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2.2 O edifício sede da União Operária

2.3.2 A implementação de cursos

Desde a sua fundação, em 1922, a União Operária manifestava o seu desejo de atuar na área educacional, para formar um novo corpo operário em Florianópolis. Pois como relata Bárbara Weinstein, ao se referir aos trabalhadores

pela observação, o aprendiz iniciava-se nos vários aspectos da profissão e erminada idade e nível de competência se tornava profissional pleno.69

Assim ial de

1922, de cria em geral, do

omo uma vo 70

o não conseguiu atingir seus objetiv

de São Paulo e que pode ser estendido a outros estados brasileiros,

(...) a vasta maioria dos trabalhadores qualificados e artesãos de São Paulo nas primeiras décadas do século XX aprendia o ofício da maneira tradicional. O aprendiz (em geral do sexo masculino) entrava no trabalho ainda adolescente, e cumpria funções próprias de serventes. Se tivesse sorte, o jovem trabalhador se tornava um ajudante de um trabalhador qualificado ou de um grupo de trabalhadores qualificados. Pouco a pouco, quando atingia uma det

, o desejo da União Operária, expresso em seu Estatuto Soc

r “escolas profissionais que cultivem educação técnica do operariado s associados e pessoas de sua família”, talvez possa ser entendido

ntade de ir além deste modelo tradicional. c

Em Florianópolis, o ensino profissionalizante teve início com a fundação do Liceu de Ofícios, por iniciativa particular. Este Liceu começou suas atividades em 1883 com um total de 236 alunos. Mas, a proposiçã

os e em 1888 tinha apenas 60 alunos.71

Em 1910 foi instalada em Florianópolis a Escola de Aprendizes Artífices de Santa Catarina, empreendimento do governo federal. Esta escola começou suas atividades com um total de 100 alunos.72 No ano de 1923 a “Escola Federal” contava com 133 alunos e ofertava “cinco oficinas de: mecânica, carpintaria,

69

Bárbara Weinstein, (Re) Formação da Classe Trabalhadora no Brasil (1920-1964), São Paulo, Cortez/ CDAPH-IFN – Universidade São Francisco, 2000, p. 47.

70

Estatuto da União Beneficente Operária. 1922. Capítulo XIII. Artigo 54. 71

Frederico Guilherme Buendgens, 22 Anos de ETF – SC, São José, Indústria Gráfica e Editora Canarinho, 1986, p. 7.

72

Idem, ibidem. p. 8. Em 1937, esta escola passou a ser denominada de Liceu Industrial de Florianópolis, e em 1942, de Escola Industrial de Florianópolis, quando passou a oferecer cursos de nível colegial.

tipogra

nsino no Brasil, em 1940, afirma

aparentadas a reformatórios do que a qualquer outra coisa”.

Se es 1920 a situa capítulo dest era ainda p décadas sub Desta

para o aprendizado técnico em Florianópolis, na década de 1920, não atendia as possíveis expectativas que a União Operária pretendia atingir através deste ensino, e justificava, portanto, a sua vontade de criar uma outra escola profissional na cidade. Esta intenção, que constava do Estatuto de 1922, adquiriu mais clareza

fia, encadernação e alfaiataria “.73 Sobre a situação desta escola em 1925, o governo do estado enviou à Assembléia Legislativa de Santa Catarina a seguinte mensagem.

Infelizmente as vantagens do ensino profissional são ainda mal compreendidas por aqueles a quem elas de preferência deveriam interessar. Daí, não ter ainda a matrícula atingido ao número que seria de esperar nesta capital, e a irregularidade de freqüência que se nota em grande número de alunos.74

Assim, se havia ensino técnico em Florianópolis e as vagas não eram totalmente preenchidas surge a indagação sobre as razões que levaram a União Operária a estabelecer entre seus objetivos educacionais o de criar uma Escola Técnica Profissional. É possível que esta escola não atendesse, com apenas cinco tipos de oficinas, aos interesses de aperfeiçoamento de outros profissionais da cidade. Outra possível resposta talvez possa ser encontrada nas palavras de Robert M. Levine que ao comentar a situação deste e

: “o ensino vocacional limitava-se em grande parte a ‘institutos de treinamento’ e instituições estatais mais

75

sa era a situação em 1940 nada nos leva a supor que na década de ção fosse melhor, bem pelo contrário. Como já exposto no primeiro a tese, a condição dos trabalhadores brasileiros na década de 1920 ior e mais desconsiderada pelos poderes instituídos do que nas seqüentes.

forma, parto do pressuposto de que a realidade que estava colocada

73

Mensagem do Governo do Estado – Hercílio Pedro da Luz – à Assembléia Legislativa de Santa Catarina. 1923. p. 32.

74

Mensagem do Governo do Estado – Hercílio Pedro da Luz – à Assembléia Legislativa de Santa Catarina. 1925. P. 30.

75

Robert M. Levine, Pai dos Pobres? O Brasil e a Era Vargas, São Paulo, Companhia das Letras, 2001, p. 74.

e detalhame “Da Escola”.

envolvimento da arte dramática, e futuramente a criação da escola profissional técnica”.77

Este ob do que técni “aulas prática

Contudo, o projeto esboçado nos seus Estatutos Sociais desde 1922, só adquiriu materialidade em 1937, não mais como curso técnico e sim como curso de segundo grau. No dia 1º de Maio de 1937, a União Operária instalou em sua sede social o Curso Secundário Pedro Bosco.79

nto no Estatuto de 1928, no qual aparece um capítulo denominado

Fica criada a Escola Profissional Técnica que cultiva o conhecimento do operariado em geral.

Esta escola será dirigida por um associado designado pela Diretoria.

Os professores servirão gratuitamente, dando-se preferência aos associados.

Todo material escolar será fornecido pelo aluno, exceptuando-se (sic) os filhos dos associados inválidos.76

Mesmo tendo criado estatutariamente esta escola, e inclusive designado o associado Antonio Vieira Machado como o seu primeiro diretor, esta proposição não conseguiu vingar ao longo da década de 1920.

No início da década de 1930, este objetivo era sonho da União Operária, tanto que ao encaminhar um ofício ao interventor federal em Santa Catarina – Aristiliano Laureano Ramos – em 1934, definia-se que essa associação tinha por principal objetivo “o alevantamento (sic) moral, material e intelectual da classe, pela criação da parte educacional e por meio do des

jetivo começou a ganhar forma, com um enfoque mais humanístico co, no final de 1934, quando a União Operária começou a oferecer

s de português, aritmética, geografia, higiene e outras”.78

76

Estatuto da União Beneficente e Recreativa Operária. De 1928. Capítulo XIV. Artigos 71, 72 e 73.

77

Ofício Nº 54, da União Operária ao Interventor Federal, a 21 de maio de 1934. Arquivo Público. Ofícios PG D janeiro/Dezembro. 1934. p. 120 e 121.

78

República, Florianópolis, 14 de dezembro de 1934. 79

O nome do Curso foi uma homenagem ao associado Pedro Bosco. Ao que tudo indica este sócio era bastante preocupado com a educação do operariado. Foi ele quem num discurso para o Interventor Federal General Assis Brasil, quando este foi recebido pelos operários em 1930, conforme já exposto no 1º capitulo, reivindicou, segundo relato de jornal local: “O sr. Pedro Bosco antes de encerrar a sessão, falou demoradamente demonstrando a necessidade de instrução e de outros benefícios para garantia do futuro operariado”. O Estado, Florianópolis, 10 de novembro de 1930.

Com

desejos dos trabalhadores de Florianópol .

sio Catarinense, público e gratuito, e de algumas implantar ginásios, o ensino secundário na

a implementação deste projeto a União Operária atendia antigos is quanto à educação de seus filhos Desejos estes que aparecem expressos nas seguintes palavras de João dos Passos Xavier, sócio da União Operária, em 1931: “A instrução que podemos dar aos nossos filhos é geralmente a primária, que é gratuita, pois não podemos dar- lhe outra educação. Após tirarem o curso primário, seguem geralmente o ofício do pai”.80 As palavras de João dos Passos Xavier refletiam uma situação que atingia a todo o proletariado brasileiro de uma maneira geral.81

O ensino secundário era destinado, quase que exclusivamente, à formação das elites. Como diz Norberto Dallabrida:

A grande exclusão dos jovens no curso secundário era realidade em todo território nacional, pelo fato deste nível de ensino ser ministrado maciçamente por escolas privadas e praticamente restrito às elites. (...) Em Santa Catarina, a situação não era diferente, pois, excetuando-se a curta duração do primeiro Giná

tentativas meteóricas de

Primeira República fora ministrado, de forma oficial e regular, apenas pelo ginásio dos jesuítas alemães. Somente nos anos trinta houve certa expansão do ensino secundário no Brasil, quando foram criados colégios em algumas cidades catarinenses, mas mesmo assim, com predominância de escolas privadas, principalmente de caráter confessional.82

o, Fl de 1931. João dos Passos Xavier, carpinteiro e sócio da

nião Operário, em entrevista ao jornal O Estado.

O ensino fundamental, ou primário, ou ainda 1º grau, era oferecido, em Florianópolis, em pelo menos

Dados o

Catarinense. Sendo que o Ginásio Catarinense, na sua primeira fase – nou de 1982 a 1905, quando foi privatizado pelo governo do estado e passou a ser dirigido pela Companhia de Jesus. Dallabrida reconstrói a polêmica desta

rivatização que levou à exclusão das classes populares de Santa Catarina ao novo colégio ns

altas mensalida oferecia bolsas ao

primeiros anos de existência do colégio eram apenas cinco (...) na década de vinte, o número foi ampliado para vinte” (p. 229). O número destes alunos não passou de quatro por cento entre os formandos (p. 237).

80

O Estad orianópolis, 19 de janeiro U

81

duas instituições – Lauro Muller, fundado em 1912; e Silveira de Souza, fundado em 1913. btidos nas próprias instituições.

82

Norberto Dallabrida, A fabricação escolar das elites: o Ginásio Catarinense na primeira república, Florianópolis, Cidade Futura, 2001, p. 221. Ainda segundo Dallabrida, o ensino secundário público e gratuito teve início em Florianópolis no final do século XIX, quando foram instalados, em 1892, a Escola Normal e o Ginásio

pública e gratuita – funcio p

privado, e co eqüentemente, à instrução secundária, pois não teriam recursos para arcar com as des do ensino privado. O governo, que subvencionava a nova escola privada, s alunos carentes, mas, como diz Dallabrida, “eram em número reduzido: nos

Em 1

Catarina que ministravam o ensino secund

ada indica que tenha sido implantado nenhum curso secundário público em

ara celebrar esta conquista, a União Operária escolheu o dia 1º de maio

abertura do curso, “que já conta com elevado úmero de matriculados”.86 A presença do secretário de estado neste evento via conseguido conquistar um certo conhecimento, por suas ações pedagógicas, junto ao governo do estado.

935, segundo Dallabrida, havia apenas seis colégios em Santa ário, e todos eles de caráter privado.83 N

Florianópolis, entre 1935 e 1937, quando a União Operária fundou o Curso Secundário Pedro Bosco. Foi esta iniciativa, portanto, uma das pioneiras, após 1882, a oferecer curso secundário gratuito a uma clientela popular em Florianópolis. Era este acontecimento, portanto, uma grande conquista para trabalhadores da cidade e um grande empreendimento da União Operária.84

E p

para fazer a instalação oficial do curso. Mais uma vez a União Operária fazia coincidir uma realização significativa por ela desenvolvida com a celebração do dia do trabalhador, reafirmando desta forma o valor da data e o valor dos feitos por ela empreendidos. Sobre este curso informava um jornal local:

“O Curso Secundário Pedro Bosco [tem] como corpo docente os professores Rodolfo Bosco, Plínio de Freitas, Manoel Portella e Walmir Bosco. É um curso noturno e gratuito, abrindo novos rumos ao operariado que avançará em busca de novos conhecimentos. Além do curso de humanidade, anexo tem o curso de aperfeiçoamento técnico de datilografia e de contabilidade. Dignos são de aplausos os dirigentes de tão útil

85

agremiação, por mais esse trabalho de verdadeiro patriotismo”.

Na instalação do Curso Secundário Pedro Bosco esteve presente o Secretário de Interior e Justiça – Gustavo Neves – especialmente convidado para instalar e proferir o discurso de

n

demonstrava que a União Operária ha re

83

Idem, ibidem. p. 254. 84

O ensino público e gratuito de nível secundário – colegial/ensino médio – em Florianópolis passou a ser ofertado, de forma regular, pelos governos federal e estadual, apenas na década de 1940, através da Escola Industrial de Florianópolis, em 1942 – hoje chamada de Escola Técnica Federal de Santa Catarina, e pelo Instituto de Educação Dias Velho, em 1947, hoje denominado de Instituto Estadual de Educação. Informações obtidas: Frederico Guilherme Buendgens, op. cit, p. 7, e no próprio Instituto Estadual de Educação.

85

República, Florianópolis, 6 de maio de 1937. 86

Este empreendimento da associação demonstra, também, que a mesma estava preocupada com uma formação mais ampla para o trabalhador de Florian

ção deste curso deve ter sido muito breve, pois no Estatuto Social de

tural que a

da música, certamente brasileira, a União Operária implantou dois cursos gratuitos de piano e violino, em 1939, estabelecendo, então, uma diferenciação do aprendizado instrumental por gênero, e neste sentido as aulas de piano eram

ópolis. Desejava ir além de uma formação puramente técnica, acreditando que com o ensino secundário se abriam novas portas aos filhos dos trabalhadores. Era a crença na educação como agente transformador, e criador de possibilidades de melhorias de vida e de trabalho.

A dura

1940 já não se fazia referência ao curso secundário, e no material escrito, na imprensa local, sobre ou da própria União Operária não aparece mais qualquer referência ao Curso Secundário Pedro Bosco. Com isso não é possível determinar a data e o porquê do encerramento desta importante atividade pedagógica oferecida pela União Operária.

2.3.2.1 Cursos de Artes

A União Operária preocupou-se também com a formação artística dos filhos dos seus associados. E mais uma vez esta ação da União Operária estava afinada com os princípios emanados do Ministério da Educação, tal como o expõe Simon Schwartzman:

Se a tarefa educativa visava, mais do que a transmissão de conhecimentos, à formação de mentalidades, era na s atividades do ministério se ramificassem por muitas outras esferas, além da simples reforma do sistema escolar. Era necessário desenvolver a alta cultura do país, sua arte, sua música, suas letras.87

Portanto, para desenvolver na criança operária o prazer e o conhecimento

87

destinadas às meninas e “as aulas de violino, para os meninos, filhos dos sócios”.88

Estes cursos, tanto o secundário como os de arte, não tiveram longa durabilidade entre as práticas pedagógicas da União Operária, tanto que seu Estatuto Social de 1940 não apresenta mais qualquer propósito de fundar cursos

lizadas, então, todas as energias e desejos ducacionais desta associação.