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2. Revisão da literatura

2.2. O treino de força com jovens

2.2.3. Treino Complexo

2.2.3.4. Estudos experimentais de treino complexo com jovens

Na literatura disponível constata-se que a eficácia do treino complexo ainda está pouco estudada junto da população juvenil, sendo no entanto de realçar os estudos de Gorostiaga et al. (2004)22 e Ingle et al. (2006). É de salientar ainda o desenho de alguns programas de treino que combinam estas duas metodologias (Summers, 1999; Wood & Roubenoff, 2000).

A proposta de Summers (1999) assenta na descrição do trabalho realizado na escola secundária de Ponderosa (Estados Unidos da América) e no qual combina treino de pesos com exercícios pliométricos. Como características particulares deste programa refere que o treino com pesos ocorre às segundas- feiras e o trabalho pliométrico no dia seguinte. Quartas e quintas-feiras, após 40 minutos de levantamento de pesos, os sujeitos executam 40 minutos de pliometria. Segundo o autor, este trabalho tem-se revelado efectivo na melhoria da força, da rapidez e da velocidade, assim como na redução da ocorrência de lesões. Admite que as propostas têm resultado com os alunos desta instituição, mas não generaliza a sua prática.

Wood e Roubenoff (2000) apresentam o desenho de um programa de treino de força e condicionamento para o período transitório, realizado ao longo de 7 semanas de treino, numa frequência bissemanal, ocupando cada sessão de trabalho uma média de 60-75 minutos de actividade. Os autores admitem a realização de testes iniciais e finais, sem contudo apresentarem quaisquer resultados. Referem ainda a existência de aumentos significativos em 10 das 12 variáveis testadas (não identificadas), em resultado da aplicação deste

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Os autores ao combinarem treino pliométrico e treino resistivo designaram-no de treino combinado de tipo explosivo.

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trabalho no Verão de 2000 com a equipa de futebol americano da escola secundária de Norte Attleboro.

Gorostiaga et al. (2004) estudaram a influência do treino de força de tipo explosivo na capacidade de salto vertical de adolescentes futebolistas. Os autores constituíram um grupo experimental (GE, n=8; idade 17.3±0.5 anos) submetido a 11 semanas de treino numa frequência de 2 sessões semanais e um grupo de controlo (GC, n=11; idade 17.2±0.7 anos) que apenas realizava a prática de futebol. Os sujeitos do grupo experimental combinaram exercícios de pesos com exercícios explosivos (saltos com contramovimento, saltos de barreiras e sprints), com a particularidade da componente explosiva ser executada numa única sessão semanal e o treino resistivo ser cumprido na frequência proposta. Face aos valores de pré-treino, foram constatados incrementos estatisticamente significativos nos sujeitos de GE no teste de salto com contramovimento às 4, às 8 e às 11 semanas de treino. Os sujeitos de GC mostraram semelhança estatística nas comparações efectuadas em todos os momentos de avaliação. Os autores salientam o facto de jovens futebolistas com baixos níveis iniciais de força conseguirem aumentar o desempenho de salto vertical ao acrescentarem um programa de força de tipo explosivo, de baixa intensidade e de baixa frequência, à sua prática regular de futebol. Realçam ainda que um programa desta natureza parece ser mais efectivo na transferência de adaptações neuronais – produzidas durante o treino de força para o desenvolvimento do salto vertical – do que outros programas de treino que usaram cargas mais pesadas. Após os grandes incrementos identificados às 4 semanas, os investigadores apontam a existência de um plateau que se faz sentir entre as 4 e as 11 semanas, levando a que os aumentos nos valores do salto com contramovimento ocorressem a uma taxa mais diminuída. Tal facto estará relacionado com o estado de pré-treino dos atletas e com um insuficiente estímulo de treino (houve um decréscimo no volume e na frequência de treino nas últimas 3 semanas do programa), o que terá limitado aumentos mais consistentes na capacidade de salto vertical.

A investigação de Ingle et al. (2006) teve como objectivo determinar o efeito de um programa de treino complexo no desempenho do salto vertical, na execução do passe de peito de basquetebol e na força dinâmica de sujeitos pré-púberes. Os autores constituíram 2 grupos de estudo a partir de uma

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amostra de alunos de uma escola básica (idade 12.1±0.3 anos): grupo de controlo (GC, n=21) não sujeito a qualquer actividade específica de treino e grupo experimental (GE, n=26) que cumpriu um programa de treino complexo (treino de pesos seguido de treino pliométrico com um período de recuperação de 6 minutos entre estas duas componentes), durante 12 semanas com 3 sessões semanais de treino. No final deste período, os sujeitos de GC mantiveram inalterados os valores das variáveis testadas, enquanto os sujeitos de GE revelaram pequenas melhorias nos testes de salto e de lançamento (valores sem significado estatístico). O nível de força dinâmica (avaliada através dos 8 exercícios que compunham a componente resistiva) aumentou significativamente do pré para o pós-treino no grupo experimental. Os autores atribuem os resultados alcançados ao tipo de metodologia empregue, uma vez que esta combinação das componentes resistiva e pliométrica é uma modalidade de treino segura e efectiva em termos de tempo que, em 12 semanas, confere pequenas melhorias nos desempenhos de salto e de lançamento e grandes aumentos na força dinâmica dos trens superior e inferior.

2.2.3.4.1. Estudos experimentais de treino complexo com jovens basquetebolistas

Na bibliografia consultada não foram encontrados casos particulares de estudo com jovens basquetebolistas relativamente aos efeitos resultantes da aplicação de um programa de tipo complexo. No entanto, a investigação de Bertoni e Jabur (2005) conjuga a prática resistiva com o treino pliométrico numa combinação com as seguintes características:

Nas primeiras 8 semanas, 13 basquetebolistas do sexo masculino na faixa etária 16-17 anos realizaram treino resistivo. Em 4 sessões semanais, executaram às 2as e 5 as feiras exercícios direccionados para o trem superior, e às 3 as e 6 as feiras trabalho para o trem inferior;

Nas 4 semanas seguintes adicionaram treino pliométrico, numa frequência bissemanal (às 2as e 5 as feiras), realizando apenas saltos em profundidade e exercícios de arremesso de bola medicinal. Paralelamente, diminuíram a frequência do treino resistivo para uma

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única sessão semanal (3ª feira), englobando todos os exercícios realizados na fase prévia do trabalho;

Todas as sessões de trabalho físico foram realizadas no período da tarde, antes dos treinos de basquetebol;

Ao longo das 12 semanas os atletas foram sujeitos a treinos técnico- tácticos, 4 vezes por semana.

Os testes foram realizados em 4 momentos distintos (antes, às 4 semanas, às 8 semanas e no final do estudo) para as variáveis sargent jump e lançamento de bola medicinal (força explosiva) e para a execução de 1RM de cada um dos exercícios de aparelhos utilizados (força máxima). Os autores constataram aumentos na força máxima e na força explosiva ao longo dos 2 meses iniciais, enquanto na última avaliação (às 12 semanas) registaram aumentos na força explosiva e um decréscimo na força máxima. Ao analisarem os resultados, os autores defendem que o aumento na força máxima (até às 8 semanas) se deveu ao treino concentrado de hipertrofia e que o subsequente decréscimo (às 12 semanas) ocorreu como consequência da redução da frequência semanal do treino resistivo. Relativamente aos ganhos na força explosiva, os autores sustentam que estes incrementos (às 12 semanas) se ficaram a dever ao aumento da força máxima com reflexos positivos na velocidade de movimento, apesar da ausência de treino pliométrico. Destacam ainda que os treinos específicos de basquetebol também terão contribuído para a obtenção de níveis superiores de força explosiva nesta fase. Ao introduzirem os treinos pliométricos (nas últimas 4 semanas de treino), e face à especificidade desta metodologia, os autores constataram naturais aumentos das variáveis testadas. As suas conclusões baseiam-se no entendimento de Zatsiorsky (1999) que sugere o desenvolvimento de uma taxa óptima de força máxima para potenciar o treino de força explosiva.

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