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Melhorias no espaço cênico da União Operária

2.2 O edifício sede da União Operária

2.2.2 Melhorias no espaço cênico da União Operária

Em 1934 a sede da União Operária precisava, segundo sua diretoria, ser amplia

ntada por Jorge Luiz

implicitamente, formas de criticas ao estado de coisas que viviam, criando

aparato

deste teatro preferem, hoje em dia, chamá-lo de Teatro da União ão gostam do nome pelo qual hoje é chamado este edifício: Teatro da

ias no espaço cênico da União Operária

da para atender sua finalidade social e recreativa. Para atingir este objetivo enviou um oficio ao sr. Aristiliano Laureano Ramos, interventor federal em Santa Catarina, solicitando apoio financeiro. Analisando esta correspondência, bem como outras enviadas pela União Operária ao governo do estado, durante o período Vargas e seus interventores federais, percebe-se que a correspondência da União Operária enquadra-se dentro da perspectiva aprese

Ferreira ao analisar as correspondências enviadas por trabalhadores ao governo Vargas:

As enunciações discursivas dos trabalhadores na época de Vargas demonstram como eles aceitavam o discurso oficial e as concepções dominantes no mundo. Todavia, essas formas de expressão em nenhum momento significavam conformismo, passividade ou resignação.

Em primeiro lugar, esse aparente conformismo fazia parte de uma estratégia de vida para alcançarem seus objetivos.

Em segundo lugar, as pessoas comuns apresentavam em seus escritos, contra-argumentos que tinham como base e matriz as idéias dominantes. Finalmente, quando os trabalhadores manipulavam todo o arcabouço doutrinário e prático do Estado varguista, selecionavam aquilo que poderia beneficiá-los – a legislação, os discursos sobre a família, o trabalho, o progresso, o bem-estar, etc. – e deixavam de lado todo o

autoritário, repressivo e excludente.48

48

Jorge Luiz Ferreira, A Cultura Política dos Trabalhadores no Primeiro Governo Vargas, IN:

Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 3, n. 6, 1990, p. 186. Foi possível localizar outras

correspondências encaminhadas pela União Operária ao governo do estado, especificamente ao Interventor Federal Nereu Ramos, nas quais solicitava a intermediação do governador junto ao governo federal para conseguir empregos para alguns de seus associados. Nelas utilizou os mesmos recursos apontados acima por Jorge Luiz Ferreira. Ao pedir uma nova colocação para Olavo Cassiano de Medeiros, junto à Escola de Aprendizes e Artífices, expunha que que o mesmo “nunca teve as vantagens de uma promoção, sendo preterido várias vezes em sacrifício da sua carreira pública e em prejuízo de sua numerosa família. (...) Como um princípio de justiça, faz juz na promoção”. Oficio Nº 248. De 28 de setembro de 1937. Arquivo Público. Ofícios PD D Janeiro/Dezembro de 1937. p. 203 e 204. Em correspondência semelhante, solicitava o cargo de faroleiro para o presidente da associação – Alcimiro Silva Ramos – em 1938. Oficio Nº 143. De 13

Assim, a União Operária fundamentou seu pedido com argumentos baseados no discurso do poder, ou seja, posicionava-se como uma sociedade que estava situada dentro dos parâmetros legais do país, para logo a seguir definir seus objetivos, ações e público alvo, para demonstrar que estava trabalhando na mesma direção, que a estabelecida pelo governo Vargas.

A União Beneficente e Recreativa Operária é uma sociedade, reconhecida juridicamente e tem por principal objetivo, como se depreende dos seus estatutos, o levantam

criação da parte educacional e p

ento moral, material e intelectual da classe, pela or meio do desenvolvimento da arte

, ao governo do estado, um auxílio de 10:000$000.50 Sem obter resposta o seu pedido, a União Operária reafirmou sua solicitação em outro oficio, datado

dramática, e futuramente a criação da escola profissional técnica.

Conta o seu quadro social com um satisfatório número, e que acorrem, todos os associados, - desejosos de um conforto moral, espiritual – buscando na sede em reuniões familiares. 49

Se, na primeira parte do oficio, percebe-se a concordância de rumos, o próximo parágrafo faz uma denúncia, que vinha ao encontro do mito fundador da política trabalhista do governo Vargas: a de que os governos anteriores nada fizeram pelos trabalhadores. “O prédio existente, sito à rua Pedro Soares nº 23, foi edificado à custa do trabalho sem desfalecimento dos próprios operários, sem nunca obterem dos poderes governamentais algum auxílio”.

Desta forma, justificava ser merecedora do apoio oficial, e, para tanto, solicitava

a

de dezembro de 1938. Arquivo Público. Ofícios PG D Janeiro/Dezembro de 1938. p. 431. Este tipo de corr

Vargas,

aumento salarial ou melhorar de vida. A aceitação do regime, enfim, não implicava necessariamente resignação ou conformismo”. Idem, ibidem, p. 195.

49

Oficio nº 54. Da União Operária para o interventor federal em Santa Catarina. Arquivo Público de Santa Catarina. Ofícios PG D Janeiro/Dezembro. 1934. p. 120 e 121.

50

Idem, ibidem.

espondência pondera Jorge Luiz Ferreira, ao analisar os escritos populares ao governo e que pode ser estendida às relações da União Operária com o Interventor Federal, “podem sugerir apenas um conformismo generalizado. Mas conformismo e passividade muitas vezes estão nos olhos de quem os vê. O fato de escreverem ao presidente da República já demonstra que eles não estavam passivos ou resignados. O apoio e a confiança que depositavam em Vargas, aqui, são entendidos como aceitação a um estado de coisas que fugia a seu controle. Aceitavam, pois naquele momento não havia alternativas e, além disso, seu intuito não era apenas o de exaltar gratuitamente Vargas, mas, sim, dar um passo à frente, conseguir um emprego, um

de 17 de agosto de 1934,51 no qual destacava a “imperiosa necessidade de ampliar as dependências da sede, para a completa finalidade dos Estatutos”. Ainda acreditando na possibilidade de receber este apoio, voltou a encaminhar o pedido em 23 de março de 1935, quando recebeu a negativa oficial do governo do estado.52

atro com torreão e cenários movediços, que é

oncretizou em 1944.

a renda de festivais artísticos levados a efeito pelo corpo cênico da própria sociedade”.55 Às 14 horas, do dia 1º de maio, tiveram início as festividades de inauguração do novo palco. Como parte desta festividade, foi instalado o retrato de Getúlio Vargas, “em lugar de honra,

Sem o apoio financeiro do governo, as lideranças da União Operária adiaram o projeto de ampliação da sede social. Em junho de 1939, realizou-se a primeira recuperação no edifício, com reparos e pintura interna e externa.53

Mas, o desejo de ampliar a sede social não tinha desaparecido dos seus propósitos e em 1939 o assunto voltava à tona. A imprensa local publicou, então, uma matéria solicitando o apoio governamental para melhorar a sede da associação: “O edifício da União Operária, de construção não muito antiga, tem o terreno suficiente para um aumento do te

a ambição muito justa dos amadores de nossa terra! E não é preciso muito. O orçamento do aumento não vai além de quinze contos! De pronto os dirigentes da União não poderão fazer, sem um auxílio dos poderes públicos”.54 O auxilio não foi dado, e a partir de 1939, o grupo teatral da União Operária passou a realizar inúmeros festivais para conseguir recursos para realizar a desejada obra, que só se c

No dia 1º de maio de 1944 foi realizada a festividade de inauguração do novo palco do teatro da União Operária. O novo palco recebeu a denominação de Torreão Deodósio Ortiga, homenagem da diretoria ao animador das atividades teatrais da associação. “As obras custaram aproximadamente 20 mil cruzeiros, e todas as despesas foram pagas exclusivamente com

51

Ofício nº 73. Da União Operária para o interventor federal em Santa Catarina. Arquivo Público de Santa Catarina. Ofícios PG D. Janeiro/Agosto. 1934. p. 206.

52

Ofício do Secretario da Interventoria, de 16 de abril de 1935. Arquivo Público de Santa Catarina. Minutas do Palácio do Governo a Diversos – 1933/5. p. 157.

53

Diário da Tarde, Florianópolis, 7 de junho de 1939. 54

A Gazeta, Florianópolis, 31 de agosto de 1939. 55

bem acima do novo torreão embelezando aquele templo de solidariedade humana”.56 À noite houve espetáculo com a apresentação da peça Aimé ou Assassino pelo Amor, melodrama de Adolfo Dennery, com direção de Deodósio Ortiga.57

Foto nº 10. Cedida por Mantovani. Comparando esta foto com a de nº 8 podemos perceber que a partir da reform

Sylvio a de 1944 a platéia não se aproximava mais das aberturas ao fundo da sala. A construção que aparece em azul na foto separava a platéia do foyer. Na foto podemos ver também a escadaria que dava acesso ao interior do prédio.

Com o novo palco, o teatro da União Operária incorporou mais elementos cênicos para auxiliar no processo ilusório do palco italiano. Foi retirado o forro do palco que passou a ter altura suficiente para instalação do urdimento, e com isso possibilitar a colocação de cenários móveis, abreviando, desta forma, o tempo de manobra dos cenários, bem como o tempo de execução das peças. A caixa do palco foi ampliada, passando a contar com bastidores maiores e varandas para a manobra dos cenários e objetos cênicos. Foram construídos camarins para o elenco. No teatro foi construído um foyer, onde o público podia esperar o início do espetáculo ou para onde podia se dirigir nos intervalos.58

56

e, Florianópolis, 10 de maio de 1944.

O jornal A desejavam fazer no

palco, (...) Florianó torreão e cenários

movediços e que a reviará a exibição dos dramas e comédias”. Diário da Tard

57

Idem, ibidem. 58

Gazeta, Florianópolis, 31 de agosto de 1939, comentava as alterações que se

teatro, com “o aumento da sede da União, justamente no que se refere ao polis será dotada de um ótimo e moderno teatro, com

Ao es em Florianópolis esta prática

feito outras escolhas, tais como o faziam as demais sociedades operárias da cidade, que tinham apenas biblioteca, s

A ele, os trabalhadores só tinham acesso em ocasiões muito específicas e raras, normalmente quando se faziam rário em festas de 1º de Maio ou quando m grupo amador fazia um espetáculo em benefício de alguma associação

931 a 1951, com interrupções e dificuldades

erário em

colher o teatro como instrumento para atuar junto ao corpo operário

, a União Operária precisou construir um espaço para efetivar e destinar uma grande área de sua sede para este fim. Poderia ter

alão de jogos e local para reunião da associação. Mas optou por ter um teatro e com isso oferecer aos seus associados, e demais trabalhadores, a mesma possibilidade de diversão que usufruíam as demais classes sociais em Florianópolis.

O Teatro Álvaro de Carvalho era o teatro das classes sociais com melhor poder aquisitivo, ou seja, a elite da cidade.

programações dirigidas ao público ope u

operária.

Portanto, para dar acesso aos trabalhadores a esta forma de divertimento, a União Operária construiu um teatro, e nele desenvolveu uma longa atividade teatral, que se estendeu de 1

inerentes a prática teatral de grupos amadores, mas que sempre contou com um público fiel e presente a todos os seus espetáculos.

A União Operária lutou muito para construir, melhorar, ampliar e manter este espaço cênico em Florianópolis. Ao recompor esta história, portanto, não se faz apenas o registro da ação de um grupo teatral e do movimento op

Santa Catarina; faz-se, principalmente, o registro de uma parte significativa da cultura brasileira, quase sempre ausente em nossa bibliografia teatral, o teatro operário brasileiro e as suas casas de espetáculos.

Informações sobre o interior do teatro após a reforma foram recolhidas junto aos atores que aturam na União Operária. Entrevista com Iná Linhares Soiká, Julia Ortiga, Geni e Iraci Silveira e Claudionor Lisboa. Por Vera Collaço. Na casa de Narinho e Vilma Ortiga, filho de Deodósio Ortiga, em 10 de abril de 2002. Entrevista com Waldir Brazil, por Vera Collaço, na casa do entrevistado, em 21 de setembro de 2001. Waldir afirma: “O teatro tinha coxias, o camarim era embaixo do palco. Depois Deodósio construiu a varanda, a parte de cima para levantar o cenário”.

2.3 Outras atividades pedagógicas da União Operária

A denominação de “outras atividades pedagógicas” que utilizo como subtítulo foi escolhida com o objetivo de diferenciar a prática teatral, a mais longa

cas implementadas pela

tivos fundadores, no statuto Social de 1922, onde está escrito que o “seu fim” é o de “pugnar pelo desenvolvimento da classe proletária e beneficiar os seus associados”. Para dar encaminhamento a este objetivo estatutário, as lideranças da União Operária projetaram a realização de algumas práticas pedagógicas e, neste sentido, priorizaram, em 1922, as seguintes atividades.

a) A criação de escolas profissionais que cultivem a educação técnica do operariado em geral, dos associados e pessoas de sua família, quando comportar o capital social;

b) Publicação de um periódico que verse sobre o aperfeiçoamento do ensino profissional, e defenda os interesses da classe proletária, uma vez comporte os capitais da associação;

c) Criar uma biblioteca de obras úteis e morais, para os seus associados e alunos das escolas que fundarem”.59

estas proposições, a única que não se concretizou, ao longo da trajetória da União Operária, foi a publicação do periódico. A biblioteca foi implantada em 1927. Já a escola técnica, bem como outras atividades pedagógicas que

e constante atividade pedagógica desta associação e para a qual dedico os próximos capítulos, das demais ações educativas implementadas pela União Operária, para auxiliar na formação da classe trabalhadora em Florianópolis.

Nesta parte do trabalho exponho, de acordo com a disponibilidade das fontes, alguns aspectos destas outras práticas pedagógi

União Operária e que, em sua maioria, só puderam materializar-se a partir da construção de sua sede social, na década de 1930. Ao fazer esta narrativa procuro mostrar que a União Operária assumiu como compromisso, desde sua fundação em 1922, implantar ações pedagógicas que eram destinadas ao todo da classe trabalhadora de Florianópolis, e não exclusivamente para seus associados.

Este compromisso está colocado entre os seus obje E

D

59

aparecem projetadas no Estatuto Social de 1928, entre elas a prática teatral, só adquiriram materialidade, na década de 1930, a partir da construção de sua sede social.