórico do sítio arqueológico Toca do Pinga Boi para consulta e compreensão dos resultados analíticos que serão apresentados no capítulo II do primeiro volume.

No volume I haverá quatro capítulos, as considerações finais, a bibliografia consultada, os anexos e os índices, geral, tabelas e figuras.

O primeiro capítulo é descritivo, no qual há uma caracterização espacial e temporal da região do Parque Nacional Serra da Capivara, salientando aspectos físicos e culturais.

A fauna atual e fóssil e o paleoambiente foram temas com destaque e por essa razão optamos em apresentar em um outro capítulo associado as relações analíticas contextuais desta tese. Portanto, foram descritos no decorrer do capítulo III.

O segundo capítulo é metodológico e analítico. Na primeira parte foram apresentadas as etapas da pesquisa, das atividades de campo ao laboratório, enfatizando a construção de uma base de dados informatizada sobre as figuras do cervídeo da Toca do Pinga do Boi. E, na segunda parte foi demonstrado a partir de gráficos, tabelas, desenhos e figuras os resultados da análise detalhada deste corpus pictórico, composto por 131 cervídeos.

A importância de fazer um estudo do corpus pictórico dos cervídeos de um sítio detalhadamente reside no fato de que, essa exaustão nos permite conhecer o conjunto e o detalhe, identificando temas não somente morfológicos – tipológicos da representação da figura do animal como das relações entre eles e o homem, formando um conjunto pictórico rico em movimento, este com composições que inferem temas do universo conhecido.

No terceiro capítulo foram evidenciadas as relações pictóricas entre as variadas representações, por vezes, associada diretamente ou indiretamente aos contextos arqueológicos e paleontológicos.

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Apresentamos a importância dos fósseis de cervídeos encontrados na região do Parque Nacional Serra da Capivara em especial o Blastocerus

dichotomus, atualmente não existente na região. Para compreender a dinâmica

das relações animais apresentadas na pintura detalhamos as três espécies de cervídeos encontradas nestes fósseis e o paleoambiente aonde eles viviam.

Dois sítios arqueológicos foram citados: a Toca das Moendas, pelo seu espólio paleontológico e a Toca do Pica – pau, por ter sido encontrado um fragmento pintado que permite supor uma cronologia associada a arte rupestre.

O ponto fulcral deste capítulo é o detalhe do comportamento animal para posteriormente ser comparado as pinturas, os hábitos dos animais observados hoje pelos biólogos já foram desenhados pelos homens do passado.

O quarto capítulo é analítico - contextual, onde as relações com os demais sítios arqueológicos foram apresentadas.

Foram examinadas uma série de pinturas de cervídeos, pertencentes ao conjunto rupestre da Toca do Pinga do Boi e de outros 48 sítios arqueológicos. Por um lado são descritas as suas características morfológicas e, por outro, as composições correlacionando com os outros sítios arqueológicos, demonstrando desta forma como os cervídeos eram sistematicamente pintados, intervindo, com o fim de indagar o papel desempenhado por esta espécie na região. As composições observadas pelo agrupamento dos cervídeos e pelas relações desse animal com o homem são variadas e também estão presentes em distintos sítios arqueológicos. Foram definidos quatro temáticas observadas na Toca do Pinga do Boi e comparado aos demais sítios. Para definir essas temáticas levamos em consideração a morfologia da figura, o comportamento animal tanto dos cervídeos como dos homens e, a ocupação do espaço, esta em dois níveis, o territorial – associado ao sítio arqueológico e onde este está inserido na paisagem e, dentro do próprio espaço pictórico. O homem na pré historia, pintou as paredes, observando o outro e a si mesmo, numa relação simbiótica.

E para finalizar a tese, foram apresentadas considerações finais e idéias para continuidade desta pesquisa.

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I.1. Localização

O Parque Nacional Serra da Capivara esta localizado no Sudeste do

Estado do Piauí e inserido espacialmente no chamado "Polígono das Secas", Nordeste do Brasil. Ele está delimitado pelas coordenadas geográficas 8º 26’ 50”e 8º 54’ 23” de latitude Sul e 42º 19’ 57”e 42º 45’ 51” de longitude Oeste, ocupando uma áre de 129.953 hectares e um perímetro de 214,23km, compreendendo os municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, Joao Costa e Brejo do Piauí.

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I.2. Antecedentes Históricos

A área arqueológica do Parque Nacional Serra da Capivara , constituída pelo Parque e seu entorno, compreende mais de 1000 sítios arqueológicos e paleontológicos, na sua maioria com arte rupestre.

O parque foi criado em 1979, a pedido de uma equipe de cooperação científica franco-brasileira que realizava pesquisas na área desde o início dos anos 70 solicitando ao governo federal a criação de uma unidade de conservação, visando garantir a preservação do bioma da caatinga e dos sítios arqueológicos. Da preocupação com a presença de posseiros, os incêndios, a caça ilegal e o desmatamento descontrolado de espécies nobres, nasceu a Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM, em 1986.

Devido à sua importância cultural, o parque foi inscrito pela UNESCO na Lista do Patrimonio Mundial a título cultural em 1991, como consequência de uma solicitação oficial do governo do Brasil, e tombado como Patrimônio Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN em 1993, com registro no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Com a criaçao do parque, surgiu a necessidade da implantação de um sistema intensivo de preservação patrimonial, ambiental e cultural. Atualmente sua gestão é realizada em regime de parceria entre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – IBAMA, do Ministério do Meio Ambiente – e a Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, declarada de interesse público e sediada em São Raimundo Nonato, sendo esta responsável pela guarda de todo o espólio arqueológico e paleontológico da região. Uma parceria entre a FUMDHAM e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, rege os trabalhos de conservação e defesa dos sítios arqueológicos da região.

Faz mais de 35 anos que a pesquisa multidisciplinar acontece na região, com pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento científico e de diversos países. Sempre houve a preocupação de compreender a dinâmica das relações culturais e ambientais dos homens que ocuparam essa região através dos tempos, ou seja, da pré-história aos dias atuais. Na sede da FUMDHAM há o Centro Cultural Sérgio Motta, composto de laboratórios

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técnicos, biblioteca, sala de leitura e anfiteatro, além do Museu do Homem Americano, com uma exposição permanente que apresenta o homem desde seu aspecto evolutivo aos diversos aspectos culturais através dos tempos. Toda a equipe técnica foi capacitada por profissionais das diversas Instituições parceiras, como da própria FUMDHAM. Faz 5 anos a UNIVASF, Universidade Federal do Vale do São Francisco desenvolve um curso universitário de Arqueologia e Preservação Patrimonial em São Raimundo Nonato, em uma parceria teórico-prática com a FUMDHAM.

No parque foram preparados 128 sítios arqueológicos para visitação pública, 16 dos quais para portadores de mobilidade reduzida. São mais de 400 km entre estradas e trilhas internas, com 5 entradas abertas ao público em geral. Pesquisa e preservação patrimonial caminham lado a lado nesta região construíndo um notável desenvolvimento científico, cultural, econômico e social. (Guidon et al.2008:93)

I.3. Aspectos Fisiográficos

O Parque Nacional Serra da Capivara situa-se na borda sudeste da Bacia do Parnaíba, na região dos municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa e Brejo do Piauí, no sudeste do Estado do Piauí, regiao Nordeste do Brasil.

Dois grandes domínios geomorfológicos se apresentam na região : ao Sul, a Depressão Periférica do São Francisco, com rochas Pré-cambrianas tectonizadas e migmatizadas, que constituem o embasamento cristalino; e o segundo domínio é representado ao Norte pelas rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba. (Guerin et al. 1999:4)

I.3.1. Geologia

Geologicamente, o parque está na sua quase totalidade incluído na Bacia Sedimentar do Parnaíba, aparecendo ainda uma parte muito pequena do

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embasamento cristalino da região.Toda área pertence à província tectônica da Borborema, unidade dominante no Nordeste brasileiro (Mabesoone, 2001). 1

Fig. 02 - As grandes estruturas do território brasileiro. Fonte: Adaptado de Schobbenhaus, 1984 (apud Ross, 2003:47)

As bacias sedimentares formaram-se ao longo do Fanerozóico, ou seja, nos últimos 600 milhões de anos. Os sedimentos mais antigos são do Paleozóico, os intermediários do Mesozóico e os mais recentes do Cenozóico. Quando essas bacias se organizaram, os terrenos do continente sul-americano encontravam-se em posições altimétricas bem mais baixas. Os depósitos marinhos e continentais formaram as rochas sedimentares das três grandes

1 Apud Mario de Lima Filho e Lúcia Mafra Valença. Relatório sobre a GEOLOGIA DO PARQUE

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bacias2. Assim, nelas são encontrados sobretudo arenito de diferentes idades e

granulações, as vezes intercalados por siltitos, argilitos, conglomerados e calcários. ( Ross,2003:50)

0 relevo da bacia mostra um caráter bem individualizado, como área de transição entre o sertão semi-árido nos flancos leste e sul, e a região

amazônica mais úmida no flanco oeste (Moreira, 1977).3 Seu flanco sul é

limitado pela linha de cuesta, uma escarpa abrupta com desníveis que variam de 80 a 150 m. Frente à cuesta, distante poucos quilômetros, duas zonas cársticas se destacam no relevo, projetando-se quase uma centena de metros acima da planície. (Guerin et al. 1999:4)

“A Serra da Capivara é uma das unidades de relevo chamado de "serra", que representa as formas de cuesta, com vertentes externas bem íngremes, e repartida em partes individuais pelos vales fluviais encaixados. A falta de continuidade dos fronts das cuestas na borda sudeste da Bacia do Parnaíba deve-se a vários fatores: (1) o entalhe dos rios e riachos nos sedimentos conglomeráticos e areníticos permeáveis, (2) a presença de fraturas no pacote sedimentar, (3) o antigo curso do rio São Francisco.”

(Lima Filho & Valença, 2005:9 )

Fig. 03 – Vista da cuesta. Fonte: FUMDHAM

A Bacia do Parnaíba apresenta extensa superfície plana, com altitudes que variam de 500 a 650 m, geralmente terminando em escarpas abruptas (cuesta). Este relevo tem aspecto ruiniforme devido à sua estrutura diaclasada,

2 As três bacias sedimentares fanerozóicas do relevo brasileiro são: Bacia Amazônica, Bacia do

Maranhão ou do Parnaíba e Bacia do Paraná.

3 Apud Mario de Lima Filho e Lúcia Mafra Valença. Relatório sobre a GEOLOGIA DO PARQUE

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formando boqueirões, torres e arcos. Nesses boqueirões, ocorre a maior concentração de sítios arqueológicos com pinturas rupestres da região.

Fig. 04 - Relevo com aspecto ruiniforme. Fonte: FUMDHAM

O relevo da Depressão Periférica do São Francisco, com altitudes da ordem de 450 m, é caracterizado como um vasto pediplano, onde se projetam inselbergues gnáissicos e quartzíticos, batólitos graníticos intrusivos, micaxistos bem aplainados, além de maciços calcários metamorfizados.

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I.3.1.1. O mapa geológico do Parque Nacional Serra da Capivara

A coluna atualmente mais usada pelos geólogos no Brasil e adotada na descrição do mapa geológico do Parque Nacional Serra da Capivara é a de Góes e Feijó ( 1994 ).

Fig. 06 – Carta estrátigrafica da Bacia do Parnaiba, em destaque, as rochas que afloram na área de estudo. Fonte: Góes e Feijó (1994) apud Santos, 2007:25

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Ela reúne diversas formações litoestratigráficas em grupos, seguindo as idéias de sequências deposicionais mais ou menos contínuas e a evolução da bacia. Esta coluna apresenta quatro, eventualmente cinco grupos entre Siluriano e o Cretáceo, e a subdivisão em formações refere-se seja a litologias diferentes, seja a idade distintas.(Lima Filho;Valença, 2005:17 )

Na área de estudo, afloram rochas, cujos sedimentos foram depositados durante o Siluriano e o Devoniano, correspondendo aos grupos Serra Grande e Canindé. (Santos,2007:23)

O Grupo Serra Grande, de idade Siluriana, repousa diretamente sobre o embasamento cristalino e é subdivido em três unidades litoestratigráficas: Formaçao Ipu (Inferior) – composta com diamictitos e arenitos,mais raramente microclásticos, de idade Llandoveriano (Siluriano Inferior) ; Formação Tianguá (Média) – composta essencialmente com sedimentos microclásticos e mais raramente arenitos, de idade Venlockiano (Siluriano Inferior) e Formação Jaicós (Superior) – composta essencialmente de conglomerados e arenitos conglomeráticos a médios, de idade Ludloviano-Pridoliano (Siluriano Superior). ( Góes e Feijo, 1994 - apud Lima Filho;Valença, 2005:17 )

O Grupo Canindé é composto de 5 formações, e repousa discordantemente sobre o Grupo Serra Grande. As unidades distinguidas são: Formação Itaim (Inferior) – composta por arenitos finos de coloração esbranquiçada a roseada, com intercalações de folhelhos cinza-médio a escuro de idade Eifeliano (Llevoniano Médio); Formação Pimenteiras - composta com camadas espessas de folhelhos avermelhados a cinzentos, com intercalações finas de arenitos finos de idade Givetiano Frasniano (Devoniano Médio Superior); Formação Cabeças – composta de arenitos finos e médios, bem selecionados, associados em alguns lugares a arenitos mais grossos de idade Givetiano Frasniano; Formação Longá – composta com folhelhos e siltitos cinza-médio e arenito branco, fino e argiloso de idade Famenniano (Devoniano Superior); Formação Poti (Superior) – composta de arenitos cinza-esbranquiçados, com finas intercalações de argilitos e siltitos de idade

Tournaisiano (Carbonífero Inferior). (Góes e Feijo, 1994 - apud Lima

Filho;Valença, 2005: 18)

No mapa geológico observa-se esses dois grupos, sendo que a maior parte do Parque está inserida no Grupo Canindé, Formações Itaim e Cabeça,

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em seguida o Grupo Serra Grande e por fim, uma pequena parte do embasamento pré-cambriano – contato com a cuesta bem pronunciada, parte do limite sudeste da Bacia do Parnaíba.

Fig. 07 – Mapa geológico do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: LAGESE, 2002 – Fonte: Arquivo FUMDHAM

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I.3.2. Unidades geomorfológicas

Segundo Pellerin (1984 a,b), podem ser reconhecidas três unidades geomorfológicas, que se estende pelo Parque Nacional Serra da Capivara e circunvizinhanças: planaltos areníticos, cuestas e pedimentos.

Os planaltos areníticos situam-se a oeste do Parque Nacional Serra da Capivara e constituem chapadas do reverso da cuesta, de relevo regular, que passam de 600m a 300m à sudeste e 500m a 520m à nordeste. O planalto é cortado por vales orientados N-S, com fundo plano, profundamente encaixados e dominados diretamente por cornijas de arenitos subverticais, esculpidos em relevos ruiniformes e arredondados, como por exemplo, o vale do Riacho Nova Olinda, na Serra Branca. A Toca do Pinga do Boi, sítio arqueológico no qual o corpus visual dos cervídeos foi estudado em detalhe, esta localizado neste domínio geomorfológico.

As cuestas foram modeladas em rochas predominantemente areníticas e conglomeráticas do Grupo Serra Grande. O desnível entre a cuesta e o pedimento oscila entre 200m a 250m. O front da cuesta exibe canyons de entalhe profundo e muito dendriformes, dominados diretamente por paredões de morfologia ruiniforme-arredondada.

O pedimento é uma vasta área de erosão, situada no sopé da cuesta. É uma área muito plana, sendo testemunho de uma longa evolução em regime de dissecação, variando de 60km a 80km de largura, localizado entre a cuesta formada pelas rochas areníticas e conglomeráticas da Bacia do Parnaíba a oeste e os morros de quartzito que constituem a Serra dos Dois Irmãos também a oeste. A sul está a área de afloramentos de gnaisse, composta por numerosos inselbergs isolados, ou dispostos em maciços. E, ao norte está a área dos micaxistos, é a mais aplainada, com relevos residuais, compostos de inselbergs, isolados de granito intrusivo e de pequenos maciços carstificados de mármores, localmente chamados de serrotes. ( Silva, 2008:29)

Os serrotes são ricos em fósseis de animais das mais distintas espécies. Intensiva pesquisa paleontológica e arqueológica nos permite inferir a coexistência do homem com os animais representados na arte rupestre do Parque Nacional Serra da Capivara.

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Fig. 08 Planaltos areníticos.

Fig. 09 Cuesta.

Fig. 10 Pedimentos.

Fig 08, 09 e 10 Aspectos geomorfólogicos da área de estudo. Fonte: Santos, 2007:30

I.3.3. Hidrografia

Os rios e riachos da área são temporários até intermitentes, transportando pouca água mesmo na estação chuvosa. A água acumula-se nos caldeirões escavados na rocha. Eles são todos afluentes do rio Piauí, maior rio da região, parcialmente assoreado na regiao do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara.

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I.3.4. Clima

Possui um clima semi-árido quente com seca invernal BShw - classificaçao de Köppen (Emperaire, 1991), com precipitacões irregulares no tempo e no espaço, com médias anuais da ordem de 650 mm. A estação das chuvas ocorre, geralmente, entre outubro e final de abril. São, em geral, localizadas e de curta duração. Pelo método de Thornthwaite estima-se uma evapo-transpiração potencial anual da ordem de 1400 mm. (Guerin et al. 1999:3)

A temperatura média anual é elevada ( 28º C ), com amplitude térmica anual na faixa de 5º C. O mês mais frio é junho, com temperatura mínima de 12º C, máxima de 35º C e média de 25º C. O início da estação das chuvas é o período mais quente do ano, com média de 31º C, máximas de 45º C e mínimas de 22º C.

I.3.5. Vegetação

A cobertura vegetal na região do Parque Nacional Serra da Capivara é do tipo caatinga, popularmente conhecido como “floresta branca”, composta principalmente por árvores caducifólias, que perdem as folhas no período da seca, permitindo brilhar os galhos secos e o reflexo das areias claras que cobrem o solo. Com as primeiras chuvas , nascem as folhas modificando a paisagem. A flora é rica, porém com pouca durabilidade, e as cactáceas e bromeliáceas dominam a paisagem.

Devido à escassez de água, essa vegetação mostra adaptações especiais para sobreviver. As diversas formas de caatinga presentes dependem essencialmente do tipo do solo. A vegetação típica é a caatinga arbustiva, de difícil penetração, mas com ocorrência de formações florestais nas ravinas, locais de uma maior concentração hídrica. Destacam-se a vegetação das chapadas e das planícies, com mais arbustos e plantas rasteiras, e aquela dos canyons, com matas mais altas devido a uma maior umidade. (Guerin et al. 1999:4)

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Emperaire (1987) realizou o mais extenso levantamento sobre a flora do Parque Nacional Serra da Capivara, estabelecendo cinco categorias de vegetação e distinguindo os domínios destas no relevo: caatinga arbustiva alta densa; formações arbóreas; caatinga arbórea média densa; caatinga arbustiva baixa e a caatinga arbustiva arbórea.

Fig. 11 Contraste entre caatinga seca e verde no Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: FUMDHAM

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I.3.6. Solos

Os solos são predominantemente latossólicos, com latossolos vermelho-amarelos de textura média sobre as rochas sedimentares, e eutróficos sobre as rochas cristalinas, além de solos litólicos e areias quartzosas. (Lima Filho;Valença, 2005:7)

I.4. Contexto Cultural

I.4.1. A Ocupação Humana

Sondagens e escavações foram e estão sendo feitas pela equipe da FUMDHAM a fim de datar a arte rupestre, situando os autores em um contexto sócio-cultural mais preciso, e conhecer a interação do homem com seu meio ambiente desde a Pré-história aos dias atuais na região sudeste do estado do Piauí. Esses trabalhos levaram a descoberta de sítios arqueológicos que apresentavam vestígios de presença humana excepcionalmente antigos4.

A compreensão da ocupação humana dessa região passa pelo entendimento de que haviam povos caçadores-coletores do Pleistoceno e Holoceno e povos agricultores ceramistas5, os primeiros com uma antiguidade que pode ter se iniciado a pelo menos 50 mil anos atrás, e os outros a 3.500 anos. Há na região fragmentos de cerâmica mais antigos aparentemente desvinculados de uma agricultura, a data de 3.500 anos esta associada a vestígios que nos permite inferir uma prática conjunta da agricultura e da manufatura da cerâmica, salientando que há uma grande quantidade de machados de pedra polida e mãos de pilão em períodos mais recentes, por vezes, ainda nas superfícies das roças no interior do sertão.

A prática da caça ainda é presente entre os indígenas brasileiros, assim como há grupos indígenas que não sabem fazer cerâmica, não pintam ou gravam as paredes, não sabem lascar pedras ou fazer polimento.

A região também foi importante no período da colonização, apesar da aridez e da área estar ocupada pelos índios, conhecidos como selvagens, essa

4 PARENTI,Fabio. 1996,2002; SANTOS, G.M. et al. 2003. GUIDON, N. et al.2002a. ,2002b.; ARAÚJO,A.

& FERREIRA,L.F. 1996

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terra foi parcialmente invadida. Vestígios arqueológicos históricos confirmam as duas presenças acima citadas, a arqueologia esta permitindo reconstruir a história da região6.

As temáticas apresentadas na arte rupestre inferem que seus autores podiam ser caçadores, temporalmente, acredita-se que esses autores viveram na região da Serra da Capivara desde o período de transição Pleistoceno- Holoceno. E, não há indícios de que os indígenas que ocupavam essa região, na época do contato, soubessem pintar as paredes rochosas, portanto não sabemos quando a atividade pictórica deixou de existir na região.

I.4.2 A arte rupestre

As pinturas dos sítios arqueológicos da região do Parque Nacional são diversificadas tanto na técnica de realização, na temática e na maneira como as figuras estão dispostas sobre a parede. Há figuras com traços de identificação suficientes para permitir o reconhecimento imediato de elementos

do mundo sensível, enquanto outras apenas evocam formas incompletas da

realidade ou formas não reconhecíveis. Nesse conjunto de imagens dispostas ao acaso estão misturados ritos, evocados mitos, plasmados grafismos emblemáticos e um universo simbólico de crenças e acontecimentos sociais confundidos no tempo. (Pessis,2003:80)

A observação desses conjuntos de figuras levou-nos a introduzir critérios preliminares para propôr um primeiro ordenamento. Depois de fazer a identificação isolada das figuras, procurou-se segregar conjuntos segundo características gerais de tipo morfológico. Esse procedimento foi o ponto de partida das pesquisas sobre registros rupestres na região e das propostas preliminares de ordenamento feitas de acordo com as características de outros sítios de pinturas rupestres no Brasil. Foram identificados três grandes grupos de figuras , denominados tradições de pinturas rupestres, utilizando os termos cunhados pelos primeiros trabalhos escritos sobre pinturas e gravuras pré-históricas. Esta divisão preliminar não pretendia associar as classes iniciais a nenhum ordenamento étnico, apenas designava os grandes troncos culturais a partir dos quais teriam derivado grupos étnicos. As características

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das tradições foram estabelecidas considerando os tipos de figuras presentes nos sítios, tipos que foram definidos a partir da totalidade das manifestações gráficas dessa área arqueológica. (Pessis,2003 82)

É importante salientar que o corpus gráfico conhecido na época em que as tradiçoes de arte rupestre foram definidas , correspondia a um universo de 56 sítios arqueológicos com arte rupestre, e hoje, na regiao do Parque Nacional Serra da Capivara e entorno há 1.100 sítios arqueológicos cadastrados, e em pelo menos 800 sítios há arte rupestre. Nessa área a técnica predominante é a pintura, realizada em diferentes tonalidades da cor vermelha.

A Tradiçao Nordeste domina essa região e tem sua existência comprovada entre 12.000 e 6.000 anos A.P. (Pessis,2003:85) Fazem parte dessa tradição figuras reconhecíveis por qualquer observador: são figuras de animais, humanas, plantas e objetos, dispostas sobre as paredes rochosas de maneira a representar ações e acontecimentos. Pela sua complexidade, diversidade e pela maneira como as figuras se relacionam, as pinturas desta tradição são uma fonte de informações extremamente rica, que permite a reconstituição de aspectos da vida das comunidades humanas em épocas pré-históricas.

Nos mesmos sítios da região do Parque Nacional, junto das figuras da Tradição Nordeste há figuras pintadas de um tipo totalmente diferente, que formam parte de outra tradição, designada como Tradição Agreste, com uma antiguidade de pelo menos 9.000 mil A.P. Desta tradição fazem parte, as pinturas de dimensões geralmente maiores do que as figuras da Tradição Nordeste e representam figuras reconhecíveis e isoladas. As figuras humanas são dominantes em relação aos animais. As pinturas raramente representam cenas narrativas, e são intrusões isoladas,e com frequência sobrepostas as pinturas da Tradição Nordeste. As pinturas dessa tradição não são originárias da região do Parque Nacional. (Pessis,2003:87)

As figuras que não são reconhecidas, foram designadas preliminarmente, como pertencentes a Tradição Geométrica. Trata-se apenas de conjuntos de pinturas com diferenças morfológicas e técnicas que, em alguns sítios, apresentam caráter dominante, mas minoritários no conjunto de sítios pintados do Parque Nacional. (Pessis,2003:88)Recentemente foi realizado pela equipe da FUMDHAM em parceria com o IPHAN, uma

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prospecçao arqueológica no Parque Nacional Serra das Confusões, localizados a 100 km de distância do Parque Nacional Serra da Capivara, e foram cadastrados 110 sítios arqueológicos. Nesses sítios a predominância pictórica é dessa última tradição apresentada, assim como, há muitos sítios repletos de gravuras7.

Na mesma época em que foram definidas as tradições de pinturas, foram descritas duas tradições de gravuras : as Itacoatiaras do Leste e as Itacoatiaras do Oeste8.

Foto da Tradição Nordeste de Pintura Toca do Boqueirão da Pedra Furada

Foto da Tradição Agreste de Pintura Toca da Bastiana

Foto da Tradição Geométrica de Pintura Toca do Labirinto

Foto das Itacoatiaras - Gravuras Toca do Buraco do Pajeu

Fig.12 - Exemplos das tradições de arte rupestre encontrada na região do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: FUMDHAM

7 Essas informações foram retiradas do Relatório da Prospecção arqueológica do Parque

Nacional da Serra das Confusões (2006-2007) realizado por BUCO, C.A; IGNÁCIO, E.; OLIVEIRA , A.S.N & Equipe de conservação de arte rupestre da FUMDHAM.

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Foi mostrado um quadro geral para apresentar resumidamente as classificações aplicadas a arte rupestre da região vigente desde os anos 70.

Nesta pesquisa, foram selecionadas as figuras independente das tradições em que elas estejam inseridas, não se discutindo as tradições, nem as sub-tradições e os estilos. Nosso objetivo é trabalhar as co-relações possíveis de serem realizadas entre arte rupestre e fauna, em especial com os cervídeos, destacando o veado galheiro, independente de se essa figura do cervídeo pertencem a Tradição Nordeste ou a Tradição Agreste.

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II.1. Metodologia

Desde 2001 a autora desta tese conhece a região do Parque Nacional Serra da Capivara e acompanha o andamento dos trabalhos arqueológicos, do campo ao laboratório auxiliando inclusive na formação técnica de jovens. Em 2006 dirigiu o trabalho de campo da escavação da Toca das Moendas, sob a coordenação da Professora Doutora Niède Guidon, na região dos Serrotes, no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara. Neste sítio havia fósseis importantes de animais hoje inexistentes na região, inclusive fósseis do

Blastocerus dichotomus, o cervo do pantanal popularmente conhecido como

veado galheiro.

Ter a possibilidade de relacionar os vestígios paleontológicos, neste caso, dos cervídeos, com as representações zoomorfas na arte rupestre do Parque Nacional Serra da Capivara, fez com que, iniciasse a pesquisa que será apresentada nesta tese.

Portanto esta pesquisa teve diversas etapas de desenvolvimento, que foram sendo realizadas simultaneamente.

II.1.1. Pesquisa de campo

Esta etapa é constituída de duas fases:

II.1.1.1. Escavação

A escavação da Toca das Moendas foi realizada anteriormente a escolha do tema de pesquisa e os resultados obtidos foram de grande importância na comprovação da co-existência dos homens com os cervídeos e na confirmação de um paleoambiente mais úmido, propício para a sobrevivência do Blastocerus dichotomus. No capítulo 3 este sítio arqueológico será apresentado.

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II.1.1.2. Levantamento fotográfico

Foram feitas visitas e levantamentos fotográficos a alguns sítios arqueológicos com arte rupestre. Esta fase também foi realizada anteriormente a escolha do tema, portanto, foi necessário uma exaustiva pesquisa visual ao acervo digital da FUMDHAM, etapa descrita a seguir.

II.1.2. Pesquisa de Laboratório

Esta etapa é constituída de 5 fases:

II.1.2.1. Pesquisa visual

Realizou-se pesquisa no acervo fotográfico original e digitalizado da FUMDHAM, separando as imagens dos cervídeos pintados e dos sítios arqueológicos (contexto ambiental e arqueológico). Foram separados 161 sítios arqueológicos com a presença de cervídeos, dos quais 52 têm a representação do Blastocerus dichotomus e imagens de 48 desses sítios são apresentadas nesta tese.

II.1.2.2. Estudo do material gráfico

Realizou-se o estudo das reproduções dos painéis integrais, reduzidas a 1/5 e desenhadas em papel vegetal ou poliéster e as micro-fichas, de um conjunto de sítios arqueológicos. Este material foi produzido pela missão franco brasileira, entre os anos 70 e 80, e corresponde a um conjunto de 50 sítios arqueológicos, os primeiros sítios que foram descobertos por essa equipe.

A partir da pesquisa visual do acervo fotográfico e digital da FUMDHAM e das reproduções dos painéis, acabou-se adotando a Toca do Pinga do Boi, como sítio arqueológico de referência, devido a grande quantidade de zoomorfos, e especificamente de cervídeos.

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II.1.2.3. Digitalização das imagens do acervo pictórico de arte rupestre:

• Digitalização da micro-ficha da toca do Pinga do Boi, reconstituindo a integralidade dos painéis;

• Digitalização do conjunto pictórico dos cervídeos da Toca do Pinga do Boi, destacando as figuras associadas e sobrepostas;

• Digitalização de um conjunto de cervídeos pertencentes a 48sítios arqueológicos.

A digitalização das imagens, que corresponde a realização de desenhos a partir de fotografias, foi realizada usando o software Adobe Photoshop CS2. Em um próximo momento, na continuidade desta pesquisa, será realizada uma conferência das imagens in situ, devida esta etapa ter sido executada integralmente em Portugal.

II.1.2.4. Criação de uma base de dados

Foram realizadas fichas informatizadas para o corpus pictórico dos cervídeos da Toca do Pinga do Boi.

II.1.2.5. Análise dos dados

Esta fase foi dividida em dois momentos, o primeiro refere-se a análise exaustiva dos cervídeos da Toca do Pinga do Boi, detalhada na sequência deste capítulo II e o segundo momento refere-se ao reconhecimento de temáticas na Toca do Pinga do Boi comparando-as com os demais sítios arqueológicos com presença pictórica e fóssil dos cervídeos, em especial o “cervo do pantanal”, apresentando-os na sequência deste capítulo II e no capítulo III.

II.1.3. Pesquisa Bibliográfica

Levantamento bibliográfico dos temas necessários ao desenvolvimento desta tese. Por ser uma pesquisa interdisciplinar foram necessárias leituras

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associadas ao comportamento animal observado por especialistas e à paleontologia específica da área do Parque Nacional Serra da Capivara, como também textos referentes ao contexto físico e cultural da área em estudo, além da bibliografia específica de arte rupestre.

II. 2. Análise dos cervídeos da Toca do Pinga do Boi

II.2.1. Base de dados

Foi realizada uma análise detalhada de todas as figuras que morfologicamente são identificadas como um cervídeo na Toca do Pinga do Boi, código 54 da FUMDHAM/IPHAN. Um conjunto com 131 cervídeos, possíveis de serem classificados como veados e 20 figuras que, por haver dúvidas, não analisamos com os mesmos critérios adotados na ficha que será explicada a seguir, foram analisadas.

Foram elaboradas duas fichas: Base de dados - Ficha I - Caracterização do Sítio e Base de dados - Ficha II - Caracterização das figuras dos cervídeos. Na primeira estão os dados do sítio arqueológico acima citado, e na segunda, a análise detalhada dos 131 cervídeos, distribuídos em 5 painéis.

Essas fichas, que hoje compõem uma base de dados informatizada, foram feitas no programa FILE MAKER Pro 9 Advanced e realizadas para facilitar o manejo das informações analíticas com o objetivo de encontrar dados que possam ser relacionados com as pesquisas interdisciplinares existentes desde os anos 70 na região do Parque Nacional Serra da Capivara.

Nosso principal objetivo é compreender a dinâmica entre os homens e os outros animais neste caso, os cervídeos. Para isso foram observados diferentes características associadas ao caráter morfológico, evidenciado pelo detalhe do desenho, o caráter comportamental, evidenciado pelo movimento da figura observado no todo e nas partes e o caráter composicional, observado pelo agrupamento dos cervídeos entre eles, entre antropomorfos, entre figuras geométricas ou mesmo isolados, tudo distribuído em um determinado espaço, podendo inclusive haver sobreposição, determinando, por vezes, temáticas do nosso universo conhecido.

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Segue a apresentação das categorias de análise e suas variáveis usadas na Ficha II, como também os resultados quantitativos e qualitativos provenientes da aplicação dessa ficha aos cervídeos da Toca do Pinga do Boi, que permitiram as relações com outros sítios que serão descritas posteriormente.

São utilizados termos da geometria para poder descrever a morfologia da figura rupestre adequadamente. As diversas características do desenho são analisadas levando em consideração parâmetros de proximidade e adequação para com essas características, lembrando que os desenhos em arte rupestre são feitos a mão livre em uma base rochosa sem a utilização de instrumentos de precisão.

Para a construção da ficha II foram observados os parâmetros de análise das seguintes fichas:

• “Morfologia dos Cervídeos”, um exemplo de Estudo sobre a representação de Cervídeos, Santana do Riacho, Minas Gerais, Brasil estudadas por André Prous e Alenice Baeta IN: GASPAR, Madu. Arte Rupestre no Brasil. Jorge Zahar ed.,2003:59 (AnexoI) • III-Tableau d’analyse dês zoomorphes IN : GUIDON Niede.

Peintures Rupestres de Varzea Grande Piaui, Brésil. Cahiers d’archéologie d’Amérique du Sud 3, Paris, 1975 :61 (Anexo II)

II.2.1.1. Ficha I

A Ficha I é constituída de três partes.

A primeira é descritiva sobre a localização geográfica do sítio arqueológico estudado, com as principais informações sobre ele, incluindo a documentação existente associada as datações. A segunda parte é composta de imagens do sítio, fotos coloridas. E a terceira parte tem a bibliografia específica do sítio em questão1

1

Esta ficha encontra-se impressa no Volume II desta tese e em formato digital no CD anexo no final deste volume.

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II.2.1.1.1. O sítio arqueológico – Toca do Pinga do Boi

A Toca do Pinga do Boi, é um sítio arqueológico situado na região da Serra Branca, norte do Parque Nacional Serra da Capivara. Suas coordenadas são: UTM L 755323 e UTM N 9053573, numa altitude de 404m. É um abrigo sob rocha, com 50m de comprimento, uma orientação Noroeste – Sudeste com abertura para Sudoeste.

Fig.13 – Mapa de localização da Toca do Pinga do Boi. Fonte: FUMDHAM

A vegetação do entorno é formada por caatinga arbustiva e arbórea. O tipo de rocha do suporte pictórico é o arenito apresentando alguns problemas de conservação, tais como desplacamento e escamação. Sobre as pinturas havia cupins, maria-pobre e escorrimento de água na época das chuvas, esses problemas foram tratados, os cupins e maria-pobres retirados e o escorrimento de água foi desviado através da instalação de pingadeiras e no alto da Serra foram realizadas obras para o desvio, drenagem da água para uma cisterna. Este sítio foi escavado em 1988, 2007 e 2008 pela equipe da FUMDHAM sob a coordenação de Niède Guidon.

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Fig.14 – Plano inicial em curvas de nível da Toca do Pinga do Boi. Fonte: FUMDHAM

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Fig.16 – Foto da drenagem sobre a Toca do Pinga do Boi. Fonte: FUMDHAM.

Fig.17 – Foto da Toca do Pinga do Boi. Fonte: Cris Buco, 2006

II.2.1.2. - Ficha II

A Ficha II é constituída de três partes.

A primeira parte apresenta a figura que esta sendo analisada, a técnica aplicada a execução dessa figura, uma análise do tipo de traço e cor acompanhada de um desenho, com escala gráfica, da própria figura.

Foi criado um código geral da figura e para o determina-lo adotamos a letra (S) de Sítio arqueológico, com o código do sítio logo a seguir a letra (54), a letra (Z) de Zoomorfo, referente a caracterização morfológica da figura, e os últimos três dígitos correspondente ao número da figura no sítio arqueológico em questão. Exemplo: S54Z001.

Quando nos referimos ao painel pictórico no qual a figura pertence utilizamos algarismos romanos.

A segunda parte é iniciada com a análise morfológica da figura, detalhando as diversas variáveis associadas a integralidade, ao tamanho, contorno e postura. Em sequência detalhamos as partes do cervídeo, iniciando pelas variáveis do corpo associadas a forma, preenchimento, tipo de preenchimento e direcção; as variáveis da cauda_ quarto traseiro; as variáveis da cabeça associadas ao tipo de preenchimento e direcção, como de suas

Imagem

Fig. 01 – Localização do Parque Nacional Serra da Capivara. Fonte: Ignácio, 2009
Fig. 02 - As grandes estruturas do território brasileiro. Fonte: Adaptado de Schobbenhaus, 1984  (apud Ross, 2003:47)
Fig. 05  Maciços calcários. Fonte: FUMDHAM
Fig. 06 – Carta estrátigrafica da Bacia do Parnaiba, em destaque, as rochas que afloram na  área de estudo
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