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A Formação continuada como possibilidade de emancipação docente

2 DEFININDO AS TRILHAS DO CAMINHO

4.1 A Formação continuada como possibilidade de emancipação docente

“É possível a emancipação humana?” (TONET, 2005a, p. 149). É assim que este autor inicia o capítulo que fala a respeito da emancipação da humanidade no seu livro Educação, cidadania e emancipação humana. Ele continua com as seguintes indagações:

“Pode o homem transformar radicalmente a realidade social? [...] Quais as condições gerais de possibilidade – histórico-estruturais – necessárias para que esse objetivo seja alcançado? Quais as mediações (condições específicas, ações concretas, estratégias, táticas etc.) para realizá-las?” (TONET, 2005a, p. 149).

Partindo desses questionamentos e dos desdobramentos que deles decorrem, busquei fundamentar o meu pensamento a respeito da imprescindível e indissociável ligação entre a formação docente e a emancipação do professor.

Emancipação é um termo muito utilizado, não só por marxistas, mas também encontrado nos documentos oficiais4. Mas de qual emancipação se fala? No dicionário Houaiss de língua portuguesa, emancipação é, “tornar-se independente, libertar-se” (TONET, 2005b, p. 268). Sim, e qual é o sentido de liberdade para nós? Que emancipação defendo? Sustentada a partir de que fundamento teórico?

O meu ponto de partida então é o fundamento do ser social, isto é, o trabalho. O trabalho é o ato originário do ser social, mas não significa que ele se esgota na natureza deste ser, ao contrário, por sua própria natureza, ele se caracteriza por se constituir em uma atividade que tem a possibilidade produtiva cada vez mais ampla. Segundo Tonet (2005a, p. 132), “[...] ele é a mediação que permite o salto ontológico da natureza para o homem, como também continuará a ser este fundamento na medida em que é condição natural eterna da vida humana, independente da forma como ela se realize”.

Essa afirmação de Tonet é fundamental para a compreensão da formação continuada como possibilidade de emancipar o professor, justamente por esse caráter natural e eterno de formação que o homem traz em si. O professor é um ser social, é um ser radicalmente histórico e social, isso significa dizer que não existe algo nele que não possa mudar e que a sua totalidade é sempre o resultado dos atos humanos. Logo, as relações que são estabelecidas entre os professores como características do trabalho docente e suas condições reais de atuação no espaço escolar possibilitam que eles, em especial nos momentos formativos, tomem consciência da realidade objetiva, concebam antecipadamente o fim que pretendem alcançar e atuem sobre a sua realidade a fim de transformá-la de acordo com os objetivos previamente estabelecidos no coletivo.

Mas será que isso seria suficiente para favorecer a emancipação docente?

Acredito que não. Principalmente pelo fato de a escola, instituição social que em diferentes níveis está atrelada ao sistema dominante, pensar e fundamentar a formação

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continuada docente de forma prática, ou seja, “[...] tendo como finalidade a instrução de homens capazes de atender às necessidades práticas imediatas postas na ordem do dia” (GUIMARÃES, 2012, p. 131).

Contraditoriamente, ao invés de formar para emancipar, a formação tem servido para conformar, para atender às exigências da sociedade constituída. A formação está a serviço da luta pelo alcance da liberdade para a busca da satisfação individual desprezando as ações que visam o bem comum.

Nessa perspectiva, a formação tem servido para levar os homens a aceitarem a realidade como algo imutável e sua tarefa sendo apenas a de se ajustar, se adequar, estar em conformidade com os valores estabelecidos socialmente pela classe dominante.

No meu entendimento, para que a formação docente seja concretizada como possibilidade emancipatória, ela deve ter como pressuposto fundamental, o conhecimento “[...] da natureza do fim que se pretende atingir, no caso, a – própria – emancipação humana” (TONET, 2005a, p. 226), cabendo aos formadores a estruturação do projeto de formação não baseado em ideias vagas, mas fundamentado no compromisso com a teoria, com o conhecimento sistematizado distinguindo o tradicional do clássico5.

Minha defesa é da formação que contribua para a efetiva libertação dos indivíduos conscientizando-os da sua condição de sujeitos solidários – sujeitos porque tem nas próprias mãos a real possibilidade de compreenderem e transformarem a própria história e solidários porque de fato constroem sua história com o outro, sem querer subjugá-lo.

Formação que preconize o “[...] homem omnilateral, aquele que se define não propriamente pela riqueza do que o preenche, mas pela riqueza do que lhe falta e se torna absolutamente indispensável e imprescindível para o seu ser: a realidade exterior, natural e social criada pelo trabalho humano como manifestação humana livre” (SOUZA JUNIOR, 1999, p. 100). Nessa minha defesa encerra-se o posicionamento oposto à formação na atual ordem social.

Segundo Tonet, uma formação emancipatória deve pautar-se na consciência da necessidade de uma educação eficaz e para isso ela tem que oferecer

[...] uma compreensão, a mais ampla e profunda possível, da situação do mundo atual; da lógica que preside fundamentalmente a sociabilidade regida pelo capital; das características essenciais da crise por que passa esta forma de sociabilidade; das consequências que daí advêm para o processo de autoconstrução humana; da

5Saviani nos alerta a respeito da necessidade dessa diferenciação em que tradicional seria o ultrapassado e

maneira como esta crise se manifesta nos diversos campos da atividade humana: na economia, na política, na ideologia, na cultura, na educação; e também da forma como esta crise se apresenta na realidade nacional e local. (TONET, 2005a, p. 232).

Embora seja grande a distância do ponto em que estamos ao ponto que desejamos chegar, é gratificante pensar que a caminhada já começou. Afinal, acredito que a formação continuada docente, atividade com uma especificidade própria de transformar situações, pode contribuir para transformar mentes que transformarão a humanidade.

Sem dúvida, o professor tem uma árdua tarefa pela frente, principalmente considerando que não terá apenas que se apropriar do saber, mas se posicionar criticamente diante dele, apesar de estar vivendo em um contexto que o impele a contrariar tudo isso.

É nesse contexto de contradições que a necessidade de se pensar e repensar o espaço/tempo da coordenação pedagógica, as atribuições e as ações do coordenador pedagógico nesse espaço, emerge, de forma incontestável, e é a essa visão da história, do espaço, das atribuições e das superações que tratarei a seguir.