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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA COMPREENSÃO DO TEMA

2.3 ARCABOUÇO LEGAL

2.3.2 A Política Nacional de Recursos Hídricos

O ponto central da legislação ambiental e da Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH é o Código de Águas de 1934 (BRASIL, 2003), que, durante muitos anos, foi o único instrumento jurídico sobre o tema no país. Alguns dos conceitos nele estabelecidos estão entre os mais atuais para o gerenciamento dos recursos hídricos. A ênfase dada na sua regulamentação foi ao aproveitamento dos potenciais hidráulicos que, na época, representava fator condicionante para o progresso industrial e crescimento econômico do Brasil.

A Constituição Federal de 1988 modificou pouco o texto do Código de Águas (BRASIL, 2003). Uma das alterações foi a extinção do domínio privado das águas, previsto naquele antigo instrumento legal, que passaram a ser de domínio público, seja da União, seja dos estados. Os rios ou lagos que banham mais de um estado, que servem de limite com outros países, se estendem ao território estrangeiro ou dele provêm, são de domínio da União. Estabelece também, no seu Artigo 21, inciso XIX, que compete à União "instituir o sistema nacional de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso". Essa determinação constitucional veio a ser atendida pela promulgação da Lei Federal 9.433/97 (BRASIL, 2003) que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos - SNGRH.

A Lei nº 9.433/97 (BRASIL, 2003), referenciada também como lei das águas, constituiu-se num marco importante para a construção de um estilo de desenvolvimento sustentável no Brasil. Entre os seus fundamentos, definidos no Artigo 1º, sobre os quais se baseia a PNRH e o respectivo SNGRH, e que se constituem em princípios que devem nortear as atividades dos diferentes usuários dos recursos hídricos, destacam-se: a água é um bem de domínio público, limitado, dotado de valor econômico, cuja gestão deverá sempre proporcionar o seu uso múltiplo; estabelece também que a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da PNRH e atuação do SNGRH, devendo a gestão ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Capítulo 2 – Pressupostos Teóricos para Compreensão do Tema 45

Por meio dessa lei, estabeleceu-se um arcabouço institucional baseado em novos tipos de organização para a gestão compartilhada, descentralizada e participativa do uso da água, reconhecida como bem público, finito, vulnerável e de valor econômico, com destaque para:

• o Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH - órgão mais elevado na hierarquia do SNGRH em termos administrativos, ao qual cabe decidir sobre as grandes questões relacionadas aos recursos hídricos;

• os Comitês de Bacias Hidrográficas – CBH - tipo de organização inteiramente novo na realidade institucional brasileira, contando com a participação dos usuários, das prefeituras, da sociedade civil organizada, dos níveis estaduais e federal do governo, destinados a atuar como “parlamento das águas”, uma vez que são o fórum de decisão no âmbito de cada bacia hidrográfica;

• as Agências de Água – AA - mais uma inovação trazida pela lei, para atuarem como secretarias executivas de seu(s) correspondente(s) comitês e destinadas a gerir os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água, exercitando a administração do sistema.

Um aspecto importante dessa legislação, explicitado em seu Artigo 3º e que consta nas diretrizes gerais de ação para implementar a PNRH, é a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental e com a gestão do uso do solo na bacia.

Como instrumentos da PNRH, estabelecidos no Artigo 5º, destacam-se: o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; os Planos de Recursos Hídricos, a serem estabelecidos em nível de bacias, estados e país; a outorga dos direitos de uso e a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

O enquadramento dos corpos de água em classes visa assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinados e a diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes (BRASIL, 2003).

Para implementação da PNRH e coordenação do SNGRH foi criada, pela Lei nº 9.984/00 (BRASIL, 2003), a Agência Nacional de Águas – ANA, que, conforme estabelecido em seu Artigo 4º tem, entre outras, as seguintes atribuições: supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos; outorgar o direito de uso e fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União; estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de

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Bacia Hidrográfica; arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso dos recursos hídricos de domínio da União e definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos e privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme estabelecido nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias hidrográficas.

Com relação à cobrança pelo uso dos recursos hídricos, o Artigo 28 da Lei nº 9.984/00 (BRASIL, 2003), veio alterar o valor da compensação financeira paga pelos concessionários aos estados e municípios pela exploração de recursos hídricos em seus respectivos territórios, para fins de geração de energia elétrica, conforme havia sido estabelecido pelas Leis nº 7.990/89 e nº 8.001/90. Ao percentual de 6% sobre o valor da energia produzida foi acrescentado 0,75% a ser pago pelo uso dos recursos hídricos. Após a promulgação da lei de criação da ANA, a compensação financeira ficou assim distribuída:

• 6% do valor da energia produzida são distribuídos entre os estados, municípios e órgãos da administração direta da União. Desse total, 45% vão para os estados e 45% para os municípios em cujos territórios se localizarem instalações destinadas à produção de energia elétrica, ou que tiveram áreas invadidas por águas dos respectivos reservatórios. Os outros 10% são distribuído entre o MMA (3%), o MME (3%) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT (4%);

• 0,75% por cento do valor da energia produzida é destinado ao MMA, para aplicação na implementação da PNRH e do SNGRH, a título de cobrança pelo uso da água.

Quanto ao destino dos recursos oriundos da compensação financeira, o Art. 8º da Lei nº 7.990/89 veda sua aplicação em pagamento de dívidas e no quadro permanente de pessoal (Chesf, 2005), não havendo nenhuma obrigatoriedade de aplicação específica.

Já os valores arrecadados pela cobrança do uso da água serão aplicados, prioritariamente, na bacia hidrográfica em que forem gerados, para financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de Recursos Hídricos. Serão utilizados, também, no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidades integrantes do SNGRH, limitando esta aplicação em até 7,5% do total arrecadado. Conforme disposto em decreto, os recursos financeiros advindos deste pagamento pelo uso dos recursos hídricos constituirão parte das receitas da ANA.

Capítulo 2 – Pressupostos Teóricos para Compreensão do Tema 47

As leis 9.433/97 e 9.984/00 organizam o setor de planejamento e gestão dos recursos hídricos em âmbito nacional. Papel fundamental compete também aos estados através da definição de suas políticas e implementação dos correspondentes sistemas de gerenciamento dos recursos hídricos de seu domínio.