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1.5 O discurso da imprensa sobre a classe trabalhadora

2.1.1 A construção da sede social

A sede social da União Operária foi construída entre outubro de 1928 e abril de 1931. Os jornais locais publicavam, com relativa freqüência, informações a respeito das diferentes etapas da construção; como exemplo, a matéria Parabéns à União Operária, assinada por “Sorriedem”, no jornal O Estado, de 28 de outubro de 1928, na qual exaltava o trabalho desta associação:

Observei de passagem, ontem, um grupo de operários que, revestidos de grande entusiasmo, trabalhava no nivelamento do terreno onde será, muito em breve, lançada a pedra fundamental do prédio para a sede da União Operária.

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Eliane Veras da Veiga, Florianópolis: Memória Urbana, Florianópolis: Ed. UFSC e Fundação Franklin Cascaes, 1993, p. 111. O nome desta rua foi uma homenagem do estado ao capitão naval Pedro Soares, herói da guerra do Paraguai.

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Construído o prédio em projeto, terá a nossa capital, em uma das ruas centrais, um marco do progresso, e o operariado em geral, encontrará ali, uma fonte, onde poderá ter novos conhecimentos tão necessários à sua vida de trabalhador, pois será instalada uma perfeita escola de ensino profissional técnico.

s lideranças e associados da União Operária aproveitavam o domingo, seu dia de descanso, para dar início às obras da sede social. O trabalho começou pelo nivelamento do terreno, isso era imprescindível dado o acentuado desnivelamento do mesmo, bem como da rua Pedro Soares. Estas lideranças trabalhavam com “grande entusiasmo”, como descreveu “Sorriedem”, pois estavam construindo o seu próprio espaço e nele projetando um futuro melhor para o operariado de Florianópolis.

Nesta matéria, o autor destacava a importância do projeto tanto para a sociedade – que passaria a ter numa das ruas centrais da cidade “um marco do progresso”, com isso se construía uma nova i

A

magem para a rua Pedro Soares,

ria incutir em seus associados sentimentos ue exaltassem o trabalho, o civismo e uma moral dominantemente cristã, qualidades e

continuadam

discurso a co atário final

dessa mensagem, qual seja, o operariado, ou mais precisamente as suas principais lideranças, que deveriam pautar suas ações com base nos fundamentos desse discurso.

Na construção da sede social, percebe-se que a União Operária fazia de cada avanço na obra um evento público, mandava convites para a imprensa, convocava associados e simpatizantes da classe, como por exemplo: “Em nome do Diretor, convido ao operariado em geral e aos que se interessam pela classe, para, domingo, às 16 horas, à rua Pedro Soares, assistirem o lançamento da não mais uma rua “marginal” e sim uma rua onde as forças produtivas da cidade teriam um espaço de instrução e civilidade - como para o operariado em geral que teria na sede opções para sua formação profissional e recreação.

A sede da União Operária sempre esteve vinculada, na perspectiva da imprensa local, a uma escola que deve

q

stas imprescindíveis para “o bom operário”. Este discurso era ente repetido na imprensa local. A repetição visava dar a esse

primeira pedra desta União”.13 Ou ainda: “Foi ontem (12 de janeiro de 1930) colocada a cumeeira no novo prédio. A diretoria e grande número de sócios esteve presente à colocação da viga mestra e festejaram este fato oferecendo a todos os assistentes um copo de cerveja e doces”.14

A ênfase em divulgar e festejar etapas importantes da construção atendia, certamente, a interesses futuros da União Operária, tais como legitimar este espaço cultural/pedagógico perante a sociedade de Florianópolis, demonstrar a capacidade produtiva e positiva dos trabalhadores da cidade, bem como atrair novos associados. Independentemente do discurso domesticador da imprensa local, a União Operária construía sua sede para congregar os trabalhadores de Florian

alquer apoio de governo estadual ou unicipal. A obra ficou orçada em 50:000$000.15 Na construção da obra trabalharam

questão de d

o de bem servir o operariado em geral. Assim, aproveitando as poucas horas que lhe restam no labor insano da conquista

ópolis e possibilitar a existência de um local, no centro da cidade, para práticas culturais e pedagógicas, um espaço onde o trabalhador tivesse possibilidades de cultivar o conhecimento cientifico e artístico para conquistar melhorias para sua vida pessoal e profissional.

Para construir sua sede social, a União Operária contou basicamente com recursos financeiros próprios, não tendo qu

m

os integrantes da diretoria e outros sócios. A imprensa local fez ar ênfase a esta questão:

E o que é mais digno da maior admiração é o arrojo daquele punhado de homens que tomaram em seus ombros a tarefa de edificar o prédio sem outra remuneração que nã a

dos meios de subsistência, vão colocando pedra sobre pedra.16

13

O Estado, Florianópolis, 10 de novembro de 1928. 14

O Estado, Florianópolis, 13 de janeiro de 1930. 15

O Estado, Florianópolis, 28 de janeiro de 1931. 16

O Estado, Florianópolis, 28 de outubro de 1928. Sobre este assunto encontrei ainda as seguintes notas na imprensa local: “O prédio continua a ser construído pelos próprios associados, e assim é que, ontem, quando o visitamos, ali encontramos em plena atividade os srs. Rodolfo Paulo da Silva, 1º secretário, Pedro José Belli, 1º tesoureiro, e José Rodrigues, bibliotecário” (O Estado, Florianópolis, 28 de janeiro de 1931). No jornal A Pátria, Florianópolis, de 1 de agosto de 1932, Olavo Cassiano de Medeiros, sócio da União Operária, afirmou o

edifício da União Operária: “João Dal Grande Bruggemann ao lad

seguinte sobre quem construiu o o de R. Boxo, Ciro Costa, Pedro José Belli, Lídio Cardoso, Rodolfo Paulo da Silva e Artur Galetti, colocando pedra sobre pedra para erguer o prédio que se ostentava orgulhoso”.

A imprensa local, ao destacar a ação solidária de lideranças e de sócios da União Operária, que assumiram a tarefa de construir eles próprios à futura sede social, sem outro pagamento “que não o de bem servir ao operariado em geral”, chamava a atenção da sociedade e da própria classe trabalhadora para a positividade deste gesto de abnegação e espírito de sacrifício dos sócios da União Operária. Na base desse discurso, estava a exaltação de uma conduta ordeira, pacífica e solidária que deveria reinar entre o operariado, em oposição “aos

dade de falsos se guiar pela

sociedade. Significava, principalmente, renunciar ao desejo de modificar as relações trabalhistas ou de fazer conquistas mais significativas para o movimento operário. Portanto, toda ação operária que não fosse para “construir” a solidariedade entre classes devia ser entendida como foco de agitação e conseqüentemente não digna da classe trabalhadora.

agitadores” que pregavam a luta de classes e a desordem social, e que, conseqüentemente, nada construíam pela classe trabalhadora e pelo bem da nação.

Assim, sempre que o assunto envolvia a classe trabalhadora, os textos jornalísticos davam ênfase à capacidade de sacrifícios que os mesmos “suportavam” em prol de um objetivo maior. A imagem “positiva” que se desejava colar no trabalhador estava diretamente vinculada a sua capacidade de se doar desinteressadamente para o outro, e na repulsa do seu reverso negativo que seria o trabalhador reivindicador de seus direitos.

Essas belas iniciativas do nosso operário são monumento alteroso que dignifica a classe, e mostram que ele, no exercício de sua profissão e dentro da ordem e dos sentimentos cristãos, sem necessi

orientadores e de absurdos extremismos políticos, sabe

senda do dever e da honra, e, ao par do braço que constrói o progresso da sociedade, sabe colocar também a inteligência e coração a serviço do próximo, não para desuni-lo com ódios inúteis, mas para enobrecê-lo com sinceridade e dignidade.17

Esse discurso transformava o traço positivo da solidariedade operária num ato de submissão e espírito de renúncia. Ser solidário significava ter uma conduta de aceitação da “realidade” presente, de aceitar como natural a estratificação da

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Retomando o foco inicial, a União Operária para a edificação de sua sede social contou com o apoio de dois grupos teatrais de Florianópolis que apresentaram espetáculos para conseguir recursos.18 Certamente o projeto em construção atendia também aos interesses destes grupos, na medida em que teriam uma nova sala para espetáculos na cidade, mas, convém, também,

estacar que nestes grupos amadores trabalhavam várias pessoas ligadas à sa dos trabalhadores.

Em dezembro de 1930, ainda com o prédio em obras, a diretoria transferiu

s autoridades municipais fica o prédio referido”.20 sta providê

principalmen

parte das au e

para a cidad apelo foi ou n

em 1945 com a construção de uma escadaria na rua Pedro Soares. Com a

de vanguard

operária do teatral destinado ao lazer dos

trabalhadore

trabalhadora o futuro, como disse João dos Passos

d

União Operária, o que os tornava mais sensíveis à cau

a sede da associação para o novo edifício. Com isso, reduziu seus gastos com aluguel e disponibilizava mais recursos para finalizar a obra.19

Com a edificação quase pronta, em janeiro de 1931, as lideranças da União Operária dirigiram, através da imprensa local, um apelo “à

para providenciar o necessário alinhamento da rua onde

E ncia amenizaria a dificuldade no acesso à nova sede social, te em dias de chuva, e representaria um ato de reconhecimento por

toridades instituídas do significado desta obra para o operariado e de Florianópolis. Não encontrei registros que mostrassem se este

ão atendido. Mas a solução para o acesso ao prédio só foi resolvida

construção desta sede, a União Operária colocava-se numa posição a operária em Santa Catarina, pois era, então, a única sociedade

estado a possuir um espaço

s e a oferecer inúmeras possibilidades educativas à classe da cidade. Ambicionava n

Xavier, sócio da União Operária, em entrevista a um jornal local, vir a ser “a

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Grupos amadores de Florianópolis que cederam a renda de uma apresentação de seus espetáculos para auxiliar na construção da sede social da União Operária: - Grupo Particular Recreio Dramático, que em janeiro de 1930, apresentou “Remorso Vivo”, no teatro do Grupo Escolar Arquidiocesano São José. (O Estado, Florianópolis, 24 de janeiro de 1920); - O grupo Centro de Cultura Teatral que realizou um festival para este fim, em fevereiro de 1931, apresentando as comédias: “Dois Nenês”, “Lucas em Apuros” e “Milagres de Santo Antonio”, no Teatro Álvaro de Carvalho. (O Estado, Florianópolis, 9 de fevereiro de 1931).

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O Estado, Florianópolis, 12 de dezembro de 1930. 20

verdadeira associação operária da capital”.21 Esta idéia aparece reafirmada em 1939 quando o seu presidente, Francisco Bittencourt Silveira, em festividades do aniversário de fundação desta associação, colocava que faria todo o “empenho ara fazer da União o que ela deve ser, a verdadeira sociedade do operário de