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3. Material e métodos

5.4. Efeitos do treino complexo/treino pliométrico/treino resistivo

A partir de um olhar abrangente e global sobre os três programas de treino (complexo, pliométrico e resistivo), identificamos um conjunto de factores de melhoria comuns aos programas aplicados que, embora não constituindo objectivo desta investigação, poderão ter contribuído para a eficácia das três metodologias de treino. Como tal, e numa visão integradora, discutiremos o contributo destes factores para as alterações positivas identificadas nos valores do salto vertical e do lançamento de bola medicinal dos sujeitos dos grupos experimentais envolvidos no nosso estudo.

Um dos factores que terá contribuído para a melhoria dos níveis de força dos sujeitos envolvidos nos três programas de treino aplicados teve a ver com os níveis acrescidos de coordenação motora, que segundo Marques e Oliveira (2001) são determinantes na obtenção de ganhos na força muscular, e que acreditamos se traduziram num domínio mais eficiente da execução técnica do

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salto vertical e do lançamento de bola medicinal. Para além dos aumentos da força explosiva dos trens superior e inferior, bem visíveis a partir dos resultados revelados pelos atletas envolvidos nos três programas de treino aplicados, acreditamos que a melhor sincronização dos segmentos corporais e consequentes níveis acrescidos de coordenação motora traduziram-se num domínio mais eficiente da execução técnica do salto vertical e do lançamento de bola medicinal. Esta eficácia dos três programas de treino aplicados terá implicado ainda melhorias previsíveis na performance desportiva dos atletas do nosso estudo, aspecto que pudemos constatar ao longo deste processo. Aliás, segundo a NBCCA (1997), uma melhoria no desempenho desportivo é também uma das vantagens associadas a um programa de treino de força para o basquetebol, funcional e correctamente desenhado.

Acreditamos ainda que os resultados positivos identificados neste estudo estarão relacionados, embora de forma subjectiva, com a adesão dos atletas aos programas propostos (treino complexo, treino pliométrico e treino resistivo). Este posicionamento remete-nos claramente para as questões da motivação que, segundo Paish (1998), desempenha um papel chave na execução dos saltos verticais. É nossa convicção que a questão da motivação foi fundamental para os valores acrescidos de força explosiva resultantes da aplicação dos três programas de treino. Com base no entendimento de Renfro (1999) acreditamos também que a formulação inédita e a estruturação diversificada dos programas de treino e, de certa forma, a sensação que os atletas foram tendo acerca da melhoria da sua disponibilidade motora para o jogo de basquetebol ao longo do processo de treino, muito terão contribuído para a manutenção dos níveis de motivação dos atletas envolvidos. Aliás, um programa de treino de força para o basquetebol, funcional e correctamente desenhado, mantém os jogadores motivados ao longo da preparação desportiva (NBCCA, 1997).

Outro aspecto comum aos três programas de treino aplicado teve a ver com a ausência de lesões ao longo de todo o processo de treino. Este dado é também uma vantagem alcançada com os programas propostos, confirmando que o treino de força com jovens, correctamente desenhado e supervisionado, ajuda a prevenir e a reduzir o risco de lesão (American Academy of Pediatrics, 2008;

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Faigenbaum, 2002; Youth Sport Trust, 2001). No caso concreto do treino pliométrico, Chu et al. (2006) afirmam mesmo que o treino pliométrico com jovens pode reduzir o risco de lesão. Além disso, os nossos resultados suportam o entendimento de Kraemer e Fleck (2005) ao referirem que técnicas de exercício e programas de treino correctos reduzem fortemente a possibilidade de ocorrência de lesão desportiva.

Também comuns aos programas de treino aplicados estiveram associados os aspectos ligados ao crescimento e à maturação. Nomeadamente, a partir dos 13 anos de idade, a força explosiva está positivamente associada à maturação biológica, mesmo após o controlo da variação na idade cronológica, na estatura e na massa corporal (Beunen & Thomis, 2000). No entanto, e apesar de no início do presente estudo os grupos em contraste serem semelhantes nos valores da idade, do peso e da altura, distribuindo-se equitativamente nos níveis maturacionais 3 e 4 das tabelas de Tanner, no final da aplicação dos programas de treino, o grupo de controlo decresceu com significância estatística nos valores de impulsão vertical enquanto os grupos experimentais incrementaram significativamente esta componente. A partir desta visão, e face ao comportamento díspar dos grupos em análise, podemos afirmar que os aspectos de crescimento e maturacionais não foram determinantes nas diferenças no comportamento dos níveis de explosividade dos sujeitos dos grupos estudados. Aliás, pensamos que os nossos resultados suportam o entendimento de Faigenbaum (2003, 2007) segundo o qual programas de treino resistivo bem desenhados podem promover incrementos da força de crianças e adolescentes para além dos que normalmente resultam do crescimento e da maturação dos sujeitos. Também Bar-Or e Rowland (2004), numa visão mais global desta temática, entendem que embora uma força maior de maturação dos rapazes possa reflectir os seus níveis mais elevados de testosterona circulante e um crescimento somático mais rápido, pode também resultar do seu maior envolvimento no desporto e em outras actividades físicas que fortaleçam os músculos. Apesar de tudo, temos consciência da importância dos aspectos da maturação e do crescimento dos sujeitos no processo de desenvolvimento da força muscular de adolescentes masculinos, embora se

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constituam como factores que não podendo ser anulados, dificilmente poderão ser quantificados (Proença, 2002).

Entendemos também que sendo a supervisão qualificada uma premissa do treino de força com jovens atletas (Bompa, 2000; Faigenbaum, 2000b, 2002, 2003; Faigenbaum & Westcott, 2000; Gardner, 2003; Grantham, 2004; Kolb, 2003; Kraemer & Fleck, 2005; Lavallee, 2002; Webb, 1990; Wolohan & Micheli, 1990), poderá ter contribuído, tal como no estudo de Coutts et al. (2004), para os ganhos alcançados com a aplicação dos três programas de treino. Os autores constataram aumentos significativos na força absoluta e no salto vertical de jogadores adolescentes de râguebi, sujeitos a uma supervisão directa de 12 semanas de treino resistivo periodizado, aspecto este que terá resultado na presença dos sujeitos em mais sessões de treino. Igualmente acreditamos que a nossa supervisão estará positivamente correlacionada com o número significativo de presenças dos basquetebolistas por nós estudados às sessões dos diferentes programas de treino, com resultados muito visíveis nos incrementos de explosividade destes praticantes. Aliás, uma taxa positiva de comparecimento às sessões de treino pliométrico terá favorecido a aquisição de níveis superiores de explosividade no estudo conduzido por Blattner e Noble (1979) com estudantes universitários. De facto, os autores assinalam que os sujeitos que compareceram regularmente às sessões de treino (≤ 3 ausências) revelaram ganhos maiores do que os seus colegas mais faltosos (≥ 5 ausências).

Por outro lado, as maiores taxas de comparecimento ao treino no presente estudo, e consequentemente uma maior carga média de treino (Coutts et al., 2004), terão resultado num aumento nas adaptações de força explosiva dos nossos sujeitos. Além disso, as adaptações neuronais são aumentadas com supervisão directa (Coutts et al., 2004). Assim sendo, e apoiando-nos no entendimento destes autores, as adaptações neuronais tais como um recrutamento aumentado de fibras musculares, uma velocidade aumentada de recrutamento, uma sincronização melhorada do recrutamento muscular e uma inibição muscular diminuída terão provavelmente contribuído para a melhoria significativa da força explosiva dos nossos atletas. Assim, no presente trabalho, as adaptações neuronais terão sido responsáveis pelas melhorias nos

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indicadores salto sem contramovimento, salto com contramovimento, salto em profundidade e potência mecânica média em 15” de saltos (Bosco et al., 1986; Häkkinen & Komi, 1985a).

Por último, face à idade dos sujeitos estudados e independentemente da metodologia de treino aplicada, registe-se a prudência que existiu na prescrição dos programas de treino de força aplicados. Deste modo, evitámos um certo “facilitismo” que resulta na assumpção de que nos indivíduos com baixo nível de condição física, os ganhos iniciais serão maiores face ao potencial de adaptação acrescido que existe, assumindo o treinador que, nas suas fases iniciais, todos os programas resultarão eficazes no trabalho com indivíduos não treinados (Fleck & Kraemer, 1997). De facto, tivemos consciência de que no início de qualquer programa de treino, a designada janela de adaptação, isto é, a oportunidade para a alteração, é relativamente grande, daí provavelmente ocorrerem ganhos significativos e deste modo não ser surpreendente constatar adaptações de treino assinaláveis (Faigenbaum, 2000b; Fry & Newton, 2004). No entanto, os atletas por nós estudados caracterizavam-se como sujeitos fisicamente activos, com experiência no treino de basquetebol, daí os ganhos obtidos serem mais atribuídos à natureza e qualidade dos três programas de treino aplicados.

5.5. Comparação de métodos de treino (Treino Complexo vs. Treino