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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA COMPREENSÃO DO TEMA

2.2 PLANOS AMBIENTAIS DE RESERVATÓRIOS

2.2.4 Plano de Gestão Sócio-patrimonial

O sistema de geração e transmissão de energia elétrica implantado no Brasil fez com que as concessionárias de energia agregassem um patrimônio imobiliário de grandes proporções. Em razão dos problemas decorrentes dos usos irregulares e ocupações inadequadas dos reservatórios e das faixas de segurança das linhas de transmissão, a preservação desse patrimônio passou a ser uma das grandes preocupações das empresas concessionárias do setor elétrico, em virtude dos problemas que poderiam causar à manutenção, à operação e à preservação de seus patrimônios, bem como à segurança das pessoas.

Desta forma, surgiu a necessidade de se definir e implantar procedimentos e ações preventivas e corretivas no sentido de administrar e preservar o patrimônio constituído. No intuito de solucionar esse problema, o já extinto DNAEE propôs a criação de um grupo de trabalho composto por representantes de diversas concessionárias de energia elétrica, para

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definição de um Manual Técnico de Procedimentos visando à elaboração de um Plano de Gestão Sócio-patrimonial – PGSP para o Setor Elétrico (DNAEE, 1997).

Esse documento,concluído em julho de 1997, contém as orientações e procedimentos uniformes para subsidiarem a elaboração dos PGSP das empresas concessionárias de energia elétrica no Brasil tendo, desta forma, um papel estruturador, na medida em que estabelece políticas e estratégias para a atuação das empresas do setor na gestão sócio-patrimonial das áreas de sua propriedade ou servidão.

Com a extinção do DNAEE e a criação da ANEEL, a coordenação do plano passou a ser conduzida por essa agência, uma vez que, por competência institucional, lhe cabe o exercício da fiscalização da aplicação da gestão sócio-patrimonial pelas concessionárias.

A metodologia proposta para o referido plano abrange os reservatórios das usinas hidrelétricas, nas fases de projeto, construção e operação e as linhas de transmissão. O foco nesta dissertação foram os reservatórios das usinas hidrelétricas, não sendo abordados os aspectos referentes às linhas de transmissão.

Em 29 de maio de 2001, a ANEEL, por meio do Ofício n° 206/2001, determinou às empresas concessionárias, a execução de um PGSP dos reservatórios de suas usinas hidrelétricas, com a preocupação central de implantar um efetivo domínio sobre o patrimônio imobiliário constituído (ANEEL, 2001).

Para as usinas hidrelétricas, a elaboração do PGSP está calcada nas seguintes diretrizes:

• otimizar as condições normais da geração de energia elétrica;

• maximizar a vida útil dos reservatórios por meio da preservação da qualidade da água;

• coibir usos inadequados e ocupações clandestinas nas áreas de propriedade das concessionárias, ou de servidão, nos reservatórios;

• fomentar a compensação social por meio do uso múltiplo; e

• alienar bens e instalações inservíveis.

A primeira atividade do plano consiste no levantamento das situações existentes e dos órgãos públicos envolvidos com os reservatórios, de forma a elaborar um diagnóstico que

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permita subsidiar programas e ações visando ao efetivo controle da gestão sócio-patrimonial. Para isso, define os seguintes procedimentos a serem seguidos pelas empresas concessionárias na ocasião da elaboração de seus PGSPs:

• elaborar um diagnóstico da situação do reservatório, margens e ilhas;

• analisar a situação constatada no mapeamento;

• demarcar a cota de desapropriação;

• conscientizar e orientar as aglomerações urbanas e rurais expressivas que, porventura, margeiem os reservatórios;

• implantar ações corretivas quanto à permanência da ocupação e definir procedimentos para retirada dos invasores;

• definir e implantar ações preventivas.

As ações preventivas buscam evitar a ocorrência de novas invasões e usos inadequados dos reservatórios, margens e ilhas. Elas envolvem: a inspeção patrimonial preventiva e periódica, visando identificar e cadastrar os confrontantes, mapeá-los e analisar novas áreas críticas; a verificação constante da permanência e do estado de conservação dos marcos referentes à cota de desapropriação; e a execução de programas de comunicação social. Elas envolvem também a celebração de convênios ou contratos de cessão de uso, com órgãos públicos, entidades privadas e outros parceiros, visando utilização racional das margens e ilhas dos reservatórios, que não são passíveis de alienação, estimulando a preservação, conservação e uso público. Tais instrumentos devem estar de acordo com a legislação vigente e o PDR.

Dentre as ações preventivas, estava prevista a elaboração de um PDR para normatizar o uso e ocupação das margens e ilhas do reservatório. Entretanto, por sugestão da ABRAGE - Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica, o PDR veio a ser posteriormente suprimido da proposta da ANEEL, em razão do entendimento de que sua abrangência superava o escopo do próprio PGSP. Posteriormente, conforme comentado na seção anterior, a elaboração do PDR passou a ser uma exigência legal, de acordo com a Resolução CONAMA 302/2002.

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Numa análise mais detalhada das diretrizes definidas pela ANEEL frente aos objetivos esperados com o PGSP, pode-se concluir:

• o diagnóstico sugerido busca identificar apenas as áreas críticas no que concerne às invasões, não se preocupando em identificar as áreas críticas do ponto de vista ambiental, que são indispensáveis para se atender à diretriz do plano que visa preservar a qualidade da água do reservatório;

• a ausência de zoneamento de uso e ocupação do solo prévio inviabiliza a formulação de alternativas sustentáveis de moradia, trabalho e renda para os invasores;

• a abordagem do plano é, essencialmente, patrimonialista e privativista, não se identificando, em seu conteúdo, a visão holística necessária para o trato de questões relativas à propriedade e ao uso e ocupação do solo pelas comunidades usuárias do reservatório das usinas hidrelétricas.

É inquestionável a importância do PGSP proposto pela ANEEL para o setor elétrico. Entretanto, necessário se faz uma reflexão quanto à possibilidade de ampliação do seu escopo no que se refere ao trato das questões ambientais.

Algumas empresas do setor elétrico perceberam essa deficiência e incorporaram a questão ambiental em todos os procedimentos definidos pela ANEEL, como é o caso da TRACTEBEL (2002).