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CAPITULO IV: ANÁLISE SWOT DA POLÍTICA EXTERNA DE CABO VERDE EM PROL DO

4.2. Os elementos que compõe a SWOT de Cabo Verde em prol do

4.2.1. Pontos Fortes

De seguida nesta secção, vamos justificar os elementos identificados como pontos fortes e capazes de influenciar a elaboração e condução da política externa no âmbito das relações.

a) Posição geoestratégica privilegiada (entre África, Améria e Europa);

O posicionamento geoestratégico do país é reconhecido e ambicionado desde os primórdios da sua história. Não obstante esse reconhecimento, aquando da independência o país teve um posicionamento neutro face a tendência reinante, em vez de se orientar para os propósitos de projeção política e ideológica. Esse posicionamento e continuidade da política baseada nos princípios internacionais e em prol do desenvolvimento foram determinantes para elevar a imagem do país na cena internacional e traduzir em progressos como é o caso da transição à categoria de PDM, a Parceria Especial com a UE, o benefício com Programas internacionais de desenvolvimento, entre outros, pese embora novos desafios e oportunidades a que ficou exposto.

O cenário da globalização fez reacender a importância geoestratégica e geoeconómica do país, na medida em que essa posição favorece a distribuição internacional de mercadorias e uma boa integração da economia global. Situada na encruzilhada entre a África, Europa e as Américas, de acordo com as orientações políticas internas, o país pode vir a afigurar-se como um hub da distribuição do comércio mundial, conforme a sua própria ambição, transformando assim a vantagem comparativa em vantagem competitiva.

b) Experiência adquirida nas relações internacionais

Aquando da luta de libertação, o país começou a ganhar experiências no relacionamento com a comunidade internacional, uma vez que desde então começou-se a ter alguns contactos importantes tanto a nível multilateral como a nível bilateral, baseando sobretudo nos princípios diplomáticos em busca de suporte para a causa da independência. Enquanto país independente, as suas caraterísticas desfavoráveis e a continuidade dos esforços diplomáticos iniciais, despertaram nos atores políticos a necessidade de elaboração e condução de uma política externa sempre fiel ao princípio de salvaguarda dos interesses nacionais, acompanhando sempre a evolução dos acontecimentos internacionais na tentativa de tirar proveitos das suas potencialidades. Se outrora a viabilidade do país foi questionada, as experiências adquiridas nas relações com demais parceiros foram determinantes para orientar a política a sua externa ao longo dos anos e mudar a situação e a sua visibilidade. Desde a vigência do partido- Estado foram estipuladas metas de desenvolvimentos ambiciosas, tendo o principal suporte a politica externa. Posteriormente, a continuidade dessa política após a abertura democrática e económica orientada sob desígnios internacionais na expetativa de satisfazer as necessidades internas e de inserção internacional foram determinantes para o seu sucesso. Deste modo, esse pragmatismo da política externa cabo-verdiana

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fizeram-no tornar possível uma realidade diferente, sendo atualmente País de Rendimento Médio, ao mesmo tempo que usufrui de certo prestígio internacional.

c) Parceiras estratégicas internacionais diversificadas

O cenário internacional aquando da independência como vimos, era marcado pela bipolaridade onde a tendência era de alinhamento ideológico com uma das Potências da época. Porém, Cabo Verde ao traçar como um dos pilares das relações externas a multiplicação e diversificação de parceiros, definiu na Lei que orientou o funcionamento do Estado entre 1975 a 1980 os princípios norteadores da sua política baseados sobretudo no respeito pelas normas do Direito Internacional, não ingerência nos assuntos internos, igualdade e reciprocidade de vantagens, de forma a garantir espaços de manobra independentemente da visão ideológica. Isto demostra que o país esteve ciente na interpretação dos sinais e das mutações internacionais de modo a não facilitar situações que pusessem em causa as opções seguidas a nível interno.

Deste modo, com o estabelecimento e o prosseguimento ao longo dos tempos de uma política equidistante e realista, o país conseguiu relacionar com demais atores das relações internacionais e atraiu ajudas de ambos os lados que foram cruciais para a satisfação das necessidades básicas. Consequentemente estabeleceu junto destes, sendo parceiros multilaterais, regionais e bilaterais, diversos Acordos e parcerias importantes para a projeção da sua imagem além-fronteiras. Assim, ao longo dos tempos estabeleceu relações com Organismos como a ONU e as suas organizações especializadas, a OUA, a CEDEAO, a CPLP, a UE, entre outros que são determinantes para o seu processo de desenvolvimento.

d) Pertença à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

O cenário internacional atual é mercado pela constante mutação, competitividade e interdependência, fazendo surgir por conseguinte novos desafios a vencer. No entanto, é necessário traçar politicas que visam responder essas demandas e prosseguir com o desenvolvimento. Partindo desse ponto de vista, o Programa de Governo (2011-2016) aponta a consolidação das antigas alianças e parcerias e, a construção de novas pontes de cooperação como forma de garantir o acesso ao financiamento e aos mercados de forma a criar competitividade e prosseguir com a agenda de transformação do país. Uma vantagem do país neste sentido é a sua pertença á CPLP, uma vez que está ligado a diversos pontos de influência, isto é, a diferentes espaços regionais localizados nos quatro continentes nomeadamente, UE, CEDEAO, BRICS, MERCOSUL, SADC, ASEAN, entre outros. Esse privilégio pode permitir-lhe usufruir do triângulo de oportunidades para alcançar e fazer alcançar a outros mercados a nível mundial, tendo como base a influência da sua localização geoestratégica na redistribuição do comércio. Deste ponto de vista, há potencialidades de Cabo Verde aumentar as exportações, potenciar novas parcerias, assim como atrair investimento estrangeiro, partindo do pressuposto de um eventual incremento da cooperação e integração da Comunidade.

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e) Focalização na diplomacia económica e ambiente favorável aos negócios

Com a abertura da economia na década de 1990, o país adotou como orientação estratégica a inserção dinâmica na economia mundial. A política de privatização das empresas estatais pelos privados adotada no início dessa década, trouxe para o centro da política externa cabo-verdiana o novo vetor das relações externas assumido internacionalmente com a reorganização mundial, isto é, a diplomacia económica. Nessa perspetiva, passou-se a criar condições com vista à dinamizar e modernizar a economia, aumentar a concorrência e a competitividade global do país, assim como reforçar o empresariado nacional (PGCV, 2001-2005). Tornou-se assim necessário proporcionar um ambiente de equilíbrio e de gestão macroeconómicos que incitam o investimento privado e que transmitam confiança aos investidores, através de políticas e incentivos fiscais. Dado a grande abertura externa da economia com a orientação política atrás referida, a política externa, assim como o reforço da diplomacia económica, é encarada como um domínio fundamental para o país no estabelecimento e aprofundamento de laços de cooperação com demais parceiros do desenvolvimento. Entretanto, o ajustamento de medidas às normas internacionais e o fomento de um ambiente negocial estável, tornam o país reconhecido a nível internacional. Na verdade, o país nos últimos anos tem merecido respeito das principais instituições internacionais, nas suas sucessivas avaliações. Destacam-se o Índice de Liberdade Económica, do Wall Street Journal e da Heritage Foundation em 2014, onde se posicionou como terceiro país africano melhor classificado na região da África Subsaariana103. Ainda em termos

de classificação, destaca-se o indicador de facilidade em fazer negócios do World Bank, Doing Business 2014 em que no total 189 economias analisadas o país aparece na posição 121ª e 2ª na segunda posição em relação á África Central e Ocidental (Espirito Santo Research, 2014). Perante essas evidências, a competitividade do país em termos de economia fica reforçada, assim como maior atratividades aos investidores.

f) Progressos registados nos indicadores de desenvolvimento humano sustentável

O combate à pobreza constitui preocupação dos governantes desde os primórdios da independência. Este, para além de ser um imperativo do desenvolvimento social e humano é também um ato de promoção da cidadania. Assim, é evidente que alguns dos progressos da nação registados nos últimos tempos estão relacionados ao facto de se ter registado uma redução considerável da pobreza ao longo dos tempos. Os esforços registados com vista em facilitar mais cuidados de saúde, educação, eletricidade, água potável e infraestruturas foram determinantes para o bom comportamento dos indicadores de desenvolvimento humano.

Particularmente, a aposta na educação e qualificação dos recursos humanos ao longo dos temos e a ênfase na educação superior e profissional nos últimos anos foram algumas das políticas que o país adotou para impulsionar novos impactos no processo de desenvolvimento económico e social. Em consequência, os crescentes níveis de

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educação remetem para a possibilidade de empregos qualificados, de melhores salários e melhores condições de vida.

Em relação á saúde, também registou-se avanços significativos ao longo dos tempos e confirmados no último Relatório de Desenvolvimento Humano (2014). Ainda nesse aspeto, o grande objetivo aponta para a formação de médicos no país104 e a expansão

de serviços especializados e de especialidades.

g) Diáspora cabo-verdiana envolvida ativamente no desenvolvimento

Como vimos anteriormente, as circunstâncias naturais fizeram com que desde os primórdios a população cabo-verdiana começou a procurar soluções na emigração105

para diferentes paragens a nível mundial. Deste modo, o país tornou-se numa nação da emigração e a diáspora passou a ter um peso influente no processo de desenvolvimento através do envio de remessas, de modo que ela tornou-se numa das dimensões estruturantes da política externa cabo-verdiana. É nesta perspetiva que logo após a independência o país preocupou-se com a abertura de consulados nos países onde se registava a concentração de emigrantes (Costa, 2011).

Entretanto, nos tempos atuais a importância da diáspora não só é reconhecida através da emissão de remessas. O país, perante a sua ambição de “afirmar a nação global” entende que a diáspora constitui um elemento-chave nesse domínio, daí a necessidade de políticas que visam imprimir ligações fortes entre as duas partes. Ademais, é entendimento do país que a construção do setor privado competitivo ou, a garantia da elevada produtividade, não se dá sem o envolvimento da diáspora (PGCV, 2011-2016), uma vez que esta é considerada como uma potencial fonte de investimento direto no país (Ministério das Comunidades, 2014). Assim justifica adoção de medidas políticas no sentido de lhe proporcionar melhores condições e atraí-la para o país, na condição de investidores, empresários e trabalhadores qualificados e especialistas, combatendo ao, mesmo temo a fuga de cérebros.

Este é o entendimento dos sucessivos governos do país e nesta ótica têm sido feito esforços com vista a criar e estabelecer parcerias, quer a nível nacional, quer internacional, de forma a definir políticas adequadas que incentivam cada vez mais o envolvimento da diáspora no processo de desenvolvimento.

h) Estabilidade das instituições, do regime político e do ambiente social

A projeção de Cabo Verde na cena internacional quer no plano político, quer no plano económico estriba-se em grande parte também na boa governação e estabilidade política e social. Com a abertura e transição política de forma pacífica, o país vê na estabilidade e a defesa de princípios democráticos, o respeito dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e a promoção da boa governação como algumas das ferramentas

104 Prevê-se o arranque para próximo ano letivo (2015/16) na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV). O

curso vai funcionar entre a Uni-CV, os hospitais nacionais e a Universidade de Coimbra.

105A estimativa é que o número de emigrantes e seus descendentes ultrapassam a população residente

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poderosas no contorno de certas vulnerabilidades e a escassez dos recursos naturais, ao mesmo tempo uma estratégia para a transformação. Na verdade, a observação desses princípios contribui para a estabilidade política, institucional e macroeconómica, elementos imprescindíveis ao desenvolvimento. Ao mesmo tempo, constitui mais atração aos investidores, proporcionam mais visibilidade exterior do país e garantem acesso aos viários Programas internacionais de desenvolvimento.

Por conseguinte, a defesa e promoção desses princípios contribuem para a materialização do objetivo de inserção internacional, uma vez que fazem do país uma nação conhecida e muito bem posicionado no ambiente internacional, sendo uma referência a nível da sub-região Africana, em particular da CEDEAO. É prova disso, o posicionamento de Cabo Verde no que diz respeito a classificação no Índice Ibrahim de Governação em Africa em 2013, onde afigura em terceiro lugar no total de 52 países.