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2. Revisão da literatura

2.3. Destreino Específico e Treino Reduzido

2.3.1. Destreino Específico

2.3.1.1. Estudos experimentais de Treino-Destreino Específico

2.3.1.1.1. Estudos experimentais de Treino-Destreino Específico em Basquetebol

São escassos os estudos no âmbito do basquetebol que investigaram o comportamento dos indicadores de força em programas integrados de treino e destreino específico (Häkkinen, 1988; Hoffman et al., 1991a; Maffiuletti et al., 2000).

Häkkinen (1988) pretendeu examinar os efeitos de um período competitivo (6 meses) na capacidade física de 7 basquetebolistas de elite (valores de idade não referenciados pelos autores; experiência de treino 8-10 anos). O autor refere que os atletas utilizaram um treino de força intensivo durante o período preparatório, não apresentando as características do trabalho realizado (duração do programa de treino, frequência semanal, exercícios realizados, respectivos volumes e intensidades…). No final deste período preparatório, os atletas cessaram o treino de força e iniciaram um período de destreino específico de 6 meses (período competitivo), no qual para além de cumprirem 4 sessões semanais de treino de basquetebol, realizavam uma sessão semanal de série única (10-20 repetições) de saltos de tipo explosivo. No final deste período de destreino, os sujeitos mantiveram inalterados os valores de força máxima, tendo decrescido nos valores de força explosiva. Segundo o autor, o nível de força máxima manteve-se constante devido ao volume reduzido de treino desta capacidade no contexto da quantidade geral de trabalho realizado

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no período preparatório. Em relação ao comportamento da força explosiva, o autor realça o facto dos maiores decréscimos ocorrerem nos atletas que revelaram melhores níveis iniciais de força explosiva. Refere ainda que as exigências da competição e os exercícios de treino de natureza aeróbia ao longo do período competitivo poderão ter interferido no desenvolvimento da potência muscular, conduzindo consequentemente a um decréscimo no desempenho explosivo. O autor reconhece ainda que este decréscimo pode possivelmente ter tido alguns efeitos negativos na capacidade do jogo colectivo e individual. Neste sentido, e com o objectivo de manter o nível de desempenho explosivo, o autor sugere uma atenção cuidada e particular à magnitude e/ou à frequência de estímulos de treino específicos do sistema neuromuscular, na elaboração do programa geral de treino.

Hoffman et al. (1991a) estudaram o comportamento de 1RM de agachamento e 1RM de supino, salto vertical e sprint de 27 metros numa amostra de 9 sujeitos (idade 18.8±0.7 anos) ao longo de uma época desportiva de basquetebol universitário. Na fase inicial do estudo, os autores aplicaram um programa de treino resistivo de 5 semanas (frequência trissemanal) durante o período preparatório e antes do início da prática oficial de basquetebol. Após este período, os atletas cumpriram um período de destreino específico de 20 semanas, tendo os autores realizado avaliações às 10 semanas de destreino e no final das 20 semanas. Ao longo da temporada, os sujeitos não se envolveram em nenhum tipo de treino resistivo adicional. O período inicial de treino (5 semanas) apenas promoveu incrementos estatisticamente significativos na força de agachamento, havendo, no entanto, uma alteração positiva (sem significado estatístico) do supino e da velocidade. O registo do salto vertical permaneceu inalterado. As alterações processadas ao longo do período de destreino são apresentadas no Quadro 8.

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Quadro 8. Alterações na força e velocidade (Adaptado de Hoffman et al., 1991a). Momentos de Avaliação Variáveis Pós-treino Destreino (10 semanas) Destreino (20 semanas) Supino (kg) 87.4±14.3 89.1±13.0 86.8±11.5 Agachamento (kg) 140.6±21.0 126.5±19.4* 134.6±15.3 Sprint 27m (seg) 3.93±0.23 4.10±0.17* 4.06±0.24* Salto vertical (cm) 64.3±7.9 58.7±5.2* 63.3±6.9

* p<0.05 dos valores correspondentes de pós-treino.

Face a estes resultados, os autores identificam estabilidade no conjunto das variáveis testadas, do pós-treino para o pós-destreino (20 semanas). A análise integrada dos resultados do estudo, permitiu aos autores elaborarem um conjunto de considerações que sustentam a importância da inclusão de um programa de treino resistivo no período preparatório das equipas universitárias de basquetebol. Assim, afirmam ser comum, no período preparatório, a participação de muitas equipas de basquetebol universitário num programa de treino de força de curta duração, que termina com o início da prática formal do basquetebol. De resto, entendem os autores que os treinadores podem assumir o facto da alta intensidade da prática de basquetebol ser por si só suficiente para manter os níveis de força adquiridos nessa fase inicial de treino; referem também ser sua opinião que estes ganhos poderão ser mantidos para além da duração de uma época de basquetebol universitário. Salientam ainda que estas melhorias ao nível da força se devem muito provavelmente e em exclusividade às adaptações a nível neuronal. Em relação à diminuição no desempenho do

sprint de 27 metros, os autores afirmam que as suas razões permanecem

ainda pouco claras e podem dever-se a um ineficaz estímulo do exercício ou, pelo contrário, serem parte de qualquer tipo de fenómeno de sobretreino inerente à prática continuada do basquetebol.

Maffiuletti et al. (2000) estudaram a influência do treino de electromioestimulação na força máxima e no desempenho do salto vertical de basquetebolistas masculinos (idade 24.7±3.9 anos). Os autores constituíram dois grupos, cada um composto por 10 elementos (GE: grupo experimental; GC: grupo de controlo). O programa de treino teve a duração de 4 semanas,

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realizado numa frequência trissemanal. A este período seguiram-se 4 semanas de treino normal de basquetebol (destreino específico). No final da primeira etapa de treino (4 semanas), os sujeitos de GE incrementaram significativamente os valores da força máxima e o desempenho do salto sem contramovimento, mantendo praticamente inalterado o desempenho do salto com contramovimento. Após esta fase, os sujeitos mantiveram os ganhos de força máxima e de salto sem contramovimento e aumentaram significativamente, face aos valores de pré-treino, o desempenho do salto com contramovimento. Os sujeitos de GC mantiveram os seus níveis de força máxima e força explosiva inalterados em qualquer um dos momentos de avaliação. Segundo os autores, os aumentos na força máxima dos sujeitos de GE reflectiram-se no desenvolvimento da força explosiva, facto que foi confirmado pela correlação significativa estabelecida entre as alterações na altura do salto sem contramovimento e os aumentos na força do quadrícipes. Com base nestes registos, os autores concluíram que após uma melhoria dos níveis de força obtida através do treino de electromioestimulação, o treino estandardizado de basquetebol ao manter a atitude muscular permite uma estabilidade elevada da capacidade dos atletas.