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A Suécia é um país com uma população ligeiramente inferior à de Portugal, estimando-se para 2007 uma população total de 9 119 000 habitantes. Do número total de habitantes, 17,43% encontram-se no grupo etário ―mais de 65 anos‖, tendo a perspectiva de aumento da população envelhecida para 22,82% em 2030. A Suécia é o país com maior esperança de vida entre os países que integram o estudo. A esperança de vida média para ambos sexos situa-se nos 81 anos, sendo especificamente de 83 anos para o sexo feminino e de 79 anos para o sexo masculino. A esperança de vida saudável de 74 anos para ambos os sexos, também é a maior dos países que integram o estudo. Olhando para as despesas em saúde, o Estado pagou em 2006, 81,7% das despesas, implicando 9,2% de representação face ao PIB

110 ―Referral‖.

em 2006. Das despesas totais do Estado, 16,3% reverteu a favor da saúde em 2006. A soma do capital público e privado dispendido em saúde na Suécia, fixou-se no valor de 3 973 dólares americanos ($US) per capita (WHO, 2009; OECD, 2009).

Os rácios médios de médicos e de enfermeiros por habitante, estão entre os mais elevados do estudo. Para cada 10 000 habitantes existem 33 médicos e 109 enfermeiros (WHO, 2009).

3.4.1. A fisioterapia na Suécia

A Suécia é um país com um considerável número de fisioterapeutas. Dentro de um universo de 16 000 fisioterapeutas, 12 000 pertencem à Associação Sueca de Fisioterapeutas Registados ―Legitimerade Sjukgymnasters Riksforbund (LSR)‖. Esta organização promove a profissão, produz uma revista nacional e salvaguarda os direitos dos seus associados, respeitantes à profissão, emprego e remuneração. A todos os associados é oferecida a revista científica internacional escandinava de fisioterapia ―Advances in Physiotherapy‖. É composta por uma direcção nacional com representatividade local em 22 distritos (Heger-Ross e Sundelin, 2007).

Desde meados do século passado, os fisioterapeutas detentores de credenciais reconhecidas em terreno nacional podem circular livremente entre os países nórdicos, (Dinamarca, Ilhas Faroés, Islândia, Finlândia, Noruega, Gronelândia, Ilhas Alanda e Suécia). Após a entrada da Suécia na UE em 1995, a mobilidade dos seus profissionais estendeu-se aos actuais 28 países que integram a UE. O rigor da sua formação, permite o seu reconhecimento em todos os países europeus, ou seja, nos 41 constituintes da Europa. Esta iniciativa vai no sentido da Declaração de Bolonha datada de 1999, cujo objectivo final era a criação da ―European Higher

Education Área‖, ou seja, pretendia-se que até 2010 fosse criado um sistema de graus

académicos comparáveis e transparentes em toda Europa, de forma a permitir mobilidade e cooperação na garantia de qualidade no ensino superior (Heger-Ross e Sundelin, 2007).

Uma das principais características do ensino superior na Suécia é o facto de ser totalmente gratuito, mesmo para alunos oriundos de outros países. No entanto, pondera-se que este acesso gratuito ao ES sueco seja limitado a alunos do espaço europeu comum (Heger-Ross e Sundelin, 2007).

O sistema de saúde beneficia de um avultado investimento por parte do governo, sendo investido aproximadamente 8,8% do PIB. É gerido por um sistema de

financiamento público que tem o objectivo de cobertura universal, mas inclui também uma rede de clínicas. Aproximadamente 87% dos fisioterapeutas trabalham no sistema de saúde público. Os tratamentos ambulatórios são financiados pelo Estado. Para que os fisioterapeutas possam fazer acordo com as autoridades locais deve encontrar-se registados na sua associação profissional, a LSR (Heger-Ross e Sundelin, 2007; Anell, 2008).

Para poderem exercer na Suécia, os recém-formados devem inscrever-se na ―National Board of Health and Welfare - NBHW111‖. Os fisioterapeutas membros da UE devem apresentar uma certidão curricular, segundo a Directiva Europeia 2005/36/EC, válida com respectivo grau académico atribuído, e uma autorização para o exercício do país de origem com menos de 3 meses. A certidão deve ser entregue na sua forma original e outra versão, traduzida em sueco ou inglês, por um tradutor autorizado. Assim o NBHW avalia o diploma e o grau académico, reconhecendo-os imediatamente ou, em alguns casos, pode submeter o fisioterapeuta a um exame de conhecimento teórico-prático, ou requerer outros documentos comprovativos do seu exercício profissional (Heger-Ross e Sundelin, 2007; NBHW, 2008). A aplicação só será concedida se o concorrente tiver um endereço postal confirmado e uma autorização de residência, caso o período de permanência ultrapasse os 3 meses. É necessário um bom nível de conhecimento da linguagem, e um conhecimento relevante da lei sueca. O NBHW, organiza cursos de legislação sueca, próprios para fisioterapeutas com formação fora da Suécia. Para residentes fora da UE, o exercício apenas é permitido desde o primeiro dia, com uma autorização do NBHW. Os requisitos para o exercício profissional na Suécia encontram-se no documento em inglês, ―Working in Sweden as

a physiotherapist. Descriptions of profesional requirements for physiotherapists112‖

(LSR, 1999; Heger-Ross e Sundelin, 2007).

Em relação à formação de fisioterapeutas na Suécia, esta foi reconhecida como equivalente ao ensino universitário em 1977. Até 1998, era reconhecida como ―university college level‖, não estando integrada no ensino universitário mas num sistema paralelo. Foi em 1998 que a fisioterapia foi integrada no ensino superior universitário na sua plenitude. O ensino superior é completamente financiado pelo Estado, portanto não existem universidades privadas. Das 16 universidades existentes, 8 possuem cursos de fisioterapia que conferem grau bacharel, equivalente a 180 ECTS. A nível nacional existem 4 graus académicos. Bacharelato, magister, mestrado e doutoramento. Saliente-se o facto de a nível nacional, ser obrigatório, uma

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dissertação com peso de 15 ECTS, para conclusão do bacharelato. O magister, é concedido após o bacharelato, com mais um ano de estudo a tempo integral, equivalente a 60 ECTS. Para obter o mestrado, acresce ao bacharel 2 anos de estudos equivalentes a 120 ECTS. A dissertação exigida para conclusão do mestrado, é de 30 ECTS. O doutoramento em fisioterapia existe desde 1998, sendo cada plano de estudos adaptado em colaboração com os seus orientadores. O primeiro doutorado data de 1977. Desde esse ano, foram atribuídos 210 doutoramentos na Suécia na área da fisioterapia. Assim sendo, a Suécia detém 1,75% de doutorados em fisioterapia, estando entre os países com as maiores taxas de doutorados a nível mundial. Estes doutorados encontram-se essencialmente a nível do ensino e da investigação. Apesar do alto nível de investigação existente na área da fisioterapia na Suécia, a associação de fisioterapeutas da Suécia pretende aumentar a percentagem de doutorados no exercício clínico. Aguarda-se pelos resultados dos trabalhos elaborados, fundados na Declaração de Bolonha. Espera-se também, que seja estimulada, a prática baseada na evidência na Europa (Heger-Ross e Sundelin, 2007). De forma a manter um elevado nível de qualidade a nível do ensino a ―Agência Nacional Sueca para o Ensino Superior113‖ ―Högskoleverket‖, avalia ciclicamente, em cada 6 anos, as instituições de ensino superior, tal como os seus cursos. Tem a capacidade de avaliar os cursos de fisioterapia, tal como currículos de fisioterapeutas oriundos de outros países de fisioterapeutas, que pretendem exercer na Suécia. Apesar dos cursos terem a necessidade de cumprir os requisitos estabelecidos pela ―Agência Nacional Sueca para o Ensino Superior‖, entre as universidades existem diferenças que as distinguem. Anualmente, todos os responsáveis pelos cursos das distintas universidades se reúne de forma a debater questões relacionadas com os currículos dos cursos. Existe uma equipa por detrás da administração dos currículos de cada universidade que é constituída por representantes da administração regional de saúde, clínicos de experiência reconhecida e supervisores clínicos. Todos têm influência na constituição do currículo. Os supervisores clínicos são responsáveis por aproximadamente 20% da prática clínica incluída no curso. De forma a envolver estes profissionais na universidade, eles são convidados a fazer palestras aos alunos e a participar em reuniões de assuntos académicos (Heger-Ross e Sundelin, 2007).

O acesso ao curso dá-se após a conclusão do ensino secundário perfazendo um total de 13 anos de ensino. Dos alunos que acedem ao curso, 70% são do sexo feminino. Na prática profissional, o sexo feminino é mais predominante, atingindo uma

percentagem de 80 a 90%. Não existem dados concretos para a proporção de alunos de outras etnias para além da sueca e escandinava, no entanto nas últimas duas décadas tem-se verificado uma afluência maior de estrangeiros, representando entre 10 a 20% da generalidade da população. A empregabilidade dos fisioterapeutas é considerável, não existindo desemprego significativo na Suécia (Heger-Ross e Sundelin, 2007).

As especializações já existem na Suécia desde o início da década de 90. A Associação Sueca de Fisioterapeutas Registados certifica a especialização na área da ergonomia, medicina familiar, gerontologia e geriatria, reabilitação em pediatria, cárdio- vascular, cuidados intensivos, medicina pulmonar, neurologia, oncologia, ortopedia, obstetrícia, ginecologia e urologia, terapia manual ortopédica/ medicina, gestão da dor, psiquiatria e psicossomática, reumatologia, medicina desportiva e medicina veterinária. Estas especialidades são quase todas relacionadas com as 18 áreas de interesse em fisioterapia, existentes na Associação Sueca. Os requisitos para aceder ao título de especialista passam por completar dois anos de experiência profissional, passar o exame de magister (60 ECTS), publicar um artigo científico, apresentar um trabalho científico num congresso nacional ou internacional e para concluir, trabalhar 3 anos na área de especialização, sob supervisão de um colega experiente. Existem mesmo indicações pelo National Board of Health and Welfare de áreas com carências de fisioterapeutas especialistas. Salientam-se faltas de especialistas para crianças e adolescentes com incapacidades funcionais e outras patologias, para idosos com incapacidades e perturbações psíquicas, para doentes psíquicos e psicossomáticos, e para doentes de todas idades com incapacidades funcionais provocadas por doença ou traumas do sistema músculo-esquelético, sistema nervoso, e do sistema cárdio- pulmonar (Heger-Ross e Sundelin, 2007).

Na Suécia ainda não foi abordada a alteração do grau académico para aceder ao curso, neste momento mantém-se no bacharelato (3 anos). O nível de formação é equivalente ao da enfermagem e da terapia ocupacional, no entanto, o curso de medicina e de medicina dentária varia entre 5 e 6 anos. Apesar dos recém-formados terem acesso directo à prática profissional autónoma, após a conclusão dos 3 anos de curso, existem em alguns hospitais, de modo informal, mecanismos desenvolvidos para promoção do internato, à semelhança do que acontece, para adquirir a certificação de especialista (Heger-Ross e Sundelin, 2007).

A prática autónoma dos fisioterapeutas sem indicação médica ou de outros profissionais é uma realidade há vários anos na Suécia. No entanto, este acesso pode ser limitado por lei em algumas localidades da Suécia. Este passo levou a que a Associação Sueca dos Fisioterapeutas Registados, propusesse ao governo a

capacidade dos fisioterapeutas atestarem a incapacidade para o trabalho de utentes, por patologia músculo-esquelética, atribuindo a conhecida ―baixa‖. Outro passo que se pretende tomar é autorizar a prescrição de exames complementares de diagnóstico como a radiologia e teste laboratoriais. A associação considera este passo fundamental para fazer frente à concorrência oferecida pelas medicinas alternativas (Heger-Ross e Sundelin, 2007).

A fisioterapia na Suécia irá debater-se brevemente, com reduções orçamentais no sistema de saúde público, abrindo maiores possibilidades para implantação de clínicas privadas. A mudança de visão do tratamento de doentes em internamento para tratamento em ambulatório também irá desafiar os mecanismos actuais de prática dos fisioterapeutas.