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arqueológicas e contextuais

III. 1.2.1.2.Comportamento animal observado

Os hábitos dos animais observados hoje pelos biólogos já foram desenhados pelos homens do passado.

“Quanto ao comportamento social, o cervo-do-pantanal não é observado em formação de grupos numerosos, para esta espécie, os indivíduos são encontrados predominantemente solitários. Ocasionalmente observa-se agrupamento de dois a três indivíduos, na maioria constituídos por fêmea e seu filhote sendo esta formação não obedecida por uma sazonalidade, ao contrário dos cervídeos que apresentam o período reprodutivo bem definido (SCHALLER & VASCONCELOS, 1978, TOMAS et al., 1997).” apud Ramos,2004:10

Fig.90 –Foto de uma manada de Blastocerus dichotomus.Fonte: ver indice de ilustrações.

Na análise do corpus pictórico geral, foram encontradas representações de cervídeos em 48 sítios arqueológicos que serão apresentados nas diversas composições. Destacamos a presença do Blastocerus dicothomus porque ele atesta uma época aonde o ambiente era diferente.

III.2. Paleoambiente da região do Parque Nacional Serra da Capivara.

Os dados paleoclimáticos para a região Nordeste do Brasil ainda são poucos. Os resultados obtidos por Chaves (1997) forneceram dados que permitiram esboçar um quadro paleoclimático e paleoambiental da regiao de São Raimundo Nonato. O autor sugere, entre 8 700 A.P. e 7 000 A.P., a atenuação da última crise árida holocênica. Nesta época, a paisagem da região de São Raimundo Nonato era muito diferente da que conhecemos hoje, com uma vegetação do tipo cerrado-cerradão. Esses registros revelam também a existência de um clima ligeiramente mais frio e menos seco que o clima atual. (Mello,2003:11)

Alguns desses dados palinológicos foram obtidos na análise de coprólitos de animais, estes permitiram a identificação de espécies vegetais características dos períodos de chuva, como os taxa da família Combretacea, e também a presença de espécimes de climas úmidos e de solos argilosos, como a Apocynaceae, todos relacionados a espaços arbóreos. Os resultados desses estudos indicam que, por volta de 8.450 anos AP, havia um quadro ambiental mais úmido e arborizado que o dos dias atuais, com refúgios florestais de clima ameno, corroborando as pesquisas paleontológicas de Guerin. Entretanto, espécimes como a Acácia e a Mimosa verrucosa, por exemplo, indicam a existência de uma vegetação de transição entre o cerrado e a caatinga. (Melo,2007:51)

Conforme Guerin et al. (1996), as escavações arqueológicas e paleontológicas em cavernas, situadas a sudoeste do Parque Nacional Serra da Capivara, revelaram que a idade máxima dos fósseis da mega fauna e avifauna situa-se na transição entre o Pleistoceno e o Holoceno (12.000 a 8.000 anos AP) e são indicativos de paisagem mista de pradaria e floresta aberta de clima quente, porém mais úmido que o atual. Os estudos da avifauna

fóssil sugerem cobertura vegetal diversificada, pois são reconhecidas aves de florestas, de matas e de regiões abertas como o cerrado a caatinga e savana, além de campos e áreas de banhados e rios (Guèrin et al. 1996 ). (apud Santos,2007:51)

Últimos estudos realizados em sedimentologia da região do Parque Nacional Serra da Capivara, identificaram vários momentos de coluviação e de aluviação. Confirmou-se a ocorrência de uma retomada nas atividades de coluviação e de aluviação fluviais entre 15.000 e 7.600 anos, na transição Pleistoceno-Holoceno. As mudanças paleoclimáticas do Holoceno Médio, até hoje, na área de estudo, puderam ser melhor compreendidas graças ao estudo de palinomorfos. Os resultados deste estudo sugerem que desde pelo menos 5.130 anos AP, a caatinga já estava instalada na região e que, mesmo depois, teriam ocorrido grandes oscilações de paleoclimas durante o Holoceno. (Santos, 2007:158)

Como pode ser observado, os estudos realizados associados a paleoambientes convergem ao fato de que na transição do pleistoceno ao holoceno aconteceram oscilações ambientais que provavelmente interferiram na ocupação humana, e dos demais animais naquela região do Parque Nacional Serra da Capivara. Havendo uma alteração na vegetação, por consequência nos alimentos, acompanhado de fartura ou escassez de água, os animais tiveram que se adaptar as novas condições, aos novos espaços. É difícil perceber a existência do Blastocerus dicothomus quando a caatinga já estava instalada, mesmo que tenham existido oscilações de paleoclima, as áreas alagadas, pantanosas deviam cada vez serem menos.

Foi escolhido o cervo do pantanal como a representaçao pictórica desta pesquisa porque sua presença nos inúmeros sítios confirma a existência de uma regiao mais úmida.

Mais de 13 dataçoes3 associadas a arte rupestre do Parque Nacional

Serra da Capivara, são coerentes com a data anterior a 7.500 anos BP. Foram fragmentos pintados descobertos na camada arqueológica, assim como painéis

3 Anexo V – Tabela de datações associadas a arte rupestre. Fonte: FUMDHAM

enterrados que confirmam que essas pinturas foram feitas antes dessa data. (Buco, 2009)

A toca do Pica-pau na Serra Branca é um desses exemplos, nela foram encontrados fragmentos de parede com pintura referente aos membros inferiores de um cervideo, que foi possivel encaixar no suporte rochoso onde existe o resto do corpo. Estes fragmentos estavam em uma camada arqueológica datada pelo método de datação do Carbono 14 em 7400 +/-60 BP - Beta Analytic – 207267. (Guidon et al. 2007)

Fig.92 – Foto com os fragmentos pintados sendo encaixados no suporte rochoso.

Não se pode afirmar que eles foram extintos, mas pode-se inferir que eles foram desenhados com um nível de detalhe que somente o observador atento, que conviveu com esse animal teria condiçoes de fazê-lo, ou seja, essas pinturas foram realizadas quando o ambiente era mais úmido que o atual.

“Além dos atributos estilísticos e/ou figurativos, uma análise criteriosa dos zoomorfos retratados em um abrigo pode contribuir para estudos de sazonalidade dos locais de ocupação humana, padrões de uso do ambiente e Etnografia”. (Pacheco, 2007)