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As relações de Cabo Verde no plano multilateral

CAPITULO III: CABO VERDE NO CONTEXTO INTERNACIONAL: O processo de

3.2. As relações de Cooperação de Cabo Verde

3.2.2. As relações de Cabo Verde no plano multilateral

Desde sempre que o plano internacional tem sido foco da política externa cabo- verdiana, isto é, como fator importante para o seu processo desenvolvimento. Assim, o reconhecimento da importância vital e a consequente aproximação a Instituições multilaterais foi sempre uma vocação manifestada ainda muito cedo, considerando que o multilateralismo “privilegia o primado da cooperação multilateral como mecanismo de afirmação internacional e de resolução dos problemas globais (e internos) numa plataforma compromissória e de diálogo sistemático…” (Costa, 2011:119). Confirma-se a intenção de Cabo Verde neste sentido com a adesão á ONU e á OUA aquando da independência política.

No mundo interdependente e suscetível á oscilações com repercussões globais, é preferível que as economias dos países em desenvolvimento e não só, estejam ancoradas em Organismos e Instituições sólidas e credíveis, capazes de garantir-lhes o conforto e o favorecimento de condições no âmbito de mercado global. Nesta

95 O país comprometeu-se em aceitar no princípio da readmissão os migrantes que tenham entrado no

solo europeu a partir dali. Isso acarreta o maior grau de exigência e de controlo necessário para evitar situações ilegais, partindo do território.

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perspetiva, Cabo Verde em particular perante os objetivos da sua relação externa, aproximar de instituições multilaterais, revela ser uma estratégia importante. O país procura cada vez mais imprimir políticas de proximidade e estreitamento de laços de cooperação e estar em sintonia com políticas de âmbito global, uma vez que a Parceria para o Desenvolvimento supõe a existência de reciprocidade e utilidade para todos. Entretanto, se ao longo dos 40 anos como país independente Cabo Verde conheceu avanços em termos de desenvolvimento, estando atualmente na categoria de PDM, em grande medida estes devem-se aos laços de cooperação multilateral e o papel ativo de parceiros internacionais no seu processo de desenvolvimento.

No entanto, os primeiros momentos pós-independência conforme pudemos ver, o regime interno adotado não favorecia as relações comerciais e isto em boa medida teve repercussões negativas para o país. Em consequência, no fim da década de 1980 começaram a sentir-se os efeitos das dificuldades e da incompatibilidade do regime não só em termos económicos, mas também, sociais e políticas, levando o país a reorientar a sua estratégia política de desenvolvimento. Assim, a reforma económica interna verificada após a abertura política em 1990, teve como prepósito dar respostas à insustentabilidade da centralidade do Estado, aos desafios da conjuntura política e económica internacional atual e, à lógica da inserção do país na economia mundial. A consequente política de abertura do mercado despertou no país mais interesses nas questões de integração, procurando envolver em assuntos de um maior número possível de Instituições de caris Internacional. A medida visa garantir mais confiança aos investidores e criar mecanismos de atração de IDE e ajudas ao desenvolvimento e alargar a sua base económica. Assim, a nova orientação política do país focalizou-se mais para o alargamento das relações com atores e Instituições multilaterais, permitindo-lhe uma maior representatividade nessas Instituições, que por sua vez, tiveram uma maior envolvência no processo do desenvolvimento nacional.

Destacam-se algumas Instituições multilaterais que contribuem para inserção internacional de cabo verde, nomeadamente: Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Unidade Africana (UA), Organização das Nações Unidas (ONU) e suas Agências Especializadas.

Doravante, de todas as Organizações multilaterais com as quais o país tem estabelecido relações, sem descurar da importância das demais, o Banco Mundial e a OMC têm tido um papel preponderante no processo de desenvolvimento interno, cujo numa breve reflexão passamos a descrever.

O Banco Mundial é um grupo de instituições financeiras criado em 1944 através da conferência de Bretton-Woods em que objetivo principal é fomentar o crescimento económico e a cooperação a nível global, facilitando a promoção do processo de desenvolvimento económico dos países em desenvolvimento. Consequentemente tem sido um dos principais financiadores dos Projetos de Desenvolvimento em Cabo Verde. O processo de privatização levado a cabo no país após a abertura do mercado no início da década, atrás referida, contou com o supervisionamento dessa Instituição financeira

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mundial, de modo a garantir e assegurar que o processo fosse conduzido dentro de parâmetros internacionais. Para além dessa intervenção, Cabo Verde conta ainda com o financiamento do Banco Mundial nas várias vertentes, nomeadamente a nível da gestão de políticas macroeconómicas, da restrição da dívida, das reformas institucionais, recursos humanos, dos Programa de Redução da Pobreza, assim como a nível da infraestruturação, dos transportes e da energia, com vista a aumentar a sua competitividade.

A promoção dos princípios globalmente defendidos como a estabilidade politica, a boa- governação, a democracia, estre outros, são alguns dos instrumentos primordiais de que o país dispõe para influenciar laços de cooperação internacionais. Em contrapartida, a análise desses indicadores, acrescidas de informações disponibilizadas por Instituições internacionais entre elas o Banco Mundial, são fundamentais para a promoção e inserção do país, servido de bases para facilitar acesso a certos Programas de desenvolvimento, como é o caso do MCA atrás referido, assim como a outros Programas de financiamentos, provenientes dos diferentes parceiros internacionais.

No que diz respeito a OMC, as relações com Cabo Verde vieram marcar uma nova era no campo do comércio externo e renovar-lhe os desafios de inserção internacional. Particularmente, essa Organização cujas atividades iniciaram em 1995, surgiu em 1994 durante a Conferência de Marraquexe na sequência do General Agreement on Tariffs and Trade96 (GATT) e assinado em 1947. Essa Organização é uma instituição de caráter

internacional, cuja atuação incide na fiscalização e regulamentação o setor do comércio a nível internacional. Para além dessas duas missões, a Organização tem ainda funções de resolver conflitos a nível do comércio no seio dos Estados-Membros, gerir acordos comerciais no âmbito da diplomacia económica, atuar no supervisionamento do cumprimento dos acordos estabelecidos por parte do Estados-membros, promover cooperação com outras organizações internacionais, entre outras (ARAP, 2014).

O Acordo que estabeleceu a Organização determinou-lhe os seus objetivos. Estes passam pelo compromisso de construir um sistema comercial económico harmonioso com vista a melhorar as condições de vida das populações garantindo-lhes pleno emprego, aumentar o fluxo dos rendimentos, assegurar o desenvolvimento da produção e do comércio, entre outros (Thorstensen, 1998).

É nesta linha que, movido por uma visão política virada para a participação e aproximação á parcerias multilaterais, no contexto de abertura ao mundo, o país efetuou o pedido formal de adesão à Organização em Novembro de 1999. Para averiguar a viabilidade da pretensão do país, na reunião de 17 de Julho do ano seguinte, foi criado um Grupo de Trabalho pelo Conselho Geral da OMC sob presidência do Embaixador dos EUA, David Shark. Esse Grupo surgiu em conformidade com o

96 Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio - o único organismo regulador do comércio mundial surgido com

o fim da Segunda Guerra, que visa facultar uma correta aplicação das regras do sistema comercial multilateral, embora apresentava algumas lacunas na fiscalização das trocas comerciais.

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estipulado no artigo 12º do Acordo de Marraquexe que institui a Organização, (OMC, 2007).

O processo de adesão do país configura-se em fases distintas. Terminado o período das negociações diretas e, 7 anos após de instituído o Grupo de Trabalho, isto é, em Dezembro de 2007, aprovou-se o Protocolo de adesão, durante a reunião do Concelho Geral da OMC em Genebra, correspondendo a primeira fase do processo de adesão. Depois do Protocolo ter sido aprovado pelo Parlamento Nacional sob Resolução nº 73/VII/2008 e ratificado em Junho do mesmo ano, Cabo Verde tornou-se no 153º membro da OMC. Deste modo, tornou-se o primeiro país Africano e o terceiro País do grupo dos PMA a conseguir este importante marco pela via negocial, demarcando a segunda fase desse processo. A terceira e última fase passa pela implementação de um serviço de notificação e supervisão dos Planos de Ação Setoriais, estipulado para um período de 10 anos, ou seja, até 2018 (MECC, 2009), período esse que é destinado ao ajustamento das legislações internas às normas da Organização.

Sendo membro ainda na condição de PMA, e com direito a um tratamento especial e diferenciado, solicitou de acordo com as disposições do Acordo, o país pediu “apoios nas áreas de propriedade intelectual; mediação e arbitragem; agricultura; segurança alimentar; medidas sanitárias e fitossanitárias; protecção da saúde humana, da flora e da fauna; obstáculos técnicos ao comércio; e procedimentos aduaneiros” (Gonçalves 2010:136).

Todavia, numa análise sucinta, podemos constatar a eficácia e o empenhamento do país nas negociações de caráter internacional e, em defesa interesses nacionais que traduz numa fase importante da sua agenda de transformação económica. Assim sendo, enfatizamos aquilo que se considerou que a dimensão territorial de um dado Estado nada tem a ver com a grandeza das suas opções (Costa, 2012). O posicionamento do país evidencia a consciência de que sua sobrevivência e afirmação no sistema internacional marcado pela interdependência está subjacente a uma diplomacia pragmática e em comunhão com princípios globalmente partilhados.

É nosso entendimento que a adesão do país à plataforma de controlo mundial do comércio e, sendo membro de pleno direito, facilitam na prossecução dos objetivos de captação dos investimentos externos e a inserção na economia mundial, uma vez que parecem estar criadas as condições que favorecem tais investimentos. Acreditamos pois, que esta constitui um passo importante para “construir uma economia dinâmica, competitiva, inovadora e sustentável, com prosperidade partilhada por todos” conforme expresso na Agenda Estratégica do Programa do Governo em vigor até 2016 (PGCV, 2011-2016:27).

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