• Nenhum resultado encontrado

3.4 EIXOS DA GESTÃO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE DESDE

3.4.3 AS REFORMAS ADMINISTRATIVAS

A última iniciativa, relacionada ao conjunto da administração municipal, que teve impacto sobre a gestão social foram as reformas administrativas de 2001 e 2005. Um objetivo recorrente em ambas as reformas foi a descentralização.58 Sob este

aspecto elas apresentam e buscam consolidar, respectivamente, um novo marco legal, político e institucional no intuito de reorganizar as funções e as formas de gestão entre os níveis central e regional da cidade. A institucionalização da política de descentralização intramunicipal – seus princípios e estratégias, as competências, limites e articulações de cada instância de governo - constituiu-se em elemento chave para a consolidação e reestruturação institucional de determinadas práticas, procedimentos e arranjos informais que até então caracterizavam a gestão e implementação de políticas públicas no município.

Os “princípios fundamentais” do processo de descentralização conduzido em Belo Horizonte são (SANTA ROSA, 2001; ROSA, 2007; PLANO, 2005): (a) a compreensão da descentralização como um projeto político e de gestão; (b) a subsidiaridade ou gestão de proximidade, ou seja, se privilegiar as instâncias regionais como as que têm a competência em todas aquelas matérias em que a proximidade permita dar respostas mais ágeis às necessidades dos cidadãos e naquelas em que a vinculação direta com o território origine em um incremento de sua eficácia e eficiência; (c) o deslocamento de poder, de responsabilidade (especialmente, pelas ações de governo no âmbito territorial) e de funções (distribuição de competências); (d) o fortalecimento das capacidades administrativas e institucionais da área central na coordenação e regulação de políticas setoriais a serem implantadas pelo nível regional e não o seu esvaziamento; (e) a manutenção das definições e as competências normativas e programáticas como atribuição de nível central; (f) a intersetorialidade, compreendida como um princípio que privilegia a integração matricial das políticas públicas urbanas e sociais, tanto na fase de sua formulação quanto na sua execução e monitoramento; (g) o investimento na

58 As duas referências bibliográficas que se dedicam a este assunto com maior afinco (ROSA, 2007; e PLANO ..., 2005) afirmam terem adaptado para reprodução o texto de Júnia Santa Rosa (Princípios e Condicionantes da Descentralização Intramunicipal. Pensar BH Política Social, Belo Horizonte, 2001).

inovação e no fortalecimento dos processos de informatização para garantir o fluxo de informação entre o núcleo central e os níveis regionais e entre estes e a população, racionalizando e desburocratizando a prestação de serviços e o atendimento ao cidadão; (h) a manutenção de uma política permanente de capacitação de pessoal e revisão de processo de trabalho para garantir maior desempenho da nova estrutura administrativa.

Esta ampla compreensão da descentralização traz em si o cerne da gestão social em Belo Horizonte: intersetorialidade e territorialidade. A construção da intersetorialidade se coloca como condição necessária, tanto para superar a fragmentação existente no planejamento e na execução das políticas setoriais, quanto para garantir uma gestão que superasse as recorrentes superposições e “competição” dos diversos programas e ações municipais. O funcionamento da máquina política e burocrática a partir da ponta, onde se dá a interface com o cidadão, por sua vez, implica em conceber a heterogeneidade e complexidade da cada região como um elemento de construção de racionalidade, eficiência e eficácia da gestão social. São estes os elementos centrais sobre os quais o município se atrelou ao assumir com visão construtiva suas novas funções sociais.

A primeira reforma foi formulada pela Secretaria Planejamento em 2000 e implementada em 2001. Baseou-se em um novo marco legal, político e institucional. Santa Rosa (2001) e Filgueiras (2005) afirmam que tinha como propósito gerar maior capacidade institucional e eficiência do governo. Promoveu reorganização administrativa das estruturas de governo a partir do fortalecimento da área de planejamento, coordenação central e das administrações regionais. Filgueiras nos afirma que:

“a institucionalização da reforma em Belo Horizonte visa conciliar estruturas territoriais e setoriais de planejamento, constituindo uma estrutura de ação matricial, através de uma lógica de centralização-descentralização onde se combinam a centralização das informações e do processo de formulação, coordenação e acompanhamento de políticas públicas com a descentralização das responsabilidades de execução, gestão e implementação das mesmas nas administrações regionais agora chamadas secretarias municipais de gestão regional” (FILGUEIRAS, 2005)59.

59 Este trecho foi transcrito por Filgueiras da seguinte referência bibliográfica: CORREA, Izabela M.; SILVA, Felipe Antônio R.; e ARAÙJO, Wagner, F.G.. Aspectos institucionais do processo de reforma

Como indicado na apresentação da descentralização, ela está fundamentada no que Santa Rosa (2001) chama de princípio da proximidade, ou seja, à “compreensão de que quanto mais o serviço for essencial para a população, mais próxima desta deve ficar a instância encarregada de prestá-lo” (2001, p.6). Já a manutenção de um nível central forte - apto a planejar e coordenar - foi considerada uma condição para o sucesso da descentralização. Assim, foram criadas as Secretarias de Coordenação Municipal de Políticas Sociais e de Políticas Urbanas. A Secretaria de Coordenação Municipal das Políticas Sociais – SCOMPS nasceu como articuladora do trabalho das secretarias de educação, saúde, cultura, assistência social, abastecimento, direitos de cidadania e esportes. Criadas com base nos princípios da multidisciplinaridade e da intersetorialidade, as Secretarias de Coordenação revelam o esforço por definir autoridades municipais nessas duas temáticas e o reconhecimento da necessidade de se proceder a um planejamento coordenado e a um fluxo de trabalho intersetorial entre as políticas setoriais e a execução destas nas regionais.

Em 2005, início da atual gestão, foram feitas novas adequações através da Lei de Estrutura Organizacional da Administração Direta (sancionada em 01/02/2005). A nova reforma teve como objetivo enxugar a máquina e aperfeiçoar as formas de gestão. Destaca-se a alteração na institucionalidade da gestão social. A Secretaria de Coordenação Municipal das Políticas Sociais – SCOMPS cedeu lugar à Secretaria Municipal de Políticas Sociais – SMPS, a qual não mais abrange as temáticas educação, saúde e cultura, mas incorporou a temática do emprego, trabalho e renda que antes de 2005 estava sob a Secretaria de Municipal de Planejamento e Orçamento. A nova organização da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte pode ser observada em seu organograma (ANEXO A).

No caso da Educação e da Saúde, o fim da subordinação a uma secretaria de coordenação é interpretado pelo gestor municipal como um aprendizado, ao se preconizar uma coordenação, se estabeleceu também mais uma instância burocrática que gerou problemas e dificuldades adicionais na gestão administrativa das duas temáticas. Responsáveis por mais de 50% do orçamento municipal, e

descentralizadora na gestão pública do município de Belo Horizonte: intersetorialidade e territorialidade. Pensar BH Política Social, Belo Horizonte, 2003.

altamente integradas ao nível federal, estas temáticas demandam uma dinâmica administrativo-financeira própria e possuem uma dinâmica operativa que oferece limitações legais e pouca margem de manobra. Frente a este cenário, uma Secretaria de coordenação pode agregar pouco valor à gestão nesses dois casos. Já a temática cultura teve sua institucionalidade fortemente alterada com a criação da Fundação Municipal de Cultura, revelando uma mudança na estratégica de gestão nesta temática.

A gestão social na Prefeitura de Belo Horizonte encontra-se hoje concentrada em oito órgãos centrais e nas nove Regionais. Os oitos órgãos centrais consistem na Secretaria Municipal de Políticas Sociais, em suas Secretarias Adjuntas de Abastecimento, Assistência Social, Direitos de Cidadania e Esportes, nas Secretarias Municipais de Educação e Saúde e na Fundação Municipal de Cultura. Elas organizam sua ação em programas pautados pelos princípios estabelecidos acima e estão descritas no APËNDICE D. Com o intuito de garantir um espaço de interação entre os gestores da área social, a despeito das mudanças estruturais, foi criada a Câmara Intersetorial de Políticas Sociais – CIPS. Ela é integrada pelos órgãos centrais listados acima e pelas regionais. A criação desta estrutura colegiada, como um espaço de consolidação da integração, coordenado pela área central e contando com a participação das áreas temáticas e regionais, reitera o compromisso com a matricialidade da gestão social.