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A Fundarpe como órgão central na política cultural de Pernambuco

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Patrimônio Cultural

CAPITULO 4 A LEGISLAÇÃO PARA SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL EM PERNAMBUCO

4.2 A Fundarpe como órgão central na política cultural de Pernambuco

A lei estadual nº 7.970, de 18 de setembro de 1979, voltada para proteção do patrimônio cultural de Pernambuco e responsável pela instalação do Sistema de Tombamento, teve por base o decreto-lei nº 25 de 1937. Essa lei foi logo regulamentada pelo decreto nº 6.239, em 11 de janeiro de 1980.

Estava assim criada a base jurídica para nova e abrangente ação de preservação dos bens culturais de natureza material no estado de Pernambuco, que previa, assim como a legislação federal, os critérios de proteção, os Livros de Tombo para a inscrição dos bens tombados, as instituições responsáveis pelo processo de tombamento e etc.

Ao analisar de forma crítica a narrativa de MENEZES (2008) sobre o processo de integração da Fundarpe ao Sistema Estadual de Tombamento de Pernambuco, nos deixa entender que houve uma mudança de prioridades da Fundação na gestão da política cultural no estado a partir dos anos 1980 ao deixar de lado uma das principais atividades que a tornaram uma instituição técnica de prestigio no cenário regional, a restauração de bens arquitetônicos. Pois, de acordo com ele além de uma atuação mais focada na eleição dos bens culturais como patrimônio histórico e artístico de Pernambuco, o que consumia mais tempo e recursos humanos e financeiros, as obras de restauração realizadas pela Diretoria de Patrimônio Histórico perderam o lugar de prestígio dentro da própria Fundarpe com a concorrência da Diretoria de Assuntos Culturais que aumentava suas atuações na gestação da política cultural efetuada pela Fundação, já que “esperava-se que a via cultura consagrando eventos e outras atividades poderia ser uma maneira de sobreviver da instituição” (MENEZES, 2008: 95).

Não entrando no mérito da desculpa do gestor, pois como já questionamentos anteriormente as denúncias de MENEZES (2008) sobre a suposta falta de recursos humanos, em primeiro momento, e, depois, financeiro da Fundarpe para cumprir com suas obrigações enquanto instituição técnica e estratégica na condução da política cultural em Pernambuco. É fato que a Diretoria de Assuntos Culturais teve grande destaque na década de 1980, visto que ao analisar o relatório da gestão da Fundarpe de 1983 – 1987, somente a Casa da Cultura, vinculada a Fundação, realizou 842 eventos culturais de médio e grande porte como peças de teatro, apresentações culturais, shows, etc.

Outra via adotada pela Fundarpe para “manter-se ativa no cenário cultural pernambucano e também nacional”, usando a expressão de MENEZES (2008), foi à proposta de edição ou reedição de obras de atores consagrados entre pesquisadores e alunos de Ciências Humanas e Sociais das universidades no estado.

Em 1979, assumia a Diretoria de Assuntos Culturais da Fundarpe o jornalista Alberto Tavares de Cunha Mello, que tinha uma longa experiência em editoração de livros. A Fundação ainda não tinha desenvolvido o programa editorial para divulgação de suas atividades e das ideias produzidas pelos seus colaboradores, atividade crucial para difusão de uma conscientização patrimonial para os intelectuais da época. Identificando essa lacuna na difusão da cultura pela Fundarpe como uma oportunidade, o Diretor de Assuntos Culturais da Fundação optou em editar ou reeditar aquelas que seriam consideradas as melhores obras e que poderiam trazer algum retorno financeiro. Para essa tarefa, contou com a colaboração efetiva do historiador José Antonio Gonçalves de Mello, que exerceu a função de assessor nas escolhas de tais obras.

Ao todo foram editados 79 títulos, praticamente uma obra por mês. Para MENEZES (2008), tratava-se de uma atividade que dava à Fundarpe as condições de cumprir naquele período o objetivo de divulgar a cultura pernambucana. Entre essas obras, estão: a reedição dos 10 volumes da obra do historiador Francisco Augusto Pereira da Costa, sob o titulo anais pernambucanos; a edição o livro do escritor Mauro Mota, Antologia em verso e prosa; o livro do memorialista Mário Sette, Arruar; o livro do compositor Capiba, sob o titulo Capiba: os livros das ocorrências, entre outras obras que seria impraticável citá-las nesse parágrafo.

Durante o governo de Miguel Arraes (1986 – 1990), há uma grande reforma administrativa na máquina burocrática do Estado de Pernambuco. Nessa reforma, foi

extinta a Secretária de Turismo, Cultura e Esportes. No lugar, foram criadas a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes e a Secretaria de Turismo. A Fundarpe passou a exercer a função de órgão executor da Política Cultural de Pernambuco, sendo integrados a ela o Museu do Estado, o Museu de Arte Contemporânea e o Arquivo Público, instituições antes vinculadas à Secretaria de Turismo. A estrutura da Fundarpe, então, se tornou bem mais ampla, pois incluíram o Conselho Editorial, a Coordenadoria dos Museus, a Diretoria do Sistema de Bibliotecas e Documentação e o Núcleo de Programação Visual, planejados no início do governo Arraes.

A partir da década de 1990, com Fernando Henrique Cardoso (FHC) na presidência da República, foi consolidado um processo de privatização do setor da cultura no Brasil que teve início com presidente anterior, Fernando Collor de Mello. O governo de FHC atuou no campo da cultura através da política de incentivo fiscal, para atender principalmente à produção cultural de iniciativa privada. Segundo o antropólogo Alexandre Barbalho:

Em termos básicos, este formato propõe uma relação entre poder publico e setor privado, onde o primeiro abdica de parte dos impostos devidos pelo segundo. Este, em contrapartida, investe recursos próprios na promoção de determinado produto cultural. A ideia não é apenas a de estabelecer incentivos à cultura, mas, principalmente, de introduzi-la na esfera da produção e do mercado da sociedade industrial; de criar um marcado nacional de artes. (BARBALHO, 2007: 47).

Pernambuco, durante o governo de Jarbas Vasconcelos (1998 – 2005), seguiu a mesma filosofia política de FHC no campo da cultura. Com uma política de ausência do Estado, o governo de Jarbas Vasconcelos criou um Programa de Incentivos à Cultura, baseado na renuncia fiscal, e um Fundo Cultural (Funcultura) para captar os recursos privados para repassá-los para produtores culturais.

É importante destacar que logo dois anos depois da promulgação do Decreto nº 3. 551/2000, que institucionalizava o instrumento técnico e jurídico do Registro de bens culturais de natureza imaterial no território brasileiro, o governador Jarbas Vasconcelos instituiu o Registro do Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco (RPV – PE), criado pela lei nº 12.196, de 02 de maio de 2002, que incide sobre uma pessoa ou grupo de pessoas vivas que detenham conhecimentos ou técnicas para produção ou preservação de manifestações representativas da cultura de Pernambuco. Segundo o secretário estadual de Cultura de Pernambuco, Marcelo Canuto, em entrevista concedida na matéria intitulada Patrimônio Vivo, do jornal impresso Diário de Pernambuco, na data

de 31 de janeiro de 2006, a lei seria uma ação pioneira no território brasileiro e copiada pelos estados do Ceará, Minas e Espírito Santo.

Em 2003, a Fundarpe reformulou sua estrutura organizacional, sendo definidas: a Diretoria de Preservação Cultural (tratando dos assuntos relacionados a bens móveis, imóveis e imateriais de valor histórico, artístico, arquitetônico, bibliográfico, documental, iconográfico, etnológico e paisagístico); a Diretoria de Difusão Cultural (tratando da gestão dos espaços culturais do Estado); a Diretoria de Projetos Especiais (tratando da gestão de planos estruturadores); a Diretoria de Gestão Funcultura (tratando da gestão dos recursos do programa); e a Diretoria de Políticas Culturais (definindo planos e projetos para cada área cultural), tornando-se, assim, o órgão central responsável pela Política Cultural no estado de Pernambuco.

Já em 2005, ao promulgar o decreto nº 27.753, de 18 de março de 2005, o Estado de Pernambuco instituiu o registro de patrimônios culturais imateriais a nível estadual. Mostrando que, apesar de pouca participação do governo de Pernambuco na área da cultura.

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