• Nenhum resultado encontrado

2 DEFININDO AS TRILHAS DO CAMINHO

6.1 Evidenciando a realidade

6.1.2 Encontros e desencontros

A primeira visita que fiz às escolas foi no dia 02 de fevereiro de 2014 para conversar com os gestores e com as coordenadoras, falar sobre a pesquisa e pedir um tempo no espaço da coordenação coletiva para apresentar o projeto de trabalho. Acredito ser importante pontuar que nesse dia, encontrei a coordenadora da UE 01 em sala de aula substituindo uma professora, entretanto, apesar disso, esta me recebeu prontamente e se colocou à disposição em organizar o grupo para participar do momento por mim proposto.

O segundo encontro, em função de algumas demandas da CRE, só foi agendado para o dia 19 de fevereiro de 2014, data na qual apresentei o projeto nos dois turnos para todos os professores das duas UE's que se interessaram em conhecê-lo.

A partir daí, os encontros foram semanais, sempre nas quartas-feiras. Na maioria das vezes compareci em turnos alternados, ou seja, se em uma quarta feira eu ia pela manhã para uma escola, na quarta feira seguinte eu ia no turno vespertino. Mas, também, houve dias nos quais eu compareci em ambos os turnos nas duas escolas, dependendo da necessidade que senti em participar dos momentos de coordenação e de formação. Assim, as visitas foram realizadas de fevereiro a julho de 2014, porém, com uma pausa em junho em função do recesso por causa da Copa do Mundo realizada no Brasil.

Houve receptividade por parte da direção e das coordenadoras pedagógicas imediatamente após eu explicitar os objetivos da pesquisa. Nesse mesmo dia acertamos que eu teria um tempo da coordenação pedagógica coletiva para apresentar a proposta ao grupo de professores, coordenadores e gestores.

Na quarta feira, 19 de fevereiro, apresentei o projeto aos grupos, momento em que travamos um diálogo bastante produtivo. Senti a receptividade dos professores regentes diante de vários questionamentos e preocupações, o que tornou o momento muito interessante. O grupo se posicionou quanto à importância da pesquisa em função do tema proposto para ser investigado que consideravam atual e carente de reflexões.

Iniciei efetivamente a partir daquele momento um processo ininterrupto de idas e vindas à escola. Após a Copa do Mundo retornei às UE's procurando dirimir algumas dúvidas a respeito da formação continuada docente no espaço/tempo da coordenação pedagógica.

A cada encontro tentei maior aproximação e envolvimento com o grupo tendo além do intuito de conhecer a dinâmica organizacional da escola, o cuidado de interferir o

80

mínimo possível na rotina das unidades escolares nos momentos de observação e participação formal.

Como mencionada anteriormente, no início procurei participar nos turnos matutino e vespertino. Depois alternei a observação nos turnos buscando fortalecer o processo de investigação e participar dos momentos de formação continuada nas duas escolas, com os quatro grupos de professores regentes das duas unidades escolares. Com essa organização, consegui alcançar as condições necessárias para o desenvolvimento da pesquisa.

No período da minha observação da coordenação pedagógica coletiva na UE 01, ou seja, nos 12 momentos nos quais estive presente no espaço/tempo da coordenação pedagógica das quartas-feiras, não tive a oportunidade de participar de nenhum momento coletivo com todos os segmentos e nem de formação continuada, o que indica que nela, ainda não há uma clara organização do trabalho pedagógico e não se tem uma dinâmica consolidada de formação continuada docente.

Considerando as especificidades de cada escola, vivenciei uma dinâmica bastante diferente na UE 02. Todas as quartas em que realizei as observações, com exceção de duas, dia 12 de março que os professores do BIA haviam sido convocados para um encontro do PNAIC e dia 07 de maio que houve paralisação geral convocada pelo CNE, encontrei os professores reunidos na sala de leitura/educação integral em momento de formação continuada e planejamento pedagógico com uma pauta, um texto base para discussão, em geral um artigo científico e o currículo para o planejamento da quinzena.

Também houve momentos em que foram convidados professores de outras unidades escolares com experiência em psicomotricidade e matemática para compartilharem experiências com as professoras da UE 02. E momentos ainda, que as professoras se deslocaram para um pólo da EAPE que há na cidade para participarem de formação matemática organizado em parceria entre a CP 02 e duas tutoras do PNAIC.

Apresentando condições diferenciadas, mas problemas semelhantes, as duas coordenadoras das UE's conduziam a organização do espaço/tempo da coordenação pedagógica e a formação continuada docente de forma peculiar.

Acredito que esse agir diferenciado seja determinado pela constituição da própria coordenadora pedagógica na qualidade de sujeito, assumindo cada vez uma postura de liderança dentro dos diferentes espaços de suas experiências profissional e social, gerando novas zonas de significação para a organização do espaço no qual atua.

A CP 01 está na coordenação pedagógica há dois anos, mas não teve formação específica para exercer essa função e afirma que,

A Secretaria de Educação deveria realmente dar algum curso, alguma formação voltada para a coordenação pedagógica sim. Até por que, quando você entra numa função de coordenador você é professor, você saiu de uma sala de aula, então você está num ambiente que não conhece ainda. Sabe do pedagógico que ele está, mas o funcionamento, a engrenagem da escola funcionando, a gente não tem isso, a gente aprende com a prática, não é? Mas eu acho que sim, é muito válido. (Entrevista).

E a CP 02 apesar de exercer a função de coordenadora pedagógica há 15 anos, também não teve formação específica em coordenação pedagógica. A respeito dessa falta de formação afirma:

Assim que fui coordenadora, tive a oportunidade de trabalhar com um grupo que já constituía coordenador. Nesses 15 anos como coordenadora só trabalhei com equipes altamente pedagógicas [...] Então, isso me ajudou muito. (Entrevista).

Essa necessidade formativa se articula com o direito estando prevista na legislação, Art. 64 da LDB, e implica em os Estados terem o dever de propiciar além da formação inicial, a formação continuada aos docentes e que o direito a esta “formação não pode fugir de seu compromisso básico com a docência cujo processo formativo não dispensa nem o ato investigativo da própria práxis e nem o contato com a produção intelectual qualificada da área” (CURY, 2000, p. 2).

De fato, durante muito tempo não houve formação específica para os professores que iriam atuar como coordenadores pedagógicos, seja no nível local, intermediário ou central. Essa formação específica iniciou a partir de 2012, como dito anteriormente ao relatar sobre minha própria experiência, com o curso de especialização lato sensu em Coordenação Pedagógica oferecido para os coordenadores da rede em efetivo exercício, por meio do convênio firmado entre a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal – SEEDF e a Reitoria da Universidade de Brasília – UnB, via Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares - CEAM, pela Coordenação de Formação Continuada – CFORM.

Pela minha própria experiência posso afirmar que a fundamentação teórica dessa especialização e organização didático-pedagógica, encaminha os estudos e as reflexões na perspectiva de romper com muitos paradigmas da educação reprodutivista por meio do fluxo da teorização crítica, favorecendo a transmutação de questões que hoje estão no cerne da função de coordenar para transcender a cisão entre teoria e prática.

82

As discussões suscitadas, os textos lidos e os trabalhos realizados dão de fato condições ao coordenador pedagógico de refletir sobre o seu papel, como organizar o trabalho pedagógico e a formação continuada dos professores com maior segurança, de forma que o trabalho tenha objetivos mais amplos do que apenas refletir sobre a prática docente e seja encaminhado colaborativamente para atinja os seus objetivos.

No segundo semestre de 2014 iniciou a segunda turma do citado curso. A CP 02 está cursando essa especialização e participando do processo seletivo para o mestrado acadêmico também da UnB.

Observando a dinâmica das escolas e a atuação das coordenadoras pedagógicas, identifiquei a necessidade delas se dedicarem mais especificamente às atividades pedagógicas e à formação continuada do professor, mas para isso, o coordenador pedagógico também precisa de formação continuada, pois sendo sujeito formador, precisa se atualizar constantemente para exercer de forma competente sua função.

Como visto, ambas apontam a falta de formação específica como fator que dificulta a atuação do coordenador pedagógico. Desse modo, cada uma vai, a seu modo, em encontros e desencontros, se constituindo coordenadora e desenvolvendo habilidades para superar as dificuldades que surgem no fazer pedagógico.