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3. Material e métodos

5.1. Efeitos do treino complexo

A literatura disponível é praticamente omissa relativamente ao estudo das alterações da altura de salto vertical e da distância de lançamento de bola medicinal de basquetebolistas adolescentes submetidos a programas de treino complexo. Apenas o estudo de Faigenbaum et al. (2007), agrupando jovens atletas de basquetebol e de futebol americano, apresentou aumentos significativos nos testes de salto vertical e lançamento de bola medicinal quando o treino pliométrico precedeu o treino resistivo. Todavia, a literatura mostra também resultados positivos nos valores de salto vertical e de lançamento de bola medicinal de outros atletas não basquetebolistas e não atletas, púberes e não púberes, decorrentes da aplicação de programas de treino que combinaram treino resistivo com treino pliométrico (Adams et al. 1992; Bauer et al., 1990; Clutch et al., 1983; Dodd & Alvar, 2007; Gorostiaga et al., 2004; Ingle et al., 2006; Mihalik et al., 2008; Polhemus et al. 1980), resultados estes que estão de acordo com as melhorias significativas na capacidade de salto vertical e na distância de lançamento de bola medicinal identificadas nos sujeitos basquetebolistas do nosso estudo, após a aplicação de um programa de treino complexo.

Tendo por base a importância da força muscular no quadro da preparação desportiva em basquetebol e tendo como referência os entendimentos e as sugestões de diferentes autores, disponíveis na literatura, sobre a aplicação de programas de treino complexo, procurámos desenhar, para o nosso estudo, um programa desta natureza com reflexos positivos nos valores da força explosiva de adolescentes basquetebolistas. De um modo mais objectivo, procurámos, com este estudo, conhecer de forma particular os efeitos da aplicação deste treino complexo nos valores de salto vertical e de lançamento da bola medicinal.

No plano do treino de força com jovens, é importante promover a iniciação a diferentes metodologias de treino da força que se assumem como determinantes nos futuros rendimentos desportivos de jovens praticantes (Bompa, 2000; Faigenbaum & Westcott, 2000; Kraemer & Fleck, 2005). Foi neste sentido que recorremos a uma metodologia de treino complexo que

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articula o treino resistivo e o treino pliométrico, e que permite ainda aos treinadores supervisionar este trabalho integrado numa única sessão de treino (Ebben & Watts, 1998). Mais ainda, a articulação destas duas metodologias constitui uma forma eficaz de produzir ganhos na habilidade de salto vertical (NBCCA, 1997), o que é reforçado pelos resultados obtidos no presente estudo. Além disso, o regime de exercícios incluiu movimentos que reproduziam acções e ângulos articulares do salto vertical em basquetebol (Semenick & Adams, 1987). Ou seja, adoptámos um treino resistivo que abrangeu acções excêntricas e concêntricas de forma a criar um equilíbrio e estabilidade essenciais à capacidade de salto vertical e que combinado com a pliometria resultou num salto vertical melhorado dos sujeitos do nosso estudo (Semenick & Adams, 1987). Tal como Ingle et al. (2006) acreditamos num delineamento desta natureza já que através dele se promove um aumento na força explosiva dos trens superior e inferior, como se comprova nos resultados do presente estudo. Também Faigenbaum et al. (2007), embora numa esquematização de treino diferente do presente trabalho, reforçam este entendimento ao sustentarem que os seus resultados sugerem que um programa de treino de condicionamento que inclua diferentes tipos de treino pode ser mais efectivo no aumento do desempenho da potência dos trens superior e inferior de jovens atletas. Ou seja, se a adopção de exercícios resistivos do trem inferior se direcciona para o desenvolvimento da força da coxa e anca, a aplicação simultânea da pliometria permite o uso efectivo desta força para produzir explosividade em desportos que solicitam acções rápidas e velozes (Adams et al., 1992). É a partir deste entendimento anterior que encontramos justificação capaz para as melhorias no salto vertical alcançadas pelos jovens basquetebolistas envolvidos no nosso estudo.

Acreditamos ainda que os efeitos positivos da aplicação do programa de treino, identificados no nosso estudo, se justificam pelo facto do treino complexo ser uma forma particular de estimular o sistema neuromuscular (Chu, 1998), ou seja, activar de forma conjugada as fibras musculares e o sistema nervoso, originando que as fibras de contracção lenta “aprendam a comportar-se” como fibras de contracção rápida (Chu, 1996). Neste sentido, as primeiras adaptações são por natureza de ordem neuronal e à medida que o treino

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continua ocorrerão provavelmente aumentos nas áreas transversais dos músculos implicados no movimento (Mihalik et al., 2008). Estamos em crer que os efeitos positivos por nós identificados, decorrentes do treino complexo aplicado, serão desta natureza, embora estes aspectos de ordem neuronal e hipertrófica não tenham sido avaliados no nosso estudo.

Outra explicação para o sucesso do programa de treino complexo aplicado poderá residir no facto de termos considerado que metodologias específicas de treino podem efectivamente complementar-se quando combinadas em intensidades adequadas tal como sugere Bauer et al. (1990). Além disso, a utilização de uma carga de treino elevada na componente resistiva do treino complexo pode ter como consequência o aumento de unidades motoras recrutadas durante o exercício pliométrico, incrementando assim os efeitos gerais de treino (Ebben e Watts, 1998) e promovendo uma maior activação neuromuscular (Smilios et al., 2005). Porém, na vertente resistiva do programa de treino complexo aplicado apenas utilizamos uma carga submáxima (10RM), intensidade esta que mesmo assim foi suficiente para obtermos resultados positivos nos valores finais da força muscular (salto vertical e lançamento de bola medicinal). Aliás, Smilios et al. (2005) concluíram que a utilização de cargas moderadas em exercícios resistivos reflectiu-se positivamente na altura do salto sem contramovimento e do salto com contramovimento. Tal como estes autores, também acreditamos que a tensão desenvolvida com cargas desta natureza foi suficiente para estimular a função neuromuscular e assim aumentar o desempenho do salto vertical dos sujeitos do nosso estudo. De igual modo, Gorostiaga et al. (2004) constataram que jovens futebolistas com baixos níveis iniciais de força, submetidos a um treino complementar de força de tipo explosivo, de baixa frequência e baixa intensidade, melhoraram o desempenho do salto com contramovimento. Também Häkkinen e Komi (1985b) após aplicarem um programa de treino de força de tipo explosivo (com intensidades moderadas) em indivíduos adultos experientes em treino de força, constataram aumentos estatisticamente significativos nos valores do salto sem contramovimento, do salto com contramovimento e dos saltos em profundidade executados a partir de alturas de queda de 20, 60 e 100 cm.

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Acreditamos também que o nosso programa de treino complexo, ao combinar acções resistivas com acções mais explosivas terá sido mais eficaz, tal como os programas delineados por Gorostiaga et al. (2004) e Häkkinen e Komi (1985b), na transferência das adaptações neuronais induzidas durante o treino de força para o desenvolvimento da capacidade de salto vertical dos sujeitos envolvidos no nosso estudo.

Entendemos ainda que para o êxito do programa de treino complexo terá contribuído, também, a forma como foi equacionada a intensidade da componente pliométrica, respeitando em toda a linha a escala de progressão de Chu (1998). O facto de alguns exercícios pliométricos estarem associados a movimentos de alta intensidade, caso dos saltos em profundidade, constituiu de resto uma preocupação no desenho deste programa de treino.

Em relação ao grupo de controlo, a comparação entre os nossos resultados e os resultados de Gorostiaga et al. (2004), permite realçar que, no pós-treino, o grupo que apenas realizou a prática de futebol não apresentou alterações significativas no salto com contramovimento, enquanto que o nosso grupo de controlo decresceu com significância estatística esta variável.

Apesar dos incrementos significativos constatados no final das 10 semanas de treino, o grupo de treino complexo não se diferenciou do grupo de controlo nas variáveis salto em profundidade, salto com contramovimento e teste de Abalakov embora, em termos absolutos, haja diferenças, respectivamente, de 5.89 cm, 4.62 cm e 4.11cm. Estes valores poderão decorrer do grau de variabilidade das amostras e da inclusão no programa de treino dos exercícios de salto em profundidade, salto ao aro (idêntico à execução do teste de Abalakov) e salto sem contramovimento, apenas numa única sessão semanal de treino. Muito provavelmente, esta opção terá condicionado o grau de especificidade associado ao desempenho destes tipos de exercícios, comprometendo assim a obtenção de resultados mais elevados que pudessem estabelecer diferenças significativas entre os grupos de controlo e complexo. Também Clutch et al. (1983) concluíram que saltos em profundidade não acrescentaram mais valia a atletas cuja prática desportiva diária (voleibol) implica um número elevado de saltos. Todavia, partilhamos do entendimento destes autores quando salientam que este tipo de exercício constitui uma

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variação no esquema normal de trabalho, implicando uma maior motivação na realização de saltos em profundidade. De resto, ganhos na ordem dos 6cm, como constatámos no final do nosso programa de treino para o salto em profundidade, são de facto uma mais valia para qualquer praticante de basquetebol e representam, sem qualquer dúvida, a possibilidade de ganhar vantagem num ressalto seguido de um segundo lançamento, num “contra” e em muitas outras acções explosivas do jogo de basquetebol.

Os resultados positivos ao nível do teste de lançamento de bola medicinal obtidos pelos nossos sujeitos não suportam o entendimento de Ebben et al. (2000) segundo os quais o treino complexo não proporcionou benefícios a dez basquetebolistas que executaram supino antes do exercício de quedas de bola medicinal (power drop). Estas diferenças poderão explicar-se pela maior variedade de exercícios e pela maior carga de treino a que sujeitamos os indivíduos da nossa amostra. Por outro lado, o nível inicial de treino dos nossos sujeitos era certamente mais baixo do que os dos basquetebolistas estudados por Ebben e colaboradores (idade 19.9±1.4 anos), facto que provavelmente permitiu maiores ganhos a indivíduos com valores de treinabilidade ainda baixos.

Em suma, e para além das vantagens já referidas anteriormente para este tipo de treino, realçamos ainda, tal como Dodd e Alvar (2007), a vantagem desta metodologia de treino requerer um tempo relativamente curto para a sua aplicação. De facto, o reduzido tempo disponível para actividades extra- escolares é um enorme constrangimento para que os jovens se envolvam em actividades continuadas de treino e competição e, deste ponto de vista, parece ser inequívoca a vantagem deste tipo de treino condensado num curto período de tempo. Assim, uma metodologia desta natureza, com sessões combinadas de treino resistivo e pliometria, com uma duração total de 24-27 minutos, é suficiente para incrementar significativamente os valores de salto vertical (Polhemus et al., 1980). Para além de tudo, realçamos ainda o facto desta metodologia de treino se ter mostrado segura e eficaz em adolescentes basquetebolistas de 14-15 anos. Também Ingle et al. (2006) afirmam ser esta uma metodologia segura para sujeitos pré-púberes. Apesar do nosso estudo

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não ter contemplado a monitorização de lesões, certo é que elas não ocorreram e muito provavelmente terá sido o treino de força que evitou o aparecimento de qualquer tipo de lesão muscular durante a aplicação do programa de treino. Por outro lado, parece também claro, a partir dos nossos resultados, que a conjugação do treino complexo com a prática específica de basquetebol é decisiva para o incremento dos níveis de força explosiva dos seus praticantes, já que o basquetebol por si só não evidencia poder suficiente para aumentar os níveis de explosividade dos praticantes.