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CAPITULO IV: ANÁLISE SWOT DA POLÍTICA EXTERNA DE CABO VERDE EM PROL DO

4.2. Os elementos que compõe a SWOT de Cabo Verde em prol do

4.2.2. Pontos Fracos

Justificados os elementos de influência positiva na política externa cabo-verdiana, de seguida vamos justificar os pontos fracos que condicionam o processo de desenvolvimento do país e que exigem uma boa capacidade de resposta por parte da política externa.

a) Reduzida dimensão do mercado doméstico que regista ainda uma elevada concentração

O mercado cabo-verdiano é de pequena dimensão face aos objetivos de inserção internacional, tendo em conta a sua capacidade produtiva e de exportação. A carência de recursos naturais, a reduzida capacidade de produção agrícola106 e o custo elevado

de fatores de produção são os grandes obstáculos ao país na prossecução do desenvolvimento harmonioso, uma vez que limitam muito a produção e as exportações. Acrescido, a baixa capacidade tecnológica no setor da produção faz com que o mesmo apresente fraca competitividade a nível regional e internacional. Por conseguinte, esses condicionalismos fazem a base económica do país ser reduzida, estando concentrado em duas exportações, designadamente no turismo e na pesca, sendo estes os grandes impulsionadores na estruturação do PIB do país nos últimos tempos. Em sentido contrario, a necessidade do país em importar é grande durante todo o ano, fazendo com que a balança comercial apresente um saldo negativo ao longo dos tempos.

No que diz respeito aos destinos do comércio externo, os dados disponíveis mostram que a Europa é ao mesmo tempo o maior cliente e fornecedor, concretamente os mercados espanhol e português respetivamente. Face á conjuntura internacional e às limitações do país, a diversificação das exportações por produto e destino é uma realidade crítica e um desafio a contornar. Nesta linha, é entendimento do Governo de

106 Cabo Verde produz apenas 20 a 30 por cento do consumo interno de alimentos, importando o

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que é necessário diversificar e expandir nos setores e clusters selecionados como parte da agenda de transformação económica (PGCV, 2011-2016), de modo a facilitar a construção de uma economia dinâmica, competitiva e inovadora. Deste modo, pretende-se fazer do arquipélago uma “plataforma internacional de prestação de serviços de alto valor acrescentado com base em 7 clusters de competitividade”, nomeadamente, turismo, economia marítima, serviços financeiros, tecnologia de informação e comunicação, agro-negócios, serviços financeiros, economia criativa e aero negócios (DECRP III, 2012-2016:22). A construção de novas parcerias, e a procura de novas fontes de financiamento são algumas ações da política externa nesse sentido.

b) Debilidade na dotação de recursos naturais (hídricos, fundiários e biodiversidade) e da sua gestão

A geografia de Cabo Verde e condições naturais adversas fazem com que fenómenos naturais como a seca, acrescido de uma utilização desajustada dos recursos naturais, particularmente água, solo e vegetação constituem seus grandes desafios. As chuvas escassas e irregulares e a existência de solos pouco férteis, determinam a tendência para a agricultura de sequeiro e subsidiária, estando a produção anual muito dependente da quantidade e distribuição da precipitação. Há registos no arquipélago de grandes períodos de seca e a pouca precipitação tem facilidades para um rápido escoamento devido a sua caraterística montanhosa e que por consequência é um dos agentes provocadores da erosão.

Todavia, os escassos recursos são determinantes na limitação do país, traduzindo em fraquezas com impactos diretos a nível interno. Grande parte da água para o consumo é dessalinizada, o que por sua vez consome grande esforço energético que para além do aumento da dependência desse fator, traz impactos sociais e ambientais.

c) Elevada dependência do exterior, em especial tecnologia e energia, gerando custos fatoriais pouco competitivos

A grande dependência e fragilidade do país, também se manifesta na grande necessidade de importação combustíveis fósseis. Por ser um setor estratégico do desenvolvimento, a energia exerce uma certa pressão sobre a estabilidade macroeconómica e os recursos ambientais do país. Ademais, a Agenda de transformação económica do país é muito condicionado à energia, uma vez que setores- chaves como o turismo e outras atividades económicas serão afetadas devido á grande dependência. Acresce ainda, o facto de o país não beneficiar da economia de escala devido á sua condição arquipelágica, fazendo com que cada ilha tenha necessidade das mesmas respostas em relação às infraestrutura (Brito, 2008). Referindo a mesma fonte, o consumo da energia fóssil em Cabo Verde é superior ao da União Europeia e esse consumo excessivo traz alguns desafios ao país, tanto de natureza estratégica, assim como de planeamento de infraestruturas.

Essa situação torna o país muito vulnerável aos choques externos com reflexos diretos no aumento de preços, tendo em conta uma eventual rutura no fornecimento mundial. Deste ponto de vista, torna-se importante que a política energética do país tenha em

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consideração as oscilações dos preços internacionais e os impactos ambientais devido às alterações climáticas que afetam negativamente o desenvolvimento sustentado. Pressupõe deste modo, a necessidade de inovar privilegiando outras fontes de energias, concretamente as energias renováveis de forma a diminuir a dependência de importação, contribuindo para o equilíbrio da balança comercial, ao mesmo tempo que garante a sustentabilidade do ponto de vista ambiental, social, político e económico e, garante o fornecimento, distribuição e consumo de energia adequado a nível nacional (Brito, 2008), aumentado a competitividade do país.

d) Dívida externa elevada que propicia uma dependência dos financiamentos e das ajudas exteriores

Cabo Verde é um país estruturalmente vulnerável por razões anteriormente apontadas. Isso reflete na sua grande dependência dos financiamentos e das ajudas exteriores, designadamente, ajudas para o desenvolvimento em donativos ou empréstimos concessionais e também nas remessas provenientes da mão-de-obra a trabalhar no exterior. Com a globalização e a política de inserção no mercado internacional, o IDE tornou-se também num importante fator de desenvolvimento do país. Estes fatores juntos afiguram entre as principais fontes de financiamento da economia do país e conforme se constata, os maiores fluxos são provenientes da Europa.

No entanto, a necessidade de financiamento do setor público e, a fim de aproveitar as oportunidades no que diz respeito aos empréstimos concessionais junto de credores bilaterais, multilaterais e comerciais para a realização de investimentos fazem com que a dívida externa aumentasse de forma gradual, conforme avançamos, estando segundo os dados do Ministério das Finanças e Planeamento (2015), estimado a volta dos 82% do PIB em 2014.

Contudo, não obstante investimentos em setores importantes do desenvolvimento como infraestruturas portuárias e rodoviárias, agricultura, saúde, redução da pobreza e desigualdade social, água e saneamento e habitação social (Ministério das Finanças, 2014), o elevado nível de endividamento põe em perigo a sustentabilidade das finanças públicas e reflete negativamente na gestão orçamental e consequentemente no processo de desenvolvimento. Essa situação constitui um dos obstáculos na atração de investidores externos na medida em que manifesta indícios de alguma fragilidade económico-financeira do país e consequentemente situações de insegurança.

e) Débil participação nos movimentos de integração económica regional

Apesar de ter apostado muito cedo na integração sub-regional, a realidade é que o processo não tem sido fácil o país. Cabo Verde perante as aspirações de ancorar em plataformas estáveis e que proporcionassem melhores perspetivas de desenvolvimento, encontrou na sub-região onde se insere algumas situações que o motivaram a procura de novas ancoragens, isto é, parcerias mais dinâmicas.

Na realidade, a sub-região apresenta pouca atratividade comercial refletida no baixo fluxo do comércio, deixando pistas de que muito ainda falta por explorar nesse domínio.

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Ademais, os sucessivos casos de instabilidade e a propagação de atividades criminosas que põe em causa a segurança individual e coletiva dos Estados, acrescidos às especificidades do país, traduzem em maiores obstáculos para uma plena integração. Contudo, não obstante os condicionalismos, nos últimos tempos o aprofundamento das relações tem sido um dos focos da política externa do país. O país abriga algumas instituições importantes nomeadamente, o Instituto da África Ocidental (IAO) cujo objetivo é fomentar a pesquisa internacional sobre integração regional e transformações sociais e o Centro para as Energias Renováveis e a Eficiência Energética da sub-região (CEREE) que poderão ser uma mais-valia no processo de integração.

f) Insuficiência e irregularidade na rede de transportes e comunicações

O desenvolvimento de Cabo Verde depende também do desenvolvimento do setor dos transportes. A insularidade e a descontinuidade territorial constituem grandes entraves na circulação de pessoas e mercadorias a nível nacional. Neste domínio, além da irregularidade, os altos custos também são constrangimentos críticos e assim sendo é necessidade prosseguir com investimentos nesse sector (PGCV, 2011-2016).

Sendo Cabo Verde um país com grande vocação turística onde o setor está em franco crescimento e com impactos diretos na economia, o desenvolvimento dos transportes tanto marítimos e aéreos além de melhorar a prestação dos serviços e facilitar maior integração inter-ilhas é uma necessidade fundamental. O reforço da legislação, da segurança e da fiscalização e investimentos neste domínio são imprescindíveis na salvaguarda dos interesses dos utentes107, uma vez que contribui para o bem-estar,

facilita o turismo e ao mesmo tempo gera mais emprego e melhora as condições de vida das pessoas.

A nível internacional, como podemos ver a situação geoestratégica do país favorece o comércio mundial e é a intenção do país em aproveitar dessa potencialidade e fomentar o comércio nestes moldes, movido pela ambição de construir uma economia dinâmica, competitiva e inovadora com prosperidade partilhada por todos (PGCV, 2011-2016). No entanto, a exploração deste trunfo requer o desenvolvimento de infraestrutura para os padrões internacionais, aumentando deste modo a competitividade do país.

g) Desemprego na camada jovem e pouca diversificação da oferta formativa

Apesar dos esforços feitos para diminuir os efeitos da pobreza e os resultados positivos nesta matéria, ainda se registam casos de uma boa parte da população, sobretudo jovem de estarem desempregados. O desemprego em Cabo Verde atinge não só a classe menos qualificada mas também camadas com bons níveis de qualificação.

Essa situação revela a incapacidade do país em dar respostas a situações de emprego ou ainda mostra a desarmonia existente entre as ofertas formativas e as necessidades do mercado (DECRP III, 2012-2016). Ainda citando a mesma fonte, um estudo do Banco Mundial revela que, não obstante o país ter um mercado formal de emprego com características alternadas, a legislação referente ao mercado laboral pode ser

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considerada rígida e um dos obstáculos ao investimento e, consequentemente, do emprego. Essa situação faz o país estar entre os piores classificados em relação aos países da África Subsaariana, com a notação de 3.75 num máximo de 7 e está classificado em 30º lugar, num total de 35 países.

Entretanto, nota-se a necessidade de flexibilidades legislativas de forma a impedir a redução da atratividade do país para investidores e a inibição da criação de emprego por parte de empresas nacionais. A nível da educação, é necessário a diversificação e introdução de novas componentes letivas como as TICs e a história, incluindo as línguas estrangeiras nomeadamente o inglês e o francês, de forma a proporcionar uma mão-de- obra competitiva.