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CAPITULO III: CABO VERDE NO CONTEXTO INTERNACIONAL: O processo de

3.3. O processo de Integração Regional

3.3.1. A génese da CEDEAO e adesão de Cabo Verde

Particularmente na África Ocidental, depois de uma serie de procedimentos e negociações difíceis ao longo dos anos em prol da integração, a “Declaração sobre a Cooperação, o desenvolvimento e a Independência Politica” em África de 1973 (Gomes, 2014:366), alertou sobre a importância de integração económica. Esse documento fez referência á cooperação nos domínios monetários e das comunicações como soluções viáveis para o processo de desenvolvimento. Diligências posteriores levadas a cabo pelos chefes de Estados, culminaram com a institucionalização em Maio de 1975 da Comunidade Económica do Desenvolvimento da África Ocidental (CEDEAO), sedeada em Lagos, capital da Nigéria, formada por 15 Estados independentes98 e com objetivos

previamente definidos. Isto é, alargar o mercado com vista á promoção do desenvolvimento sub-regional, tendo o objetivo económico e comercial como o motor fundamental do processo de integração. Esse objetivo passaria pela construção de uma união aduaneira num período de quinze anos a partir da entrada do Acordo em vigor em 1979 (Santos, 2014). Convém realçar que a Comunidade surgiu da influência da Organização da União Africana e da Comissão das Nações Unidas para a África em sintonia com os líderes da sub-região, sob a hegemonia da Nigéria.

Em Novembro do ano seguinte da sua criação, os países da Comunidade rubricaram em Lomé, Togo, um conjunto de cinco Protocolos que visam facilitar as condições para a instalação das instituições que regem a Comunidade, assim como organizar a gestão da integração económica regional prevista para entrar em vigor partir de 1 de Janeiro de 1977. Deste ponto de vista, com as condições já instaladas a Comunidade parecia estar em condições de promover o desenvolvimento e ser uma plataforma capaz de garantir condições estáveis para Estados de fracos recursos, como é o caso de Cabo Verde. Foi assim que o país aderiu ao Tratado a 16 de Março de 1977, tornando-se o 16º elemento da Comunidade.

Em relação aos restantes membros da Comunidade, Cabo Verde apresenta-se com caraterísticas singulares. Único país insular e arquipelágico, marcado pela exiguidade territorial, possuindo a menor dimensão de todos e enfrenta a escassez de recursos

98 Benin, Burkina Faso, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Libéria, Mali,

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naturais, para além de diferenças étnicas, culturais e sociais. Entretanto, essas diferenças, embora não muito significativas na altura, não foram tidas em conta, face aos objetivos do país. Na verdade, o país tinha objetivos de agregação á espaços que garantissem condições de autossustento e desenvolvimento e, a CEDEAO com os seus objetivos económicos99 parecia ser uma saída viável para as prioridades do país. Além

disso, integrar uma Comunidade da sub-região africana para o país, era a convicção de estar a retornar às origens (Estevão, 2014), uma vez que ainda antes da independência já se defendia a ideia da unidade africana100.

Doravante, após a ratificação do Acordo, o país passou a ser membro de pleno direito e ficaram assim criadas as condições para uma plena integração, pelo menos do ponto de vista teórico e formal e de acordo com as normas estipuladas. Contudo, os objetivos iniciais não revelaram ser eficazes devido às várias ocorrências que pesaram contra, nomeadamente situações de instabilidade na região que traduziram-se em casos de guerras civis e conflitos armados internos em alguns Estados-membros (Uzoechina, 2014), e consideramos serem estas algumas das razões que motivaram o país a priorizar outras plataformas de cooperação.

Com o passar do tempo e com base nesses episódios negativos, surgiu a necessidade de readaptação á novas realidade, bem como a introdução de mecanismos que favorecem a Comunidade e, isso motivou o pedido da revisão do Tratado da CEDEAO em 1990. A revisão só aconteceu 3 anos mais tarde, isto é, em 1993 aquando da décima sexta Conferência dos Chefes de Estados e de Governo, realizada em Cotonou, onde se deu com a reestruturação da Organização em termos de instituições. Com o reajustamento da Comunidade, pretendeu-se criar uma união económica entre os seus Membros a partir da integração de produtos e, da abertura de fronteiras e de mercado (Gomes, 2014). Isto é, estabeleceu-se o livre movimento de capitais e a circulação de pessoas entre os países membros da comunidade. Convém realçar que mais tarde, no ano 2000 a Mauritânia, pelo facto de não concordar com certas políticas, como é o caso da livre circulação, desvinculou-se do grupo e a Comunidade passou a contar de novo com 15 membros.

Com a revisão do Tratado, Cabo Verde com as suas peculiaridades, teoricamente passou a ter algumas regalias para além das que constavam do artigo 25º sobre questões de assimetrias, segundo o que consta no capítulo XIII, artigo 68º do Tratado, que parecem ser uma mais-valia. Segundo esse artigo, os Estados Membros que se encontrarem em dificuldades económicas e sociais e particularmente os Estados-membros insulares e sem litoral, têm a possibilidade de caso necessário, ter um tratamento especial. Essa particularidade tem a ver com a facilidade quanto à aplicação de certas disposições

99 Os artigos 12º e 13º do Tratado da Comunidade destacam a liberalização do comércio entre membros.

Ainda o artigo 25º, reconhecendo as assimetrias entre Estados-membros, propõe a criação de um fundo compensatório em favor dos membros prejudicados com a queda das tarifas aduaneiras (Treaty of ECOWAS, 1975).

100 Na linha de pensamento de Santos (2014), essa ideia deixa pista de interesses comuns focados mais á

interesses políticos com vista à independência dos Estados, a afirmação das soberanias e a valorização e construção de identidades próprias.

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contidas no Tratado, assim como o fornecimento de qualquer outra assistência que venha a ser necessária (Tratado Revisto, art.º 68º).

No entanto, os principais objetivos da Comunidade traçados inicialmente ainda estão por cumprir. Constata-se, porém, que a integração nos moldes pensado inicialmente tem sido um projeto teórico devido ao aparente estado de inércia registado na Comunidade. Nesta perspetiva, Évora (2011), aponta 4 razões que justificam essa paralisia no seio da sub-região. São estas, a prevalência de um entendimento deturpado relativo à noção de desenvolvimento e integração, a emergência de outras organizações onde se perde muito tempo com a harmonização dos programas, a submissão ao segundo plano das premissas do Tratado da Comunidade em situações de conflito e, por ultimo a Nigéria que reivindica legitimidade hegemónica da sub-região é confrontada com situações de fragilidade do Estado e casos de corrupção.

Na mesma linha, Tolentino (2014:359), considera ainda que devido a “motivos geográficos, históricos, linguísticos, culturais e de governação”, lida-se mal com o fenómeno de integração na África Ocidental. A mesma fonte defende ainda que o fraco desempenho dos membros das Comunidades sub-regionais africanas espelha-se nas situações de tráfico ilícito, corrupção e violações diversas e, pouca afluência em termos comerciais e isto faz recuar alguns membros. Todavia, a Comunidade vem nos últimos tempos apostar em iniciativas importantes em prol da integração regional, nas quais conta com o envolvimento ativo de Cabo Verde.

Os desafios atuais passam pelo combate à pobreza e a exclusão, domínio de situações conflituosas de caráter étnico, político e religioso, combate às doenças infeciosas, promoção da segurança alimentar, entre outros, embora a integração eficaz ainda é mera utopia e acarreta alguns desafios, sobretudo para Cabo Verde, tendo em conta as suas caraterísticas diferenciadas dos demais membros. No entanto, estar envolvido numa plena integração, o país terá possibilidades de expandir o seu ambiente de comércio além da sub-região facilitando deste modo a concretização do objetivo de inserção na economia mundial. Deste ponto de vista, o país estará mais em condições de atrair IDE que é uma das formas de promover o desenvolvimento.

No entanto, esse processo não tem sido fácil na medida em que ao longo dos tempos os objetivos estabelecidos têm sido desviados dado a situações já mencionadas e, as peculiaridades e posicionamento do país tornam em dificuldades para uma plena integração.