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Segundo a Entidade Reguladora da Saúde - ERS (2008:3), ―(…) não é possível

conhecer com rigor o universo dos utentes do serviço de Medicina Física e Reabilitação - MFR‖. Esta entidade reconhece como um factor limitativo o facto de não

existir um registo centralizado de informação relativo aos utentes de MFR, públicos e privados. Este organismo contorna esta dificuldade recorrendo aos principais factores que motivam a procura deste tipo de cuidado de saúde. Assim sendo, a ERS refere que os principais utentes pertencem a uma faixa etária mais idosa, segundo os resultados do Quadro 3.1.357 do Inquérito Nacional de Saúde de 2005/0658.

A DGS (2003) faz também referência aos idosos como os beneficiários da MFR, pelo aumento da longevidade devido ―a melhoria das condições de vida, os

avanços médico-cirúrgicos e a promoção e generalização dos cuidados de saúde

(DGS, 2003:5). Como consequência do aumento da esperança de vida, está associado ao aumento da prevalência de doenças crónicas, as quais podem ser incapacitantes. Ainda devido às condições sociais, tem aumentado o número de lesões incapacitantes associadas a acidentes de trabalho, de viação, e acidentes cardiovasculares, que atingem indivíduos em idades mais jovens e produtivas. Também a melhoria dos cuidados de saúde materna tem permitido a sobrevivência de crianças com maior grau de sequelas que se repercutem na sua funcionalidade, que levam à procura de cuidados de saúde relativos também à MFR. Portanto, o documento da DGS, aborda na sua generalidade todas os grandes grupos etários, associando-os a lesões de incapacidade significativa.

A Task Force on Medical Rehabilitation Research (1990), o Institute of Medicine (1990 e 1991) e o National Center for Health Statistics cit in American Association of Physical Therapy - APTA (1992) referem que são os grupos etários mais velhos que efectivamente utilizam mais fisioterapia. Estas organizações referem que mais de 85% da população americana, com mais de 65 anos, possui pelo menos uma doença crónica que incapacita a função. Setenta e cinco por cento das vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC) têm mais de 65 anos. A maioria dos indivíduos que sofrem fracturas do colo do fémur, possui mais de 70 anos de idade. Dez por cento dos indivíduos com idades entre 65 e 69 tem dificuldade em acartar as suas actividades da

57 Percentagem da população residente que tem ou já teve doença crónica, por tipo de doença crónica, sexo e grupo etário (%), NUTS I, 2005/2006.

58 Caracteriza a população portuguesa face à saúde (INSA, 2007). http://www.insarj.pt/sites/INSA/Portugues/ComInf/Noticias/Paginas/Indicadoresadicionais4INS.aspx

vida diária (AVDs). Os valores sobem para 50% para indivíduos com 70 anos de idade e para 60% para indivíduos próximos dos 85 anos de idade. Resumindo, as incapacidades nos idosos estão associadas ao aumento da mortalidade, aumento dos problemas de saúde, e maiores gastos em saúde.

O preâmbulo do ―Livro Branco de Medicina Física e de Reabilitação na Europa‖ produzido pela Secção de Medicina Física e de Reabilitação da Union Européenne

dês Médicins Spécialistes (UEMS) e Académie Européenne de Médecine de Réadaptation (AEMR) em 2006, e traduzido pela Sociedade Portuguesa de Medicina

Física e de Reabilitação em 2009, faz referência à utilidade do respectivo livro para os responsáveis políticos para a planificação da saúde, identificando o modo de actuação da MFR e seu contributo na integração na sociedade de pessoas com incapacidades. Apesar de não especificar o grau de incapacidades, permitindo a inclusão da pequena e da grande incapacidade, no capítulo 3 do documento, é abordada a grande incapacidade e a população envelhecida, referindo que na maioria dos países europeus a prevalência da grande incapacidade se situa nos 10%. Este documento refere também que o facto da população se encontrar a envelhecer, aumenta os níveis de incapacidade.

Segundo a definição de reabilitação da Organização Mundial de Saúde (OMS), ―a reabilitação utiliza todos os meios necessários com o objectivo de reduzir o impacto

das deficiências e incapacidades de forma a permitir que o indivíduo com incapacidade e deficiência consiga a integração social.‖ (World Health Organization –

WHO, 1981:9). A OMS no seu plano de acção intitulado ―Disability and Rehabilitation

WHO Action Plan 2006-2011‖ também referencia que durante a sua vida, 10% da

população sofrem de alguma forma de incapacidade ou deficiência. Aqui a OMS dá uma perspectiva de diferentes níveis de incapacidade e deficiência (WHO, 2005). A ―International Classification of functioning, disability and health‖59, refere que a deficiência é entendida como ―um resultado de complexa relação entre o problema de

saúde do indivíduo e factores pessoais, tal como factores externos que representam as circunstâncias em que o indivíduo vive‖ (WHO, 2001:17). A incapacidade é definida

como ―problema na função corporal ou estrutura associada a desvio ou perda‖ (WHO, 2001:47).

Segundo a UEMS e AEMR (2006) um inquérito recente em Portugal60, revelou que 0,7% da população se encontra acamada; 0,4% tem possibilidade de se movimentar em cadeira-de-rodas; 1,9% não vive em sua casa; 9% não consegue

59 Mais conhecido pelo ICF entre os fisioterapeutas. 60 Não foi identificado no texto de origem.

deambular ou apresenta limitações significativas na marcha; 8,5% tem dificuldade em se movimentar na cama; 6,2% não consegue ir à casa de banho sem assistência; 8,6% necessita de auxílio ao vestir-se e/ou despir-se; 3,6% dos homens e 5,3% das mulheres apresentam incontinência urinária e 2,3% apresenta dificuldades na comunicação verbal. Segundo Martin et al. (1988) cit in UEMS e AEMR (2006:21) ―a

prevalência global de todas as incapacidades na comunidade ascende a 10%‖.

Os números existentes da população que necessita de cuidados associados à fisioterapia rondam os 10% da população. No entanto parecem não existir estudos que demonstrem com maior acuidade o consumo dos grupos etários, referenciando a população mais idosa como a mais carenciada e necessitada de serviços associados à reabilitação. Segundo UEMS e AEMR (2006), os estudos epidemiológicos que focam a Esperança de Vida Saudável (Hale – Healthy Life Expectancy) e Anos de Vida Ajustados à Incapacidade (DALY – Disability-Adjusted Life-Years) auxiliam a planificação dos cuidados de saúde necessários a nível regional, nacional e europeu.

A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) veio permitir um melhor acesso da população carente de cuidados de saúde que apresentam dependência, com compromisso do seu estado de saúde, ou em situação de doença terminal. Este tipo de cuidados é direccionado claramente à população envelhecida (Nogueira, 2009; UMCCI61, 2009a; UMCCI, 2000b). O Quadro 27 em baixo, demonstra as metas da 2ª e 3ª fase de implementação da RNCCI.

Quadro 27 - Rácios 2 e 3ª fase (07-07-2009). NUTS II População

com mais de 65

anos

Convalescença Média Longa Paliativos Total

Norte 571499 686 857 2057 86 3686 Centro 368276 442 552 1326 55 2375 LVT 644039 773 966 2319 97 4154 Alentejo 123033 148 185 443 18 794 Algarve 80497 97 121 290 12 519 Total 1787344 2145 2681 6434 268 11528 Fonte: UMCCI, 2009c.

Tendo por base o número de camas existentes, 3 498, através de 170 acordos estabelecidos prevê-se um incremento de mais do dobro das existentes, o que permite prever mais emprego para os profissionais que constituem as equipas que prestam os serviços, entre os quais os fisioterapeutas (UMCCI, 2009b; UMCCI, 2009c).

2.5. Formação de recursos humanos na área das