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2. Revisão da literatura

2.2. O treino de força com jovens

2.2.3. Treino Complexo

2.2.3.3. Estudos experimentais de treino complexo

São diversos os autores que referem o facto do treino resistivo combinado com o treino pliométrico ter produzido valores aumentados da força explosiva de atletas e não-atletas (treino combinado – Clutch et al., 1983; Hunter & Marshall, 2002; Moore et al., 2005 / treino de contraste - Chirosa et al., 2002 / treino complexo – Mihalik et al., 2008).

Chirosa et al. (2002) pretenderam determinar os efeitos de dois tipos de treino de contraste de força na capacidade de impulsão vertical. Para tal, sujeitaram indivíduos do exército espanhol (n=30; idade 22±4 anos) a uma combinação de multisaltos (cargas ligeiras) com agachamentos a 70% de 1RM (cargas pesadas), ao longo de 8 semanas, com uma frequência de treino trissemanal. A diferenciação dos grupos consistia na forma de combinação das cargas: um grupo combinava as cargas na mesma série (G1, n=15), enquanto o outro estabelecia o contraste na mesma sessão (G2, n=15). Ao avaliarem os sujeitos dos 2 grupos em estudo, no início, às 4 semanas e no final do período de treino, observaram incrementos significativos em todas as variáveis testadas (salto sem contramovimento, salto com contramovimento, salto sem contramovimento com cargas de 50% e 100% do peso corporal e 1RM meio-

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agachamento). A comparação entre grupos mostrou semelhança no pré-teste e no pós-teste para os resultados dos testes de salto. Contudo, os sujeitos de G1 diferenciaram-se significativamente dos sujeitos de G2 na capacidade de salto vertical, avaliada às 4 semanas. Para além disso, os sujeitos de G1 apresentaram no pós-teste maiores incrementos (sem significância estatística) nos valores da força máxima. Em conclusão, o treino de contraste de força com base em cargas ligeiras e cargas pesadas revelou-se eficaz na melhoria das distintas manifestações de força, independentemente do trabalho realizado. No entanto, quando se combinam as cargas na mesma série, produzem-se adaptações mais rápidas na força explosiva e maiores aumentos na força máxima.

Clutch et al. (1983)20 estudaram 12 sujeitos envolvidos numa classe de treino de pesos (principiantes) com idades de 20.9±2.8 anos, procurando perceber se saltos em profundidade eram mais eficazes do que saltos verticais máximos. Foram utilizados três programas de treino: 1) saltos verticais máximos; 2) saltos em profundidade a partir de alturas de queda de 30cm; 3) saltos em profundidade de 75cm (1ª e 3ª séries) e de 110cm (2ª e 4ª séries). Estes três tratamentos originaram 6 sequências, cada uma com duração de 4 semanas e uma frequência bissemanal, sendo que cada sequência integrou apenas 2 elementos. Antes dos programas de saltos foi definido um período de estabilização dos níveis de força (assim designado pelos autores) no qual os sujeitos cumpriram um programa de treino de pesos, durante 3 semanas (frequência bissemanal). Seguidamente, procedeu-se à aplicação dos programas de treino de saltos. Após cada sessão de saltos e respectiva recuperação, era executado um treino de pesos que consistiu apenas no exercício de meio-agachamento (3 séries de 4-6 repetições). Todos os programas promoveram incrementos estatisticamente significativos nos valores de salto vertical, não sendo constatadas diferenças significativas entre os programas aplicados. De acordo com os autores, um programa combinado de saltos em profundidade com o treino de pesos apresenta resultados semelhantes a um programa de saltos verticais máximos. Para além disso, os

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O documento de Clutch et al. (1983) comporta 2 estudos experimentais. O primeiro tem a ver com a descrição que acima se apresenta. O segundo compara programas de treino da força e será analisado no ponto 2.2.4.2.

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programas de saltos em profundidade resultaram em níveis de eficácia igualmente semelhantes. Os autores alertam ainda para dois aspectos que poderão explicar os resultados obtidos: 1) o efeito de alongamento produzido pelos saltos em profundidade mostrou-se insuficiente para induzir estímulos de força acrescidos; 2) a pliometria parece ser um método de treino pouco eficaz em sujeitos inexperientes no treino de pesos. No entanto, os autores concluem que um programa de treino de força combinado com um qualquer programa de saltos constitui-se como um meio eficaz de aumentar os valores do salto vertical.

Hunter e Marshall (2002) procuraram avaliar os efeitos do treino combinado de exercícios resistivos e pliométricos nos valores do salto com contramovimento e dos saltos em profundidade (30, 60 e 90cm). O programa foi realizado bissemanalmente ao longo de 10 semanas, por uma amostra constituída por diferentes atletas, predominantemente basquetebolistas e voleibolistas (n=11; idade 24±4 anos). No plano metodológico, todos os saltos foram realizados com o objectivo de atingir a altura máxima, não sendo colocadas restrições na magnitude do contramovimento ou no tempo de contacto com o solo. O processo de treino promoveu aumentos estatisticamente significativos em todas as variáveis testadas. Para além disso, foram observadas alterações na técnica de salto, concretamente, aumentos na magnitude do contramovimento (salto com contramovimento e em todos os saltos em profundidade) e aumentos no tempo de contacto com o solo (saltos em profundidade de 30 e 60cm). Segundo os autores, estas alterações técnicas terão sido o resultado da optimização da complexa combinação dos factores envolvidos no salto (utilização de energia elástica, inibição dos órgãos tendinosos de Golgi e contribuição da componente contráctil).

Mihalik et al. (2008) estudaram os efeitos da aplicação de 2 metodologias de treino nos valores da altura de salto vertical e nos níveis de produção de potência do trem inferior de 31 voleibolistas de ambos os sexos (11 masculinos e 20 femininos). Foram constituídos dois grupos de treino: treino complexo (idade 20.3±2.2 anos) e treino composto21 (idade 20.9±2.4 anos). Os

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Compound training, no original, é uma forma de treino combinado, em que os exercícios resistivos são executados em sessões separadas dos exercícios pliométricos, isto é, o treino resistivo é realizado num dia e os exercícios pliométricos num outro dia (Janz et al., 2008). Pelo contrário, como já referido, o treino

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programas tiveram a duração de 4 semanas, foram realizados em 2 sessões semanais e a estrutura de treino foi igual para os 2 grupos experimentais. Em apenas 3 semanas de treino, os grupos apresentaram melhorias estatisticamente significativas nos testes realizados, não demonstrando contudo diferenças significativas entre si. Porém, ambos os grupos apresentaram incrementos significativos no salto vertical no final da 4ª semana, significativamente superiores aos alcançados na 3ª semana. É convicção dos autores que as melhorias identificadas ter-se-ão devido sobretudo às modificações neuronais induzidas pelo treino e que a continuação desse mesmo treino teria induzido provavelmente pronunciadas alterações fisiológicas, nomeadamente um aumento da área muscular, alterações nas propriedades histo-químicas dos tecidos, e a continuação das melhorias neuromusculares. Segundo os autores, o sentido prático desta investigação permite aos treinadores que dispõem de períodos curtos de treino antes da competição, tais como os desportos no ensino secundário, incrementarem a altura do salto vertical e a potência em apenas 3 semanas de treino e com resultados similares independentemente do programa escolhido. Mais, os autores com base nas diferenças encontradas entre os resultados obtidos na 3ª e na 4ª semana, sugerem que a adopção de períodos de treino mais longos permitirá que se continue a obter ganhos significativos nas variáveis testadas. Moore et al. (2005) estudaram os efeitos de um programa de treino combinado na capacidade de salto vertical de 7 futebolistas (5 femininos e 2 masculinos; idade 20.6±0.3 anos). Os sujeitos combinaram treino resistivo tradicional com pliometria num programa de treino trissemanal, efectuado ao longo de 12 semanas. A principal característica do programa adoptado assentou na execução de pliometria antes da prática resistiva tradicional. As avaliações foram efectuadas antes, às 6 semanas e no final do programa de treino. Os autores constataram incrementos significativos na capacidade de salto vertical no pós-treino. No entanto, numa primeira avaliação realizada às 6 semanas, foram detectados decréscimos não significativos na variável testada. Os autores entendem que este declínio ter-se-á devido à fase inicial de aprendizagem e que o aumento seguinte ocorre devido à alta intensidade dos

complexo engloba um momento de exercícios resistivos e um momento de exercícios pliométricos na mesma sessão de treino.

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exercícios pliométricos propostos. Refira-se que em termos absolutos o decréscimo se situou em menos 2 cm e que a fase subsequente proporcionou um incremento de 4.8 cm, daí resultando uma melhoria final na ordem dos 2.8 cm. Como conclusão, os autores entendem que este desenho de treino pode ser utilizado beneficamente para melhorar a capacidade de salto vertical, advogando a sua aplicação generalizada a atletas que se iniciam na competição desportiva universitária ou possuam uma experiência limitada de treino resistivo tradicional e treino de potência.