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O trabalhador harmônico para os objetivos da União Operária

1.1 O cenário em processo de mudança

1.3.4 O espaço físico da União Operária

1.4.1.1 O trabalhador harmônico para os objetivos da União Operária

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incipiente, tendo sua força alocada na produção alimentícia e de consumo. A embrionária indústria instalada na cidade se distribuía por diversos bairros, mas as de ma

ar peixe em lata, uma de sabão e velas, oficinas de carpintaria, marce

ke, que era, também, detentora da mais importante casa comer

50, período de abrangência de minha pesquisa, se constituiu, basicamente, de trabalhadores

ior porte concentrava-se nas proximidades do porto, na região conhecida por Rita Maria.

As fábricas de pequeno porte eram basicamente para a produção de bens de consumo – olarias, funilarias, perfumarias, farmacêuticas, licores e cervejas, calçados, torrefação de café, serraria, refino de café, chapéus, roupas, arreios e artigos de selaria, colchões, móveis de madeira, espelhos, sabão, caramelos, cigarros, massas alimentícias, etc.49

No bairro Rita Maria estava instalada a fundição de Pontas de Paris, a fábrica de gelo, fábrica de rendas e bordados, “três fábricas de cerveja (...), duas fábricas de prepar

neiro, tanoeiro, funileiro e torneiro, uma fábrica de massas alimentícias e duas grandes refinarias”.50 O bairro Rita Maria era por excelência portuário e industrial, local onde ocorria a maior concentração de trabalhadores especializados da cidade. Ainda, próximo ao bairro estava o estaleiro Arataca (1907), da família Hoepc

cial no centro de Florianópolis. O comércio movia economicamente a pequena cidade.

Dentro desse modesto complexo industrial é que se moveram os trabalhadores da cidade, acrescidos de trabalhadores da construção civil, que foram atraídos para Florianópolis devido às grandes obras de saneamento básico, remodelamento da cidade e, principalmente, pela construção da ponte Hercílio Luz, entre 1922 e 1926.

A classe trabalhadora de Florianópolis, entre 1920 e 19

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Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil, Realizado em 1 de setembro de 1920, Relação dos Estabelecimentos Industriais

recenseados no Distrito Federal, nos Estados e no território do Acre, Vol. I e II, Rio de Janeiro,

Tipografia da Estatística, 1925, p. 144 a 150. 50

Eliane Veras da Veiga, Florianópolis: Memória Urbana, UFSC, 1993, p. 111/112. Ver também: Victor Antonio Peluso Junior, O Crescimento Populacional de Florianópolis e suas repercussões

no plano e na estrutura da cidade, IN: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, 3ª fase, Nº 3, 1981, Florianópolis, p. 25/26.

vindos dos pequenos ofícios e ocupações – sapateiros, alfaiates, tecelões, pedreiros, c

varejista, be civil, do setor outras indús

conceito de classe operária segundo a perspectiva de Thompson:

balhadores vindos

erado um fator impeditivo de sua organicidade.53

A União Operária, bem como as demais associações operárias de Florianópolis, era constituída por uma parcela muito pequena dos trabalhadores

arpinteiros, pintores, gráficos, padeiros, empregados do comércio m como, pequenos comerciantes, de trabalhadores da construção mercante, da indústria têxtil, da indústria de pregos e gelo, funilaria e

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trias, bem como de funcionários públicos. Adoto neste trabalho o

Muitos autores preferem o termo classes trabalhadoras, que enfatiza a grande disparidade em status, conquistas, habilidades e condições no seio da mesma expressão polissêmica. (Porém pode-se falar de classe operária ou de classe operária em formação) no crescimento da consciência de classe: a consciência de uma identidade de interesses entre todos esses grupos de trabalhadores, contra os interesses de outras classes.

(...) O fazer-se da classe operária é um fato tanto da história política e cultural quanto da econômica. 52

O quadro de associados da União Operária foi constituído de tra

do quadro heterogêneo que constituía a classe operária em Florianópolis, na década de 1920. Ciente desta heterogeneidade e empreendedora da missão de homogeneização, a União Operária tinha como objetivo, segundo seu Estatuto Social de 1922, “beneficiar os seus associados sem distinção de classe social”. A heterogeneidade era aceita como elemento constitutivo da própria classe, sem que isso fosse consid

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Idaulo José Cunha, Evolução econômico-industrial de Santa Catarina, Florianópolis, Fundação Catarinense de Cultura, 1982, p. 137 a 144. Ver também: Nereu do Vale Pereira, op. cit, p. 55 a 57. 52

E.P.Thompson, A Formação da Classe Operária Inglesa, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987, p. 16 e 17.

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Para explicitar a heterogeneidade profissional que compunha o quadro de associados da União Operária, apresento uma relação de nomes de alguns diretores e lideranças dessa associação, cuja atividade profissional, foi encontrada ao longo desta pesquisa: Rodolfo Bosco, alfaiate; Sebastião Belli, marceneiro; Manoel Alves Ribeiro, eletricista; Álvaro Ventura, estivador; Hipólito do Vale Pereira, contador; João dos Passos Xavier, carpinteiro; Deodósio Ortiga, funcionário público; João Nilo Vieira, pedreiro; Carlos Bicocchi, marceneiro; Alcimiro Silva Ramos, tipógrafo e faroleiro; Epaminondas Vicente de Carvalho, carpinteiro; Aureliano José da Rosa, encanador; Waldemiro Monguilhott Junior, carpinteiro; Agostinho Silva, marceneiro; José Carlos Capistrano, marceneiro; Mário Schmidt, tipógrafo; Aurélio Alves, ilustrador; Tadeu Silva, alfaiate; Domingos Tonera, funcionário público; Antônio Altamiro Dutra, alfaiate; Janny Wolff Castro, eletricista; Oscar Schmidt, funcionário público; Clementino de Brito, jornalista; Francisco de Paulo Vieira, eletricista; Olavo Cassiano Medeiros, professor da Escola de Aprendizes Artífices, funcionário público.

da cid

elar pelo aperfeiçoamento dos seus produtos nas oficinas” e ter

, bem como pela constituição de um novo trabalhador, obre o qual ela se propunha agir para torná-lo mais produtivo, educado e

ado e apaz, deveria ter como contrapartida o reconhecimento de seus direitos e condiç

s “pequenas lutas” que desenvolveram os trabalhadores, na década de 1920, atravé

ade. Tal como comentava um jornal local: a maioria dos trabalhadores “não se filiara a nenhuma das associações de classe desta cidade”.54 O quadro social da União Operária, em 1939, era de 600 sócios, e em 1953 chegou a contar com 1.950 associados.55

Nos Estatutos de 1922 e de 1928 as lideranças da União Operária estabeleceram o perfil do trabalhador que desejavam para associado. Traçaram, então, os seguintes contornos: o operário devia amar o trabalho, respeitar a disciplina, “desv

uma “profissão decente”. Deveria, também, ser solidário, fraterno e cooperar para o “engrandecimento moral e cívico da classe operária”. Os valores coletivistas eram conscientemente defendidos, seja nas suas práticas, no cerimonial ou na retórica moral.

Com o trabalhador perfilado com esses pressupostos teria, a União Operária, condições morais de lutar, defender e de tentar modificar as relações entre capital e trabalho. Para esse trabalhador, com uma imagem positiva – de “bom” operário, cívico e moral – a União Operária buscava a contrapartida dos patrões e do Estado. Portanto, na visão das lideranças da União Operária, a mudança nas relações trabalhistas passava por uma nova postura dos empresários e do Estado

s

qualificado para os tempos modernos. Um corpo operário instrumentaliz c

ões de vida digna.