• Nenhum resultado encontrado

2.2 O edifício sede da União Operária

2.3.3 Palestras e Discursos Educativos

Durante todo o seu período áureo de atuação que pode ser definido como o

apenas de notícias veiculadas pela imprensa de Florianópolis.

As palestras organizadas pela União Operária ocorriam preferencialmente em sua sede social, mas também podiam ser realizadas nas demais sedes operárias, ou ainda em espaços públicos como o Teatro Álvaro de Carvalho e a Assembléia Legislativa, em datas comemorativas, especificamente nos festejos de 1º de Maio.

técnicos, de segundo grau ou artísticos nesta associação.89

A última manifestação neste sentido aparece na plataforma eleitoral de Deodósio Ortiga, quando eleito para a Presidência da associação em 1950, na qual projetava “Instalar, se possível, uma escola noturna de alfabetização de adultos, como dos filhos dos sócios”.90 Mas foi um projeto que parece ter ficado apenas na possibilidade, pois não aparecem registros de sua materialização.

Assim, o projeto pedagógico da União Operária, na década de 1940, ficou restrito às atividades relacionadas à prática teatral, iniciadas em 1931, para as quais parecem ter sido cana

e

as e Discursos Educativos

espaço de tempo compreendido entre as décadas de 1920 e 1940, a União Operária promoveu palestras e discursos sobre assuntos candentes de sua atualidade. Para abordar este item, infelizmente disponho, como fonte documental,

88

Diário da Tarde, Florianópolis, 2 de junho de 1939. 89

Em 1946 a União Operária colocou a venda o seu “piano de cauda, de marca inglesa em perfeito estado”. A Gazeta, Florianópolis, 3 de janeiro de 1946.

90

Estes encontros educativos eram gratuitos e destinados a “todos os operários e operárias bem como todos os congregados e congregadas”.91 As

ectual local, proferiram palestras a convite da União Operária, em como de outras associações operárias da cidade, os seguintes membros da Academia C

(1890/1971) utilidade e o Boiteux (186 operariado”.9

emana Ante-Alcoólica”.94 Dos acadêmicos ainda, Altino Flores (1892/1983)

gloriosa data da Abolição da Escravatura no palestras podiam ser pronunciadas tanto por pessoas oriundas do próprio movimento operário como por membros da elite intelectual da cidade. E apresentavam uma temática dominante e que dizia respeito ao mundo do trabalho.

Da elite intel b

atarinense de Letras - o Prof. Laércio Caldeira de Andrada “que discorreu longamente sobre o trabalho e demonstrando a valor do operário na grandeza da pátria”.92 O desembargador José 5/1934), que em 1928 falou “sobre a educação moral e profissional do

3

E, em 1929, tratou do “Combate ao Álcool, como parte do programa S

também proferiu palestras na União Operária.95 Dois outros integrantes da elite intelectual local – Antonieta de Barros (1901/1952) e Ildefonso Juvenal (1894/1965) – também se faziam ouvir na União Operária. O que é atestado por palestras proferidas por ambos no dia 13 de maio de 1933, como “parte da programação em homenagem à

Brasil”.96 Os representantes da Igreja Católica também realizaram palestras na União Operária. Tal foi o caso, em 1935 quando o “consagrado escritor e conferencista conterrâneo Padre Huberto Rohden produziu, na sede social, uma

91

O Apostolo, Florianópolis, 15 de fevereiro de 1935. 92

República, Florianópolis, 3 de maio de 1928. 93

Idem, ibidem. 94

O Estado, Florianópolis, 2 de maio de 1929. 95

O Estado, Florianópolis, 2 de maio de 1933. Altino Flores era, então, o orador oficial da Liga Operária de Florianópolis. Sobre os integrantes da Academia Catarinense de Letras ver: Celestino Sachet, A Literatura de Santa Catarina, Florianópolis, Lunardelli, 1979, p. 93 a 100.

96

República, Florianópolis, 13 de maio de 1933. Antonieta de Barros e Ildefonso Juvenal mantinham estreitas relações com a União Operária, tanto que esta associação a denominava de “nossa colaboradora” (Idem, ibidem). E ambos eram membros fundadores do Centro Catarinense de Letras, que foi fundado em desacordo com a Academia Catarinense de Letras, em 1925, “nas dependências da União Beneficente e Recreativa Operária”. Carlos Humberto P. Corrêa, História

interessantíssima palestra em torno do comunismo, focalizando principalmente os problemas da propriedade e da família”.97

era a onhecer

so manado do governo Vargas no que diz respeito ao papel do trabalhador e a importância do trabalho na construção da Nação.

Assim, em 1935 o associado prof. Daniel Faraco falou na União Operária sobre o tema “Capital e Trabalho”, e da qual o jornal A Gazeta fez uma síntese que permite uma melhor compreensão sobre o que era apresentado aos operários desta associação.

Do movimento operário local normalmente discursava ou realizava palestras na União Operária o seu orador oficial, membros ilustres ou ainda operários que possuíam certo destaque no meio operário. A primeira informação que encontrei neste sentido, data de 1924, e se refere a uma palestra proferida pelo seu orador oficial – Arthur Galletti (1887/1949) – e da qual o jornal local O Estado publicou a seguinte síntese: “O orador referiu-se a vários assuntos trabalhistas, pondo em relevo a ação do operariado no tocante ao progresso das nações”.98 O operário anarquista Thomas Borges proferiu, também em 1924, uma palestra na União Operária. Ele

(...) discorreu com segurança sobre os diversos pontos que se propus tratar, tendo agradado muitíssimo, não só porque mostrou c

plenamente os problemas que atualmente preocupam o proletariado universal, como também porque na sua conferência, usou de uma linguagem concisa, desativada, acessível a todos os espíritos.99

Após 1930, nas palestras proferidas na União Operária, e noticiadas pela imprensa local e proferidas por pessoas desta instituição, preferencialmente as realizadas por seus oradores oficiais, transparece a internalização do discur e

97

O Apostolo, Florianópolis, 15 de fevereiro de 1935. Huberto Rohden nasceu em Braço do Norte, em 1894. Ordenado padre da Igreja Católica em 1920. “Durante quase 10 anos percorreu o Brasil para divulgar os seus livros de orientação religiosa. Em 1944 deixou de fazer parte do clero, desgostoso com a campanha movida por algumas congregações de padres católicos e bispos aos seus livros”. Celestino Sachet, op. cit, p. 245.

98

O Estado, Florianópolis, 18 de setembro de 1924. 99

O Estado, Florianópolis, 21 de novembro de 1924. O operário Thomas Borges foi preso em Florianópolis numa festividade de 1º de Maio, no início da década de 1920, e, posteriormente deportado. República, Florianópolis, 27 de setembro de 1933.

O orador que deu a palestra um cunho eminentemente prático, os erros e os senões

remédios

do atual sistema econômico, demorando-se em apontar os adequados. Por último formulou conclusões que reduziu a quatro: 1) Garantia do direito de propriedade a todos, disseminação da pequena propriedade; 2) Regulamentação do uso da propriedade; 3)

osso país e que é o trabalho-programa da

lhador despolitizado, disciplinado e produtivo103. A estratégia do governo

stado para gerenciar o mundo do trabalho, reivindicação exposta nas palavras de Daniel

Regulamentação da forma de trabalho e 4) Regulamentação do salário. Finalizando declarou que o mundo se achava no alvorecer de uma Idade Nova, que há de ser a Idade do Trabalho, porque há de ser a Idade da Justiça100.

A valorização do trabalho e do trabalhador impregnava também as palavras proferidas na União Operária por Rodolfo Bosco, seu orador oficial, ao tratar “o papel que o operário cabe desempenhar no trabalho da construção de uma nacionalidade que se opera em n

verdadeira liberal democracia”.101

O trabalho, no discurso do governo Vargas adquiria, então, outra dimensão, tal como expõe Ângela de Castro Gomes. Este “passaria a ser um direito e um dever; uma tarefa moral e ao mesmo tempo um ato de realização; uma obrigação para com a sociedade e o Estado, mas também uma necessidade para o próprio indivíduo encarado como cidadão”.102 Ainda, conforme Alcir Lenharo, tratava-se de criar um novo conceito de trabalho e trabalhador, que resultasse no forjamento de um traba

Vargas era a de “esmagamento da condição operária e diluição do conceito de classe passa obrigatoriamente por uma revisão moralizadora do conceito de trabalho”.104

Nas ações pedagógicas desencadeadas pela União Operária, especificamente nas palestras proferidas para o trabalhador de Florianópolis, verifica-se justamente esta positividade do trabalho, que passou a ser referenciado como o gerador da riqueza nacional e de melhoria na condição de existência do trabalhador. Para tanto se fazia significativa a intervenção do E

100

A Gazeta, Florianópolis, 10 de abril de 1935. 101

A Ordem, Florianópolis, 12 de fevereiro de 1937. 102

Ângela de Castro Gomes, Ideologia e trabalho no Estado Novo, IN: PANDOLFI, Dulce (0rg),

Repensando o Estado Novo, Rio de Janeiro, Editora FGV, 1999, p. 55.

103

Alcir Lenharo, Sacralização da Política, Campinas, São Paulo, Papirus, 1986, p. 15. 104

Faraco e de Roldofo Bosco, que solicitavam leis reguladoras das relações trabalhistas, internalizando, portanto, o discurso do governo Vargas, que se propunha a “transformar o trabalhador numa força orgânica de cooperação com o Estado e não o deixar, pelo abandono da lei, entregue à ação dissolvente de elementos perturbadores, destituídos dos sentimentos de Pátria e Família”.105

Se a União Operária, desde sua fundação, já propunha uma política de harmonizar as relações trabalhistas para a melhoria das condições de vida e de trabalho do operariado de Florianópolis, a partir de 1930 colocou mais ênfase na busca de eliminação dos antagonismos entre capital e trabalho. E difunde a idéia de que através da intervenção do Estado haveria de se encontrar justiça social e

eneficios para a classe trabalhadora, tal como preconizava o governo Vargas.

b

105

Getúlio Vargas, A Nova Política do Brasil, II Ano de 1932... A Revolução e o Norte, 1933, Rio de Janeiro, José Olympio, 1938, p. 97.

CAPITULO III DOS BASTIDORES AO PALCO: A PRÁTICA TEATRAL DA UNIÃO OPERÁRIA

Neste capitulo, tenho por objeto de análise a interpretação e a caracterização da atividade teatral, promovida pela União Operária, no período de 1931 a 1951. Nesta narrativa, procuro reconstituir o processo que vai da

rocesso de criação, ou seja, o espetáculo apresentado para o

esta análise, dei preferência ao processo teatral realizado em teatro realizado na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. material escrito sobre

1

preparação do espetáculo à sua apresentação para o público, numa tentativa, portanto, de abordar não apenas o processo de criação do grupo teatral da União Operária, mas, também, os objetivos dos seus criadores, ou seja, tentar apreender a razão de ser desta atividade teatral.

Para narrar a prática espetacular do grupo teatral da União Operária – o trabalho dos atores, ensaiadores, ensaios, cenários, figurinos, etc –, bem como o resultado deste p

público, se tornou imprescindível contextualizar, expor os contornos sócio-culturais no qual estava inserido o teatro da União Operária. E, através desta contextualização, revelar a visão de mundo – as idéias, crenças e valores – que permearam esta prática cênica, bem como explicitar suas filiações estéticas e teatrais.

Ainda na perspectiva de contextualizar o trabalho, e para melhor caracterizar o processo cênico realizado na União Operária, estabeleço algumas aproximações e distanciamentos, desta prática teatral com outros dois teatros realizados por e para trabalhadores, na primeira metade do século XX, no Brasil. Para desenvolver

São Paulo e o

Estas preferências foram motivadas pela disponibilidade de

estes teatros aos quais tive acesso quando da elaboração desta tese.

1

Poucos, ainda, são os estudos, no Brasil, e, principalmente, as publicações sobre o teatro operário da primeira metade do século XX. A historigrafia sobre o teatro brasileiro apenas recentemente passou a incluir o teatro operário, em específico, o teatro social libertário dos anarquistas paulistas, como parte da história do teatro brasileiro. A mais completa publicação, neste sentido, foi realizada sob a coordenação de Maria Thereza Vargas, Teatro Operário na

cidade de São Paulo, São Paulo, Deptº de Informação e Documentação Artística – Centro de

Para reconstituir o acontecimento teatral da União Operária disponho de criticas, comentários e notas, sobre os espetáculos, publicados nos jornais de Florianópolis, cujo enfoque, normalmente, era mais direcionado ao trabalho do ator e a exaltação do significado deste teatro como fonte educativa e moralizadora para seu potencial espectador. Foi possível resgatar, também, material iconográfico, em número menor que o desejado, sobre o elenco, cenas de um espetáculo e o público presente ao teatro. E, por fim, contei com a valiosa colaboração de algumas pessoas que integraram o grupo teatral da União Operária, e que lembram, ainda que vagamente, do processo criativo desenvolvido no grupo da União Operária.