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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA COMPREENSÃO DO TEMA

2.2 PLANOS AMBIENTAIS DE RESERVATÓRIOS

2.2.2 A Gestão Ambiental dos Reservatórios e o Zoneamento Ambiental

É sabido que a implantação de reservatórios artificiais causa impactos significativos nos meios físico, biótico e socioeconômico dos municípios atingidos. Em contrapartida, durante a fase de operação do empreendimento, as alterações de uso do solo podem influir decisivamente sobre o reservatório, comprometendo a finalidade que justificou sua implantação (TRACTEBEL, 2002).

O uso inadequado do solo, os esgotos não tratados, os despejos industriais e o lixo jogado nos cursos de água, ou a ele levados pelo sistema de coleta de águas pluviais, podem trazer sérios problemas à operação dos reservatórios na medida em que alteram a qualidade e a quantidade da água afluente e acumulada.

Na prática do planejamento urbano, o zoneamento tem forte conotação normativa e pode ser definido como “um instrumento jurídico de ordenação do uso e ocupação do solo” (SILVA, J., 2002, p. 267). Ou então, segundo Machado (2003, p. 177), “o zoneamento consiste em dividir o território em parcelas nas quais se autorizam determinadas atividades ou interdita-se, de modo absoluto ou relativo, o exercício de outras atividades”.

Mais adiante Silva, J. (2002, p.269) define zoneamento como um “conjunto de normas legais que configuram o direito de propriedade e o direito de construir, conformando-os ao princípio da função social, mediante imposições gerais à faculdade de uso e de edificação”.

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De acordo com o autor, as limitações impostas pelo zoneamento não atropelam o direito de propriedade garantido pela Constituição Federal no inciso XXII do Artigo 5º, uma vez que, no caso da propriedade rural, esse direito é condicionado ao atendimento de sua função social.

Para Schubart (2000, p. 157) “o zoneamento é o ato de dividir um território por zonas, segundo objetivos e critérios pré-determinados”, ressaltando que ele encerra duas conotações. Na primeira delas, o zoneamento é um resultado técnico de uma análise e classificação em zonas, de um dado território, definidas com base em critérios pré-determinados. Na segunda conotação, o zoneamento é o resultado de um processo político-administrativo em que se utilizam outros critérios além dos técnicos, de modo a subsidiar a adoção de diretrizes e normas legais, visando atingir objetivos que restringem o uso e a ocupação do território.

Dentre os instrumentos da PNMA (BRASIL, 2003) mencionados no Artigo 9 encontram-se o zoneamento ambiental (inciso II) e a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo poder público federal, estadual e municipal (inciso VI).

O zoneamento ambiental ou ecológico pode ser definido como uma divisão de determinada área geográfica em setores, identificando quais atividades de uso e ocupação são mais adequadas, de modo que as necessidades antrópicas estejam harmonizadas com as de conservação ambiental; enquanto que o zoneamento ecológico-econômico – ZEE, segundo definido por Becker e Egler (apud SCHUBART, 2000, p. 158), “consiste na divisão do território por zonas que podem ser denominadas de ecológico-econômicas, delimitadas segundo critérios ecológicos e ambientais e sócio-econômicos”. Percebe-se, assim, que o ZEE é mais complexo que o zoneamento ambiental por envolver os aspectos econômicos do uso do território.

O Brasil tem experimentado consolidar o ZEE em todo território nacional. Nessa direção, foi instituída, pelo Decreto Federal nº 99.540 de 21 de setembro de 1990, a Comissão Coordenadora do Zoneamento Ecológico-Econômico do Território Nacional – CCZEE, de caráter interministerial e coordenada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República – SAE/PR, com o objetivo de promover o ZEE de todo o país. Com a extinção da SAE/PR, através da Medida Provisória nº 1.911-8/99 de 29 de julho de 1999, a responsabilidade pela coordenação e execução do ZEE passou para o MMA. A viabilização do ZEE ocorre em duas dimensões complementares entre si: o projeto ZEE Brasil e os

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projetos ZEEs regionais e estaduais. Apesar das dificuldades metodológicas e incompatibilidades entre os ZEEs elaborados para os estados, vários projetos foram concluídos e outros estão em andamento (MMA, 2004).

No caso específico desta dissertação, o interesse recai no zoneamento ambiental enquanto instrumento controlador do uso e ocupação do solo, de modo que as necessidades antrópicas estejam harmonizadas com as de conservação ambiental, influenciando assim na qualidade dos recursos hídricos dos corpos d’água.

Quanto aos diversos usos a serem dados no zoneamento para os recursos naturais, Dani (1994) distingue, pelo menos, três formas principais:

• os usos conservacionistas, por exemplo, a caça, o extrativismo e o manejo sustentado de matas nativas;

os “usos alternativos”, por exemplo, a agricultura, a pecuária, a silvicultura, a aqüicultura, as edificações urbanas, industriais, rurais, marítmas, etc;

os usos preservacionistas, por exemplo: a intocabilidade de ecossistemas nativos, os parques nacionais, as reservas ecológicas.

Os usos preservacionistas têm como função principal proteger os sistemas naturais existentes, cuja utilização dependerá de normas de controle rigorosas. Já os usos conservacionistas têm como função principal permitir a ocupação do território sob condições adequadas de manejo e utilização dos recursos e fatores ambientais.

O zoneamento ambiental é, portanto, um instrumento que permite orientar ou reorientar o planejamento, a ocupação, e a gestão territorial do país, conciliando o desenvolvimento econômico com a utilização racional dos recursos ambientais de forma sustentável. Apresenta-se como instrumento extremamente útil para as empresas geradoras de energia elétrica, permitindo identificar e analisar problemas ambientais que estão comprometendo a qualidade e quantidade da água afluente aos reservatórios das usinas hidrelétricas, quer sejam pelo uso inadequado de suas margens, ou da água represada.

O disciplinamento do solo propiciado pelo zoneamento ambiental também se constitui, na visão de Milaré (1999), em instrumento ideal para a gestão ambiental municipal, uma vez que abrange todas as atividades exercidas no espaço urbano, além de considerar os aspectos

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de preservação ambiental. O zoneamento vem assim contribuir com os municípios para que eles atendam o dispositivo constitucional que lhes atribuiu quase que completamente, a incumbência de legislar sobre o uso do solo, através de seus Planos Diretores e políticas de ordenamento territorial.

Percebe-se, por fim, que a existência de zoneamento ambiental para determinado território comprometido com a manutenção da qualidade ambiental, vem facilitar bastante o papel dos agentes responsáveis pelo licenciamento das diversas atividades localizadas no território. Adicionalmente, também é benéfico para os empreendedores na medida em que conciliam seus investimentos comprometidos com a preservação da qualidade ambiental, dando-se assim um grande passo rumo à sustentabilidade (MONTAÑO, 2002).

2.2.3 O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial