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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA COMPREENSÃO DO TEMA

2.2 PLANOS AMBIENTAIS DE RESERVATÓRIOS

2.2.1 A Gestão Ambiental e os Reservatórios

De acordo com Souza (2000, p.27), a gestão ambiental pode ser entendida “como o conjunto de procedimentos que visam à conciliação entre desenvolvimento e qualidade ambiental, devendo, portanto, buscar o equilíbrio entre as necessidades da sociedade e a capacidade de suporte dos ecossistemas”. Na visão do autor, a gestão ambiental encontra suas ferramentas de ação, entre outras, na legislação, na política ambiental e na participação da sociedade.

A gestão ambiental pode ser pública ou privada. Na primeira, a responsabilidade recai no próprio Estado como gestor do meio ambiente, que adota instrumentos e mecanismos para gerenciar a questão ambiental. A segunda está relacionada com o gerenciamento da questão pelas empresas, sejam elas públicas ou privadas, e se baseia em princípios e diretrizes definidos pela própria organização (MALHEIROS, 1996). Obviamente que em ambas as gestões devem se subordinar à legislação em vigor.

Na visão de Lanna (1995, p. 17), a gestão ambiental pode se definida como um “processo de articulação dos diferentes agentes sociais que interagem em um dado espaço, visando garantir, com base em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos, a adequação dos meios de exploração dos recursos ambientais [...] às especificidades do meio”. Constitui-se assim, numa atividade voltada para formulação de princípios e diretrizes com o objetivo final de promover, de forma coordenada, o inventário, uso, controle e proteção do ambiente. Segundo o autor, fazem parte da gestão ambiental, entre outros:

• a política ambiental – que é um conjunto de princípios doutrinários que orientam as empresas ou o governo no trato das questões ambientais;

• o gerenciamento ambiental – que é o conjunto de ações destinadas a regular o uso, controle e proteção ambiental;

• o planejamento ambiental – que é um estudo prospectivo que busca adequar o uso, controle e proteção do meio ambiente de acordo com os princípios estabelecidos na política ambiental.

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O planejamento, segundo Alvarenga e Souza (1997), enquanto conjunto de práticas que busca definir diretrizes para o uso e ocupação de determinado espaço, só pode ser interpretado como ambiental se tiver explicitado o compromisso da proteção ambiental conjugada à promoção do desenvolvimento.

O planejamento elaborado em consonância com o desenvolvimento sustentável deve considerar um sistema eficiente de gestão ambiental, com vistas à conservação do meio ambiente, entendida como a compatibilização e a otimização dos múltiplos usos do meio ambiente, de forma harmônica com as vocações naturais dos ecossistemas (LEAL,1998).

A sustentabilidade, na visão de Sachs (1993), possui cinco dimensões:

• a econômica - defende o gerenciamento e uma alocação mais eficiente dos recursos. Neste sentido, prevê a superação de algumas dificuldades externas, entre elas as relações adversas de troca do sul para o norte, as barreiras protecionistas dos países industrializados e as limitações de acesso à ciência e à tecnologia;

• a social - pressupõe um processo de desenvolvimento sustentado por outro paradigma de crescimento e outra visão de sociedade, tendo como meta uma distribuição eqüitativa de bens, de maneira a diminuir a defasagem entre o padrão de vida das pessoas;

• a ecológica - inclui o respeito à capacidade de suporte e regeneração dos ecossistemas, a redução de processos poluentes e a procura por tecnologias mais eficientes que possibilitem menos desperdício de recurso;

• a espacial - busca uma distribuição territorial mais balanceada entre populações rurais e urbanas e a descentralização das áreas industriais ou agrícolas e

• a cultural - indica uma preocupação em evitar a desestruturação cultural da comunidade, além de estimular padrões de consumo e comportamentos que venham ao encontro do novo paradigma do desenvolvimento.

Além dessas cinco dimensões, Sachs (1993) considera a dimensão política como muito importante, pois, através dela, as populações devem ser envolvidas na elaboração e execução dos planos de gerenciamento ambiental com uma participação democrática, promovida por meio das organizações sociopolíticas e institucionais. Adicionalmente, é necessária uma

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integração maior entre os diversos setores intervenientes e as instituições que atuam na área ambiental, interagindo com as das áreas de planejamento e econômica.

Para Vieira (1995), no desenvolvimento sustentável, há necessidade de se compatibilizar, simultaneamente, a viabilidade econômica, eqüidade social e autonomia política, assegurando o direito à cidadania plena, que só pode ser obtido pela participação democrática em processos decisórios. Considera também que a participação da população se constitui num pressuposto fundamental para o fortalecimento da gestão dos recursos naturais, defendendo que ela deveria começar pela identificação de problemas e necessidades. O autor entende que o grande desafio é buscar o envolvimento popular de forma contínua e não pautado numa participação em eventos pontuais. Trindade (1997) complementa que os

stakeholders são partes interessadas em situações onde há conflitos inerentes e que os

diálogos mais eficazes são obtidos quando os temas em discussão são concretos e nenhum

stakeholder relevante deixa de participar.

Cunha e Coelho (2003, p. 66) também comungam da mesma opiniãoquando afirmam que, “na formulação e execução das políticas ambientais tem-se enfatizado a ampliação dos mecanismos de participação dos diversos atores sociais envolvidos com a gestão dos recursos naturais”. Para o autor, as décadas de 80 e 90 foram marcadas por uma crescente participação da sociedade civil nos processos de tomada de decisão de políticas e implementação de programas e projetos na área ambiental.

A negociação e a participação social são indispensáveis para a elaboração dos Planos Ambientais de Conservação e Uso do Entorno de Reservatórios Artificiais, não apenas por ser um exercício amplo da democracia e da cidadania, mas também para que as ações previstas no plano agreguem contribuição significativa de todos os interessados. Devem participar: a população direta e indiretamente afetada pelo empreendimento, as organizações da sociedade civil, representantes da administração pública e das empresas privadas, entre outros. Somente com uma efetiva participação social o plano poderá ter legitimidade (GERASUL, 2000).

Um aspecto importante defendido por Lanna (2000) para a gestão ambiental das águas, é a adoção da bacia hidrográfica como unidade geográfica de planejamento e intervenção, ao contrário de se utilizarem unidades de caráter político-administrativo como o Estado ou o Município. A vantagem de sua utilização “é que a rede de drenagem de uma bacia consiste

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num dos caminhos preferenciais de boa parte das relações causa-efeito, particularmente aquelas que envolvem o meio hídrico” (LANNA, 1995, p. 63). Uma das desvantagens de tal utilização é que nem sempre os limites municipais e estaduais respeitam os divisores da bacia e algumas relações de causa-efeito podem ter caráter econômico e político. Adicionalmente, a depender da bacia, poderá ocorrer da unidade de intervenção se tornar muito grande, recomendando-se, nesses casos, que se trabalhe com sub-bacias (Ibid, 1995).

Em resumo, a gestão ambiental dos reservatórios pode ser definida como o conjunto de medidas e ações destinadas a: preservar os recursos naturais, essenciais para a manutenção da atividade de geração de energia elétrica; atender às exigências legais estabelecidas nas diversas etapas do licenciamento ambiental, com vistas à sustentabilidade do negócio; manter as condições ambientais em níveis socialmente aceitáveis (TRACTEBEL, 2002).