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3.4 EIXOS DA GESTÃO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE DESDE

3.4.1 A IMPLANTAÇÃO DE EXPERIMENTOS DE GOVERNANÇA

Em se tratando de governos de orientação popular tinham como meta a realização de uma gestão aberta à participação dos diversos setores da sociedade no processo de definição e adoção de diretrizes que orientam a ação do poder público na cidade. Essa meta se concretizou através da inovação de procedimentos que incorporavam diferentes setores da sociedade no processo de decisão. Ao estudar o caso de Belo Horizonte, Boschi (1999) identifica propostas de governança em três áreas políticas: “na esfera de políticas regulatórias através dos respectivos Planos Diretores, em termos da proposta de utilização orçamentária feita a partir dos orçamentos participativos (que, na verdade, são mais um modelo de gestão urbana que uma política), e, finalmente, no plano de algumas políticas regulatórias em áreas

49 Em 1993 é eleita a chapa da Frente BH Popular, liderada por Patrus Ananias do PT que inaugura uma proposta de gestão, auto-intitulada “democrática-popular”. Esta coalizão de esquerda se mantém a frente das gestões seguintes, encabeçadas por Célio de Castro (1997-2000 e 2001-2002) e Fernando Pimentel (2002-2004 e 2005-2008).

50 “O conceito de governança aqui adotado é o que norteia as discussões recentes sobre a gestão urbana nos países em desenvolvimento (McCarney, 1996), referindo-se a formatos de gestão pública que, fundados na interação público/privado, tenderiam a assegurar transparência na formulação e eficácia na implementação de políticas” (BOSCHI, 1999).

específicas, por intermédio da implantação de conselhos setoriais”. Apresentaremos sucintamente cada uma delas.

O Plano Diretor já havia sido iniciado e paralisado em administrações anteriores. Em 1993 foi retomado, assumindo o papel de um plano definidor de rumos do processo de produção e apropriação da cidade, que priorizava a gestão democrática. A proposta da nova administração entendia que o Plano Diretor “consistia em um instrumento de gestão urbana em cuja concepção as atividades de análise, planejamento e regulamentação seriam tarefas permanentes, dotadas de flexibilidade e abertas à participação de diversos setores” (BOSCHI, 1999). O processo de construção envolveu os setores da sociedade na discussão de aperfeiçoamento da minuta proposta pelo governo municipal, tendo sido facilitado pela existência de uma gestão urbana descentralizada e pela capacidade do governo de estabelecer a negociação e mediar conflitos. No entanto, foi uma experiência de caráter ainda incipiente, com manifestação de interesse e participação desiguais no processo de discussão e negociação. A natureza técnica e especializada da maior parte das questões em discussão dificultou a participação de setores populares, especialmente os de mais baixa renda, excluindo-os do processo. O Orçamento Participativo – OP51, iniciado em 1993, destaca-se como uma

experiência de participação da sociedade na formulação e implantação de políticas públicas, mais especificamente nas decisões de alocação de recursos de investimento em infra-estrutura urbana. O modelo de OP adotado em Belo Horizonte combinava a participação de associações populares (associações comunitárias, principalmente) e de outras entidades representativas (religiosas, culturais etc.) com a participação de cidadãos avulsos, contemplando um número significativo de pessoas que não se vinculam aos movimentos organizados. Desde o começo, o número de participantes foi expressivo. Quanto à participação, se percebe certo deslocamento da preocupação inicial em ter-se um número crescente de participantes, para uma preocupação com a qualidade da participação. Este acesso

51 Para estudos sobre Democracia Participativa, especificamente o caso dos OP, ver a obra de Leonardo Avritzer e outras referências disponíveis no site <http://www.democraciaparticipativa.org/>.

de setores da sociedade, até então excluídos do processo decisório, normalmente é estudado a partir de seu impacto no aprimoramento da democracia.52

Pouco se fala do impacto do OP na promoção da modernização da gestão municipal. Boschi (1999) e Filgueiras (2005) destacam que, para colocá-lo em prática, a administração municipal precisou superar dificuldades técnico-gerenciais, aprimorando seus processos de trabalho, adequando sua estrutura e incrementando a accountability do poder público municipal.53 Os impactos foram maiores nas

agências municipais relacionadas às obras de infra-estrutura (como por exemplo, SUDECAP e URBEL). Neste contexto, se ampliou a capacidade de intercâmbio com as organizações sociais e de interação com os movimentos sociais (moradores de rua, catadores de papel, sem casa), além de se estabelecer uma dinâmica intersetorial com outras áreas da própria prefeitura encarregadas dos programas sociais dirigidos a estes grupos da população. A experiência do OP, portanto, revela- se como uma estratégia de gestão territorial, onde o enfrentamento dos problemas urbanos e sociais exige cada vez mais articulação entre os projetos de intervenção destas naturezas.

Outro aspecto importante da experiência de OP em Belo Horizonte refere-se ao fortalecimento político das Administrações Regionais como esferas de governo mais próximas dos atores sociais locais e, conseqüentemente, mais sensíveis às demandas da população. A implantação das Administrações Regionais no município de Belo Horizonte ocorreu ainda na década de 70. Ao longo da década de 80, foram implantando lentamente outras sete regionais, mas com pouca autonomia. Nesse sentido o OP, em Belo Horizonte, contribuiu fundamentalmente para a descentralização do poder (BOSCHI, 1999).

Os conselhos setoriais têm se constituído num modelo de recorte público/privado que se tem reproduzido nas administrações municipais, especialmente após a

52 Segundo Boschi (1999) com o OP a idéia de democracia participativa adquiriu maior consistência e as numerosas experiências desenvolvidas, embora tenham alcançado êxito variado, contribuíram para o amadurecimento e a popularização desse modelo de gestão pública.

53 “O OP exigiu importante esforço de adaptação do aparato público municipal para melhora a capacidade de planejamento, produção e entrega de informação, definição de metodologia de interação com os moradores, capacitação de recursos, humanos” (FILGUEIRAS, 2005).

promulgação da nova Constituição que institui conselhos locais de gestão das políticas públicas para algumas temáticas sociais, como por exemplo, a saúde e a assistência social. Eles se configuram como novos canais institucionais de participação, em torno dos quais vem sendo redefinidos processos e dinâmicas concretas de produção de políticas públicas no Brasil (TATAGIBA, 2004, p.323). Podendo ser consultivos, deliberativos, normativos ou fiscalizadores os conselhos podem ser, com todos os seus desafios, uma materialização de propostas de governo participativo. Em Belo Horizonte, por exemplo, existem 41 desses conselhos em atividade, buscando ampliar a participação de vários segmentos do aparato público e da sociedade civil na concepção, implementação e avaliação de políticas setoriais.54 Como parte de sua plataforma de governo, a gestão municipal do PT

incentivou a criação e consolidação desses conselhos, reconhecendo sua legitimidade como órgãos colegiados representativos da sociedade civil, tenham eles maior ou menor influência sobre os rumos das diversas políticas setoriais.