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3.3. Caracterização do Reino Unido

3.3.1. A fisioterapia no Reino Unido

A fisioterapia no Reino Unido tem sofrido grandes alterações a vários níveis desde 2007. O organismo que regula a profissão, o HPC, está agora mais forte. O

National Health System (NHS), o sistema nacional de saúde inglês, está a sofrer

mudanças radicais baseadas em mudanças sociais e de aumento de rigor financeiro. Continua a ser o maior responsável pelo emprego dos fisioterapeutas, e é também financiador dos cursos de fisioterapia (Bithell, 2007; Boyle, 2008).

Os cursos existentes no Reino Unido conferem grau bacharel honorário (Bachelor of Science with Honours- BSc Hons) validado por uma universidade desde 1992. Em todos os países do Reino Unido existem 37 universidades e colégios que

oferecem 67 cursos e pós-graduações em fisioterapia. Na Inglaterra e no país de Gales o curso tem duração de 3 anos, enquanto que na Escócia e Irlanda do Norte, o curso tem duração de 4 anos. A relação entre o sistema nacional de saúde inglês, financiador, e as universidades era estabelecida através das autoridades de saúde regionais (Regional Health Authorities- RHA). As necessidades de recursos humanos nas profissões relacionadas com a saúde, eram calculadas para cada região. O RHA contratualizava assim numa base anual com as universidades, o número de alunos que pretendia garantir para satisfazer as necessidades de recursos humanos na saúde. Neste momento a contratualização é feita a nível nacional havendo lugar à estandardização do preço pago às universidades, por cada profissional de saúde. Existem 14 instituições que oferecem programas de mestrados, a graduados e outras áreas, que conferem a licença para a prática na fisioterapia. De momento não existem doutoramentos na área da fisioterapia no Reino Unido (Bithell, 2007).

Os cursos devem estar de acordo com os requisitos e os padrões estabelecidos pelos quatro organismos existentes, que fazem avaliação externa às instituições de ensino:

Health Profession’s Council – Standards of education and training99

Chartered Society of Physiotherapy (CSP) – Curriculum Framework for Qualifying Programmes100

Chartered Society for Physiotherapy - Standards for Clinical Placements101

Chartered Society for Physiotherapy – Guidance on Quality

Assurance Processes for Qualifying Programmes containing specific requirements for approval

Quality Assurance Agency for Higher Education – Benchmark

Statement102 and Codes of Practice103

National Health System - Skills for health: Interim standards for quality assuring healthcare education104.

99 http://www.hpc-uk.org/assets/documents/10000BCF46345Educ-Train-SOPA5_v2.pdf 100 http://www.csp.org.uk/uploads/documents/CFforQPP.pdf 101 http://www.csp.org.uk/uploads/documents/csp_clinical_ed_ce021.htm 102 http://www.qaa.ac.uk/academicinfrastructure/benchmark/health/physio.pdf 103 http://www.qaa.ac.uk/academicinfrastructure/codeOfPractice/section7/programmedesign.pdf 104http://www.skillsforhealth.org.uk/js/uploaded/Quality%20Assurance/SfH%20Interim%20Standards%20 and%20Guidance%20January%202007.pdf

Para que as universidades assegurem os standards e descritores de qualidade exigidos no documento da Quality Assurance Agency for Higher Education (2008), estas instituições são munidas de processos de avaliação interna de forma a garantir e melhorar os standards académicos. Os graduados do curso de fisioterapia devem possuir o mesmo nível de literacia, numeracia, de tecnologias de informação, competências de comunicação e de apresentação que os graduados de cursos de outras áreas (Bithell, 2007).

Como já foi referido, o HPC é o organismo que regula o exercício profissional das 13 profissões existentes relacionadas com a saúde. Todos os fisioterapeutas devem-se registar neste organismo, que reconhece a formação obtida pelo profissional, de forma a poderem exercer nos países do Reino Unido. Como não poderia deixar de ser, todos objectivos, e as garantias de boas práticas destes profissionais encontra-se no documento do HPC ―Standards of Proficiency105‖. Associado ao documento comprovativo que respeita os standards do documento acima citado, (basta concluir o curso para atingir estes requisitos), deve fazer-se acompanhar também por outro que declare que o requerente pretende reger-se pelas regras de conduta e ética profissional, citadas no documento ―HPC Standards of

conduct, performance and ethics106‖. Esse documento regista a garantia de que o seu

portador, tem intenção de fazer aprendizagem ao longo da vida. Tratam-se de

standards mínimos para o exercício, que de forma alguma podem deixar de ser

cumpridos. Os recém-formados podem também registar-se na sua associação profissional, a Chartered Society for Physiotherapy - CSP. A inscrição na associação, permite acesso às actividades desenvolvidas pela associação tal como o seguro de responsabilidade civil. Uma vez registado, não existem mecanismos obrigatórios para renovar anualmente o seu registo na CSP. O HPC por sua vez, exige uma declaração do fisioterapeuta como está a cumprir os requisitos mínimos exigidos pelo HPC (Bithell, 2007).

Ao contrário do HPC, a CSP não defende que os fisioterapeutas devem atingir os mínimos necessários. Este organismo tem um objectivo incessante de procurar a melhoria da prática constante. Como indicado acima, a CSP possui 3 documentos desenvolvidos de directrizes para o desenvolvimento curricular possuindo o poder de reconhecimento e de acreditação de cursos (Bithell, 2007).

A Quality Assurance Agency é fundada pelas universidades e colégios e tem como objectivo a melhoria dos níveis de confiança na gestão dos standards exigidos

105 http://www.hpc-uk.org/assets/documents/10000DBCStandards_of_Proficiency_Physiotherapists.pdf 106 http://www.hpc-uk.org/assets/documents/10002367FINALcopyofSCPEJuly2008.pdf

tal como da qualidade da formação, para benefício dos alunos e da população em geral. Desenvolve para o efeito os Codes of Practice e Benchmark Statements para assegurar os standards académicos de qualidade. Apesar de não ser obrigatório seguir estes dois documentos, estes são no entanto, guias para o desenvolvimento futuro curricular e da profissão. A Quality Assurance Agency tem actuado como agente do NHS para revisão dos programas relacionados com as profissões da saúde, nomeadamente os standards e qualidade do ensino, da inserção profissional e da qualidade de parcerias entre os prestadores do ensino académico e do ensino clínico. O último documento emitido pelo NHS para o ensino ―Skills for health: Interim

standards for quality assuring healthcare education‖ data de 2006. Este documento

permite a monitorização da qualidade da contratual a nível local, até que esteja concluído um sistema de monitorização permanente a nível nacional (Bithell, 2007).

O HPC e CSP reúnem num evento denominado ―Validation Event‖ onde são reunidos os resultados das avaliações e discutidos em conjunto com os resultados da avaliação interna da universidade para verificação se todas os standards são atingidos. É depois emitido um relatório e é convocada a avaliação externa ministerial numa base anual de forma a poder comunicar que todos os standards são cumpridos naquela instituição. A universidade fica a constar na base de dados destes organismos como uma instituição de ensino superior que reúne todos os requisitos exigidos pelos organismos representativos da profissão o que transmite aos futuros alunos a qualidade e credibilidade da instituição (Bithell, 2007).

A CSP, actualiza cada 5 anos o ―Curriculum Framework107‖ que são as bases para a formação curricular do curso de fisioterapia com forte componente de aprendizagem teórica e prática. Neste momento, ainda não se encontra nenhuma publicação de um mais recente, pois, o actual data de 2002. No entanto, sabe-se que desde 2007, se encontra outro em desenvolvimento. Neste documento, entre outros objectivos e resultados, encontram-se os objectivos de aprendizagem, tal como as competências que cada novo formado deve possuir após finalização da formação. Este documento articula-se com os documentos existentes reguladores dos outros organismo que envolvem a fisioterapia, de forma a haver consensualidade (Bithell, 2007).

Os cursos existentes baseiam-se no modelo universitário de cada instituição. No entanto, a organização curricular soma um total de 360 créditos para a conclusão

do curso. O sistema de créditos no Reino Unido baseia-se numa escala que cada crédito equivale a 10 horas de trabalho do aluno. O Reino Unido pretende a implementação dos ECTS (European Credit Transfer System), pois é signatário da Declaração de Bolonha, no entanto não se encontra ainda implementado (Bithell, 2007). Quanto à componente prática, existem dois modelos cujos resultados não aparentam ser diferentes, perante as entidades empregadoras. O primeiro integra a prática clínica logo desde o primeiro ano, o que permite uma melhor integração entre a teoria e prática. O segundo, integra a prática clínica durante um ano inteiro em diferentes contextos clínicos, após 18 meses de teoria. Durante a prática clínica, é assinalado um determinado número de dias, para dar lugar à reflexão das actividades praticadas. Devido à variabilidade dos contextos clínicos e ao aparente défice de colocações em locais de prática tradicionais, o CSP desenvolveu um suplemento ao

Curriculum Framework for Qualifying Programmes denominado Learning in the Practice Environment in Qualifying Programmes of Physiotherapy108. Este documento

fornece orientações quanto às exigências e objectivos deste organismo na prática clínica. Supõe-se 1000 horas de prática clínica curricular. Apesar da CSP ser um dos organismos mais influentes para a fisioterapia no Reino Unido, os prestadores de serviços, ou seja, as entidades empregadoras também são ouvidas, de forma a conseguir obter o máximo de informação possível, para manter o currículo o mais actual e capaz possível.

O número de alunos que acedeu aos cursos de fisioterapia de 1997 a 2005 cresceu em 72%. Isto deve-se ao planeamento efectuado pelo NHS cuja planificação de recursos humanos acompanhou o crescimento em necessidades de prestação de cuidados de saúde no Reino Unido. O maior crescimento deu-se após a publicação do

NHS Plan in 2000109. Este documento visava o crescimento e a modernização do sistema de saúde. No entanto, a redução do financiamento do sistema de saúde provocou o desemprego dos recém-formados. Como resposta, em média, todos os cursos a nível nacional reduziram o número de vagas em 10%. Os alunos que frequentam os cursos são na sua maioria do sexo feminino. A proporção de 1:5, de alunos do sexo masculino para o sexo feminino, tem-se mantido relativamente estável desde 1997. Em 1988, apenas 5% dos alunos eram do sexo masculino. (Gray, 1988;

cit in Bithell 2007). Em comparação com os fisioterapeutas registados no CSP, apenas

17% são do sexo masculino (Bithell, 2007).

108 http://www.csp.org.uk/uploads/documents/csp_quality_qa05.pdf

109http://www.dh.gov.uk/en/Publicationsandstatistics/Publications/PublicationsPolicyandGuidance/DH_40 02960

A autonomia profissional, no Reino Unido, existe desde 1977, no entanto, esta prática é mais frequente no sector privado, pois nos hospitais, os fisioterapeutas estão integrados em equipas, estando a fisioterapia normalmente sujeita a indicação médica110. Os fisioterapeutas que trabalham na comunidade, também trabalhar sem indicação médica, sendo autorizada a recepção de utentes encaminhados por qualquer profissional de saúde. Durante o processo de admissão, os fisioterapeutas podem recorrer aos médicos de família de forma a recolher mais informação clínica respeitante aos utentes que necessitam de fisioterapia. Portanto, mantém-se um trabalho de equipa entre classes sem hierarquização do encaminhamento dos utentes para tratamento. Os fisioterapeutas com larga experiência na prática privada podem requisitar directamente exames complementares de diagnósticos e testes laboratoriais. Estes profissionais são integrados em equipas médicas e são denominados como ―Extended scope practioners‖. Estes fisioterapeutas são submetidos a formação específica de forma a serem autorizados a prescrever estes testes, respeitando sempre as regras de conduta profissional exigidas pelos organismos reguladores da profissão.

Apesar do controlo apertado dos organismos reguladores da profissão quanto aos resultados exigidos aos recém-formados dos cursos de fisioterapia, existe flexibilidade para as universidades serem autónomas quanto à metodologia de ensino.