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2. Revisão da literatura

2.1. A força muscular no contexto do Basquetebol

A força muscular, enquanto capacidade condicional, tem-se assumido como fundamental e essencial na performance desportiva. Aliás, os parcos modelos teóricos da performance em desporto (Banister, 1991) evidenciam de forma inequívoca a importância da força neste contexto. Na particularidade do basquetebol, esta ideia é bem evidente no entendimento de Janeira (1994, p. 81), segundo o qual, “a força muscular [em basquetebol] constitui-se, no universo conceptual da performance desportiva, como uma capacidade condicional fundamental e imprescindível para a obtenção de níveis superiores de rendimento”. Além disso, sabe-se que o aumento dos níveis de força se repercute no rendimento dos basquetebolistas, independentemente do escalão etário considerado (Janeira, 1989). Este quadro abrangente remete também para repercussões positivas ao nível da coordenação motora (Thorstensson, 1988; Tittel, 1988), da velocidade de deslocamento (horizontal e vertical) dos atletas (Thorstensson, 1988) e da capacidade de resistir e recuperar de um esforço continuado no tempo (Stone & Steingard, 1993).

Neste contexto, o treino da força constitui uma parte integrante dos programas de preparação em basquetebol, contribuindo para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da performance (Fulton, 1992; Pauletto, 1994). Dito de outro modo, o treino da força e a sua exaltação são decisivos no contexto da

performance em basquetebol, possibilitando ao atleta uma melhor resposta às

exigências específicas do jogo, bem como a manutenção do nível das suas habilidades técnicas ao longo de todo o jogo (Janeira, 1994). Em termos genéricos, três vantagens se associam directamente a um programa de treino de força para o basquetebol, funcional e correctamente desenhado: (i) melhora o desempenho desportivo, (ii) reduz o risco de lesão e (iii) mantém os jogadores motivados (NBCCA, 1997). Estas ideias foram igualmente realçadas por treinadores e metodólogos do treino, representantes de diferentes universidades americanas, reunidos num painel organizado pela National Strength and Conditioning Association para discutir o treino de força em basquetebol (Coaches’ Roundtable, 1983). De facto, a opinião generalizada

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destes peritos do treino em basquetebol evidencia a importância desta prática no âmbito da modalidade. Por outro lado, numa outra dimensão, o treino de força em basquetebol objectiva “a formação corporal equilibrada […] ou ainda a correcção de desequilíbrios musculares ou a reabilitação da capacidade funcional após períodos de destreino provocados por lesão” (Oliveira, 1996, p. 56).

Muito curiosas são algumas opiniões acerca da importância e dos benefícios do treino da força em basquetebol, expressas pelos próprios desportistas (NBCCA, 1997):

- Kevin Johnson, ex-jogador dos Phoenix Suns, considera que o treino da força lhe deu potência e “durabilidade” para enfrentar ao longo de diferentes épocas desportivas os melhores jogadores da NBA;

- Segundo Anfernee “Penny” Hardway, ex-jogador dos Orlando Magic, o treino de força assumiu um contributo decisivo nos seus níveis físicos e mentais, traduzindo-se numa maior confiança na sua abordagem ao jogo de basquetebol, assim como numa melhoria do seu desempenho defensivo e ofensivo.

Atendendo às exigências técnicas, à diversidade e multiplicidade de funções que os jogadores são chamados a desempenhar, bem como ao tipo de trabalho exigido em diferentes áreas do campo, o jogo de basquetebol faz apelo a três formas básicas de manifestação de força: máxima, resistente e explosiva – com predominância das acções de carácter explosivo (Araújo, 1982; Janeira, 1994; Soares, 1985; Stone & Steingard, 1993) – e o seu treino tem-se alicerçado nos métodos resistivo, pliométrico e complexo.

Para Kraemer e Fleck (2005), o treino resistivo assume um peso substantivo no desenvolvimento da força dos basquetebolistas. Aliás, a importância de programas de treino resistivo na preparação de equipas de basquetebol está bem expressa no inquérito produzido por Groves et al. (1989) junto das 100 melhores equipas universitárias masculinas da Divisão I da NCAA. De facto, os resultados deste inquérito mostram a utilização transversal do treino resistivo em diferentes períodos da preparação desportiva em basquetebol. Assim, 98% das equipas estudadas seguiam um programa de treino resistivo no período

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preparatório. Para além disso, 75% destas equipas prosseguiam com esta metodologia de treino da força durante o período competitivo; e outras ainda contemplavam esta abordagem metodológica em programas no período transitório (88%) e em programas de campos de Verão (64%). Também Simenz et al. (2005) ao inquirirem treinadores de força e condicionamento da NBA concluíram que a esmagadora maioria destes treinadores (19 em 20) adoptam o treino resistivo para o desenvolvimento da força/potência dos atletas das suas equipas. De resto, esta visão plural da importância do treino resistivo é bem expressa na opinião de Marlow (2001) quando refere que o treino resistivo direccionado para os ganhos de força constitui-se como um suplemento valioso num regime de treino de basquetebolistas.

Uma outra forma de elevar os níveis de força dos atletas, particularmente a sua capacidade explosiva, reside no trabalho pliométrico. Segundo Chu et al. (2006), o basquetebol é uma modalidade desportiva que invoca todos os aspectos da actividade pliométrica, tais como a corrida, o salto e as mudanças de direcção. A sua importância está expressa no questionário conduzido por Simenz et al. (2005), já anteriormente citado, tendo a totalidade dos inquiridos referido o uso da pliometria nos seus programas de força e condicionamento dos atletas.

Em relação ao treino complexo, e apesar da posição defendida pela NBCCA (1997) evidenciar a importância de se combinar exercícios pliométricos com exercícios de treino resistivo, não foi encontrado na literatura disponível nenhum estudo que tenha comprovado a eficácia deste tipo de treino no contexto exclusivo da performance em basquetebol. No entanto, a sua utilização em equipas da NBA é salientada por 12 dos 20 treinadores participantes no inquérito realizado por Simenz et al. (2005).

Em suma, o treino de força nas suas diferentes vertentes é apontado por peritos, treinadores, metodólogos do treino e pelos próprios desportistas como importante e decisivo na performance desportiva em basquetebol. Também as diferentes metodologias do treino de força têm sido utilizadas de uma forma genérica nos programas de preparação desportiva em basquetebol. No

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contexto particular do treino da força explosiva e apesar desta unanimidade de opiniões, a literatura disponível mostra-se ainda escassa relativamente ao conhecimento experimental neste domínio. No entanto, os poucos estudos disponíveis permitem realçar o contributo determinante do treino de força na obtenção de rendimentos superiores de explosividade em basquetebolistas de diferentes escalões competitivos (Brown et al., 1986; Gleddie & Marshall, 1996; Groves & Gayle, 1993; Hoffman et al., 1991a, 1991b; Matavulj et al., 2001; Pousson et al., 1995; Santos, 1995; Santos et al., 1997; Wagner & Kocak, 1997; Young et al., 1999).

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