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A formação continuada e o desafio de fortalecer o espaço/tempo da coordenação

2 DEFININDO AS TRILHAS DO CAMINHO

6.2 O espaço e o tempo da coordenação pedagógica: as ações, espelho das concepções

6.2.4 A formação continuada e o desafio de fortalecer o espaço/tempo da coordenação

Como visto anteriormente, de acordo com Saviani (2002), a ideia da coordenação pedagógica se estruturou no cenário da educação brasileira com o objetivo de realizar um acompanhamento sistemático do trabalho desenvolvido pelos professores nos espaços escolares e veio sendo representado pela figura do especialista da educação.

É compreensível que em função da sua origem histórica, dissociar a coordenação pedagógica da ideia de fiscalização, do controle do processo educativo ou de suporte às demandas práticas do dia a dia escolar tem sido tarefa árdua, principalmente, para os próprios coordenadores pedagógicos que precisam se constituir coordenadores pedagógicos, se reconhecendo como sujeitos no processo formativo docente no espaço escolar, para daí fomentar o caráter estritamente pedagógico da sua função.

A imagem do coordenador pedagógico está muito associada ainda àquele que está na escola para ajudar a solucionar questões emergenciais para reproduzir material para os professores.

O espaço da coordenação pedagógica deve ser concebido e valorizado como espaço de reflexão crítica e constante sobre a prática de sala de aula e as concepções que as

embasa, tendo a coordenação pedagógica, entre suas atribuições, uma boa estratégia de fortalecimento da formação continuada docente no próprio local de trabalho. Mas, o caminho inverso também pode ser trilhado. A realização da formação continuada nesse espaço/tempo também deve fortalecer e suscitar a sua valorização.

Pelas respostas dos professores regentes de ambas as unidades de ensino, o espaço/tempo da coordenação pedagógica na atual configuração foi um ganho imenso. Os professores que vivenciaram a organização anterior à jornada ampliada, na qual a carga horária dos professores de 40 horas semanais das séries iniciais era de 32 horas semanais de regência e 8 horas semanais de coordenação, falam da atual realidade e compreendem que essa configuração tem favorecido uma melhor estrutura ao trabalho pedagógico desenvolvido por eles.

Quando em um momento de conversa questionei se algum deles gostaria de voltar à antiga configuração, a resposta foi unânime: “Não!”. Isso significa que, de modo geral, apesar de ainda não ter desvinculado totalmente a ideia da coordenação pedagógica da questão da vigilância, da prescrição, e ainda, sem terem ao certo a consciência do potencial do espaço/tempo da coordenação pedagógica, para eles, as horas de coordenação pedagógica são importantes para o bom desenvolvimento do trabalho pedagógico.

Nem preciso dizer que a prática da coordenação pedagógica na SEEDF, ainda está atrelada à ideia de normatização, mas que teoricamente aparenta avançar para uma ideia de ação refletida criticamente junto ao professor, buscando diante das necessidades reais, as mudanças das práticas existentes e no sentido de ser da educação.

Faço essa afirmação porque no seu Projeto Político Pedagógico, a SEEDF traz a concepção da coordenação pedagógica como

Um espaço/tempo vivo, dinâmico, fundamentado na dialogicidade entre a comunidade escolar e a extraescolar, entre o real e o prescrito, entre a teoria e a prática, na busca da concretização do PPP da escola e, assim, vencer os desafios que inviabilizam as ações coletivas para a construção da educação pública de qualidade. (DISTRITO FEDERAL, 2012, p. 112).

Disse “aparenta”, porque apesar de parecer que houve um grande avanço, o atual Projeto Político Pedagógico do Distrito Federal atribui ao espaço/tempo da coordenação pedagógica um diálogo entre o que está fora e o que está dentro da escola, entre o que representa a teoria e a prática para a construção de uma educação de qualidade.

É exatamente aí que se pode pressupor que o PPP traz uma visão de homem e sociedade atuantes, que não se submetem às condições impostas, que se mobilizam para

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transformar as suas ações, no sentido de juntos transcenderem os limites que surgem no cotidiano escolar para a concretização de uma educação de qualidade. Todavia, em que sentido esse diálogo tem sido estabelecido? Privilegiando o conhecimento espontâneo e a cultura popular? (SAVIANI, 2012).

Enquanto forem banalizados o estudo, a pesquisa, o pensamento, a crítica e a produção de conhecimento científico, a educação, bem como a dimensão educativa da escola e dos processos formativos que ela possibilita, esse espaço de socialização e democratização do saber servirá apenas para concretizar a educação qualitativamente favorável para formar trabalhadores para a ideologia hegemônica.

As ideologias coexistem nos espaços e nas ações dos professores. Vemos essa contradição nas expressões de algumas das professoras regentes das unidades de ensino, a UE 01 e a UE 02, em relação ao significado da coordenação pedagógica para elas:

“Momento de troca de experiências e aprendizagem, além de aperfeiçoamento e reflexão da prática” (UE 01, PR 08, Questão 1 do 1° Questionário aberto).

“Momento de planejar ações para o alcance de objetivos pretendidos; com elaboração de materiais e estratégias; além de troca de experiências com os demais colegas” (UE 01, PR 02, Questão 1 do 1° Questionário aberto).

“É o momento em que o professor aproveita para planejar as suas aulas e produzir os materiais didáticos” (UE 01, PR 08, Questão 1 do 1° Questionário aberto).

“Significa um momento para buscar atividades que atendam à demanda da minha turma” (UE 01, PR 03, Questão 1 do 1° Questionário aberto).

“Um espaço de aprendizado, de troca de ideias, e principalmente de formação” (UE 02, PR 07, Questão 1 do 1° Questionário aberto).

“Momento para estudo (formação continuada), planejamento das aulas e sobretudo troca de experiências e informações entre nós, professores” (UE 02, PR 10, Questão 1 do 1° Questionário aberto).

“Momento de estudo e planejamento que visa cumprir o projeto pedagógico da instituição de ensino” (UE 02, PR 06, Questão 1 do 1° Questionário aberto).

“É o espaço que o professor tem para planejar suas aulas trocar ideias com os colegas, receber dicas” (UE 02, PR 09, Questão 1 do 1° Questionário aberto).

Como se pode observar, enquanto umas professoras regentes concebem a coordenação pedagógica como um tempo para refletir, outras a concebem como o momento apenas de agir.

É curioso e acredito ser importante destacar que nenhum dos professores regentes da UE 01 ao se referiram à coordenação pedagógica utilizou a expressão “formação”, “formação continuada” ou “formação docente”. Na UE 02, houve a ocorrência do termo “formação” em três respostas, “formação permanente” em uma resposta e “formação continuada” em outra resposta. Totalizando cinco ocorrências relacionando a coordenação pedagógica à formação do professor.

A falta dessa ocorrência no grupo dos professores da UE 01 indica que o espaço/tempo da coordenação pedagógica ainda não é visto como um espaço destinado e mais que isso, conquistado para que aconteça a formação continuada docente na própria escola.

É possível identificar que as concepções dos professores regentes sobre coordenação pedagógica se estruturam e se reconfiguram de acordo com os contextos, político e social que se corporificam na realidade de cada uma de modo que fica claro que nas duas escolas, a coordenação pedagógica tem vivido tempos de incertezas, mas, também, de significativas transformações.

De acordo com as pesquisas de Almeida e Placco (2010, 2011, 2013) e Araújo e Mundim (2012), a coordenação pedagógica é compreendida como espaço/tempo primordial para o planejamento das ações coletivas, para reflexão, para a troca de experiências, para a colaboração, para a organização do trabalho pedagógico coletivo, buscando transformar as concepções descontextualizadas que embasam o trabalho docente na perspectiva do trabalho individualizado, fragmentado, isolado.

Entretanto, para que o espaço e o tempo da coordenação pedagógica se tornem de fato propícios para construções coletivas que alavanquem transformações sociais, desligando- se das concepções historicamente construídas, é fundamental que o trabalho pedagógico desenvolvido ofereça efetivamente aos professores a possibilidade de construção do PPP com comprometido com o rompimento da exploração do homem pelo homem, em que cada professor possa ter a clareza do campo de lutas hegemônicas no qual são peças fundamentais.

Nessa perspectiva, o coordenador pedagógico assume a responsabilidade de organizar o espaço/tempo da coordenação pedagógica possibilitando o entendimento da necessidade de desenvolver a cultura que contribui para a formação do homem enquanto homem. Para isso, ele deverá tomar consciência de sua profissionalidade, de sua responsabilidade ética e de modo intencional e sistematizado, vir a produzir novos conhecimentos para serem compartilhados com seus pares visando estabelecer uma dimensão

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agregadora em suas ações, no intuito de articular as experiências e os saberes produzidos na escola.

Segundo Saviani (1988), essa ação, nesse caso do coordenador, na realidade vai possibilitar que ele alcance um nível maior de consciência de si e das reais necessidades de criar novas situações formativas, ou seja, transformar sua realidade em função dos seus objetivos e, também, abrir espaço para a construção da autonomia do trabalho docente, bem como a construção da identidade e da autonomia da escola.

Na concepção marxista, o trabalho é concretizado na articulação da transformação e da humanização considerando a intenção do homem sobre a natureza, ou seja, na reflexão e na ação, na práxis, que desencadeia processos analíticos e naturalmente de crítica e de emancipação do homem. A conquista do espaço/tempo da coordenação pedagógica deve remeter o coletivo à essa compreensão, de que ele se constitui em poderosa possibilidade de transformação e emancipação humana.

Mais adiante, busco compreender a ação do coordenador pedagógico na escola da atualidade, o seu papel e a sua responsabilidade de fortalecer a formação no espaço/tempo da coordenação pedagógica.

Essa compreensão vai me ajudar a situar as relações estabelecidas nas unidades de ensino pesquisadas, a atuação de ambas as coordenadoras no ambiente escolar e possibilitar um aprofundamento na compreensão das ações e concepções que embasam as suas práticas e que dizem respeito ao modo que cada uma escolhe para percorrer os seus caminhos e se fortalecer na função.

6.2.5 A Formação continuada e o desafio de fortalecê-la no espaço/tempo da coordenação