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A formação continuada e a constituição da identidade das UE's

2 DEFININDO AS TRILHAS DO CAMINHO

6.2 O espaço e o tempo da coordenação pedagógica: as ações, espelho das concepções

6.2.8 A formação continuada e a constituição da identidade das UE's

Outro desafio que se apresenta ao coordenador pedagógico é o de organizar o trabalho de forma que possibilite reflexões a respeito das transformações que a escola necessita, não apenas reagir às dificuldades que surgem no cotidiano. Agir para construir. Construir a consciência de coletivo, a visão da coresponsabilidade do trabalho educativo, a

identidade da escola, tendo um trabalho não ritualizado, mas que apresenta uma organização compartilhada, refletida, discutida e decidida por todos.

Vi que na UE 01 há uma organização, mas que essa organização não tem favorecido a ultrapassagem do nível de reação às demandas de uma escola grande com seus muitos problemas. Essa realidade é expressa na fala da CP 01 a respeito de como ela espera que seja a formação continuada no espaço escolar:

Ah! A gente trabalha assim, procurando alcançar objetivos. Por exemplo, essa escola aqui como ela é muito cheia, tem coisas que a gente não consegue fazer por conta do espaço restrito. Por exemplo, trabalhar a psicomotricidade com alunos de primeiro ano você não consegue. Tem um pátio ali que se fizer barulho vai incomodar os outros alunos. Tem uma quadra que tem horários de quinta a oitava série e ensino médio. Claro! Tem que ter. Está na grade! Então, tem coisas que a gente tenta de alguma forma, mas nem sempre a gente consegue.

Como é possível observar na fala da CP 01, os objetivos levantados nos momentos de formação na UE 01, estão voltados para a organização, em princípio, das questões da prática em si - psicomotricidade. É claro que as questões da prática não são de menor importância, mas se tornam limitadas quando se restringem apenas ao fazer, tornando as ações intuitivas baseando-se em abstrações desarticuladas aos temas e conteúdos necessários à formação humana.

Considerando que a profissão docente é precipuamente intelectual, até para “saber-fazer” é necessário compreender a teoria que embasa esse saber impelindo o indivíduo a aprender baseando-se em conteúdos e habilidades que ligam a sua qualificação ao mercado de trabalho. Contudo, faz-se necessário também ultrapassar esse fim tendo a noção ampla do trabalho como princípio vital para a formação do ser social, sendo o homem capaz de transformar conscientemente a própria realidade (JIMENEZ; MAIA, 2013).

Sob essa ótica, o embasamento teórico, segundo Mello (1982), vai indicando a perspectiva do compromisso político, realizando a mediação da competência técnica e se constituindo em condição necessária, embora não suficiente, para a realização desse mesmo sentido político da prática docente para o professor. Esse movimento vai gerar transformações nas concepções e, por consequência, nas práticas dos professores.

Ainda com a intenção de compreender as perspectivas da organização dos momentos da formação continuada na coordenação pedagógica, perguntei de onde surgiam os temas a serem trabalhados, o roteiro por ela referenciado. A CP 01 afirmou:

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De onde surgem esses temas? Esse roteiro, principalmente de algumas questões que são levantadas pelos professores. Por exemplo, a gente está assim com um problema sério de agressividade. Os alunos estão muito agressivos, eles batem muito, então, a partir de temas assim a gente procura pontuar como é que a gente trabalha, como é que a gente faz em sala de aula. Eu entro na sala e converso com os alunos. A direção também é dessa forma.

Mais uma vez, como vemos no trecho acima, a interlocutora se refere a um problema já instaurado, confirmando assim, que o trabalho se organiza para responder às situações que surgem do cotidiano escolar – problema de indisciplina; ainda não na perspectiva preventiva de superar o possível caráter fragmentário das práticas educacionais características do atual sistema e as questões subjacentes a essa lógica e que provavelmente favorecem não apenas o problema de indisciplina, mas o da não aprendizagem, da evasão e tantos outros problemas tão presentes nas escolas da atualidade.

Reforçando essa caracterização da dinâmica que acontece no espaço/tempo na UE 01, a PR 03, afirmou que em termos práticos, “durante as reuniões ocorre às vezes, preenchimento de formulários ou resposta a questionamentos” e a PR 10 afirmou que ela sempre participa das reuniões e leva proposições “apesar de as reuniões terem sido, em sua maioria, para passar informes”.

Na UE 02, tanto pela fala dos interlocutores como pelo que vi nos momentos de observação, há um trabalho na perspectiva preventiva além da perspectiva interventiva na qual o trabalho coletivo favorece essa construção como afirma a CP 02:

A gente se organiza pedagogicamente de maneira a nortear o trabalho do professor de forma unificada, mesmo existindo as diferenças de atuação de cada um. Com esse trabalho colaborativo a gente consegue pensar e criar estratégias pedagógicas que realmente possibilitem um trabalho diferenciado que evite que muitos alunos necessitem do reforço, de participar do projeto interventivo. A gente pensa em evitar o incêndio e não apagar o fogo! (risos). (Entrevista).

Considerando os três níveis de atuação do coordenador pedagógico: “1) resolução dos problemas instaurados; 2) prevenção de situações problemáticas previsíveis; 3) promoção de situações saudáveis do ponto de vista educativo e socioafetivo” (VILLELA; GUIMARÃES, 2010, p. 59), é possível perceber com clareza o nível no qual se encontra o trabalho em cada UE. A UE 01, ainda trabalha na perspectiva de resolver os problemas instaurados enquanto que a UE 02 já transita entre a prevenção de problemas e a promoção de situações saudáveis.

O grande problema de se manter no nível 01, é que o potencial de trabalho tanto dos professores como dos coordenadores fica subsumido aos problemas cotidianos não

favorecendo a articulação do coletivo no alcance das metas estabelecidas pelo próprio coletivo e registradas no PPP da escola, fator que dificulta o amadurecimento do grupo e a constituição da sua identidade.

Compreendo que os três níveis de atuação são necessários e até fundamentais para a constituição do trabalho do coordenador pedagógico, mas a CP 01 e a CP 02 precisam ficar alertas, pois o trabalho que se mantém no nível 1, de modo a “correr atrás do prejuízo” trará muito desgaste à figura do coordenador pedagógico e prejuízo ao trabalho e ao crescimento do grupo, principalmente em trilhar caminhos participativos de consciência crítica e de luta pela construção de uma escola melhor (VEIGA; QUIXADÁ VIANA, 2012, p. 25).

Dessa forma, apesar de a escola apresentar necessidades urgentes, mais uma vez destaco a importância do planejamento e da organização intencional do trabalho pedagógico estabelecendo metas a serem alcançadas, estratégias a serem utilizadas para que o trabalho tenha fundamentação teórico-metodológica e saia do nível incidental de concretização do PPP.