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O Registro do Patrimônio Imaterial

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Patrimônio Cultural

CAPITULO 4 A LEGISLAÇÃO PARA SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL EM PERNAMBUCO

4.4 O ato do Registro do Patrimônio Cultural Imaterial em Pernambuco

4.4.2 O Registro do Patrimônio Imaterial

No dia 18 de março de 2005, foi promulgado o decreto nº 27.753 que instituiu o Registro de Patrimônio Imaterial do Estado de Pernambuco (RPI–PE). No artigo 1º, inciso 1º, do decreto é descrita a definição de patrimônio imaterial de Pernambuco para

o conhecimento da população e também para servir como guia para os agentes envolvidos com o processo de patrimonialização dos bens culturais dessa natureza.

Constitui o patrimônio imaterial, ou intangível, do Estado de Pernambuco, o conjunto das manifestações que têm como fontes a sabedoria, a memória e o imaginário das pessoas, transmitidas a gerações presentes e futuras pela tradição e identidade cultural vivenciadas no cotidiano das comunidades. (Artigo 1º, inciso 1º, do Decreto nº 27.753/ 2005 Apud FUNDARPE, 2009: 31).

Já no inciso 2º do mesmo artigo, ficam expostos os bens culturais de natureza imaterial, ou intangível, considerados suscetíveis de serem inscritos no RPI–PE:

Serão considerados integrantes do patrimônio imaterial do Estado de Pernambuco os costumes tradicionais, as músicas, a poesia, o teatro, as danças, festas, procissões e romarias, os cultos e rituais dos povos indígenas e da cultura afro-brasileira praticados no território estadual, os idiomas e dialetos, os valores, o saber fazer, as formas de relação com o meio ambiente, a culinária, a medicina popular, dentre muitos da diversidade cultural pernambucana, depois de inscritos individualmente ou em conjunto num dos cinco Livros de Registro... (Artigo 1º, inciso 2º, do Decreto n.º 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 31-32).

Da mesma forma que ocorre com o decreto que regulamenta o Sistema de Tombamento, o decreto nº 27.753/2005 põe bastante ênfase que só serão considerados patrimônio imaterial de Pernambuco os bens culturais de natureza imaterial devidamente inscritos num dos cinco Livros de Registro, a saber:

I - o Livro dos Conhecimentos, onde serão inscritos os modos de criar, fazer e viver, transmitidos nas práticas de vida social;

II - o Livro das Louvações, onde serão inscritas as festas, comemorações e cerimônias evocativas das diversas manifestações religiosas, do trabalho humano e do divertimento das comunidades;

III - o Livro dos Meios de Expressão, onde serão inscritas as manifestações literárias, musicais, cênicas, audiovisuais, os jogos e brincadeiras populares; IV - o Livro dos Ambientes Culturais, no qual serão inscritos os espaços urbanos e rurais do Estado de Pernambuco onde são realizadas práticas culturais individuais ou coletivas, que constituam referência cultural para a população;

V - o Livro do Imaginário Popular, onde serão inscritos os mitos, lendas, as reminiscências e os personagens ficcionais da cultura pernambucana. (Artigo 2º do Decreto n.º 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 32).

A responsabilidade pela guarda dos Livros de Registro é do CEC. Onde cada um dos Livros de Registro pode ter vários volumes de acordo com as demandas de inscrição nos respectivos livros. E, por fim, outros Livros de Registro podem ser criados para a inscrição de bens culturais de natureza imaterial, ou intangível, que ainda não foram contemplados nos cinco Livros já mencionados.

§ 1º Os Livros de Registro do Patrimônio Imaterial do Estado de Pernambuco ficarão sob a guarda e responsabilidade do Conselho Estadual de Cultura. § 2º Cada um dos Livros de Registro poderá ter vários volumes.

§ 3º Outros livros de registro poderão ser criados para a inscrição de bens culturais intangíveis existentes no Estado de Pernambuco, que não estejam previstos nos cinco livros mencionados nos incisos deste artigo. (Artigo 2º do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 32).

Ao escrever sobre a responsabilidade das instituições que deveriam integrar o RPI-PE, o decreto nº 27.753/2005 cita quais delas fariam parte do processo de patrimonialização do bem cultural de natureza imaterial, assim como as atribuições.

Art. 4º O Secretário Estadual de Educação e Cultura constituirá Comissão Especial, a ser formada por 03 (três) integrantes indicados, respectivamente, pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco, pelo Conselho Estadual de Cultura - CEC e pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - FUNDARPE, que ficará responsável pela elaboração de pareceres acerca do mérito cultural dos bens intangíveis para fins de inscrição no RPI-PE, cujos relatórios serão apreciados pelo Conselho Estadual de Cultura no ato da audiência pública... (Artigo 4º do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 33).

O decreto que institui o RPI-PE também descreve, em detalhes, os trâmites necessários no processo de inscrição de um bem cultural. De acordo com o artigo 3º, são partes legítimas para a abertura do processo de patrimonialização:

I - a Secretaria Estadual de Educação e Cultura; II - o Conselho Estadual de Cultura; III - a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco; IV - as entidades e associações civis dotadas de personalidade jurídica própria, na forma estabelecida no vigente Código Civil Brasileiro, sem fins lucrativos e de natureza cultural disposta em Estatuto, com indispensável registro em cartório de títulos e documentos, acompanhado da última ata de eleição e posse de seus atuais dirigentes e conselheiros; V - toda pessoa com capacidade de exercer certos atos da vida civil, maior de dezesseis anos, que não esteja sob efeito de interdição ou proteção judicial. (Artigo 3º do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 33).

O processo começa com a elaboração de uma proposta de Registro, por escrito, que contenha o nome do requerente e do bem cultural, a descrição das principais características do bem cultural, a localização na qual é mais comumente realizado, produzido ou vivenciado, os grupos sociais e étnicos que o pratica ou reproduz, a antiguidade ou origem, assim como a exposição de motivos para que o bem cultural seja inscrito no RPI–PE. Por fim, deve ser acompanhada por uma documentação que comprove o valor cultural do bem indicado para registro.

Art. 5º Os requerimentos para inscrição de bens imateriais no RPI-PE serão dirigidos, por escrito, ao Secretário de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco, devidamente acompanhados de documentação que comprove o valor cultural do bem indicado para registro. (Artigo 5º do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 34).

A proposta deve ser enviada ao secretário de Cultura, que irá pronunciar-se sobre o pedido, aceitando-o ou não, de acordo com o preenchimento dos requisitos

descritos já mencionados durante o texto. A Comissão deverá proceder na análise do pedido de forma que fique clara a descrição e justificativa no resultado do parecer favorável ou não para inscrição do bem cultural. Independente do deferimento ou não da solicitação de inscrição no RPI-PE por parte da Comissão, esta deve encaminhar o processo aos membros do CEC, como podemos analisar no inciso 1º do artigo 5º:

§ 1º O Secretário Estadual de Educação e Cultura, após deferimento da proposta de inscrição no RPI-PE, encaminhará o pedido à Comissão Especial mencionada no art. 4º deste Decreto, para posterior Resolução do Conselho Estadual de Cultura sobre a matéria. (Artigo 5º, inciso 1º, do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 34).

Como forma de assessoramento técnico e administrativo, os funcionários da Fundarpe devem prestar apoio à Comissão e ao CEC na análise técnica do bem cultural de natureza imaterial em processo de avaliação para inscrição no RPI-PE.

§ 2º A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE e a Unidade de Apoio ao Patrimônio Cultural do Conselho Estadual de Cultura prestarão assessoria técnica e administrativa à Comissão Especial e aos conselheiros do CEC na instrução dos processos do RPI-PE. (Artigo 5º, inciso 2º, do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 34).

Se a proposta de registro for deferida, o parecer conclusivo deverá ser remetido ao Presidente do CEC, visando à publicação do mesmo no Diário Oficial, para conhecimento público. Os interessados possuem o prazo de 30 dias para apresentar a exposição dos motivos para anuir ou impugnar a proposta, como previsto no inciso 5º, do artigo 5 º:

§ 5º Os pareceres conclusivos mencionados (...) serão remetidos ao Presidente do Conselho Estadual de Cultura, visando a publicação dos mesmos no Diário Oficial do Estado, para possíveis manifestações sobre a inscrição de bem imaterial no RPI-PE, dirigidas ao Conselho Estadual de Cultura, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data de publicação do respectivo parecer emitido por um dos relatores da Comissão Especial do RPI-PE. (Artigo 5º, inciso 5º, do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 34).

De acordo com o inciso 6º, do artigo 5º do decreto que institui o RPI-PE,

§ 6º As manifestações a respeito da inscrição de bens intangíveis no Registro do Patrimônio Imaterial do Estado de Pernambuco, apresentadas por entidades ou pessoas físicas, serão apreciadas pelo Conselho Estadual de Cultura no ato de julgamento e seleção final das propostas submetidas ao RPI-PE. (Artigo 5º, inciso 6º, do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 35).

Se todos os trâmites ocorreram como previsto no decreto, o CEC irá julgar a solicitação de inscrição do bem cultural no RPI-PE. Concluído o julgamento do

Conselho, em audiência pública a ser realizada na sede da entidade, aprovará resolução acerca do mérito da proposta de inscrição do bem cultural de natureza imaterial no RPI- PE, com a devida publicidade no Diário Oficial do Estado.

§ 7º Concluída a instrução, o Plenário do Conselho Estadual de Cultura, em audiência pública a ser realizada na sede da entidade, aprovará Resolução acerca do mérito e inscrição do bem de natureza imaterial no RPI-PE, com a devida publicidade no Diário Oficial do Estado. (Artigo 5º, inciso 7º, do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 35).

Com a decisão favorável do CEC, o bem cultural é inscrito em um dos cinco Livros de Registro correspondente e recebe o título de patrimônio cultural imaterial de Pernambuco, finalizando, assim, o processo do RPI-PE (Figura 9). Como é previsto no inciso 9º, artigo 5º do decreto nº 27.753/2005, que regula o processo para inscrição de um bem cultural de natureza imaterial no RPI-PE: “§ 9º Em caso de decisão favorável do Conselho Estadual de Cultura - CEC, o bem será inscrito no livro correspondente e receberá o título de Patrimônio Imaterial do Estado de Pernambuco”.

Figura 09 - Gráfico do processo de registro do Patrimônio Imaterial de Pernambuco.

Nos casos que ocorrem uma decisão não favorável do Conselho, toda documentação a respeito do bem cultural que estava em processo de inscrição no RPI- PE é arquivado, não ocorrendo, assim, a efetuação do Registro.

Depois de inscritos no RPI–PE, os bens culturais de natureza imaterial são considerados de domínio público, ficando o Estado de Pernambuco isento de qualquer responsabilidade ou encargos financeiros relativos a direitos autorais e patrimoniais, como é previsto no artigo 8º decreto nº 27.753/2005:

Art. 8º Os bens culturais de natureza imaterial que venham a ser inscritos no RPI-PE serão considerados de domínio público, transmitidos pela tradição oral ou pelas práticas formais criadas no cotidiano das comunidades, ficando o Estado de Pernambuco isento de qualquer responsabilidade ou encargos financeiros relativos a direitos autorais e patrimoniais perante terceiros pessoas físicas ou jurídicas. (Artigo 8º do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 36).

Esses bens culturais, de natureza imaterial, possuem como forma de salvaguarda o registro documental, iconográfico, audiovisual e, o mais importante, a promoção. Em vista que, se no caso do patrimônio material o que vale é a integridade física e, por isso, a necessidade de zelo e restauração constante, no caso do patrimônio imaterial o que vale é a reprodução. Entendo essas diferenças substanciais no artigo 7º do decreto nº 27.753/2005, que descreve como responsabilidade da Secretaria de Educação e Cultura do Estado, por meio do CEC, assegurar aos bens inscritos no RPI-PE:

I - o registro documental e iconográfico dos acervos em todos os meios tecnológicos existentes e nos que venham a surgir, cabendo à Unidade de Apoio ao Patrimônio Cultural do CEC a conservação do banco de dados contendo o inventário dos bens inscritos no RPI-PE;

II - o intercâmbio de informações referentes aos bens culturais inscritos no RPI-PE com outros órgãos e instituições públicas ou privadas, nacionais, internacionais ou estrangeiras, disponibilizando os dados na página eletrônica da Secretaria Estadual de Educação e Cultura/CEC na Rede Mundial de Informática (Internet) ou em outro meio tecnológico que venha a existir; III - o livre acesso à consulta pública da relação dos bens imateriais registrados pelo Estado de Pernambuco. (Artigo 7º do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 36).

Como o bem cultural imaterial sempre está em processo de transformação, assim como os significados para os grupos sociais que os vivenciam e o praticam, já que nesse caso o que importa são os valores culturais e não a materialidade do objeto,

Art. 9º O Plenário do Conselho Estadual de Cultura, a cada período de 06 (seis) anos, contados a partir da publicidade no Diário Oficial do Estado da respectiva Resolução que inscreveu o bem intangível no RPI-PE, poderá fazer o reexame a respeito do mérito para a manutenção ou cancelamento do título de patrimônio imaterial outorgado à manifestação em apreço. (artigo 9º do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 36).

Se, na ótica dos conselheiros do CEC, o bem cultural imaterial ainda possui significado para a comunidade pernambucana, ele continua como patrimônio cultural imaterial do Estado de Pernambuco e mantém a inscrição no Livro de Registro correspondente. Contudo, se o mesmo já não possui mais significado cultural para os conselheiros, ele perde o título de Patrimônio Imaterial do Estado de Pernambuco e a inscrição no RPI-PE é cancelada, como prevê o parágrafo único do artigo 9º:

Parágrafo único. Nos casos de cancelamento de inscrição no RPI-PE, o Conselho Estadual de Cultura manterá apenas o histórico do bem imaterial lavrado no livro correspondente, para fins de preservação da memória da cultura pernambucana. (Artigo 9º, parágrafo único, do Decreto nº 27.753/2005 Apud FUNDARPE, 2009: 36).

Pode-se perceber que no RPI-PE, assim como nos casos do Sistema Estadual de Tombamento e no RPV–PE, o poder concedido ao CEC na seleção dos bens culturais a figurarem como patrimônio cultural imaterial de Pernambuco é muito grande em relação aos outros órgãos governamentais que fazem parte da política cultural para salvaguarda do patrimônio cultural no estado. Ao analisarmos os decretos e leis que institucionalizam e regulam a proteção dos patrimônios materiais, vivos e imateriais em Pernambuco, a decisão final para consagração ou não dos bens culturais sempre cabe ao Conselho.

4.5 Considerações sobre a legislação para salvaguarda do Patrimônio Cultural

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