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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 ANÁLISE RETROSPECTIVA

4.2.3 Consolidação dos Resultados da Análise Retrospectiva

4.2.3.1Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial

No caso específico do setor elétrico, o Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial, desde sua concepção, teve várias denominações: Plano Diretor de Reservatório, utilizado nas décadas de 70 a 90; Plano de Uso e Ocupação do Reservatório, Plano de Uso e Ocupação das Águas e Entorno do Reservatório, Plano de Uso e Ocupação do Solo, entre outros. Com a publicação da Resolução CONAMA nº 302/02, os novos planos elaborados vieram a incorporar a denominação dada pela resolução, qual seja, Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial - PACUERA.

Fazendo uma síntese das seções 4.2.1.1 e 4.2.2, complementados com a análise documental, conclui-se que os primeiros PDR das usinas hidrelétricas foram elaborados no início da década de 80. Foram identificados e consultados os seguintes planos:

• Plano Diretor das UHE Rosana e Taquaruçu, localizadas no baixo curso do rio Paranapanema, na divisa entre São Paulo e Paraná, inserido no documento Reservatórios de Rosana e Taquaruçu – Estudo de Controle Ambiental e Aproveitamento Múltiplo – Relatório Síntese (CESP, 1980).

• Plano Diretor da Área do Reservatório de Itaipu, localizada no rio Paraná, na divisa entre o Brasil e o Paraguai (ITAIPU, 1982).

No caso específico de Itaipu, a elaboração do primeiro Plano Diretor já estava prevista no Plano Básico para Conservação do Meio Ambiente, elaborado em 1975, quando se antevia a necessidade de elaboração de um plano de ocupação da área que respeitasse a fragilidade ecológica do meio ambiente e identificasse áreas para usos específicos, particularmente para turismo e lazer da população (ITAIPU, 1975).

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Um aspecto importante observado foi que esses primeiros planos foram elaborados durante a fase de viabilidade do empreendimento, época considerada mais adequada pelos especialistas e também referendada nos documentos da Cesp e da Eletrobrás (CESP, 1978; ELETROBRÁS, 1986b).

Esses dois planos diretores tinham os seguintes objetivos básicos: restabelecer o equilíbrio ecológico da região e analisar as oportunidades de uso múltiplo propiciadas pelo reservatório. Adicionalmente, eles também objetivavam definir um conjunto de normas e recomendações com relação ao uso dos reservatórios e suas margens de forma a assegurar a qualidade dos recursos naturais. Este último objetivo era inserido num item denominado Código de Represas ou Código de Uso do Reservatório sendo, às vezes, elaborado como um documento à parte.

Diferentemente desses dois planos, o Plano Diretor da UHE Paraibuna/SP, da Cesp, foi elaborado no início da década de 90, encontrando-se a usina em operação desde 1978. Seus objetivos foram: assegurar disponibilidade de água, em qualidade e quantidade para geração de energia elétrica e outros usos; assegurar diversidade biológica e possibilitar o uso múltiplo dos recursos naturais na sua área de influência. Utilizou a metodologia adotada para estudos de aproveitamento racional de bacias hidrográficas, com adaptação para usina hidrelétrica. Os estudos foram desenvolvidos em dois níveis: um para a bacia hidrográfica e outro para o reservatório e áreas da empresa, extrapolando um pouco os limites da área de desapropriação em função do maior grau de influência sobre o reservatório. Para a bacia hidrográfica foi elaborado apenas um macro zoneamento da região de forma a permitir elaborar diretrizes gerais de intervenção a serem implantadas por outras instituições públicas, em parceria com a empresa geradora. Já para o reservatório e nas áreas de propriedade da empresa foi proposto um zoneamento de uso e ocupação com o estabelecimento de diretrizes de intervenção, apresentadas na forma de Programa de Controle Ambiental e Uso Múltiplo (CESP, 1992).

Identificou-se que a motivação para elaboração desses primeiros planos era decorrente de iniciativa da própria empresa. Outro fator motivador foi a forte pressão internacional em relação ao uso do solo brasileiro. Essa pressão internacional era exercida pelas entidades financiadoras internacionais, como o Banco Mundial – BIRD e o Banco Interamericano de

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Desenvolvimento – BID, e surgiu como forma de operacionalizar as diretrizes firmadas na Conferência de Estocolmo, em 1972.

A partir do final da década de 90, a elaboração dos planos passou a ser exigida pelos órgãos ambientais, havendo casos onde a sua elaboração já estava prevista no Plano Básico Ambiental – PBA, se constituindo assim, numa pendência da empresa geradora frente ao órgão ambiental. Um exemplo deste caso é o da UHE Salto Caxias, localizada no rio Iguaçu/PR. Seu primeiro PDR foi elaborado em 1998, quando da construção da usina e o segundo em março de 2001, a pedido do IAP/PR. Com a promulgação da CONAMA nº 302, o IAP solicitou um terceiro plano adequado à nova legislação, que veio a ser concluído em 2003, já denominado Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial (COPEL, 2003).

Com a promulgação da Lei dos Crimes Ambientais em 1998, as empresas geradoras tiveram que regularizar o licenciamento ambiental de seus empreendimentos que haviam entrado em operação antes de 1986 e, dentro desse processo, os órgãos ambientais passaram a exigir a elaboração de Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial. Por essa razão, a partir de 2000, os planos ambientais de reservatórios voltaram a ser elaborados numa quantidade bem maior, especialmente para as usinas em operação, de forma que as empresas se adequassem à legislação vigente.

Quanto à definição do escopo dos planos e elaboração dos termos de referência, pode- se concluir que, até o início da década de 90, eles eram elaborados pela própria empresa e, a partir do final dessa década, passaram a ser definidos pelo órgão ambiental. A definição do escopo do plano e de sua área de influência pelo órgão ambiental, principalmente para os empreendimentos em operação, foi identificada na pesquisa como fator de resistência das geradoras para elaboração dos planos. As empresas consideravam que os escopos assim definidos extrapolavam seus interesses, requerendo maior dispêndio de recursos humanos e financeiros na realização de estudos e definição de restrições de uso numa área onde o empreendedor não tem poder de polícia nem responsabilidade de fiscalização e controle.

Os primeiros planos elaborados utilizavam a bacia ou sub-bacia hidrográfica como área de influência. No final da década de 90 e no início dos anos 2000, vários planos foram elaborados para reservatórios localizados no estado do Paraná, por exigência do IAP/PR,

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tendo adotado, como área de influência, uma faixa de 1000 metros no entorno dos reservatórios. Outros órgãos ambientais e o Ibama têm utilizado, como área de influência, a bacia ou sub-bacia de contribuição, não assumindo um valor numérico pré-fixado. Este assunto foi aprofundado na análise prospectiva.

Quanto ao conteúdo dos planos, houve pouca variação ao longo do tempo. Os itens considerados mais robustos, aqui entendidos como aqueles que estiveram presentes na grande maioria dos planos elaborados desde a década de 80, foram os seguintes:

• diagnóstico socioambiental da área de influência;

• avaliação dos usos potenciais;

• programas ambientais implantados e/ou em andamento;

• diretrizes e normas de uso para diversas zonas.

O zoneamento dos usos, apesar de não estar presente em alguns planos, considera-se como sendo essencial para que possa se definir diretrizes e elaborar normas de uso adequadas para o reservatório e seu entorno.

Vale destacar a evolução dos objetivos dos planos ao longo das últimas décadas. Os primeiros planos, denominados planos diretores, tinham um enfoque mais abrangente, na medida em que buscavam fazer uma inserção regional do empreendimento na região, se constituindo assim em instrumentos de desenvolvimento regional. A preocupação com a preservação dos recursos naturais, com maior ênfase para os recursos hídricos, em sua quantidade e qualidade, foi uma constante em todos os planos elaborados. Por serem planos mais abrangentes tiveram muita dificuldade de implantação, principalmente porque delegavam ao setor elétrico toda a responsabilidade pela sua implementação. Os atuais planos, em contrapartida, têm um enfoque mais voltado para a conservação e recuperação ambiental da região onde o reservatório está inserido, ficando num segundo plano o efetivo aproveitamento dos benefícios advindos com a implantação do reservatório.

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4.2.3.2Plano de Gestão Sócio-patrimonial

A elaboração de PGSP começou a ser exigida pela agência reguladora com o objetivo de preservar o patrimônio constituído pelo setor elétrico. Das 7 empresas entrevistadas apenas duas ainda não tinham elaborado o PGSP, até o momento da pesquisa.

A principal motivação para elaboração do PGSP foi a exigência da agência reguladora. Quanto ao escopo definido pela ANEEL, 50% das empresas o consideraram muito restrito e fizeram ampliações para contemplar os aspectos ambientais.

Os demais aspectos do plano avaliados nesta pesquisa foram analisados na próxima seção.