• Nenhum resultado encontrado

2. Revisão da literatura

2.2. O treino de força com jovens

2.2.4. Comparação de métodos de treino

2.2.4.1. Treino complexo 23 vs Treino resistivo vs Treino pliométrico

Diferentes estudos têm procurado contrastar a eficácia do treino pliométrico, do treino resistivo e do treino complexo, reportando alterações positivas nas variáveis testadas, assim como uma superioridade em combinar pliometria e pesos (Adams et al., 1992; Fatouros et al., 2000), enquanto outros estudos não identificam quaisquer vantagens adicionais na adopção de práticas combinadas destas duas metodologias (Bauer et al. 1990; Dodd & Alvar, 2007; Ford et al., 1983). Esta discrepância, segundo Fatouros et al. (2000), deve-se, provavelmente, às diferentes durações dos períodos de treino, aos diferentes estados de treino dos sujeitos e aos diferentes desenhos de treino, isto é, cargas de treino, volumes e exercícios diferenciados.

23

Neste âmbito abordaremos outros estudos que combinaram o treino resistivo com o treino pliométrico, apesar de na sua essência não constituírem investigações sobre programas de treino complexo.

84

Adams et al. (1992) compararam a eficácia de 3 programas de treino – treino resistivo (com base no exercício de agachamento), treino pliométrico e combinação de pliometria mais agachamento – no aumento do salto vertical. Um quarto grupo serviu como controlo e cada um dos grupos foi constituído por 12 estudantes universitários (valores de idade não referenciados pelos autores). Os programas de treino, realizados bissemanalmente, tiveram a duração de 7 semanas, tendo a primeira semana como objectivo a aprendizagem técnica dos exercícios propostos a que se seguiram 6 semanas de treino periodizado. No final deste período de 7 semanas, todos os grupos incrementaram significativamente a altura de salto vertical, tendo o grupo de treino combinado mostrado uma melhoria com significado estatístico comparativamente com os grupos de treino resistivo e treino pliométrico. Neste sentido, foi evidente a superioridade de combinar o treino pliométrico com o treino de agachamentos, comparativamente ao treino isolado de cada uma destas duas metodologias. Este resultado foi atribuído pelos autores ao facto dos agachamentos serem direccionados para o desenvolvimento da força da coxa e anca, enquanto a aplicação simultânea da pliometria permite o uso efectivo desta força para produzir explosividade em desportos que solicitam acções rápidas e velozes.

Também Fatouros et al. (2000) compararam os efeitos das três metodologias de treino na potência mecânica e no desempenho de salto vertical de jovens sedentários. Para o efeito sujeitaram três grupos a diferentes tipos de treino: treino pliométrico (GP, n=11, idade 21.1±2.5 anos), treino resistivo (GR, n=10, idade 20.9±2.4 anos) e treino combinado24 (GRP, n=10, idade 20.1±1.4 anos). Os sujeitos de cada grupo treinaram 3 dias por semana ao longo de 12 semanas, enquanto o grupo de controlo (GC, n=10, idade 20.5±1.8 anos) não participou em qualquer actividade de treino. Constatando melhorias significativas nos três grupos experimentais relativamente ao salto vertical e potência mecânica, os autores observaram que o grupo de treino combinado (exercícios tradicionais de levantamento de pesos associados ao treino pliométrico) apresentou, nos indicadores testados, melhorias significativas comparativamente aos outros grupos experimentais. De acordo com os

24

A particularidade do protocolo apresentado assenta no facto do treino de pesos ter sido realizado 180 minutos após o treino pliométrico.

85

autores, os resultados obtidos radicam nos seguintes aspectos particulares: (a) nível de experiência de treino dos sujeitos, (b) natureza dos protocolos de treino utilizados, implicando uma grande variedade de exercícios adoptados e (c) respeito pelo princípio da sobrecarga progressiva, nomeadamente na definição da intensidade, do volume e da selecção de exercícios prescritos. Reconhecendo que por si só, o treino pliométrico e o treino de pesos constituem metodologias válidas para um aumento do desempenho do salto vertical, realçam contudo que a sua combinação proporcionou um estímulo de treino mais potente na melhoria dos vários parâmetros da capacidade de salto vertical.

Em sentido contrário apontam os resultados do estudo de Bauer et al. (1990), no qual o grupo de treino que conjugou pliometria e treino resistivo (GRP, n=7; idade 25.0±0.03 anos) não revelou melhorias estatisticamente superiores no salto vertical em relação ao trabalho isolado de pliometria (GP, n=8; idade 23.3±0.04 anos) e de treino resistivo (GR, n=8; idade 21.5±0.02 anos). No entanto, os programas aplicados (10 semanas, frequência trissemanal), realizados por estudantes de Educação Física de ambos os sexos, promoveram, de per si, aumentos estatisticamente significativos na capacidade de salto vertical. Deste modo, os autores concluem que, sempre que os programas de treino sejam desenhados e implementados correctamente, pesos livres ou qualquer tipo de treino pliométrico, usados de forma independente ou combinada, proporcionarão um estímulo de treino adequado no sentido de melhorar a potência do trem inferior. Em relação à ausência de diferenças entre grupos, os autores apresentam como justificações plausíveis a duração limitada do programa de treino (apenas 10 semanas), assim como o reduzido número de elementos por grupo (entre 7 e 8 sujeitos).

Dodd e Alvar (2007) testaram igualmente os efeitos do treino complexo vs. treino resistivo vs. treino pliométrico na capacidade de salto vertical de 45 praticantes de basebol (idade 18-23 anos). Os autores distribuíram aleatoriamente os sujeitos por três grupos. Num desenho do estudo “rotativo contrabalançado”25

, cada grupo participou no programa de treino complexo, no programa de treino resistivo e no programa de treino pliométrico. O número

25

86

total de sujeitos participantes em cada programa de treino foi de 32 (Grupo 1), 31 (Grupo 2) e 28 (Grupo 3), respectivamente nos programas de treino complexo, de treino resistivo e de treino pliométrico. O desenho geral do estudo contemplou 3 períodos, cada um com 4 semanas de treino (frequência bissemanal) e uma semana de repouso entre cada 4 semanas de trabalho. No final das primeiras 4 semanas e após uma semana de recuperação, os sujeitos foram confrontados com outro programa de treino que não aquele que tinham executado anteriormente. A ordem de rotação estabelecida pelos autores foi a seguinte: Grupo 1 – treino complexo→treino resistivo→treino pliométrico; Grupo 2 – treino resistivo→treino pliométrico→treino complexo; Grupo 3 – treino pliométrico→treino complexo→treino resistivo. Os resultados do estudo foram apresentados como a média acumulada dos 3 programas de treino. Deste modo, os autores constataram que os protocolos utilizados promoveram incrementos sem significado estatístico nos valores do salto vertical. Constataram ainda a inexistência de diferenças significativas entre os três programas de treino. Apesar destes resultados, os autores salientam a importância das adaptações neuromusculares que poderão ocorrer com a combinação do treino resistivo e do treino pliométrico. De resto, embora reconheçam o facto de nenhuma modalidade de treino revelar um maior domínio na obtenção de um melhor desempenho dos sujeitos envolvidos no estudo, os autores realçam que o treino complexo promoveu maiores taxas de alteração na capacidade de salto vertical dos participantes. Por último, apesar de não encontrarem superioridade no programa de treino complexo adoptado face ao treino isolado de pliometria e de pesos, os autores defendem o seu uso, principalmente quando se dispõe de um tempo limitado de treino. Justificam esta afirmação com o facto do treino complexo “gastar menos tempo de trabalho” do que as outras metodologias de treino de força, proporcionando ainda resultados iguais ou superiores à prática isolada de treino resistivo e de treino pliométrico.

Na literatura consultada, o estudo de Ford et al. (1983) é o único realizado com jovens, sendo que a amostra é constituída por sujeitos alunos de uma escola secundária (valores de idade não referenciados). Os autores pretenderam determinar os efeitos de 3 metodologias de treino de força nos valores finais da capacidade de salto vertical. Deste modo, após a aplicação do pré-teste, os

87

sujeitos foram divididos por três grupos: Grupo 1 (G1, n=12) realizava pliometria, Grupo 2 (G2, n=23) executava treino resistivo, Grupo 3 (G3, n=15) combinava as duas metodologias em dias alternados. No final das 10 semanas de aplicação do programa, os indivíduos foram novamente testados no salto vertical e todos os grupos revelaram incrementos significativos nesta variável. Os grupos não apresentaram contudo diferenças significativas entre si. Porém, os sujeitos de G2 e G3 foram substancialmente melhores do que os sujeitos de G1 no pré e pós-teste. Com base nestas observações, os autores sugerem que programas combinados de treino resistivo e pliometria são um procedimento adequado no treino de condição física.