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CAPÍTULO II. O DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO PARA AMÉRICA

2.2 O agenciamento da política de desenvolvimento na Colômbia

2.2.2 A Frente Nacional e a Aliança para o Progresso

Segundo Rojas (2010: 98), depois do Brasil, a Colômbia foi o segundo país durante a década de 60 que mais recebeu ajudas econômicas dos Estados Unidos através da Aliança para o Progresso com 886 milhões de dólares. Isto aconteceu, exprime a autora, porque dada a necessidade de mostrar resultados rapidamente, Washington considerou que pela condição de aliado incondicional que tinha mostrado a Colômbia na cruzada anticomunista e a vontade política de fazer as reformas por parte do bipartidarismo no poder, o país seria uma boa vitrina para publicitar o programa.

O primeiro presidente de “El Frente Nacional” (1958-1962) foi Alberto Lleras Camargo, que fora também o primeiro secretário geral da OEA. (1948-1956) e que tivera a confiança do governo dos Estados Unidos, pois, declarado abertamente anticomunista, já como presidente da Colômbia, rompeu relações diplomáticas com Cuba no dia 9 de dezembro de 1961 e alguns dias depois foi importante para conseguir que Cuba fora expulsa da OEA na reunião realizada em Ponta do Leste (Tirado Mejía, 2012:19).

Em 1960, Lleras Camargo, como presidente dos colombianos, visitou o Congresso dos Estados Unidos, onde disse:

¿Qué debemos, qué podemos hacer por América Latina? A todos les he dicho lo mismo, y me han pedido que lo repita en la más alta tribuna de vuestra nación: ayudar a esos pueblos a salir de la etapa final de su subdesarrollo, pero antes de que su atraso se convierta en una marcha atrás, en una desbandada, en un desastre histórico […] Necesitan estos pueblos, y no de cualquier manera sino con urgencia y amplitud, una ayuda exterior que debería tener específicamente la forma de crédito para la empresa inaplazable y remunerativa de su desarrollo económico. Si los principios de la libre empresa y de la iniciativa privada, y los que fundamentan la organización política del hemisferio son ciertos, en diez, quince o veinte años, con un gran impulso dado por el capital extranjero a los Estados latinoamericanos, el hemisferio entero puede ser inexpugnable por su prosperidad a

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cualquier intento de anarquizarlo para promover la dominación de una política extraña (Lleras Camargo, 1960)8.

Em dezembro desse mesmo ano, o presidente Kennedy visitou a capital colombiana onde inaugurou um programa de vivenda popular que mais adiante seria chamado Ciudad

Kennedy.

Durante o governo de Lleras Camargo, a Colômbia elaborou junto à Cepal seu Plano Decenal de Desenvolvimento (1960-1970), que, uma vez avaliado por Washington, começou-se a executar através do sistema de empréstimos dos Estados Unidos e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Seguindo as recomendações feitas pelas comissões de desenvolvimento que tinham ido à Colômbia desde a Missão Currie, Lleras Camargo impulsou um programa de reforma agrária mediante a Lei 135, de 1961, com vistas a redistribuir as terras produtivas do país e ocupar os baldios da nação. Para Lleras Camargo, a Colômbia precisava uma transformação no campo, mesmo que controlada, ante o avanço das simpatias que a luta guerrilheira triunfante em Cuba tinha tido nas guerrilhas camponesas conformadas a partir do despojo de terras e a violência bipartidária. (Henderson, 2006). Na época, Lleras Camargo falava assim:

En Rusia, en China, en Polonia, en Hungría y, en general en todas las naciones sometidas a la dictadura comunista, el gran obstáculo al comunismo ha sido la resistencia heroica o pasiva del campesino a la colectivización de la tierra y a la destrucción del concepto de la propiedad privada. Esta sola consideración nos lleva a sugerir que la creación de más pequeños propietarios será la manera más efectiva de afirmar y de preservar el sistema político que los partidos tradicionales colombianos han suscrito con coherencia (Citado por Henderson, 2006: 572).

Criou-se o Instituto Colombiano da Reforma Agraria (INCORA) como a instituição pública encarregada de coordenar sua realização. Adicionalmente, os Estados Unidos enviaram mais de mil voluntários de Paz para trabalhar nos projetos de desenvolvimento no campo colombiano. Porém, a reforma agrária contou desde o começo com a oposição dos agroindustrais que foram representados pelos conservadores, com a liderança de Ospina Peréz. Apesar das expetativas geradas, para 1967 o programa de terras entregara apenas a 54.000 de aproximadamente 500.000 famílias sem-terra que existiam para esse ano; pelo contrário, a agricultura mecanizada crescera no país(Rojas, 2010:110).

8http://www.lablaa.org/blaavirtual/exhibiciones/lleras/pdf/carpeta-37/documento-547.pdf. Acesso 1 de setembro, 2015.

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Além disso, outra dificuldade para realizar a reforma agraria teve a ver com a persistência da violência no país, pois durante o período na Frente Nacional ela apresentou não só um aumento, mas também uma mudança quanto aos seus protagonistas e os seus objetivos, pela influencia ideológica que Cuba exercia na região.

Em 1961, no Congresso da República, o senador conservador Alvaro Gómez Hurtado, filho do ex-presidente Laureano Gómez, denunciou o que ele chamou de “Repúblicas Independentes”. Originadas em lugares “remotos” da geografia nacional, como zonas de autodefesa camponesa durante a violência que aconteceu depois da morte de Jorge Eliecer Gaitán, tornaram-se logo pequenas comunas agrárias autogovernadas por grupos insurgentes que se negaram a entregar as armas durante as anistias oferecidas pelo governo militar de Rojas Pinilla.

Para muitos, as chamadas Repúblicas Independentes não eram uma ameaça real para a soberania nacional. Para outros, eram foco de guerrilheiros revolucionários capazes de ameaçar a República Democrática Colombiana. Em 1963, e já tendo como presidente o conservador Valência, desenhou-se o que se chamou o Plano Laso (Latin American Security Operation) auspiciado pelos Estados Unidos e que tinha como intuito acabar com as guerrilhas comunistas no país.

Em junho de 1964, sob o nome de Operación Soberanía, o Exército colombiano com cerca de 2.000 homens atacou Marquetalia, uma das chamadas Repúblicas Independentes que se havia tornado símbolo delas. Da emboscada realizada pelo Exército lograram fugir seu líder Manuel Marulanda Vélez (apelidado Tirofijo) e vários guerrilheiros que continuaram na insurgência como força móvel. (Henderson, 2006: 590-592).

Para Pizarro Leóngomez (1989), a operação militar realizada em Marquetalia foi um erro militar que teve um custo político alto, pois o fato de “Tirofijo” e os outros guerrilheiros terem escapado do cerco militar preparado pelo Exército veio a ser o mítico inicio fundacional das Forças Revolucionarias Armadas de Colômbia (FARC), criadas formalmente dois anos depois. Em 07 de janeiro de 1965, no Departamento de Santander, nascia o Exército de Liberação Nacional (ELN.), formado principalmente por pessoal vinculado aos movimentos políticos das universidades públicas do país. Se a ameaça comunista era só um temor antes da Operação Marquetalia, tornaram-se uma realidade com as guerrilhas comunistas na procura do poder.

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Em 1961, ainda durante o governo de Lleras Camargo (1958-1962), publicou-se o informe elaborado por Rudolph Atcon, que fora enviado como parte do programa Aliança para o Progresso, a fim de fazer um diagnóstico da universidade latino-americana a partir de uma pesquisa em universidades do Brasil, do Chile e de Honduras.

A proposta de Atcon procura fazer recomendações para organizar a universidade de acordo a um modelo gerencial. No informe procurou-se exprimir recomendações que permitissem integrar os processos da educação superior nos planos de desenvolvimento econômico, pois a educação, sobretudo a universitária, devia contribuir significativamente na formação de recursos humanos para o crescimento econômico planificado e, portanto, ajudar a acrescentar o bem-estar da população.

La educación empieza a ser pensada como si se tratase de un proceso productivo, en donde los objetivos deben ser medibles y controlables, para obtener precisamente la eficacia, el rendimiento y la rentabilidad. El diseño industrial y productivo, se convierte en diseño instruccional (Botero, 2005:10).

Precisava-se de uma educação superior massificada, que através de cursos de curta duração formariam pessoal com destrezas técnicas e conhecimentos que facilitassem a entrada dos graduandos no mercado de trabalho. O informe precisava que a autonomia da universidade e sua despolitização faziam-se necessária para a missão que a universidade estava destinada a cumprir no processo de desenvolvimento dos países latino-americanos.

Dentro de esta dinámica a comienzos de la década del sesenta (1962-1964) los rectores de Universidades colombianas asisten a una serie de seminarios en el Paso-Texas, en los cuales se trata la política universitaria, su estructura académica, la administración y las finanzas. En esta misma época el país, producto de la política de la

Alianza para el Progreso, comienza a ser beneficiado por una serie

de préstamos de organismos internacionales (bancos y fundaciones norteamericanas) que tienen por objeto modernizar la Universidad y desarrollar procesos de especialización e investigación, con énfasis en la tecnología (Jiménez e Figueroa, 1999:188).

Assim, em 1968 acordou-se o Plano Básico para a educação superior na Colômbia, financiado pelo Banco Mundial e com assessoria de uma missão para a educação superior da Universidade de Califórnia que ajudou na sua construção. Redesenhou-se a universidade organizada em departamentos, criaram-se novos programas acadêmicos, enfatizou-se na formação professional com estudos gerais e a promoção da relação produção-conhecimento através de redes internacionais de informação. Nesse mesmo ano criou-se o Instituto

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Colombiano para o Fomento da Educação Superior (ICFES), para que se tornasse a instituição estatal encarregada de planejar a educação no país. A cobertura educativa no nível universitário passou de 20.000 estudantes em 1958 a 138.000 em 1974 (Jiménez e Figueroa,1999).

Porém, é importante frisar, que se bem o Informe Atcon e o Plano Básico propunham a massificação da educação universitária, o aumento da cobertura universitária na Colômbia não significou a inclusão dos setores mais populares da população colombiana no sistema universitário. Pode-se explicar esta situação primeiro pela preponderância das universidades privadas sobre as públicas, as quais visaram a educação como um negócio rentável, apesar de que a criação do ICFES tentasse exercer um controle sobre elas. Além disso, para Rama (1970), no projeto politico da concentração econômica por parte das elites colombianas, o ingresso das grandes massas nos benefícios do consumo capitalista implicava uma redistribuição do ingresso, o que afetava a concentração mesma, por isso:

[…] se realiza una integración gradual de clases medias y de ciertos sectores proletarios industriales en los beneficios sociales - desde la educación al consumo de bienes - relegando en una zona periférica a la mayoría marginada. Si con los actuales niveles de oferta educativa se logra el reclutamiento de la mano de obra para el sector moderno de la economía, la ampliación cuantitativa y cualitativa de la oferta no es necesaria ni conveniente para esta estrategia de desarrollo, y sus efectos sociales serían igualmente negativos porque adelantarían el proceso de demandas sociales consideradas funcionalmente negativas para aquella estrategia (Rama, 1970:191).

Como o demostra Rama (1970), a universidade tanto pública como privada na Colômbia foi principalmente uma universidade para as elites e as classes médias emergentes, que funcionou segundo um sistema de títulos que hierarquizava a população universitária de acordo com o prestígio da universidade e do programa acadêmico que se cursasse.

Quanto à educação média e primária na Colômbia, também aumentou sua cobertura, só que ela concentrou-se nos centros urbanos. Em 1970, segundo Jiménez e Figueroa (1999), noventa por cento da escola secundária colombiana estava concentrada nas cidades, das quais cinquenta e três por cento dos estudantes estavam matriculados em instituições privadas. Na zona rural não se logrou a reforma agrária para reorganizar a posse da terra e evitar assim sua concentração e a predominância do latifúndio no campo colombiano, nem tampouco se tentou implantar a possibilidade de uma educação de acordo as necessidades do campo, pois

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o modelo educativo estava desenhado para responder as necessidades de uma mão de obra industrial e assalariada, mas sim foi implantada uma política que mudou fortemente os modos de cultivar, de acordo aos critérios de um modelo desenvolvimentista.

A intensificação da produtividade agrícola que os Estados Unidos experimentaram a partir dos anos 40 do século XX, devido às pesquisas científicas realizadas em plantações no México pela Fundação Rockefeller, permitiu a elaboração de técnicas de tratamento genético das sementes, a criação e uso de pesticidas, fertilizantes e a predominância da monocultura sobre a rotação de cultivos. Tentou-se logo espalhar pelo mundo inteiro, primeiro pela Europa e logo pelos países “em via de desenvolvimento”, como Índia e Filipinas, com a promessa de eliminar a fome do mundo. Aquilo que em 1960 já se chamava de Revolução Verde, chegou a América Latina coincidindo com as políticas do desenvolvimento.

De esta manera, organismos de carácter internacional, como la Organización de Estados Americanos (OEA), la Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la Agricultura (FAO) y las fundaciones Kellogg, Rockefeller y Ford fueron determinantes en la implementación de Planes de estudios de carácter técnico, la financiación de infraestructura, la capacitación de docentes, la publicación de material bibliográfico y el diseño de sistemas de investigación y transferencia de tecnología hacia los productores rurales (Torres, 2014:139).

Para León e Rodriguez (2002), o modelo da Revolução Verde precisava de condições sociais e econômicas estáveis quanto à propriedade da terra. Além disso, precisava-se de produtores com condições para poderem comprar a maquinaria, equipes e insumos gerados pelos processos de pesquisa e aplicabilidade de conhecimentos, sob a ideia que a tecnologia poderia impulsar o desenvolvimento rural.

No caso da Colômbia, e em concordância com este modelo rural, o governo criou em 1962 o Instituto Colombiano Agropecuário (ICA), organismo que tinha como funções principais fornecer assistência técnica e adiantar pesquisa em agricultura. Também, o estado na década dos 60, ajudou a mecanização da agricultura, com a eliminação de tarifas aduaneiras para a importação de maquinaria, além da facilidade dos empréstimos para comprar maquinarias e insumos agrícolas. Estas tecnologias foram apropriadas pela agricultura industrial, onde a agricultura camponesa de produtos perecedouros que abasteciam os centros urbanos na Colômbia encontrou-se marginalizada, pois além das dificuldades para acessar as tecnologias seus requerimentos e suas lutas eram primeiramente pela possibilidade de contar com terras

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para serem cultivadas (Gómez, 1989), o que foi frustrado pelo fracasso da reforma agrária impulsada pelo governo de Lleras Camargo.

Num informe da Comissão Econômica e Social da ONU do mês de agosto de 1967, frisa-se que:

Pese a que Colombia tiene una extensa superficie agropecuaria de explotación mecanizable y a que en los últimos veinte años ha cundido el uso de la maquinaria agrícola, ésta se emplea solamente en una pequeña proporción de los cultivos susceptibles de mecanización. En muchas zonas agrícolas del país, sobre todo donde predominan el minifundio y la agricultura de subsistencia, y en las haciendas ganaderas extensivas, se utilizan aún de preferencia la tracción animal y las herramientas tradicionales como el arado de chuzo y el azadón (ONU, 1967)9.

O informe destaca o esforço do governo colombiano por dar crédito aos agricultores com o intuito de adquirir maquinaria que ajudassem para a mecanização do campo e assinala que:

[…] es deseable que el Gobierno propicie y elabore un plan para acelerar la creación de cooperativas o empresas que tengan como finalidad arrendar maquinaria a pequeños propietarios a precios razonables ya que estos campesinos no tienen capacidad para comprar equipo (ONU, 1967).

Finalmente, o informe visa com preocupação a pouca quantidade do pessoal qualificado que pode operar a maquinaria agrícola no país. Porém, considera que vai se estimular a capacitação desse pessoal com o Centro Sul-americano de Mecanização Agrícola, o qual será possível pelo convênio entre o governo colombiano, a FAO e a empresa britânica de maquinaria agrícola Massey-Ferguson.

Dicho centro formará especialistas para tareas de extensión en maquinaria agrícola, instructores y supervisores en el manejo de maquinaria, para mantenimiento preventivo y de campo, control de proyectos, personal de talleres, mecánicos y organizadores y profesores de cursos especializados (ONU, 1967).

O Centro foi inaugurado em novembro de 1967, a 40 quilômetros da cidade de Cali, na Colômbia. Também próximo a Cali, o Grupo Consultivo para a Investigação Agrícola Internacional (CGIAR), constituído em seu inicio por fundações como Rockefeller, Ford, Kellogg, entre outras, em colaboração com a ONU, criou o Centro Internacional da Agricultura Tropical (CIAT), que até hoje realiza pesquisa na procura de melhorar a

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produtividade agrícola e assessora na utilização dos recursos naturais em países tropicais e em via de desenvolvimento.