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2.8 ADOÇÃO INSTITUCIONAL DE PRÁTICAS DE

2.8.3 A implementação segundo Passey (2010): uma visão sistêmica

Para Passey (2010) o processo de implementação de m-learning não é uma responsabilidade exclusiva de professores; estes são incapazes de implementá-la sozinhos no contexto escolar mais abrangente. A implementação também não pode se basear somente no entendimento dos fatores individuais que levam os estudantes a adotar as tecnologias móveis como recurso de aprendizagem. É preciso compreender o processo de modo mais abrangente e envolver outros atores que estão além dos limites da sala de aula. Por isso, Passey (2010) propõe um framework que destaca os diversos stakeholders que precisam estar envolvidos na implementação, que são representados pelos: (a) estudantes, (b) professores, (c) gestores escolares e (d) especialistas, consultores externos e/ou pais. Os gestores representam o ambiente escolar para além da sala de aula e os especialistas/consultores/pais representam o ambiente do entorno da escola que também podem contribuir ou influenciar nas atividades de aprendizagem. O destaque aos pais como stakeholders decorre do fato de que o modelo foi desenvolvido a partir de estudos em escolas de nível básico e intermediário, em que os pais exercem papel de maior influência sobre os estudantes.

Segundo Passey (2010), a multiplicidade de stakeholders deve-se ao fato de que a adoção de tecnologias móveis para aprendizagem é substancialmente diferente da adoção de outras tecnologias nas escolas. As tecnologias móveis viajam, vão para casa, para fora da escola, e com isso interagem com vários atores, no tempo e local escolhido pelo estudante.

Além dos stakeholders este modelo propõe que a implementação deve seguir quatro caminhos a serem desenvolvidos: as atividades de aprendizagem, os aspectos técnicos, os aspectos políticos e os aspectos culturais. Os aspectos das atividades de aprendizagem referem-se às atividades educativas que promovem reflexão, colaboração e construção de conhecimentos mediados pela tecnologia. Para que estas atividades sejam viabilizadas é preciso atender a requisitos que garantam a disponibilidade da infraestrutura tecnológica e o suporte ao uso (aspectos técnicos). Os aspectos políticos estão relacionados às ações que contribuem para uma liderança positiva dos professores e para a aceitação dos dispositivos móveis como recursos legítimos para a aprendizagem. Os aspectos culturais referem-se às ações que estimulam novas concepções de aprendizagem, que levam à mudança de comportamentos e à aceitação de novos modos de aprender. É importante destacar que o caminhos de implementação desenvolvem-se em paralelo e, por isso, devem ser alvo de atenção permanente ao longo de todo o processo de implementação. Passey (2010) enfatiza em sua proposta que a implementação exige uma abordagem sistêmica. Esta abordagem decorre da necessidade de visualizar a implementação por uma ótica mais integrada, que considera que há multiplas ações que acontecem concomitantemente e que são desenvolvidas por diversos atores interrelacionados. Para fundamentar a importância de uma abordagem sistêmica, Passey (2010) baseia-se em estudos de implementação de tecnologias em variados contextos escolares e nos resultados que estes costumam obter. O autor argumenta que modelos de implantação baseados em estágios de engajamento evolutivo do estudante (que parte de um estágio de interesse baixo e aos poucos incorpora o dispositivo com maior interesse) são insuficientes, porque além de focalizar somente o estudante, não esclarecem quais são os estímulos que o levam a se envolver mais. Esse tipo de abordagem, considera o autor, é mais adequado para atividades específicas que acontecem em escopos de menor abrangência, mas são inoportunas quando se quer contemplar implementações em maior escala, que envolvam a escola como um todo e que sejam capazes de gerar impactos para além dela.

Além disso, Passey (2010) considera também insuficientes os modelos de implementação que se baseiam no engajamento gradativo dos indivíduos, que primeiro implementam tarefas mais simples e em contextos limitados, para depois se expandir para contextos mais amplos e intensificar o contágio dos indivíduos e grupos. Esse tipo de abordagem pode levar a situações desmotivadoras no meio do caminho de implementação. O autor argumenta que os projetos inicialmente vivenciam etapas positivas e motivadoras, mas são seguidos por etapas onde surgem obstáculos ou dificuldades, que precisam ser superados para poder evoluir para novos momentos de satisfação. Mas se nos momentos de dificuldades os obstáculos forem vistos como intransponíveis pelos stakeholders envolvidos naquela etapa, pode haver interrupção no meio do projeto e o consequente insucesso da iniciativa. Por isso, é preciso contar com o comprometimento de longo prazo de todos os stakeholders ao mesmo tempo, de modo que seu envolvimento aconteça no processo como um todo e não apenas em pequenas partes isoladas dele. Este envolvimento de todos favorece também o compartilhamento do conhecimento e isso facilita a superação de dificuldades.

Outro ponto crítico destacado por Passey (2010) é a necessidade de contemplar a amplitude de aspectos envolvidos no projeto. Segundo o autor, os projetos de adoção de tecnologias educacionais mais bem sucedidos e duradouros são aqueles que contemplam múltiplos aspectos (técnicos, sociais e políticos) ao mesmo tempo. Quando a implementação considera apenas uma parcela desses aspectos, as possibilidades de falha aumentam. Por isso, conclui que há melhores chances de sucesso quando os projetos contam com a atenção permanente em todos os aspectos relevantes do projeto. Passey (2010) considera também importante a identificação de como cada stakeholder está envolvido no processo de implementacão e quais as contribuições que se deve esperar de cada um deles em cada caminho de implementação do projeto.

Apesar de professores e escolas terem um papel vital, Passey (2010) propõe que o papel central da implementação deve focalizar o estudante. Da mesma forma, entre os quatro caminhos apontados, o caminho das atividades de aprendizagem é o que deve receber especial atenção. Em seus estudos, as escolas que realizaram implantações bem sucedidas e alcançaram resultados positivos foram aquelas que colocaram a atividade de aprendizagem como o caminho central da iniciativa. Os demais caminhos, contudo, têm sua importância porque

são determinantes no alcance da qualidade e profundidade da experiência de aprendizagem com mobilidade.

Assim, o modelo sistêmico proposto por Passey (2010), além de identificar os stakeholders e os caminhos que precisam ser percorridos, aponta também qual o papel que cada participante deve exercer no desenvolvimento desses caminhos. A partir das proposições do autor, formulou-se o Quadro 5 a sintetizar papéis e contribuições de cada stakeholder para o sucesso em cada um dos aspectos da implementação.

Está evidente que as ações propostas neste modelo vão muito além daquelas diretamente relacionadas à atividade final de estudo realizada pelo estudante. O modelo apresenta várias ações que visam mitigar resistências de estudantes, pais e professores. Apresenta também ações de implementação de infraestruturas e serviços de apoio que sustentam as iniciativas. Segundo Passey (2010), não se pode supor que o acesso às tecnologias móveis pode, por si só, levar ao envolvimento com a aprendizagem em movimento. É preciso prover em paralelo um suporte adequado e bem preparado.

Quadro 5 – Papéis e ações para implementação m-learning.

CAMINHO STAKEHOLDER PAPÉIS E AÇÕES

ATI VI DA DES DE DE APREN DI ZAG EM

Professor Reconhecer o potencial de aprendizagem dos dispositivos; prover e apoiar atividades de

aprendizagem apropriadas; proporcionar atividades que focalizem aspectos sociais e metacognitivos; envolver pais nas atividades de aprendizagem; coletar feedback sobre impactos e sucesso das atividades de aprendizagem; proporcionar aos estudantes oportunidades de desenvolvimento de sua independência no uso dos dispositivos; estender gradativamente as atividades de aprendizagem a medida que o estudante avança.

Pais Ter disponibilidade para apoio das atividades do estudante; monitorar como os dispositivos estao sendo usados; observar impactos do uso dos dispositivos; apoiar o uso dos dispositivos

Eespecialistas externos

Prover exemplos bem sucedidos de atividades de aprendizagem

Alunos Engajar-se nas atividades que utilizam os dispositivos; ter disponibilidade para usar o dispositivo dentro e fora da escola.

ASP ECTO S TÉCN IC O S

Professor Receber aconselhamento sobre usabilidade e utilidade dos dispositivos; facilitar o suporte técnico; aferir que recursos necessários estejam disponiveis; planejar modos de operação dos dispositivos e como estes serao usados por estudantes e pais; proporcionar oportunidades para os estudantes desenvolverem habilidades operacionais e para o compartilhamento de seu conhecimento tecnológico com os outros.

Pais Compreender como manter e gerenciar a operação dos dispositivos; compreender procedimentos técnicos para quando necessários.

Especialistas externos

Prover suporte técnico regularmente; manter recursos para acessos internet; ofertar recursos/serviços para compartilhamento entre professores e alunos; prover oportunidades para estudantes e alunos iteragirem com outros atores fora da escola.

Alunos Desenvolver habilidades técnicas e operacionais enquanto realizam atividades de aprendizagem; perseguir seu auto-desenvolvimento e compartilhar suas habilidades com outros.

ASP ECTO S POLÍ TIC O S

Professor Assumir liderança positiva; envolver os pais; acomodar preferencias e interesses dos diferentes participantes; construir atividades legitimas para todos os participantes; acompanhar fases de queda de motivação; esclarecer aos estudantes que os dispositivos podem ser usados quando sentirem necessidade, mesmo no decorrer das aulas; introduzir mecanimos que possibilitem o apoio mutuo entre os estudantes; compreender usos e resultados importantes e compartilha-los com o demais. Pais Aceitar os dispositivos móveis como recursos legitimos para apoiar atividades importantes para a

aprendizagem Especialistas

externos

Ofertar modos de apoio a professores, pais e estudantes.

Alunos Explorar os recursos disponiveis nos dispositivos e compreender que isso é legítimo.

ASP ECTO S CU LTUR AI S

Professor Prover o envolvimento e dominio com a aprendizagem; comprometer pais e estudantes com os esforços de aprendizagem; gerenciar expectativas dos pais e dos estudantes; possibilitar discussões regulares com pais, professores e estudantes; promover a qualificação dos estudantes; promover a troca de ideias e o compartilhamento sobre como cada estudante utiliza o dispositivo.

Pais Disponibilidade para aquisição total ou parcial dos dispositivos; assumir papel ativo nas atividades educacionais; permitir que os estudantes utilizem os dispositivos como eles julgam mais apropriado para a atividade.

Especialistas externos

Promover o compartilhamento de questoes técnicas, operacionais e pedagógicas entre os diversos grupos de stakeholders;

Alunos Expandir sua capacidade de agir com independência e engajar-se na aprendizagem. Fonte: elaborado pela autora, conforme Passey (2010).

O autor demonstra enfática preocupação com a gestão das mudanças, suas implicações para a escola e para cada um dos stakeholders. Dada a extensão das mudanças decorrentes das ações de implementação, Passey (2010) propõe que é oportuno que as ações sejam incorporadas aos planos de desenvolvimento das escolas. Nos planos de gestão das escolas é possível contemplar circunstâncias sociais e políticas específicas de cada contexto. Por exemplo, questões de aquisição dos equipamentos podem ser consideradas como responsabilidades dos pais ou como responsabilidade compartilhada pela escola. Outro exemplo é a implementação de apenas algumas turmas no primeiro ano, enquanto que outras escolas podem querer envolver todo o grupo. Algumas escolas podem desejar fazer sessões específicas para sensibilização com os pais, enquanto outras podem querer que os pais acompanhem as aulas junto com os alunos.

Observa-se que este modelo foi desenvolvido no contexto de escolas para crianças e jovens. Por isso, pressupõe a participação intensiva dos pais ou responsáveis pelo estudante. No nível do ensino superior, pode-se supor que tal pressuposto seja adaptado, pois o estudante é mais maduro e autônomo. Também pode-se supor que à medida que as tecnologias móveis se tornam cada vez mais familiares aos estudantes, o peso que recai sobre os serviços de suporte e os esforços de implementação de uma nova cultura podem se transformar. Além disso, o modelo foi concebido para apoiar estudantes do ensino presencial, que podem contar com oportunidades de interação direta entre os stakeholders. Em contextos de educação a distância estes aspectos necessitariam de adaptação.

Dessa forma, evidencia-se que este modelo não busca prover um caminho único para a implementação em contextos escolares. Sua finalidade é propor orientações que apoiem a implementação a partir de uma abordagem sistêmica. Passey (2010) sugere que cada escola adapte as recomendações propostas conforme suas próprias características, acordo com os fatores culturais e políticos em que está inserida.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Neste capítulo apresenta-se o delineamento metodológico deste estudo, no qual destaca-se as principais características da abordagem de pesquisa adotada, o processo de pesquisa aplicado e os métodos e técnicas adotados para coleta e análise de dados.